RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - De certa maneira, a culpa é do querido d. Pedro 2º. Em 1876, de chapéu de palha e guarda-chuva, ele circulava com os jurados pela Exposição do Centenário dos EUA, em Filadélfia, quando passou pelo estande de um jovem magro e humilde que conhecera semanas antes, em Boston. O rapaz tinha um aparelho para mostrar, mas ninguém se dignava a examinar sua criação. Por insistência de d. Pedro, os jurados aceitaram submeter-se a uma demonstração. O jovem se chamava Alexander Graham Bell. Seu invento era o telefone.
Outro dia, num episódio do seriado americano "Peter Gunn", de 1958, a que eu assistia em DVD, o herói está na rua e precisa falar com alguém na França. Liga para a telefonista, dá-lhe o número a chamar em Paris e o número de seu cartão de crédito. Dez minutos depois, a ligação é completada e ele se admira com as comunicações modernas. Ao ver isso hoje, em 2013, eu também me admiro --com que então, em 1958, os americanos já pagavam uma ligação internacional com cartão de crédito! Naquele tempo, nós, aqui, ainda nos comunicávamos por tambores.
E o que mais me impressionou na chegada do homem à Lua, em 1969, não foi a chegada em si, mas ver o presidente Nixon, da Sala Oval, ligar --direto-- para o Mar da Tranquilidade e mandar chamar os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin. Quanto a nós, aqui, ainda nos arriscávamos a morrer de velhice antes de completar uma ligação Rio-São Paulo.
Mais recentemente, os americanos levaram isso às últimas consequências, com seus aparelhos que escutam, leem, gravam e classificam tudo o que se fala em toda parte, sem que as pessoas percebam que estão sendo xeretadas.
E, quando percebem, reagem indignadas --pelo fato de, tão triunfalistas, autossuficientes e espertas, estarem há anos tomando bola entre as pernas.