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quarta-feira, 28 de março de 2012

Vamos recordar "O Pasquim": a Revolução pelo Cartoon






Ademilde Fonseca - Choro Chorão (Hoje choramos sua partida)

Samba na Gamboa

Millôr Fernandes - O Poeta




Era um homem bem vestido
Foi beber no botequim
Bebeu muito, bebeu tanto
Que
s
aiu
d
e
l
á
a
ssim.
As casas passavam em volta
Numa procissão sem fim
As coisas todas rodando

O moço entra apressado
Para ver a namorada
E é da seguinte forma
escada.
a
sobe
ele
Que
Mas lá em cima está o pai
Da pequena que ele adora
E por isso pela escada

ele

embora.


Poema Matemático - Millôr Fernandes






Um Quociente apaixonou-se
Um diaDoidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode-me chamar de Hipotenusa.
"E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxosdas fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianase pitagóricas.
E, enfim, resolveram-se a casar

Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações ediagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
IntegralE diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes

Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
o Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais
Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo o que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.

Millôr Fernandes - O Cartoonista



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Millôr Fernandes disse....

Ricardo Moraes - 13.nov.04/Folhapress
O escrito Millôr Fernandes em seu estúdio, em Ipanema, no Rio
O escrito Millôr Fernandes em seu estúdio, em Ipanema, no Rio
Só louco rasga dinheiro? Bobagem. Nem louco rasga dinheiro. Experimente jogar uma nota de cinquenta reais (ou mesmo de um!) num pátio de insanos. A briga vai ser feia.
*
Bhundismo da semana: Menina, a caridade é mais importante do que a castidade. Dê para um desempregado.
*
Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.
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O aumento da canalhice é o resultado da má distribuição de renda.
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Nunca tantos deveram tanto a tão porcos.
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Mordomia é ter tudo que o dinheiro - do contribuinte - pode comprar.
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Chama-se de herói o cara que não teve tempo de fugir.
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Infelicidade: Nascer com talento melódico numa época em que o pessoal só se interessa por percussão.
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A gente tem que experimentar de tudo. Desde que seja de graça e não doa muito.
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Calúnia na internet a gente tem que espalhar logo, porque sempre é mentira.
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Repito, mais uma vez: supremo eu só conheço o de frango.
*
O homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é.
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Em agosto, nas noites de frio, a pobreza entra pelos buracos da roupa.
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Idade da razão é quando a gente faz as maiores besteiras sem ficar preocupado.
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O preço da fidelidade é a eterna vigilância.
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Beber é mal. Mas é muito bom.
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Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem.
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Nunca conheci ninguém podre de rico. Mas já vi milhares de pessoas podres de podre.
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Eu sei sempre do que é que estou falando.
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O capitalismo não perde por esperar. Em geral ganha 6% ao mês.
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Quem confunde liberdade de pensamento com liberdade é porque nunca pensou em nada.
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Toda lei é boa desde que seja usada legalmente.
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Tirando isso não sei mais nada.
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Eu também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto.
*
Todo homem nasce original e morre plágio.

O desenhista, jornalista, dramaturgo e escritor Millôr Fernandes

28/03/2012

Millôr Fernandes
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Entrevista com o desenhista Millôr Fernades, em seu estúdio, em Ipanema, zona sul do Rio de JaneiroO desenhista, jornalista, dramaturgo e escritor Millôr Fernandes em sua casa, no Rio de JaneiroO jornalista e escritor Millôr Fernandes durante entrevista no programa "Roda Viva", da TV CulturaORG XMIT: 252501_0.tif Desenho de Millôr Fernandes no site do artista.Ilustração da capa do livro "Tempo e Contratempo" de Millôr Fernandes, que assina a obra com o pseudônimo de Vão GôgoO jornalista e escritor Millôr Fernandes durante entrevista no programa "Roda Viva", da TV CulturaO escritor Millôr Fernandes durante lançamento de "O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr", em São PauloO jornalista e escritor Millôr Fernandes durante entrevista no programa "Roda Viva", da TV CulturaMillôr Fernandes junto a painél que idealizou para parede do Laboratório Fleury, em São PauloO escritor, humorista e chargista Millôr Fernandes durante entrevista à Folha de São de Paulo, em seu estúdio, em Ipanema, no Rio de JaneiroMillor Fernades em seu estúdio em Ipanema na zona sul do Rio de Janeiro Ilustração da obra "Mausoléu" de Millôr FernandesIlustração de Millôr Fernades para a coluna "Pif Paf" da revista "O Cruzeiro"O desenhista, jornalista, dramaturgo e escritor Millôr Fernandes em fotografia de 1970 Leia maisO desenhista, jornalista, dramaturgo e escritor Millôr Fernandes em fotografia de 1970 Leia maisMillôr Fernandes participa de entrevista no programa "Roda Viva", da TV Cultura Leia maisMillôr Fernandes junto a painel que idealizou para parede do Laboratório Fleury, em São Paulo (SP) Leia maisMillôr Fernandes é fotografado no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro Leia maisMillôr Fernandes durante entrevista à Folha em seu estúdio em Ipanema, no Rio de Janeiro Leia maisEstúdio de Millôr Fernandes em Ipanema, no Rio de Janeiro Leia maisMillôr Fernandes durante entrevista à Folha em seu estúdio em Ipanema, no Rio de Janeiro Leia maisUma das assinaturas do cartunista Millôr Fernandes que fazem parte do livro "Um Nome a Zelar", com suas criações gráficas Leia maisCapa da revista "PIF PAF", liderada por Millôr Fernandes Leia mais

Ricardo Moraes - 13.nov.06/Folhapress

O último texto publicado, no dia 12 de agosto de 2001:

Da eutanásia
Mais cedo ou mais tarde todo articulista decente tem que falar da eutanásia, razão pela qual eu custei tanto a me decidir. De saída é uma palavra tão bonita que, se a pronunciamos contra o céu azul do colocar-do-sol (antigo pôr-do-sol) de um dia de domingo, qualquer pessoa, por menos poética que tenha a alma, percebe imediatamente que somos muito cultos e lidos. De qualquer forma não é necessário esperar o domingo para usar a eutanásia, já que nos dias comuns essa palavra também pode ser empregada, embora só em legítima defesa.
Porém, que é a eutanásia? A eutanásia, inventada no ano de 1200 por Sir Lawrence Olivier Lancelot, tornou-se imediatamente muito popular entre médicos que tinham pressa em receber as contas das viúvas. Aplicada aos doentes, ela dá excelentes resultados, curandoos completamente dessas tola mania de chamar médicos quando está doente. Médicos só devem ser chamados quando se está vendendo saúde. Por exemplo, aos 18 anos, fazendo surfe no Arpoador.
Outrossim (que eliminou da língua o outronão), é muito fácil saber se você contraiu eutanásia: basta olhar pro canto e ver se a junta médica está falando em voz baixa. Se estiver, é porque você acabou de ser convocado para fim de herói russo no período comunista ou pra doador de órgãos na China atual. Isso, no Brasil do século XIX, ainda não se chamava eutanásia, se chamava "Voluntários da Pátria".
Na Idade Média (aproximadamente 40 anos) essa ciência chegou a ser muito praticada, principalmente em Caxias, no Rio, tendo até mesmo o Sr. Tenório Cavalcanti publicado um livro sobre as melhores maneiras de se empregar a referida Euterpe com metralhadora Lurdinha. Floresceu muito, também, entre os Médicis de Florença e só não floresceu mais porque Florença temeu a concorrência e juizes severos praticaram a eutanásia na eutanásia, tendo ela embarcado para a França, onde apareceu num filme de André Cayatte e posso garantir que estava mais bonita do que nunca.
Mas o local onde crescem as maiores eutanásias que já tive oportunidade de saborear, é no 2o. pavilhão para tratamento psicológico, no Carandiru.
Olha, explico melhor --no tempo em que o cavalo de Tróia ainda era potro, já a eutanásia tinha dado duas voltas ao mundo, usada muitas vezes por pessoas que não tinham a mínima experiência e tentavam apagar alguém praticando a eutanásia e acabavam liquidando sem que a eutanásia sequer desse as caras. (Aqui conviria falar de Hiroshima e Nagasaki, mas eu agora estou sem vontade de me meter na guerra fria, pois acho que essa era até bem quente. Prefiro chuveiro. A propósito, alguém ai tem cinco notas de dez, dessas elásticas estou precisando lavar dinheiro).
Isso é a eutanásia, em suma. Quem souber mais e melhor que me diga, sendo que a bibliografia a respeito é muito rica, estando mesmo Trotsky preparando um grosso volume sobre o assunto quando Stalin praticou a eutanásia nele. E mais não digo porque, aqui pra nós, estou com eutanásia de assunto.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1068397-leia-textos-de-millor-fernandes-publicados-na-folha.shtml