Pesquisar este blog

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

João Gilberto - Bim Bom



JOÃO GILBERTO, O ESPLENDOR DA FALA




Nei Duclós

Ser contemporâneo de João Gilberto é pura armadilha. Corremos o risco de nos enredar nas palavras que inventaram para ele, que todos conhecem e não é prudente lembrar. Para escapar da arapuca, é preciso vê-lo na ultra-densidade da sua transcendência. Pois não há criador mais completo na sua obra, mais coerente na sua trajetória, mais louco na sua obsessão, mais profundo na sua originalidade, mais irritante na sua teimosia.

Ele é só isso, como o baião, e exatamente por isso torna-se maior do que o universo armado pela voz e o violão. Ao mesmo tempo, a esses dois instrumentos se reporta o tempo todo, pois eles representam, encarnam e projetam a verdade que deveria nos acompanhar sempre: a de que somos eternos, conscientes desde o início dos tempos e temos sempre a chance de voltar a esse brilho, que ao escutar, conhece.

João Gilberto se presta ao exagero: a única coisa que lhe faz sombra é o silêncio, chão que palmilha devagar, com o passo que inventou nesta terra sem sentido e neste país assassinado. E se temos hoje uma língua, é porque João Gilberto resgatou-a, reinventando cada sílaba, pronunciando cada palavra, como um instaurador de milagres, e um fundador que não se contenta em apenas descobrir, mas cavar e levantar a estrutura completa de uma nação que hoje mora dentro de nós.

Por isso é insuportável, pois para existirmos precisamos nos calar diante dele. Não podemos nos dar o luxo de emitir qualquer ruído, vício que hoje nos corrompe e mata. João Gilberto exige o silêncio para que possamos notar não a música, nem suas vestimentas, como harmonia ou ritmo. Notar no sentido de reconhecer a nota, saber onde ela se encontra, o que ela faz, a quem se refere e porque existe por si só, vibrando por ser filha do infinito. Se notarmos, estaremos salvos porque aprenderemos a existir fora da brutalidade sonora que são as barras da jaula. Seremos livres, não porque veio o salvador, mas porque notamos o que nos falta. Assim, podemos chegar ao outro lado do rio da morte sem pagar tributo para o barqueiro sinistro.

É crime, portanto, achar que você pode fazer ruído quando João Gilberto está em ação, emitindo o caldo original de uma cultura, a expressão mais elevada desta meta-raça brasileira, como queria Gilberto Freyre, definida pela vivência, a geografia, a mistura, a diversidade. Não se põe João Gilberto ao entardecer para ver o tempo passar, mas para vislumbrar essa porta entre os mundos, como queria Juan Mattus, em que temos um pé na miséria e outro no mistério.

O que ele faz não precisa de nada, nem do estalar de dedos, nem dos conceitos sobre jazz ou samba. Não tilinte copos ou bata caixa de fósforos, nem pertença a qualquer religião sonora conhecida. Por se vergar ao alicerce, por se dedicar à coluna mestra, por se circunscrever ao quintal, João Gilberto atingiu a essência. Desse pequeno asteróide armou a flor da sua conversa.

Ao nos calar, descobrimos o anjo inventado pelo ouvido absoluto. Há um silencioso ruflar de asas por trás de cada fala dita pelo criador. Esse esplendor toma conta de um espaço concreto, como uma abóbada, como se a arquitetura se revoltasse contra as formas e decidisse viver apenas desse banquete mínimo, que vem de uma fonte infinita e parte para outra, idêntica, como pássaros tontos salvos pela busca do Eldorado.

Devemos sair desse recinto sem mexer a cadeira, para não despertar o escândalo. Devemos sumir de vista, para que só exista esse escutar contínuo. Que de repente se fecha como um casulo, se recolhe como um rochedo na gruta. É enfim o silêncio, mas modificado: agora, depois de ouvir João Gilberto, sabemos quem somos e podemos contemplar a quietude sem nos desesperar. Não precisamos de barulho para dizer a que viemos. Temos João Gilberto, que está entre nós, como um irmão poderoso, uma visita noturna, uma refeição vespertina. De manhã, dormimos o sono solto da boa aventurança, pois há um sino modificado em cada momento, que desfez o metal reiventando a pomba.

Somos o país articulado pelo esplendor da fala de João Gilberto, que dispensa palavras, por tê-las sempre ao redor como um coro de crianças.


http://outubro.blogspot.com.br/2006/02/dirio-da-fonte-joo-gilberto-o.html?m=1



domingo, 12 de novembro de 2017

TORQUATO NETO



 Torquato Neto


Torquato Pereira de Araújo Neto (Teresina PI, 1944 - Rio de Janeiro RJ, 1972). Cursou Jornalismo no Rio de Janeiro, por volta de 1966, mas não chegou a concluir a faculdade. Nos anos seguintes compôs letras musicadas por Gilberto Gil ("Geléia Geral", "Louvação"), Caetano Veloso ("Deus Vos Salve a Casa Santa", "Ai de Mim", "Copacabana", "Mamãe, Coragem") e Edu Lobo ("Lua Nova", "Pra Dizer Adeus"). Entre 1970 e 1972 atuou nos filmes Nosferatu no Brasil e A Múmia Volta a Atacar, de Ivan Cardoso, e Helô e Dirce, de Luiz Otávio Pimentel. No período também criou e redigiu a coluna Geléia Geral no jornal carioca Última Hora. Em 1973 ocorreu a publicação póstuma de seu livro de poesia Os Últimos Dias de Paupéria, organizado por Ana Maria S. de Coraújo Duarte e Waly Salomão. Três anos depois, foram incluídos alguns de seus poemas na antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda em 1976. Em 1997 foram publicados quatro de seus poemas na antologia bilíngüe Nothing the Sun Could Not Explain, organizada por Michael Palmer, Régis Bonvicino e Nelson Ascher. Torquato Neto foi um dos compositores mais inovadores da canção popular dos anos de 1970. Fonte: www.itaucultural.org.br

Veja também: http://www.torquatoneto.com.br/






CARTÃO-POSTAL POÉTICO – Texto: TORQUATO NETO
Foto: "Os Últimos dias de Paupéria".

Editora: CONFRARIA OS POETAS / UTOPIA DE MALANDRO – RIO -RJ


Ver também POESIA VISUAL de Torquato Neto


TEXTS IN PORTUGUESE & ENGLISH


TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EM ESPAÑOL



A RUA


toda rua tem seu curso

tem seu leito de água clara

por onde passa a memória

lembrando histórias de um tempo

que não acaba



de uma rua de uma rua

eu lembro agora

que o tempo ninguém mais

ninguém mais canta

muito embora de cirandas

(oi de cirandas)

e de meninos correndo

atrás de bandas



atrás de bandas que passavam

como o rio parnaíba

rio manso

passava no fim da rua

e molhava seu lajedos

onde a noite refletia

o brilho manso

o tempo claro da lua



ê são joão ê pacatuba

ê rua do barrocão

ê parnaíba passando

separando a minha rua

das outras, do maranhão



de longe pensando nela

meu coração de menino

bate forte como um sino

que anuncia procissão



ê minha rua meu povo

ê gente que mal nasceu

das dores que morreu cedo

luzia que se perdeu

macapreto zé velhinho

esse menino crescido

que tem o peito ferido

anda vivo, não morreu



ê pacatuba

meu tempo de brincar

já foi-se embora

ê parnaíba

passando pela rua

até agora

agora por aqui estou

com vontade

e eu vou volto pra matar

essa saudade



ê são joão ê pacatuba

ê rua do barrocão.



In: TORQUATO NETO. Os últimos dias de paupéria: do lado de dentro. Org. Ana Maria S. de Araújo Duarte e Waly Salomão. 2.ed. rev. e aum. São Paulo: M. Limonad, 1982








De
Teresa Cabañas
que poesia é essa?!
Poesia marginal: sujeitos instáveis,
estética desajustada.
Goiânia: Editora UFG, 2009



COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos segredos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou

presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim..



“A exasperada reiteração anafórica no começo de cada estrofe ressoa como eco da curiosa afirmação de um eu (“sou como sou”) irremediavelmente fragmentado (“pedaço de mim”) que não passa de uma partícula gramatical, sem memória para cultuar nem presente para comemorar.A morna indiferença com a qual se assiste a tamanha desarticulação abate-se sobre o eu para negar a própria essência da distinção da natureza humana, ilustrada pela máxima racionalista do “penso, logo existo”. A ausência de dramaticidade, essa tranquila aceitação do fim, que descobre um eu lírico relutante a queixumes ou lamenações, não pro vocação estóoca, mas peã consciência do irremediável (“vidente”) (...)” Teresa Cabañas, op. cit. p. 50-51











VAZ, Toninho. A biografia de Torquato Neto. Curitiba, PR: Nossa Cultura, 2013. 408 p.
15,5x23 cm.





LETRAS DE TORQUATO NETO MAIS CELEBRADAS!!!





GELEIA GERAL

Música: Gilberto Gil

Letra/ lyrics: Torquato Neto



Ouça a música / Oiga la música / Listen to the music:



http://letras.mus.br/torquato-neto/387442/



Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia

Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria

Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia



Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi

Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi



A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro

Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro

Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro



Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi

Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi



É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV

E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala

Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:

Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril

Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil

Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim

Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim



Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi

Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi



Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"

E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia

Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia



Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi

Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi



Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido

Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido

Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento



Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi

Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi





LET´S PLAY THAT

Música: Jards Macalé

Letra/ lyrics: Torquato Neto



Ouça a música / Oiga la música / Listen to the music:



http://www.youtube.com/watch?v=KNWJXKWcQrs&feature=kp



quando eu nasci

um anjo louco muito louco

veio ler a minha mão

não era um anjo barroco

era um anjo muito louco, torto

com asas de avião



eis que esse anjo me disse

apertando minha mão

com um sorriso entre dentes

vai bicho desafinar

o coro dos contentes

vai bicho desafinar

o coro dos contentes

let's play that





LOUVAÇÃO

Música: Gilberto Gil

Letra/ lyrics: Torquato Neto



See the / Oiga la música / See the vídeo & music

ELIS REGINA & JAIR RODRIGUES:


http://www.youtube.com/watch?v=zNxVN77KF38



Vou fazer a louvação

Louvação, louvação

Do que deve ser louvado

Ser louvado, ser louvado

Meu povo, preste atenção

Atenção, atenção

Repare se estou errado

Louvando o que bem merece

Deixo o que é ruim de lado

E louvo, pra começar

Da vida o que é bem maior

Louvo a esperança da gente

Na vida, pra ser melhor

Quem espera sempre alcança

Três vezes salve a esperança!

Louvo quem espera sabendo

Que pra melhor esperar

Procede bem quem não pára

De sempre mais trabalhar

Que só espera sentado

Quem se acha conformado



Vou fazendo a louvação

Louvação, louvação

Do que deve ser louvado

Ser louvado, ser louvado

Quem 'tiver me escutando

Atenção, atenção

Que me escute com cuidado

Louvando o que bem merece

Deixo o que é ruim de lado

Louvo agora e louvo sempre

O que grande sempre é

Louvo a força do homem

E a beleza da mulher

Louvo a paz pra haver na terra

Louvo o amor que espanta a guerra

Louvo a amizade do amigo

Que comigo há de morrer

Louvo a vida merecida

De quem morre pra viver

Louvo a luta repetida

A vida pra não morrer



Vou fazendo a louvação

Louvação, louvação

Do que deve ser louvado

Ser louvado, ser louvado

De todos peço atenção

Atenção, atenção

Falo de peito lavado

Louvando o que bem merece

Deixo o que é ruim de lado

Louvo a casa onde se mora

De junto da companheira

Louvo o jardim que se planta

Pra ver crescer a roseira

Louvo a canção que se canta

Pra chamar a primavera

Louvo quem canta e não canta

Porque não sabe cantar

Mas que cantará na certa

Quando enfim se apresentar

O dia certo e preciso

De toda a gente cantar



E assim fiz a louvação

Louvação, louvação

Do que vi pra ser louvado

Ser louvado, ser louvado

Se me ouviram com atenção

Atenção, atenção

Saberão se estive errado

Louvando o que bem merece

Deixando o ruim de lado





==================================================================



TEXTS IN PORTUGUESE & ENGLISH





TORQUATO NETO

1944-1972



Torquato Neto was born in Teresina, Piaui, in 1944. In 1972 he committed suicide in Rio de Janeiro.



One ofthe founders of the Tropicalist movement with Caetano Veloso and Gilberto Gil, Neto wrote the lyrics for "Geléia Geral," one ofthe key songs of the movement. His activities also included directing and acting in underground films. He co-edited the vanguard poetry journal Navilouca (1972). In the early 1970s, he wrote a column for the newspaper

Ultima Hora in Rio de Janeiro. His only book of poetry, Os últimos dias de paupéria (São Paulo: Max Limonad, 1982)., was published posthumously, edited by Waly Salomão.







Cogito



eu sou como eu sou

pronome

pessoal intransferível

do homem que iniciei

na medida do impossível



eu sou como eu sou

agora

sem grandes segredos dantes

sem novos secretos dentes

nesta hora



eu sou como eu sou

presente

desferrolhado indecente

feito um pedaço de mim



eu sou como sou

vidente

e vivo tranquilamente

todas as horas do fim



(from Os últimos dias de paupéria, 1982)





Cogito



I am as I am

a pronoun

untransferable

from the man I began

at the measure of the impossible



I am as I am

now

without great secrets beneath

without new secret teeth

at this hour



I am as I am

present

unleashed, indecent

like a piece of myself



I am as I am

visionary

and I live peacefully

all the hours of the end



—Translated from the Portuguese by Dana Steven

--------------------------------------





Let´s Play That



quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando a minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let´s play that



(musicada por Jards Macalé,
from Os últimos dias de paupéria, 1982)





Let´s Play That

when I was born
a crazy, very crazy angel
came to read my palm
it wasn´t a baroque angel
it was a crazy, crooked angel
with wings like a plane
and behold, this angel told me,
pressing my hand
with a clenched smile:
go on, pal, sing off key
in the happy people´s choir
go on, pal, sing of key
in the happy people´s choir
let´s play that





(set to music by Jards Macalé
translated from Portuguese by Dana Stevens)











Seleção de poemas publicados originalmente em:/ Poems from:

NOTHING THE SUN COULD NOT EXPLAIN: 20 CONTEMPORARY BRAZILIAN POETS, edited by Régis Bonvicino, Michael Palmer and Nelson Ascher. In> THE PIPE – ANTHOLOGY OF WORLD POETRY OF THE 20TH CENTURY. Vol. 3. Los Angels, USA: Green Integer, 2003.

Edição com o apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e do Consulado Geral do Brasil em San Francisco, California, USA,





Recomendamos a leitura:



TORQUATO NETO: um poliedro de faces infinitas. Edwar de Alencar Castelo Branco, Vinicius Alves Cardoso (Organizadores). Teresina, PI: EDUFPI, 2016. 218 p. ISBN 978-85-7463-959-8 Ensaios de diversos autores.





TEXTOS EN ESPAÑOL





TORQUATO NETO



Teresina, 1948-1972. Poeta, letrista, periodista y actor. Es llamado o Anjo Torto da Tropicália, su pieza Geléia Gerales considerada como el manifiesto tropicalista. Compuso canciones en colaboración con Gilberto Gil, Caetano Veloso, Luiz Melodia, Jards Macalé, João Bosco, Edu Lobo y Roberto Menescal, entre otros. Trabajó en los periódicos Correio da Manhã, Jornal dos Sportsy Última Hora. Fue un agente cultural y defensor de los movimientos artísticos de vanguardia como Tropicália, Cinema Marginal y de la poesía concreta. Su libro de poesía Os últimos dias de Paupéria (1973) se publicó póstumamente.





A seguir, textos extraídos de la revista venezolana (en la web) LA COMUNA DE BELLO. N. 2, abril 2014





Go Back



Você me chama

Eu quero ir pro cinema

Você reclama

Meu coração não contenta

Você me ama

Mas de repente

A madrugada mudou

E certamente

Aquele trem já passou

E se passou, passou

Daqui pra melhor, foi

Só quero saber do que pode dar certo

Não tenho tempo a perder





Go Back



Usted me llama

Yo quiero ir para el cine

Usted reclama

Mi corazón no contenta

Usted me ama

Pero de repente

La madrugada cambió

Y ciertamente

Aquel tren ya pasó

Y si pasó, pasó

De aquí para mejor, fue

Sólo quiero saber lo que puede dar cierto

No tengo tiempo a perder





Cogito



eu sou como eu sou

pronome

pessoal intransferível

do homem que iniciei

na medida do impossível

eu sou como eu sou

agora

sem grandes segredos dantes

sem novos secretos dentes

nesta hora

eu sou como eu sou

presente

desferrolhado indecente

feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou

vidente

e vivo tranqüilamente

todas as horas do fim.




Cogito



yo soy como soy

pronombre

personal intransferible

del hombre que inicié

en la medida de lo imposible

yo soy como yo soy

ahora

sin grandes secretos de antes

sin nuevos secretos dientes

en esta hora

yo soy como yo soy

presente

liberado indecente

hecho un pedazo de mí

yo soy como yo soy

vidente

y vivo tranquilamente

todas las horas del fin.





Pra dizer adeus



Adeus

Vou pra não voltar

E onde quer que eu vá

Sei que vou sozinho

Tão sozinho amor

Nem é bom pensar

Que eu não volto mais

Desse meu caminho

Ah, pena eu não saber

Como te contar

Que o amor foi tanto

E no entanto eu queria dizer

Vem

Eu só sei dizer

Vem

Nem que seja só





Para decir adiós



Adiós

Voy para no volver

Y donde quiera que yo vaya

Sé que voy solito

Tan solito amor

Ni es bueno pensar

Que yo no vuelvo más

De ese mi camino

Ah, pena no saber

Cómo contarte

Que el amor fue tanto

Y en el en tanto yo quería decir

Ven

Yo sólo sé decir

Ven

Ni que sea sólo

Para decir adiós





Três da Madrugada



Três da madrugada

Quase nada

Na cidade abandonada

Nessa rua que não tem mais fim

três da madrugada

tudo é nada

a cidade abandonada

e essa rua não tem mais

nada de mim...

nada

noite alta madrugada

na cidade que me guarda

e esta cidade me mata

de saudade

é sempre assim...

triste madrugada

tudo é nada

minha alegria cansada

e a mão fria mão gelada

toca bem leve em mim

saiba:

meu pobre coração não vale nada

pelas três da madrugada

toda palavra calada

nesta rua da cidade

que não tem mais fim

que não tem mais fim





Tres de la madrugada



Tres de la madrugada

Casi nada

En la ciudad abandonada

En esa calle que no tiene más fin

tres de la madrugada

todo es nada

la ciudad abandonada

y esa calle no tiene más

nada de mí…

nada

noche alta madrugada

en la ciudad que me guarda

y esta ciudad que me mata

de añoranza

es siempre así…

triste madrugada

todo es nada

mi alegría cansada

y la mano fría mano helada

toca bien leve en mí

sepa:

mi pobre corazón no vale nada

por las tres de la madrugada

toda palabra callada

en esta calle de la ciudad

que no tiene más fin
que no tiene más fin


http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/piaui/torquato_neto.html