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domingo, 29 de julho de 2012

Jorge Amado na canção




SALVAÇÃO - Caetano Veloso

 

 

Jorge Amado mostra o Brasil agindo através de uma Bahia mítica


Uma das maiores emoções da minha vida foi causada pelas palavras de Mia Couto, o escritor moçambicano, sobre a importância de Jorge Amado na formação da literatura africana de língua portuguesa. Ele (que tem um irmão que se chama Jorge e outro, Amado) descreveu o impacto que teve sobre jovens africanos de uma geração anterior à sua o mundo que se move nas páginas do escritor baiano. Faz pouco, um amigo americano, ao ouvir-me contar essa história, disse-me que a presença de Jorge na literatura da África não se restringe ao mundo lusófono, as fabulações e figuras baianas, traduzidas para o inglês e o francês, tendo entrado no imaginário de autores nigerianos e marfinenses. Seja como for, o comentário de Mia me levara de volta a uma ideia poética que me inspira para atos e interpretações de atos da vida: a de que o uma das missões (talvez a principal missão) do Brasil é salvar a África.

Cheguei a essa formulação partindo de conversas que tive com o professor Agostinho da Silva, o maravilhoso português que, fugindo à perseguição salazarista, veio para o Brasil e, depois de estadas consequentes em Santa Catarina e na Paraíba, foi parar na Bahia. Ele costumava dizer que “Portugal já civilizou Ásia, África e América: falta civilizar Europa”. Eu adorava o desaforo. Agostinho tinha saído da Bahia e ido para Brasília (onde, ao lado de Darcy Ribeiro e outros, tentou fazer da UnB um laboratório civilizador, até que o golpe de 1964 destruiu as esperanças).

Ouvi uma palestra que ele fez, convidando voluntários para um trabalho de recuperação cultural da área de Cacheira e São Félix (nunca me esquecerei de ele dizendo que quem quisesse engajar-se no programa que ele propunha poderia — talvez de fato devesse — sentir angústia, nunca tédio). Mas só vim a conversar com ele quando eu já estava no exílio. Roberto Pinho fez a ponte, e fui vê-lo em Lisboa. Fui tímido e lacônico, mas ele disse a Roberto que eu pensava bem. Anos depois, voltei a vê-lo, na mesma cidade. Eu tinha voltado da Nigéria e da Costa do Marfim e sentia-me desolado: “Aquilo parece não ter futuro, professor”, eu disse. E ele: “E não tem. Por isso mesmo temos de inventar um”. Acho que não ouvi a frase “o Brasil salvará a África” de sua boca. Possivelmente eu a inventei a partir de várias coisas que li ou ouvi dele. A ideia amadureceu com o pensamento de que o Brasil tem a maior população negra fora do continente africano, importou mais escravos negros do que qualquer outro país das Américas e foi o último entre estes a abolir a escravidão: a dívida é demasiado pesada, nada menos do que uma redenção total pode estar à altura. Sou baiano, mulato, cresci em meio a uma maioria de negros. Gostei de “Mar Morto” quando ainda era menino, e até hoje o livro me toca como um longo poema romântico em prosa. Mas, já adulto e descobridor solitário de Clarice Lispector (eu tinha a impressão de que ninguém mais lia a revista “Senhor”, que Naum Sirotski, Bea Feitler e Paulo Francis eram anjos e que Clarice, Rosa e João Cabral me tinham sido revelados, em segredo, por eles, através do meu angelical irmão Rodrigo, numa tarde de Santo Amaro), pesava-me mais a posição oficializada pelo partido comunista internacional da importância dos livros de Jorge do que sua força imediata.

Mesmo assim, li “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água com prazer admirado — e amei “Tenda dos milagres”, com sua versão hiperbólica da democracia racial. A fala de Mia Couto, anos depois, à luz das lembranças de Agostinho, pôs a força dos escritos de Jorge acima da reputação de realismo socialista com cores tropicais. Quando topei escrever “Verdade tropical”, João Ubaldo me aconselhou a falar com um agente literário americano que lhe tinha sido apresentado por Jorge. Esse agente é algo difícil de ser imaginado por um brasileiro: um comunista americano. Ele amava a literatura de Jorge enquanto este era comunista — e deplorava que Amado tivesse renegado “Subterrâneos da liberdade” e “A Albânia é uma festa”. Não acho nenhuma graça em Zizek ter um retrato de Stálin na sala. Mas uma vez ouvi, com fascinado encanto, Lina Bardi, já aos 80, dizer que gostava de Stálin e o defenderia de quem quisesse desqualificar a ideia comunista por causa dele. Nos 100 anos de seu nascimento, com a multitudinária galeria de personagens de “Gabriela” de novo nas telas das TVs do Brasil, vejo em Jorge a concretização de algo muito acima de defesas de Stálin (ou de ACM), com ou sem charme, ou mesmo de uma ultrapassagem de tal defesa. Vejo a concretização do incrível: o Brasil efetivamente agindo, através da Bahia mítica de um profeta feliz, na salvação do Continente Negro.
 
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O homem que escreveu um país


Obra do escritor, ainda hoje, contribui para interpretar o Brasil

O autor, fotografado pela mulher Zélia Gattai, trabalha na casa do Rio Vermelho, em Salvador, na Bahia, onde morava com a família
Foto: Zélia Gattai / Divulgação Casa de Jorge Amado

O autor, fotografado pela mulher Zélia Gattai, trabalha na casa do Rio Vermelho, em Salvador, na Bahia, onde morava com a famíliaZélia Gattai / Divulgação Casa de Jorge Amado


RIO - No prefácio do livro “Mar Morto” (1936), Jorge Amado escreveu: “Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia. Os velhos marinheiros que remendam velas, os mestres de saveiros, os pretos tatuados (...). O povo de Iemanjá tem muito que contar”. Ele, que queria apenas relatar os causos de uma região do Nordeste brasileiro, acabou por retratar e construir a identidade de um país povoado por negras fogosas, brancas pudicas e elitistas, políticos, trabalhadores, meninos de rua, pescadores, bêbados, terreiros e mães de santo. As histórias de Amado, que foram escritas num ritmo quase ininterrupto entre os anos de 1931 e 1997, ajudaram a disseminar a cultura brasileira pelo mundo, impulsionaram a produção literária nos países africanos de língua portuguesa e, ainda hoje, contribuem para um entendimento mais amplo do que é ser brasileiro.

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Ao traçar as cores e cheiros do Brasil, Amado delineou os aspectos de um povo mestiço, religioso, que sobrevivia em meio à miséria e contrastava com as figuras idealizadas por José de Alencar e Gonçalves de Magalhães na prosa romântica do século XIX. O “jeitinho” e as manhas expressos nas letras de Amado podem ser interpretadas, segundo o crítico literário e colunista do GLOBO José Castello, como mitos de fundação do Brasil popular.
— Podemos ler as obra dele como mitos de fundação de um Brasil popular. Jorge faz parte de um grupo precioso de poucos e grandes homens, como Paulo Prado e Gilberto Freyre, que ajudaram a moldar a ideia moderna que temos do Brasil. Essa visão pode parecer um pouco datada porque o país mudou muito, principalmente nestes dez últimos anos, mas isso não exclui a grandeza e a riqueza dos tipos e imagens que ele criou — explica Castello.
O escritor e também colunista do GLOBO João Ubaldo Ribeiro, amigo e conterrâneo de Amado, concorda com o crítico. “Jorge Amado não escreveu livros, ele escreveu um país. Amado expandiu nossos horizontes, criou e formou leitores e aproximou-nos de nós mesmos” afirmou Ubaldo em uma conferência sobre a obra amadiana realizada há poucos dias na Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual Amado foi integrante de 1961 até a sua morte, em 1998.
Diferentemente de Ubaldo, Ana Maria Machado, presidente da ABL e autora de “Romântico, sedutor e anarquista — Como e por que ler Jorge Amado” (Objetiva) evita classificá-lo como descobridor ou inventor do Brasil. Ela prefere dizer — como Jorge afirmou em muitas entrevistas — que ele foi um grande contador de histórias.
— Ele levantou problemas sociais, criou discussões, mas não acho que ele tinha um projeto de criar um Brasil, o que importa são as obras dele, e o resultado está aí: um universo muito rico de histórias — diz Ana Maria, que destaca “Mar Morto” (1936) e “Jubiabá” (1935) como os melhores textos da primeira fase do autor, marcada por narrativas políticas.
Em 1954, Amado deixou de lado o discurso panfletário que permeou seus primeiros livros e aprofundou os temas da realidade do cotidiano brasileiro em sua literatura. A nova fase do escritor trouxe um país mais sensual em livros como “Gabriela, cravo e canela” (1958), mais despudorado em “Teresa Batista cansada de guerra” (1972) e, principalmente, mais místico.
O sincretismo religioso presente nos terreiros e nas ruas da Bahia se torna ainda mais representativo a partir de 1964, com a publicação de “Pastores da Noite” e “Tenda dos milagres” (1969). O doutor em Letras e professor da ECO-UFRJ Muniz Sodré observa que, ao incluir elementos religiosos em sua narrativa, Jorge complementa o imaginário a vida dos personagens baianos e afirma sua obra como espelho da vida da cidade.
— Considero o Jorge um explicador do Brasil. Ele parecia se perguntar o tempo todo: “Quem é o povo brasileiro?” O império português nos deu a nação, mas não deu o povo, que é o grande enigma nacional. Amado punha a liturgia da fé no centro da linguagem romanesca — explica Sodré.
Incluir elementos de luta política e do candomblé fez com que a literatura de Amado fosse lida com grande interesse nos países africanos de língua portuguesa, como explica o premiado escritor moçambicano Mia Couto.
— Ele falava de um Brasil que continha uma África dentro. É fácil identificar as cores e os cheiros da África nas páginas, nos personagens negros, mulatos. Ele foi fundamental para nos darmos conta de nós mesmos e observarmos as nossas danças, nosso erotismo, o nosso modo de comer e beber.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/o-homem-que-escreveu-um-pais-5617139#ixzz223HgyBKG

Ora, acho que vou-me embora - Gal Costa

Afinal... - Alaíde Costa

A Charge de Chico Caruso




http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

'Gabriela' por Carybé

Nascido em Lanús, província de Buenos Aires, Hector Julio Paride Bernabó (1911-1997) se mudou para o Brasil no fim dos anos 1910. Adotou o nome artístico no Rio, inspirado no peixe Carybé. Destacou-se como pintor, escultor, gravurista, chegando também a atuar como diretor de arte (no filme 'O cangaceiro', de 1953) e pandeirista, ao lado de Carmen Miranda. Nos anos 1930, foi para a Bahia, onde a amizade com Jorge Amado floresceu, rendendo intensa parceria artística, como as ilustrações para os livros 'O sumiço da santa' e 'O gato malhado e a andorinha Sinhá'. Neste ensaio de 1975 estão seus desenhos com os tipos físicos sugeridos para a novela 'Gabriela' (exibida no mesmo ano na TV Globo) acompanhados por deliciosas descrições.


Explorar tema de lavadeiras; trouxas enormes com as quais podem-se cortar cenas; bacias e panelas.


Durante a filmagem usar como fundo ou rápidos primeiros planos os jogos infantis. Meninos passando por cenas dramáticas ou românticas de surpresa completamente alheios à ação.

Para enriquecer cenas. Jegue carregando pasto. Praticamente o jegue não se vê, é um monte de capim [...].

Cegos e cantadores anunciando momentos trágicos, como o assassinato de Sinhazinha e Osmundo pelo coronel Jesuino. Cantando mortes e tocaias. Apenas a toada de uma décima de abecedário para por em ambiente. Também os fatos alegres poderiam ser comentados.


Roceiro com picapau

Tipo físico e gestos de Gabriela. Os vestidos de pano muito fino que a qualquer movimento desenham o corpo. Nada embaixo e com certa transparência. Lavando cabelo.

Acompanhando bons pensamentos do Nassib; zoom e cortes.

http://oglobo.globo.com/infograficos/gabriela-ilustracoes-carybe/#imagem6

O Amado e sua amada



Na minha meninice, Jorge Amado e Zelia foram os meus Sartre e Simone de Beauvoir

Jorge Amado por Niemeyer



Jorge Amado por Niemeyer, 2001