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terça-feira, 24 de abril de 2012
A IDADE DA RAZÃO
RESUMO
Jean Paul Sartre
Ivich teme o fraco desempenho nos
exames porque terá de partir para Laon onde moram os pais.
Daniel, a quem Mathieu estima,
tenta esconder a homossexualidade, odeia Mathieu por considerá-lo
uma pessoa sem defeitos, inveja a sua relação com Marcele que visita nas noites
em que está sozinha até convencê-la a não abortar o filho que espera de Mathieu.
Quando Marcele resiste à idéia de
abortar, Mathieu retira-se contrariado. Em casa hesita em voltar para ela,
confessar que a ama e propor-lhe casamento. Daniel aparece, declara ser
pederasta e o próximo casamento com Marcele para que seja o pai de seu filho.
Quando ele sai, Mathieu sente falta
de Ivich que partiu para Laon. Acredita haver chegado à idade da razão.
A idade da razão (em francês: L'âge de raison) é um romance de Jean-Paul Sartre, publicado em 1945. O livro é o primeiro volume da trilogia Os Caminhos da Liberdade (em francês: Les Chemins de la liberté).
Enquanto a novela progride, a narrativa do personagem expõe conceitos de Sartre sobre o que significa estar livre e como se opera no âmbito da sociedade com esta filosofia. Este romance é uma representação imaginária de seus trabalhos filosóficos principais (O ser e o nada) onde se alcança a liberdade suprema com o nada, ou, mais precisamente, sendo nada.
Visita de Beauvoir & Sartre
Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre passeiam por Copacabana durante a visita ao Brasil em 1960. Estiveram em Salvador, quando deram palestras na Escola de Teatro da Ufba. Depois, na saída, disse que queria andar de ônibus em pé pela cidade. E ficou admirado com a maneira dos cobradores manobrar as notas de dinheiro, dobrando-as e colocando-as entre os dedos.
Morreu Miguel Portas
O Eurodeputado do Bloco de Esquerda morreu esta terça-feira, em Antuérpia. Fazia 54 anos no próximo dia 1 de maio. Recorde-o numa entrevista "Na primeira pessoa", publicada na VISÃO em 2008
Ler mais: http://visao.sapo.pt/morreu-miguel-portas=f660668#ixzz1sywwpDfz
Entrevista
Miguel Portas na primeira pessoa
Numa entrevista publicada na VISÃO, em Julho de 2008, Miguel Portas falava de política. Mas também se expunha, falando de si e do que lhe ia na alma.
O comunismo é uma grande religião"
"Gente que não soube fazer outra coisa se não da política uma carreira, é gente que jamais perceberá porque é que a política é necessária a outros e não apenas a eles próprios". Foram palavras de Miguel Portas, numa entrevista, marcada para uma tarde de sexta de maio de 2008 e que terminou já com a sala, virada a sul, a receber os últimos raios de sol do dia. Portas comemorara, dias antes, o seu 50.º aniversário, celebrado no primeiro dia daquele mês. Uma data que, aliás, lhe assentou como uma luva.O jornalista emprestado à política para uma comissão de serviço falou de política, oposição renhida que, em Bruxelas, fazia a uma Europa fortaleza que transformou o Mediterrâneo, o seu Mediterrâneo num muro intransponível e num imenso cemitério. Contou a história da boleia que apanhou para França e refletiu sobre religião, sobre o marxismo e sobre a vida em geral. Eis o registo de uma conversa que deixou saudades.
A "Directiva do Retorno", relativa a imigrantes ilegais, é uma vergonha para a Europa do século XXI, como diz Gaspar Llamazares, da Esquerda Unida espanhola?
Sem dúvida. Que outra classificação é possível, quando ela permite a detenção de pessoas, maiores ou menores de idade, até 18 meses, sem que tenham cometido qualquer crime, que não o de lutarem pela vida?
Vem aí a Europa-fortaleza?
Ela tem sido isso. Essa uma das razões porque há tantos indocumentados. O mediterrâneo foi transformado num imenso muro e num cemitério. Esta directiva prevê o reforço dos 197 centros de detenção que já existem. Classificam-nos de "especializados". Conheço alguns e posso afirmar que são melhores as prisões. Na ilha de Lampedusa, nem água potável tem. Não é século XXI, é século XIX...
Prometer fronteiras abertas a toda a gente, como acusa o líder do CDS-PP, seria uma alternativa de esquerda?
Antes de agitar fantasmas, a direita deveria saber que o direito à mobilidade está na Declaração Universal dos Direitos do Homem, subscrita por todos os Estados. Também não lhe ficaria mal reconhecer que esta é a posição das igrejas cristãs. Porque há de ser livre a circulação de capital e mercadorias e não a das pessoas? De qualquer modo, a acusação não tem sentido. A Europa precisa de muitos mais imigrantes e sabe-o. O que faz é seleção. És árabe, preto e de África, não queremos. És alto, louro e licenciado, vem daí. O movimento de entradas e saídas pode e deve ser regulado, mas na base do reconhecimento do direito à mobilidade. Se, em vez de uma política de seleção e expulsão, tivéssemos uma que gerisse fluxos nas duas direções, assente em fortes políticas de cooperação e desenvolvimento, estaríamos bem melhor. E os imigrantes, também. Muitos poderiam, até, ficar nas suas terras, que ninguém parte se não precisa.
O Bloco está preparado para governar?
O Bloco está preparado para se afirmar como alternativa de governo aos governos que temos tido e em particular a este último. Parafraseando Honório Novo, como as coisas estão, temos mesmo que nos preparar para um dia governarmos. As pessoas já conhecem os resultados daqueles que pensam estarem "preparados para governar". Venham, portanto, os que não estão, que nada se perde e algo se ganha...
Ler mais: http://visao.sapo.pt/miguel-portas-na-primeira-pessoa=f519860#ixzz1syxjW2ks
"Tabu é o mais belo filme do cinema português"
Gostaria de poder dizer que Tabu é o mais belo filme do cinema português. Gostaria, se não fosse eu um quase desconhecedor do cinema português. Mas, ainda assim, arrisco: Tabu é o mais belo filme do cinema português. Se é ou não o mais perfeito, o mais bem construído, o mais equilibrado, o mais irrepreensível tecnicamente, o mais português, não sei. Mas é o mais belo, no sentido mais bonito que a expressão belo pode ter. Tudo por causa de um detalhe, ou não fossem sempre os detalhes a fazer a diferença, tanto na vida como na ficção. E qual é o detalhe que faz toda a diferença em Tabu? Por incrível que pareça, é uma voz off, uma longuíssima voz off, talvez a mais longa voz off do cinema desde que há cinema. E digo incrível porque não escondo a minha embirração com vozes off, porque as acho, quase sempre, um recurso fácil e pobre daqueles que não sabem encontrar outro recurso num filme para contar uma história. Mas, aqui, a voz off de Gian Luca Ventura (a personagem que nos narra a trágica história de amor do filme em flash-back) tem tudo menos de fácil e pobre recurso. É uma voz off, sim, mas uma voz off que faz de intertítulo – e que dramatismo trazem à história esses intertítulos falados — de filme mudo. Filme mudo? Sim, filme mudo, porque é na ausência de som dos protagonistas da história africana, e do enquadramento em que se insere essa ausência, que reside toda a beleza do filme.
Já disse, e volto a dizer, que Tabu é o mais belo filme do cinema português. Mas gostava que ficasse para a História, ainda, como o mais belo filme mudo de sempre a par do Aurora (Sunrise) de Murnau (a quem o monte que dá título ao filme presta homenagem aliás). Se me acusarem de tomar a parte pelo todo, o corpo estranho da segunda parte (e, já agora, do seu ainda mais insólito prelúdio) pelo filme todo, pouco me importa. Sem esse corpo estranho, que é o mudo, que habita a segunda parte do filme (e o tal prelúdio), Tabu não existiria. Sem esse detalhe, Tabu nunca passaria de mais um filme, igual a muitos outros.
Paulo Cezar Saraceni por André Setaro
Blog do André Setaro
A morte recente do realizador cinematográfico Paulo Cezar Saraceni vem desfalcar ainda mais a turma do Cinema Novo, considerando que ano passado Gustavo Dahl, outro prócere do cinemanovismo também veio a falecer. Saraceni e Dahl podem ser considerados dois dos mais importantes cineastas e ativistas pela renovação da linguagem cinematográfica nacional a partir dos anos 60. A bem da verdade, Saraceni tem uma filmografia mais fulgurante do que Dahl, que se destacou como crítico, gestor cultural, ainda que realizador bissexto (O bravo guerreiro, Uirá, Tensão no Rio). Assim como o colega e amigo Dahl, Saraceni também estudou no Centro Sperimentali di Cinematografia, quando ficou fascinado pelo cinema de Roberto Rossellini, seu mestre e inspirador. Cria do autor de Roma città aperta, principalmente na preocupação que tinha em seus filmes na desdramatização do roteiro, Saraceni é autor de um dos mais importantes filmes do Cinema Novo: Porto das Caixas (1962), baseado em Lúcio Cardoso, e com partitura musical feita especialmente pelo maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida\Jobim. Nove anos mais tarde, o mesmo Jobim se prontificou para a trilha sonora de Crônica da casa assassinada (1971), também, como em Porto das Caixas, baseado em Lúcio Cardoso, escritor pelo qual Saraceni tinha imensa admiração.
Na Mostra Tiradentes de janeiro de 2011, Paulo Cezar Saraceni foi o grande homenageado do evento, participando das mesas de debates, mas já se notava nele certa dificuldade de expressão, de articulação, consequência da doença que o corroia. Saraceni levou, para exibi-lo em primeira mão, o seu derradeiro filme, O gerente, produzido com a ajuda dos amigos que já pressentiam que seria o seu canto de cisne. O cinema de Saraceni, sobre ser cinema um tanto irregular na sua filmografia, tem fortes momentos e belos filmes, a exemplos dos citados e O viajante, mal compreendido pela crítica (o público foi mínimo porque o filme não teve uma distribuição decente). Um cinema pessoal, de autor, conduto de uma visão de mundo e com um universo ficcional próprio do ponto de vista cinematográfico. Seu ponto mais fraco: Capitu (1967), baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis. Filme de estrutura narrativa desregulada, equivocado na escolha da atriz do papel título, aquela moça de olhos oblíquos e dissimulados, que Machado descreveu com genialidade, que foi, no filme, interpretada pelo inexperiente Isabella (que era, na época, a sua companheira). Custa crer que o roteiro foi escrito por Paulo Emílio Salles Gomes e Lygia Fagundes Telles. Mas, segundo aqueles que leram o roteiro, este é bom. Então, no caso, o resultado final desastroso cabe a Saraceni. Outro filme que também não alcança um resultado satisfatório é Ao sul do meu corpo (1982), amparado num livro de ficção de Paulo Emílio.
Da turma do Cinema Novo, Glauber Rocha foi o primeiro a morrer em agosto de 1981 aos 42 anos de idade, causando estupefação entre seus admiradores, pois ainda jovem para entrar na chamada eternidade. Depois veio Joaquim Pedro de Andrade (o realizador de O padre e a moça, Macunaíma, Guerra conjugal, Os inconfidentes, entre outros), consumido por um câncer no pulmão. Leon Hirszman (A falecida…) se foi na segunda metade dos anos 80 vitimado pela AIDS (dizem que a pegou numa transfusão de sangue). Ano passado, o vigoroso Gustavo Dahl, que morreu de repente, enfarte agudo do miocárdio, enquanto, descansando na paradisíaca praia de Trancoso (Bahia), assistia entusiasmado a um filme. E agora Saraceni, que já estava internado há vários meses num hospital no Rio e teve falência múltipla dos órgãos.
Carioca, nasceu no Rio em 1933 (segundo o Dicionário de Cineastas Brasileiros, de Luiz F.A. Miranda), vindo a falecer aos 78 anos. Na sua juventude foi jogador de futebol (juvenil do Fluminense), nadador e praticante do pólo aquático. Interessou-se pelo cinema através das sessões da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio, aonde vem a conhecer as obras de Chaplin, Eisenstein, Rossellini, entre outros grandes mestres, e realiza, em 1957, o primeiro curta: Caminhos. A seguir, com Mario Carneiro, Arraial do Cabo (1959), filme aplaudido e premiado através do qual conseguiu uma bolsa para estudar na Itália no Centro Experimental de Cinema. Conhece, lá na Itália, Gustavo Dahl, que também estuda no centro, além de Glauco Mirko Lauretti. É colega de turma de Bernardo Bertolucci, Marco Bellochio (com o qual, inclusive, faz o roteiro de L'alba romana, 1961), Guido Cosulich (que anos mais tarde seria o diretor de fotografia de O desafio, que considero o seu melhor filme). De volta ao Brasil, ajuda a fundar o Cinema Novo ao lado de Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues, Alex Viany, Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, entre tantos outros. No manifesto do Cinema Novo está escrito: "uma proposta diferente de Hollywood, da chanchada da Atlântida e do cinema da Vera Cruz, mais próximo do neorrealismo, com planos longos, influência do cinema russo."
As sessões da Cinemateca do MAM do Rio se constituíam em pontos de encontros das pessoas que gostavam e que queriam fazer cinema. Havia um ambiente completamente diferente na época de Saraceni, Glauber, Dahl, e amigos, um clima propício à discussão cultural e ao debate de ideias. Muitos dos cineastas se conheceram nas sessões da Cinemateca, porque, diferente dos dias de hoje, sabiam apreciar a arte do filme, iam, para ser mais sintético, muito ao cinema. Infelizmente, a Cinemateca fechou suas portas e a grande quantidade de latas de obras preciosas e primas não se encontram em boas condições de conservação. Todo mundo se conhecia, pelo menos, de vista.
O primeiro longa de Saraceni, Porto das Caixas, foi muito bem recebido pela crítica em 1962. Irma Alvarez, argentina de nascimento e brasileira por adoção, é uma mulher que procura um amante para que possa se livrar do marido. A atmosfera propicia a convulsão dos personagens, bem de acordo com os delírios do escritor Lúcio Cardoso. A partitura de Jobim dá força às imagens. No elenco, além de Alvarez, Reginaldo Faria, Paulo Padilha, Margarida Rey, Sérgio Sanz.
O desafio (de 1965, um ano depois do golpe militar) retrata a crise existencial de um jornalista de esquerda (Oduvaldo Vianna Filho), impotente diante do golpe, e também em crise em seu relacionamento amoroso com a mulher de um rico industrial. Um filme de perplexidades, que expõe o marasmo da classe média brasileira. Obra urbana, que difere do ruralismo praticado pelo Cinema Novo, seguindo os postulados de São Paulo S/A, de Luis Sérgio Person. E o elenco é muito bom: Joel Barcellos, Maria Bethânia, Sérgio Britto (o grande ator que faleceu há pouco), João do Vale, Isabella, Zé Keti, entre outros. O filme reflete bem o espírito de uma época.
Quanto a Capitu, já se disse aqui sobre o desastre constituído. Mas Saraceni, depois deste, fica 5 anos sem fazer cinema até que, em 1973, reúne os amigos para uma ode ao espírito carnavalesco (quase ao mesmo tempo, Carlos Diegues faz Quando o Carnaval chegar, com Chico, Bethânia e Nara). Amor, carnaval e sonhos tem a esfuziante Leila Diniz (creio que seu último trabalho em cinema), Arduíno Colassanti, Ana Maria Miranda, Hugo Carvana, Isabel Ribeiro, Paulo Cesar Pereio, Monsueto. O Carnaval sempre atraiu o cineasta, sendo seu penúltimo filme um documentário: Banda de Ipanema – Folia de Albino (2003).
Em 1971, usando a tela larga, o cinemascope, Saraceni volta ao seu locus temático preferencial: o universo de Lúcio Cardoso em Crônica da casa assassinada. Norma Bengell é o elemento que deflagra um processo de corrosão numa casa de família mineira imbuída de fortes laços com as tradições interioranas. Partitura funcional de Jobim. Outros atores: Rubens Araújo, Nelson Dantas, Carlos Kroeber, Leina Krespi, Tetê Medina.
Anchieta, José do Brasil (1977) e Ao sul do meu corpo (1982) são filmes menores de Saraceni, sendo que o primeiro é produzido na época de ouro da Embrafilme, recursos infinitos, mas com um resultado aquém do que se poderia esperar. Já Natal da Portela foi um filme injustiçado, quase não lançado comercialmente, posto a escanteio, talvez pela peculiaridade estilística de Saraceni na desdramatização do roteiro dentro da linha rosselliniana. Milton Gonçalves faz o papel principal com particular desenvoltura. Bahia de todos os sambas, lançado em 1996, é um documentário sobre um grande show de música brasileira em Roma ocorrido em 1973. Saraceni filmou muitas horas, mas não conseguiu recursos para a pós-produção. Esperou apenas 23 anos para vê-lo concluído e na tela.
Baseado num romance inacabado de Lúcio Cardoso, O viajante, livro organizado por Otávio de Faria depois da morte do escritor, completa, em 1999, a trilogia iniciada com Porto das Caixas em 1962 e seguida por Crônica da casa assassinada em 1971. Obra densa, por vezes cruel, mas de uma intensidade forte na captação da compulsão humana e suas idiossincrasias tão caras a Cardoso como a Saraceni. É a história de três seres humanos que, desesperados, chegam aos limites da paixão. Rafael (Jairo Mattos), o viajante, participa de uma festa da padroeira de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. É ele quem desperta paixão em Don'Ana de Lara (Marília Pêra), a viúva rica e orgulhosa de seus poderes e também em Sinhá (Leandra Leal), menina bela e inocente. Ambas vão disputar seu amor, cada uma à sua forma.
O gerente fecha a filmografia de Paulo Cezar Saraceni. Vejam o trailer aqui na coluna.
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