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sábado, 18 de fevereiro de 2012

INOCENTES EM PROGRESSO

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texto de WALTER QUEIROZ JR.*
(transcrito do jornal A Tarde)
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Os apitos noturnos que, outrora, guardavam o nosso sono e que silenciaram para sempre nos fazem lembrar uma Salvador então altiva e solidária, orgulhosa de suas tradições que,aos poucos, foi perdendo o bonde da sua história e caminhando para o avesso do seu melhor destino e identidade.
Inocentes em progresso fomos, seduzidos pelo canto da sereia das grandes metrópoles e, durante décadas, sem um planejamento democrático e obediente à nossa real vocação urbana vamos nos transformando numa neo-São Paulo, ainda bem que rescendendo a dendê, mas com todas as suas ancestrais e insolúveis mazelas: engarrafamentos, barulho, violência, poluição,etc…
Fantoches não da Euterpe, deusa da música da poesia, e sim da ambição e da esperteza, vamos assistindo à progressiva liquidação dos nossos mais caros valores e, cedo ou tarde, teremos que arrastar nos ombros a cruz da nossa omissão.
Os cinemas de bairro, os sorvetes de catimplora (o de mangaba era de enlouquecer!), os campinhos de várzea, os taboqueiros, o E. C. Ypiranga, as barbearias, os armazéns (onde se comprava fiado), as arraias no céu, as redes fartas de xaréu, as regatas da Ribeira, as domingueiras da Barra, os saveiros, as serenatas no Abaeté, a grama do Farol, tudo isso foi sendo imolado em nome de um falacioso modelo de urbanização e segurança cujo custo é a alma desta cidade.
A brisa vespertina que todo santo dia nos sopra o nosso mar já quase não encontra casais enamorados para acariciar. Nos fins de semanas os pais insones esperam a volta dos seus filhos e netos, cotidianamente ameaçados pela garras do crescente rancor social e seus perversos sintomas.
Somente a sociedade civil mobilizada exigindo políticas públicas preventivas e inovadoras, o esporte, o teatro, a canção ocupando o lugar das drogas poderá impedir o patético retorno da lei do Talião que, num retrocesso milenar, patrocina a mera repressão como solução, e sem avaliações ontológicas só nos condena a continuar vivendo sob a égide do medo.
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*Walter Queiroz Jr. – Advogado, poeta, compositor, membro da Confraria dos Saberes