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terça-feira, 10 de abril de 2012

A marvada pinga e a diplomacia brasileira

09/04/12

POR xicosa




E não é que a Dilma Rousseff, num lobby pela cachaça brasileira, me leva para o Obama justo uma garrafa de Velho Barreiro!
Tudo bem, a garrafa é especial, cravejada de brilhantes, e vale a bagatela de R$ 212 mil, como nos relata a colunista Mônica Bergamo.
Nesse nobre capítulo o Lula, envelhecido em barris de bálsamo, não erraria jamais.
Presentearia o Obamis –lembra da camiseta que circulou com o presidente americano no papel do chegado Mussum?!- no mínimo com uma Maria da Cruz, a aguardente mineira produzida pelo seu vice José Alencar.
Estimado Velho Barreiro, quem sou eu, envernizado bebedor de Kariri com K, Xanduzinha e Jurubeba Leão do Norte, para tecer queixas à sua qualidade. Não se trata disso.
É que temos a excelência da cachaça mineira de Salinas e região. Vai o Obama resolve tomar um aperitivo antes do almoço? A chance de embriagar até o índice Dow Jones é fácil fácil.
O mimo da Dilma, meu caro amigo de balcão, não é a apenas uma gracinha diplomática.
Como já tratamos aqui neste blog interessado nas grandes questões da humanidade, os fabricantes do famoso mé do Mussum tentam emplacar a cachaça como um genuíno e exclusivo produto brasileiro.
Nossa marvada pinga ainda chega lá com a denominação “Brazilian Rum”. Covardia concorrer, por exemplo, com o rum do Caribe.
Na contrapartida diplomática, o Brasil reconheceria os uísques da linha Bourbon e Tenessee como preciosos líquidos norte-americanos.
Aqui na maloca, este cronista e a sua bela índia praguaya, não temos o menor problema de rótulos e legitimidade no comércio exterior.
A queda não tem pátria. Depois dos 40, entonce, a ressaca é uma espécie de dengue sartreana. Principalmente em uma segunda-feira.

http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/

'Love is a Losing Game'



FINITY X INFINITY

As mentiras convencionais de nossa educação

Todo mundo apresenta ideias para a escola, mas a maioria delas está ancorada em alguma de muitas mentiras.





No final do século XIX o escritor Max Nordau publicou uma obra chamada As mentiras convencionais de nossa civilização. Uma adaptação deste título tão feliz pode ser feita para a educação brasileira a partir de duas notícias salvacionistas para a escola.

Primeira notícia: o Governo do Estado de São Paulo vai investir em lousas digitais. Dessa forma, afirmam os especialistas, o aluno terá mais interesse nas aulas. De acordo com as pesquisas sobre uso de tecnologia na educação (Folha de São Paulo, 5 de abril de 2012), a modernização tecnológica não melhora o aprendizado.

Segunda notícia: o governo paulista não está só. O MEC prometeu distribuir 600 mil tablets para professores. Trata-se de uma prancheta eletrônica que permite acesso à internet, entre outras coisas (como desenhos, jogos e entretenimentos). É possível que a maioria dos professores sequer saiba o que é isto e talvez fosse mais fácil o governo ter usado o termo português “tablete”. Outra ideia do ministro da Educação (Veja, 19 de março de 2012) é alfabetizar as crianças mais cedo e aplicar uma prova aos oito anos de idade para observar seu grau de alfabetização.

Bem, escolhi duas notícias ao acaso já que todo mundo apresenta ideias para a escola. Mas a maioria delas está ancorada numa das mentiras convencionais desmentidas abaixo:

1. Não é verdade que alfabetização até os oito anos seja indispensável. Várias pesquisas (mas a história também) mostram que alfabetizar mais cedo pode até ser prejudicial e que é preferível brincar a estudar antes daquela idade. Cada criança tem um ritmo próprio de aprendizado e a escola deveria respeitar isso.

2. Não é verdade que tecnologia facilite o aprendizado por torná-lo mais atraente. Ninguém deseja que a escola volte aos padrões rígidos de um século atrás. Mas jogar pedra na casa do vizinho ou fazer sexo sempre será mais atraente do que fazer análise sintática ou resolver equações de segundo grau. A escola tem uma dimensão disciplinar inescapável e sem ela não podemos aprender.

3. Não é verdade que a escola pública era boa porque era para poucos e hoje é ruim porque atende a todos. Ela se tornou ruim porque o Estado preferiu investir somente na sua expansão física e passou a gastar proporcionalmente menos com professores e equipamentos tradicionais (livros, laboratórios, bibliotecas, piscinas e anfiteatros). Massificação com ampliação de recursos não seria problema algum. E de onde viriam os recursos? Bem, o Estado optou por construir Brasília, sustentar a corrupção da Ditadura Militar e gastar com pagamento de juros.

4. Não é verdade que a redução da idade de ingresso na escola atendeu critérios pedagógicos. Como as creches se tornaram um direito reivindicado pelas mães e custa mais barato abrir um turno na escola fundamental, os governos reduziram a demanda por creches fazendo as crianças saírem mais cedo delas.

5. Não é verdade que aumento salarial substancial não melhora a educação. O problema é que um professor carece de salário e status. A relação pedagógica é baseada principalmente na autoridade conferida ao docente pela avaliação, idade, conhecimento e respeito social. Como vivemos numa sociedade capitalista, é claro que a maior parte desses atributos depende da renda. Ou seja: do salário!

6. Não é verdade que o investimento dos governos em tecnologia educacional tenha por escopo melhorar a educação. Na verdade este tipo de investimento é adotado porque é mais barato e aparece mais.

7. Não é verdade que determinar novos conteúdos para o currículo escolar melhore a cidadania. Mas é verdade que pode piorar o estudo de conteúdos já tradicionais como Matemática, História ou Língua Portuguesa. O problema do trânsito, a religião, atividade sexual, prevenção de doenças, ecologia, direitos humanos, criminalidade, drogas etc., são sempre problemas que os políticos deixam para a escola resolver. Basta um congressista ter uma ideia e já temos uma nova obrigação para os professores. Perguntar se uma lei é exequível em função do orçamento é algo comum, mas ninguém se pergunta se os novos conteúdos obrigatórios “cabem” no currículo e no tempo de aula. É que todos esquecem que a educação não se dá apenas na escola. Só uma parte da educação juvenil é escolarizada porque na maior parte do tempo o aluno está submetido a outros educadores: amigos, família, polícia, deputados, más ou boas companhias, namorados etc. Por isso, pouco adianta ensinar ética se o Congresso Nacional perdoa seus parlamentares corrompidos.

É preciso dizer que a instituição escolar está em crise (como a família, as Forças Armadas, a Igreja e os partidos). As relações entre jovens e velhos, filhos e pais, chefes e subordinados mudaram. Impotentes, todos esperam que a escola seja a única a resolver uma crise civilizacional. É possível que a escola não exista mais num futuro longínquo. Afinal, a escolarização em massa é muito recente na história.

Mas por enquanto precisaremos dela. Quando um ministro diz que os alunos estão no século XXI e a escola no século XIX, esquece que em alguns lugares (como o Brasil) nós passamos diretamente de um país ágrafo para outro que assiste televisão e manipula ícones no computador. Não tivemos (como no Velho Mundo) a fase do livro e da leitura. Ainda precisamos um pouco de século XIX: professores respeitados, giz, quadro negro, alunos na sala de aula e livros à mão cheia.

http://www.amalgama.blog.br/04/2012/as-mentiras-convencionais-de-nossa-educacao/

Aqui e agora - Gilberto Gil


BOM DIA, GOOD MORNING, BON GIORNO, BUENOS DIAS, BONJOUR

Quando Uma Biscate Sofre…Maysa

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E a vida de biscate é só de risos e prazer e se dar bem com seu corpo? E nunca o vazio, uma lágrima, um querer que não cabe em si? Uma biscate sofre. E quando se dói, é coisa bonita de se ver. Ou de ouvir. Uma biscate se entrega, se mostra, se rasga. Uma biscate pulsa. Canta. A biscate de hoje é puro encanto em uma voz que ainda lateja em mim. Em dores de um amor que nunca é. Polêmica. Bonita. Bêbada. Solitária. Desejada. Talentosa. Desnuda. Emocional. Atrevida. Dionisíaca. Avançada. Forte. Agressiva. Indescritível. Incontornável. Insaciável. Uma biscate com olhos de abismo. Maysa cantou o que é, na minha opinião, a maior música-tema da biscatagem, Resposta:


Ninguém pode calar dentro em mim
Esta chama que não vai passar
É mais forte que eu
E não quero dela me afastar
Eu não posso explicar quando foi
E nem quando ela veio
E só digo o que penso, só faço o que gosto
E aquilo que creio
Se alguém não quiser entender
E falar, pois que fale
Eu não vou me importar com a maldade
De quem nada sabe
E se alguém interessa saber
Sou bem feliz assim
Muito mais do que quem já falou
Ou vai falar de mim
“Tenho medo apenas do que não depende de mim: amar e não ser amada, por exemplo.”
Eu cresci sabendo Maysa. Lembro do brilho no olho do meu pai quando ele falava dela. Ele era um apaixonado. Ele é. Não sozinho, claro. Manuel Bandeira escreveu: “Os olhos de Maysa são dois não sei quê dois não sei como diga dois Oceanos Não-Pacíficos”. São muitos os fãs de Maysa, sempre foram. Em 1958, por exemplo, não houve um só dia do ano em que pelo menos um órgão de imprensa do Rio de Janeiro ou São Paulo não trouxessem uma notícia sobre ela e, quando a televisão quase nem era ainda, ela comandava 2 programas semanais: um no Rio, outro em São Paulo (e não sou eu que digo, mas Lira Neto na espetacular biografia “Maysa – só numa multidão de amores”).
“Eu era uma assanhadinha dessas que não tem explicação”
Mas amor e devoção não era tudo que Maysa provocava. Porque ela não era bem comportada. Na verdade, sequer comportada, quanto mais bem. Menina, organizava e apostava em corridas de porcos, segundo ela, os únicos que não precisavam ser bem-comportados no internato religioso que frequentava – e do qual logo pediu aos pais pra ser retirada. Jogava futebol na rua com os meninos, neles batia e deles apanhava. Muito jovem, insistia pra aprender violão quando o instrumento ainda era relacionado com marginalidade, vagabundagem. Fumava e usava calças, sem pudor, desde a adolescência, em uma época que até mulheres adultas temiam o severo julgamento social sobre este assunto. Nas férias escolares viajava pra casa dos tios em Vitória. Pelo seu comportamento considerado ousado- tocar violão nas festas, tomar banho de mar sozinha e namorar todos e qualquer um que lhe interessasse – era considerada “má companhia” e sua prima era proibida de sair com ela. Fora de todos os tipos de padrão, com 14 anos media 1,60 e pesava 66 quilos. Era considerada gorda – ou “cheinha”, como diziam os mais delicados – mas isso não a impedia de conquistar quem lhe interessava. Casou-se com um homem acintosamente mais velho e, quando quis, desquitou-se (sim, não era divórcio e sim desquite nessa época). Divorciou-se do cara “bom partido” pra dedicar-se ao que gostava de fazer: cantar. E ganhar dinheiro com isso. Rompeu com os padrões e foi mal vista, mal interpretada, mal falada em uma rica sociedade que só acolhe transgressões fora das vistas do público. Trepava. Muito e com quem lhe apetecia. Colecionava frases ferinas. No meio do show de Eliseth Cardoso, sua amiga e namorada de um dos homens com quem Maysa se relacionou também (e, dizem, concomitantemente), Maysa levanta e diz: “meu maior desejo era ser homem, negro, pianista e bêbado. Como vocês sabem, não consegui ser homem nem negro nem pianista. Agora pretendo ser a Eliseth Cardoso”.
“Não gosto de nada pela metade, nada que é pouco me satisfaz.”
Esse comportamento próximo ao seu desejo, a honestidade de reconhecer-se frágil, aberta, perdida, rendeu comentários desfavoráveis e manchetes escandalosas. Investia intuitivamente contra os preconceitos: tomava banho nua em cachoeiras, brigava na rua com os homens com que se relacionava (as disputas com Bôscoli são famosas), bebia. Era depreciada pelos cabelos despenteados. Forte, ignorava displicentemente as críticas e continuava linda com seus cabelos contestadores já que na época as mulheres gastavam muito com perucas e laquês que limitavam suas atuações. Maysa era absolutamente contra as amarras. Maysa arriscava-se, entregava-se, intensamente fazia suas escolhas para a seguir repudiá-las.
“Nasci com essa marca. De não ser convencional. De quebrar as regras. De não seguir as leis”
Eu cresci sabendo Maysa. Sabendo que era possível ser forte e admirável mesmo quando se é incompleta. Cresci sabendo Maysa, sabendo sua falta. Sabendo seus misteriosos e doloridos olhos. Sabendo que ela amara demais e que morrera na pressa de se alcançar. Sabendo sua melancolia, seu timbre particular, sua vida peculiar. Cresci hipnotizada pelo risco. Pela velocidade que quase nos deixa na esquina de nossa própria vida. Cresci sabendo Maysa: sabendo que somos responsáveis pelas escolhas e que elas nos determinam tanto quanto nós a elas. Sabendo a coragem. A ousadia. Cresci sabendo que se podia deixar os cabelos despenteados e viver sem prestar contas aos padrões alheios. Cresci sabendo que dizer: “é porque meu amor por você é enorme demais” não impede de seguir adiante. Cresci sabendo que é preciso fazer o que se gosta e que mesmo isso não é o suficiente. Cresci sabendo Maysa: sua beleza, sua voz, suas músicas, mas, principalmente, sua liberdade. E sua dor. Porque não é fácil ser.
Eu cresci sabendo Maysa e, embora desconhecesse o termo, cresci sabendo-a biscate. Biscate! Dizia o jornal ao divulgar sua intensa vida amorosa. Biscate! Sussurravam quando deixou o filho aos cuidados do ex-marido. Biscate! Alardeavam noticiando com ênfase as bebedeiras, situações extremas e problemas pessoais. Biscate! Debochando do cabelo. Biscate, biscate, biscate por amar quem queria, por ficar sozinha, por beber muito em público, por dirigir sua própria carreira. Brilhantemente Biscate, digo eu, lendo sua auto-entrevista na Revista Manchete(1961):
“Mas você não bebe somente antes de entrar em cena, não é? Por que você bebe de modo geral?”
“Primeiro porque quero. Depois porque trabalho para pagar o que eu bebo. Finalmente, porque tenho senso de autocrítica. Muitas vezes reconheço-me insuportável e eu só suporto os insuportáveis bebendo.”
Uma Biscate sabe onde guarda sua dor…

http://biscatesocialclub.wordpress.com/2012/01/19/quando-uma-biscate-sofre-maysa/