Falcão - Entrevista

 

por James Martins

Desde que lançou o seu primeiro álbum, ‘Bonito, lindo e joiado’, em 1992, o cearense Falcão se destaca como um dos artistas mais inteligentes e criativos da música popular brasileira. Assumindo o humor e o brega como componentes fundamentais de seu trabalho, Falcão, por isso mesmo, não é devidamente apreciado e suas músicas não tocam em rádios do gênero MPB, “por preconceito”, reclama ele. Ainda assim, o cantor e compositor emplacou diversos sucessos, como ‘I’m Not Dog No’, ‘Holiday Foi Muito’ e ‘Ai! Minha Mãe’ e tornou conhecido, em todo o Brasil, o seu figurino inconfundível: paletó colorido, girassol na lapela e toda sorte de albregueces espalhados pelo corpo. Nesta entrevista exclusiva à coluna Entretenimento, do Bahia Notícias, Falcão falou sobre política (“Os mais corruptos do Brasil foram ACM, Sarney, Jader Barbalho e Paulo Maluf”), música, o conflito internacional com o Pink Floyd, preconceito, e comentou a sua previsão, feita em uma música antiga, de que “só vai estar na moda quem for viado”, entre outros assuntos. Um bate papo imperdível!

James Martins: - Existe tanto preconceito contra o humor quanto contra o brega?

Falcão: - Sim. Mas contra o humor acho que o preconceito é menor. Até porque o humor está mais presente em todas as classes sociais. Já contra o brega é demais. O sujeito vê o outro assim, vestido desse jeito e já pensa: “o que é que esse analfabeto tá dizendo aí?”.

JM: - Pois é, mas muitas de suas músicas encerram mensagens poderosas, como por exemplo, ‘Onde Houver Fé Que Eu Leve a Dúvida’. Você não acha que elas são mal compreendidas por virem em formato de piada? Se fosse a mesma coisa dita por um Caetano Veloso, por exemplo, as pessoas certamente iriam comentar a mensagem e tal.

Falcão: - É verdade (risos). Mas ainda assim acho que o preconceito maior é pela roupagem brega e não pelo humor. Tem uma rádio em São Paulo que só toca MPB e nunca tocou uma música minha. É puro preconceito!

JM: - Mas é que você está “a um passo da MPB”.

Falcão: - É. Um passo atrás (risos).

JM: - E por falar em estilo, quando você resolveu se vestir desse jeito? Foi desde o início ou só depois de um tempo surgiu a necessidade da indumentária para complementar a música?

Falcão: - Foi desde o começo. Eu já comecei incrementando a roupa assim, acho até que pra ganhar coragem (risos). A roupa funcionava como uma máscara.

JM: - Quando você falou a palavra ‘analfabeto’ eu lembrei logo de Tiririca e essa polêmica toda. Você, um humorista formado em arquitetura, já pensou em trocar o brega da música pelo bordel da política?

Falcão: - Não. Eu acho que para isso o sujeito tem que ser do meio, ter uma experiência política. Eu não tenho interesse. O que eu posso fazer é continuar fazendo política de outra forma, através das minhas músicas.

JM: - De fato, suas composições, desde o início, apresentam uma preocupação social.

Falcão: - Eu vi que tinha que ser, além de romântico, didático (risos)!

JM: - E, afinal, você se considera mais cantor e compositor ou mais humorista?

Falcão: - Compositor. Cantor eu não sou. E dizer humorista reduz muito. Eu uso o humor, mas não sou apenas um humorista. Me considero mais compositor.

JM: - E qual é a sua música preferida, dentre as suas?

Falcão: - Difícil essa. Talvez seja ‘Prometo Não Ejacular na Sua Boca’.

JM: - (risos) Esse título é genial!

Falcão: - Pois é. Eu fui buscar lá no Frank Zappa [a música de Zappa se chama ‘I Promisse Not Come In Your Mouth’].

JM: - E por falar nisso, tem aquela história da música do Pink Floyd, ‘We Dont Need No Education’, que você transformou em atirei o pau no gato, mas não pode gravar. Como é isso?

Falcão: - Não gravei até hoje, porque eles não liberam versões das músicas deles.

JM: - Mas aí, só de birra, você também não libera o Pink Floyd gravar nenhuma música sua né?

Falcão: - (risos) É uma retaliação. Isso quase gerou um conflito internacional (mais risos).

Fotos: Alessandra Benini / BN

JM: - E voltando a falar em política, na sua opinião quem é o político mais corrupto da História do Brasil?

Falcão: - Vixe! Vamos ver: Antonio Carlos Magalhães, Paulo Maluf, José Sarney e Jader Barbalho. Tem muitos, mas esses quatro são os recordistas.

JM: - E qual setor da vida brasileira atual se encaixa mais na sua máxima de que “quanto pior melhor”?

Falcão: - É a política mesmo.

JM: - Uma das suas primeiras músicas prevê o tempo que, para se estar na moda, o cara vai ter que ser viado. Essa hora já chegou?

Falcão: - Tá perto. Eu dei um prazo de 10 anos, já tá quase completando. Quem não for viado não vai ter moral em lugar nenhum. Não vai arrumar emprego. Nem a mulher do cara vai gostar dele (risos).

JM: - E nessa hora rapaz, o que é que você vai fazer, vai começar a queimar o anel também?

Falcão: - Eu não, porque não gosto de moda.

JM: - Você já fez exame de próstata?

Falcão: Ainda não, mas já estou me preparando pro dedo.

JM: - Quando a minha hora chegar já vai ter uma tecnologia a laser, para eu não tomar a dedada (risos).

Falcão: - Rapaz, eu acho sinceramente que eles já têm tecnologia pra isso, mas usam o dedo só de sacanagem mesmo (risos).

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