Pesquisar este blog

sexta-feira, 4 de novembro de 2011



Abraçados
(- não falamos ! -)

mas que importa?
Os nossos corações não param de conversar
(Ronaldo Franco)


Eles pensam e dizem...

Frank Sinatra

Frank Sinatra
"Quando você atinge minha idade (63), ergue um muro ao seu redor.E você não se magoa como antes." * Em vez de cantar só dois ou quatro compassos de cada vez - como a maioria dos cantores - eu conseguia cantar seis, às vezes oito compassos, sem tomar ar." * Não sei o que outros cantores sentem quanto cantam...Mas, sendo um maníaco-depressivo de 18 quilates e tendo uma vida de violenta contradição emocional, tenho uma capacidade superdesenvolvida tanto para a tristeza como para euforia." * "Foram 3 décadas fecundas, movimentadas, divertidas, às vezes tempestuosas, ocasionalmente tristes, mas sempre excitantes...Quero tempo para ler, refletir...Talvez eu vá começar a viver." * My way: desgostos, tive alguns. Mas, novamente, muitos poucos para contar...

Tarso de Castro

Tarso de Castro
"Viver é fácil. A dor é apenas o intervalo para fumar."* É preciso ter amigos, mas poucos." *

Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes
"A fé desentope as artérias; a descrença é que dá câncer." * Nada melhor para a saúde que um amor correspondido." * Nada mais lindo que as feiruinhas da mulher amada."

Tom Jobim

Tom Jobim
"O Brasil não gosta do Brasil." * "Ah, eu sou um mestiço de popular com erudito. Sou um eruditinho." * "Estou cansado de dar entrevistas. Não sou mais homem ou compositor, sou entrevistado." * "A inteligência é o mais pobre dos atributos do homem." * "Passei minha vida inteira sem tempo de ter saudade." * "Nós somos um país riquíssimo com vocação para a pobreza."

Pecados

Publicado no guia Divirta-se, em O Estado de S. Paulo em outubro de 2011
Foi com certo alívio que eu li, há muito tempo, uma declaração de Carlos Heitor Cony. Dizia ele que nada melhor para curar uma dor de corno do que uma boa música brega.

Meu alívio não se deu por conta de estar na fossa, mas (dos males, o menor) por atenuar meu pecado de ser grosseiramente sentimental. Cony é escritor sério, de alta reputação e graves temas. Inteligência refinada, dada aos sutis meandros do pensamento. De certo saberá versos camonianos de cor e salteado, terá preferências na música erudita, conhecerá vinhos e já entrevistou o Papa. Ainda assim, tem sua quedinha pelo brega — mesmo que em restrita circunstância. Se ele, que é Cony, é assim, que dirá eu.

Muito já me censurei ao notar um gostinho para lá de duvidoso ombreando espaço com minhas predileções mais sofisticadas. Uns pensamentinhos vagabundos que me ocorrem em momentos de saudade, embrulhados no açúcar rude do mau gosto. Eles me assaltam quando passo por uma rua triste, ou vejo a sala vazia onde até ontem dormiram meus pais em visita às netas. Ou quando escrevo cartas melosas às minhas filhas, para que leiam no futuro. Ou quando lembro da canção Pai Herói, de Fábio Júnior.

Pai Herói não é grave como alguns versos que já cantei na juventude: “Vieram me contar e até jurar / que é de outro que tu gostas / Confesso, meu amor, não acreditei / mas quase caí de costas”. O atenuante é que eu cantava esses por gozação, nos preparos para uma festa brega com amigos da faculdade. Mas para minhas veleidades literárias, para meus versos de João Cabral e ensaios do Davi Arigucci, Fábio Júnior é falta gravíssima.

Gostar de Caetano Veloso (que eu venero) ou de Chico Buarque (que eu cobiço) dá raiva e inveja. Eles despertam a ambição lunática de ser gênio. E achatam a parte sã da mente, que passa a só respirar o ar contrabandeado pela fronteira descabida dos sonhos de fama e talento. Depois, cansado da minha própria pequenez, a única coisa a fazer é tocar um tango argentino. Mas isso é ousado, e inatingível. Então desisto e chamo o garçom: para matar a tristeza só mesa de bar. Quero tomar todas, e me embriagar. Se eu pegar no sono, me deitem no chão.
 
 
 

Seres do sexo masculino, anotem:

web


O cara não disse nada.

1-) Tá viajando
2-) Perdeu o celular
3-) Arrumou outra
4-) Tá me amando de longe (será??)
5-) Me odeia e não pode me ver nem lambuzada de nutella
6-) Tá me preparando uma surpresa linda (quer enganar quem, gata?)
7-) Foi internado no hospital
9-) Voltou com a ex
10-) Tá ocupado com o trabalho (vai cagar!)
11-) Tá em depressão pós-derrota do time
12-) Não sabe como me pedir em namoro
13-) Tá sem coragem de ligar. Só.
14-) Esqueceu que eu existo (ui!)
15-) Morreu!
17-) Não me merece
18-) Nenhuma das anteriores
19-) Todas as anteriores
20-) Volte ao topo dessa lista

O silêncio de um homem pode matar uma mulher. Definitivamente!

"Me Deixas Louca" e "Retrato em Branco e Preto" - Elis Regina




NO BANCO DO BUZU


texto de zédejesusbarreto*
(especial para o Jeito Baiano)
.
Aula de cidadania
.
Um ‘rolê’ de buzu, de Vida Nova (bairro de Santo Amaro de Ipitanga) até a Estação da Lapa, em Salvador – via Itinga, São Cristóvão, orla –, de olhos e mente abertos, em horário de tráfego maneiro para que se possa bem apreciar as coisas, é uma aula.
A primeira lição é sobre a relatividade do tempo. O tempo, no volante de um carro, voa. Já dentro de um buzu os minutos se arrastam. São duas horas nesse roteiro, quando se pega um fluxo bom de tráfego. Dá para ler jornal, tirar soneca, trocar prosa, conhecer gente e até meditar… sem agonia.
De olho na janela, a diversidade de paisagens impressiona. Ali, resto de mata, lá roçados que parecem o interior sertanejo, acolá casebres, adiante lixões e invasões que lembram os ‘musseques’ de Luanda (Angola). Rodando mais, passamos por bairros superpovoados e moradas de laje batida e tijolo aparente, vielas espremidas e ruas esburacadas. Há tabuleiros e traquitanas de comércio informal por tudo que é canto. E meninos vagando, vagabundos, desocupados, cães atarantados e muita pobreza.
Movimento! Vida se mexendo de todas as formas. São variadas, múltiplas realidades, cidades dentro da Grande Cidade. Quando se destampa o mar, adiante, hora passada, em Itapuã, parece outra urbe, um outro mundo. Respiram-se novos ares, maresia, mesmo com os passeios esburacados, carências conhecidas.
Uma constatação importante clama: Somos um povo absolutamente mestiço, uma gente mulata, cabocla, mistura de cores e traços. Variados matizes. Nossa população não é em p & b, como querem alguns. Os branquelos são raros e os negões puros, bem poucos. Isso me faz pensar no mestre Cid Teixeira que sempre repete, sem pejo: ‘Somos mulataria!’
Retinto é o motô (motorista), paciente, impassível, atento… a enfrentar muitos buracos no percurso, lama, quebra-molas a rodo, aquele barulhaço aterrador às aceleradas, caminhões parados fechando passagem, carro particular ignorando o fluxo, parado na faixa, mal estacionado, manobrando errado e matracando o ritmo, falta de respeito e de educação geral sobre rodas.
E mais pedestres desastrados, ciclistas (até crianças) e motoqueiros imprudentes, dá até arrepios… Mas, juro, nada perturbou o motô, nem mesmo a quantidade absurda de idoso e ‘carteirante’ que entra pela dianteira; fora os pedintes, os deficientes, os ‘crentes’ pregando a bíblia e vendendo doces, os ex-drogados relatando dramas e arrecadando trocados para a salvação pela fé… Uma festa dentro do buzu que roda e ronca. O papo rola, a vida vai, o tempo corre.
O cobrêro (cobrador) puxa conversa passando o troco, de bem com a vida, pra se distrair, repetindo, no seu jeito baiano de se mostrar gentil: ‘Valeu, broder, obrigado’.
A brisa atlântica varre o bafo humano que vai se impregnando no interior do buzu e o vaivém das ondas atrai os olhares, descansa as vistas. E a vida segue aos trancos e arrancos, parando e seguindo, entrando e saindo, na baralhada do barulho de vozes, ranger de freios, roncar de motores e destinos. Fruição humana.
Nossos governantes deviam, vez ou outra, feito gente, andar de buzu. Faz bem.
Tornar-se-iam mais humanos.
.
*Zédejesusbarreto, jornalista e escrevinhador (maio/2010)

Um jeito baiano de viver...

O CORREDOR DA VITÓRIA SEGUNDO JOLIVALDO

27/05/2010
Foto de CLÁUDIO NIEDERAUER
.
O REINO DE SHANGRILÁ
.
texto de JOLIVALDO FREITAS*
(especial para o Jeito Baiano)
.
Mais de 99 por cento da Bahia não sabe que existe uma praia chamada Shangrilá, em Salvador, e que nem está no mapa, nem no roteiro turístico e nem em nada. A não ser na cabeça dos maconheiros e dos pescadores que a frequentaram nos anos 60 e 70.
Todo mundo sabe da praia da Ribeira, Porto da Barra, Itapuã e até as do Litoral Norte, que já nem pertencem à capital, mas ignoram a lúdica e única praia da cidade que está localizada numa falésia.
Para quem não sabe e nem tem mesmo a obrigação de saber, justamente por não ser tão importante assim ou algo que vá impedir a hora do Harmagedon, a praia fica no logradouro com o metro mais caro da cidade. Está abaixo do Corredor da Vitória, onde hoje estão os mais caros apartamentos e os mais altos edifícios da moderna metrópole.
O Corredor da Vitória foi para onde, no período colonial e principalmente no limiar do século XX, os grandes fazendeiros de cana-de-açúcar, que não queriam passar a vida eternamente de forma bucólica, decidiram montar seus casarões. No final do século vieram os comerciantes franceses, italianos, ingleses e outros alienígenas e montaram casarões coloniais, fugindo das ruas irregulares do centro da cidade.
Ainda restam alguns casarões de importância histórica, mas a maioria absoluta, mesmo se tratando de um importante acervo, um patrimônio histórico, foi destruída pela sanha dos construtores.
Um exemplo recente é o do casarão neocolonial, parecendo daqueles americanos do filme E o Vento Levou, que pertencia ao reputado jornalista Jorge Calmon, que, segundo dizem as más-línguas, foi vendido para uma construtora com a garantia de que a casa seria preservada e o prédio construído na parte de trás. Ainda, segundo dizem por aí, a construtora derrubou o casarão nas madrugadas de um final de semana, decidindo pagar a multa pela nefasta ação, coisa que seria pouco em relação ao faturamento com o projeto. Foi-se a memória, ficaram os granitos da fachada do arranha-céu.
O Corredor da Vitória, que ganhou seu nome de batismo durante o período da guerra da Independência da Bahia – por onde as forças nativas marcharam quando da vitória contra o Exército Português de Madeira de Mello –, sempre foi o sonho de consumo da classe mais abastada da cidade, por sua posição privilegiada.
Fácil acesso às praias da área sul da cidade e próximo ao Centro Histórico. Também com uma paisagem privilegiada, debruçado sobre a Baía de Todos os Santos e com vista para a Ilha de Itaparica, Ilha de Maré, Madre de Deus e subúrbio ferroviário. Uma dádiva.
Abaixo, um imenso paredão de pedras de fogo e vegetação rasteira, com águas límpidas que dá até para ver os cardumes passando. Hoje o acesso para as praias abaixo das escarpas é fácil. Os prédios milionários fizeram piers e montaram chariots que descem sobre trilhos.
Antigamente ninguém tinha coragem de descer. Para chegar lá era preciso vir de barco, saindo do Solar do Unhão, na zona do Comércio ou do Porto da Barra.
Nos anos 60, quando a repressão aos hippies era imensa e fumar maconha dava com a polícia batendo de cassetete de borracha ou “fanta” (cassetete de madeira de lei) no lombo, os chincheiros encontraram o lugar perfeito e foram para lá se juntar a grupos de artistas que já frequentavam o lugar pela sensação de estar fora do burburinho da cidade.
A lenda urbana reza que quem batizou a área de Shangrilá foi o compositor baiano Caetano Veloso.
Carlito Mau Mau, Zé Diabo e Arquimedes Maluco frequentavam a área, descendo pela rua e se arranhando todo nas pedras e nos feixes de tiriricas. Naquele dia Mau Mau levava em sua bolsa de couro curtida e pintada com o símbolo de Paz e Amor um novo tipo de cogumelo que um argentino mais doido ainda tinha dado de presente no Porto da Barra, para fazer chá. Fizeram e provaram. Tirando umas luzes piscantes, uma sensação de dormência na língua e uma comichão que não parava nas pernas, nada demais aconteceu.
Os três moravam no Edifício Apolo XXVIII (o nome em homenagem aos foguetes norte-americanos), na época o maior da cidade com 28 andares, cheio de problemas como elevador que não funcionava e o cara tinha de subir a pé até o último andar para chegar em casa; faltando água, luz cortada e limpeza zero. Saíram do Sahngrilá e decidiram subir a montanha de escadas para apreciar a paisagem do telhado do Apolo.
Talvez pelo esforço, foram chegando e recebendo a rebordosa. O chá começava a fazer seu efeito. O sol, na ótica de Mau Mau, estava parecendo se dissolver como tinta a óleo: escorrendo no horizonte após a Ilha.
Zé Diabo viu passar uma revoada de araras e Arquimedes Maluco decidiu voar atrás. Jogou-se. Deu sorte de cair sobre uma plataforma poucos metros abaixo e ficou lá com o braço quebrado. Pelo susto o efeito passou em todos. Os moradores chamaram os Bombeiros.
Os soldados subiram todos os andares, cheios de equipamentos, retiraram o maluco do local de risco e foram descendo com os três. Os moradores tinham se alinhado nas escadas. Cada degrau um morador.
Os três drogados descendo e levando cascudos, piparotes, piabas, telefone sem fio, cusparadas, chutes, beliscões, ofensas e dedadas no toba, e os bombeiros fazendo de conta que não estavam vendo. Chegaram roxos até o andar onde moravam.
Por coincidência, depois disso nunca mais o Shangrilá voltou a ser frequentado. A loucura deles chamara a atenção da imprensa e a polícia passou a dar batidas e colocar para correr qualquer um que não fosse morador da área.
Hoje, os três, pessoas bem situadas na sociedade baiana, garantem que não lembram da história. Juram por Senhor do Bonfim que não foi com eles.
E ninguém, no edifício, se lembra do caso. A praia de Shangrilá não é mais a mesma. Está cercada de edifícios cujos apartamentos valem milhões de dólares.
.
*Jolivaldo Freitas – Jornalista e escritor

MEMÓRIA

 

Quando foi aquele tempo
em que eu me olhava, sonhando,
nas águas desta bacia
e via o rosto da moça
que, do fundo, me sorria?

Onde foi parar o sonho?
Pra onde foi a magia?
Pra onde o rosto da moça
que, do fundo, me sorria?

Em que águas refletida
sorri agora, tardia,
a face que me sorria
lá no fundo da bacia?


De A Face na Água (1990)

Maria Thereza Noronha





Em teus
pés:
uma vogal acentuada em desejo
e duas consoantes
oscilam
entre o possível sim
e a melancolia do não
RonaldoFranco > Do livro "Eu te amo"

Um poeta da Bahia

Ildásio Tavares

Anos 1968, a Bahia se esgueirava da sombra da ditadura e uma “jeunesse dorée” buscava abrigo e refrigério sob o manto da arte, como alternativa para uma realidade que rejeitava, Uns dedicavam-se às artes plásticas; outros ao cinema, à música popular, à poesia, ao teatro.

Foi nessa época que me aproximei mais de Antonio Lins, o Toninho, unidos pela poesia e pelos festivais de música popular. Temperamento recatado percebi logo que este jovem não era do tipo de fazer estardalhaço, nem de ser o marqueteiro de sua própria obra – desde então, Toninho Lins era mais de guardar as pérolas que recolhia de seu cotidiano de pessoa sensível – quase nada me mostrava de seus poemas ou do que viria a ser letras de sua inúmeras músicas de sucesso.

Nossa aproximação se firmou na casa de seu pai, romancista e presidente da Assembléia Legislativa, Wilson Lins, magnífica figura de ser humano que vivia praticamente numa fazenda no alto do Rio Vermelho, ornamentada de araras, rodeado de amigos, poetas, escritores, cineastas, compositores e o mundo político da Bahia.

Quando a coisa apertou, começou o êxodo. Eu fugi para os Estados Unidos e Toninho Lins foi para São Paulo, pelas mãos de Glauber Rocha e Orlando Senna, em busca de horizontes mais arejados, levando em sua bagagem sua sensibilidade aguçada para confrontar com a dura realidade da paulicéia desvairada.

Toninho Lins guardou seus poemas, do último livro, por muito tempo. Neste último que ora releio “Amores Partidos- Poemas e Canções de Amor”, segunda edição, seu oitavo livro publicado, há poemas que dormitaram durante algum tempo na gaveta, mas que ao saírem para o papel se dispuseram de uma forma depurada e densa.

O poeta sente o tempo todo. Sente o dia a dia. Sente a conjuntura política e social. Sente a realidade urbana. E reage com o compasso sensível do verso que transmigra a realidade existencial para o papel.

Ele voltou à Bahia, assumiu a presidência da Fundação Gregório de Mattos, sacou que cultura não é prioridade de governo algum, se desentendeu com o prefeito João Henrique, mandou todos às favas e retornou a paulicéia, onde é candidatíssimo a uma vaga na Academia de letras, além de ter recebido, da Assembléia Legislativa, o título de cidadão paulista.

Este é meu amigo Toninho Lins, personagem de Jorge Amado, em Tenda dos Milagres, nome de Rua em São Paulo, no Butantã, bairro de classe média, concedido pelo então prefeito Altino Lima, nos anos de 1980.

Toninho Lins não é um espectador complacente das agruras do seu tempo. Ele esta envolvido nele; ele se maquiniza: “Deixa o coração sair pela boca/partir/Deixa o coração parir outros corações/E se abrir feito lata”... Antonio Lins não é destes líricos do intelecto que celebram seus poemas no mais recôndito de seus gabinetes como mero ato masturbatório.

Ele produz poesia como sumo da vida, numa constante extração de som e sentido de momentos vividos em que, como uma lâmpada, ele ilumina estes momentos, traduzindo-os na poesia mais autêntica porque ela é mais que uma poesia escrita Ela é uma poesia vivida. Uma poesia vivida que não despreza o pensamento porque, acima de tudo, pensa a vida.


Antonio Lins

60 anos de trio elétrico

O Carnaval da Bahia é o espelho onde a cidade toda se reflete, se olha, se projeta ao mundo inteiro, se reconhece e se estranha, ano a ano. Herdeiro de muitas ancestralidades, de outros tantos festejos, equilíbrio precário e milagroso entre acordos e tensões, estados de espírito sensorialmente democráticos e espaços de exclusão e exclusividade; afro-latino, afro-barroco, uma possessão que toma conta e devora a cidade.
O Trio Elétrico é a versão eletrificada do carro de Dionísio, a levar em seu rastro a coorte de entusiasmados sátiros, faunos e bacantes, corpos semi-desnudados por abadás e pinturas neo-tribais. Rola hoje, necessariamente, sobre azeitadas estruturas apolíneas, cuidadosamente planejadas, e movimenta poderosas forças econômicas e sociais.
Extraordinário engenho tecno-estético em cima do qual literalmente vêm se configurando os rumos do carnaval baiano, com ecos por micaretas e carnavais de outras cidades, estados, países. Dos anos oitentas para cá, foliões entusiasmados caem no transe de sua magia, mundo afora.
Ao final dos anos quarentas, numa Bahia ainda modorrenta e auto-referente, o radiotécnico Adolfo Antônio Nascimento – o Dodô - violonista nas horas vagas, e o engenheiro Osmar Álvares de Macêdo – o Osmar, exímio tocador de cavaquinho, se encantaram ao ouvir o violão elétrico de Benedito Chaves nos palcos do Tabaris.
Em 1950 o governador Octávio Mangabeira promoveu um pré-momo no trajeto Campo-Grande — Praça da Sé, ao som da orquestra de frevo pernambucana “Os Vassourinhas”, levando a população ao delírio. Estavam lançadas as sólidas bases do duo marketing político e Carnaval.
Uma coisa leva a outra,”tudo se transforma”: Dodô e Osmar amalgamam, então, o frevo, a guitarra elétrica, tudo isso e o céu também. A partir da idéia dos carros de corso, a “dupla elétrica” restaurou um velho Ford Bigode-29 e saiu às ruas, no carnaval do mesmo ano com seus “paus elétricos” ligados aos alto-falantes, com imenso sucesso.
Convidaram Temístocles Aragão , já instalados numa picape Chrysler com duas placas laterais que anunciavam : “O trio elétrico”, patrocinado pela saudosa Fratelli Vita. Tocavam um frevo baiano instrumental.
Com a chegada de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Moraes Moreira, a música do trio passa também a ser cantada, com letras de grande qualidade literária, como as de Antonio Risério, inesquecíveis, sem perder com isso uma gota de popularidade ou animação.
Na tradição antropofágica, o trio segue, fiel ao seu início, na devoração sincrética de novos elementos, acompanhando a evolução do próprio carnaval e as transformações da sociedade baiana. A “cultura afro”, o orgulho em ser negro, movimento que cresceu geometricamente entre a juventude baiana dos anos setentas, foi incorporado tanto do ponto de vista sonoro, com o casamento do frevo com os ijexás, quanto do ponto de vista das artes visuais, em figurinos e decorações. Num corte para os anos oitentas, o Olodum , com seu “Faraó”, encorpa a epítome da música afro de tendência antropológica. Também a partir dos oitentas, com a chegada dos ritmos caribenhos e da lambada, Luiz Caldas e Gerônimo apontam novas direções.
O trio estava definitivamente consolidado como a grande plataforma da música baiana. Ponto de encontro de todas as vertentes e possibilidades estéticas, o palco ambulante de maior poder conclamatório da cidade do Salvador. Dele, tudo é possível dizer. A coisa é como dizer.
Com a capacidade de renovação artística de Carlinhos Brown; a qualidade da antenada Daniela Mercury; a beleza da voz e da própria Ivete, bela e generosa mulher, que lança tantos talentos; Margareth Menezes e seus Mascarados, o borbulhar de Cláudia Leite, a alegria azul do Araketu, o arrastão de entusiasmo do Chiclete, a teatralidade cômica de Lélis, entre tantos outros talentos que fazem o Carnaval da Bahia.
Da fubica ao Chrysler, daí aos pequenos caminhões, a trajetória vertiginosa chega às máquinas futuristas com capacidade para gerar iluminação a uma cidade de 50 mil habitantes. A arte do trio é indissociável de sua técnica. Seu desenvolvimento técnico, indissociável da sua transformação em uma bilionária maquinaria de geração de negócios com cruciais repercussões sociais, éticas e estéticas.
O entusiasmo em excesso, sabemos, é limítrofe à violência. A presença física dos carros e seu poder ilimitado de amplificação sonora, claro, ensejam cuidados urgentes. O mesmo podemos dizer quanto a seu modelo estético e econômico. Há que se preservar manifestações artísticas e culturais de uma trioeletrização compulsória e macaqueada, de baixa qualidade e nenhum significado artístico ou social. Todo grande poder e privilégio gera, ou deveria gerar, grandes responsabilidades, para as quais a sociedade civil, os poderes executivos e legislativos, os artistas, toda sociedade , enfim, e os próprios dirigentes de trios devem estar muito atentos.

Antonio Lins é poeta e jornalista

How old is old, really?

As she celebrates her 60th birthday, Rona Maynard talks about the reality of "old."

By: Rona Maynard       
When I was a hesitant 29, faking poise with a sale-rack suit and a new briefcase, I used to wonder, How old is grown up? I hoped to cross that threshold at 30, but my birthday flew by in a barrage of projects. I noticed one change: a longer to-do list. I still hadn't claimed that era's trophies of success - a secretary and a Dictaphone. I still lived in a house with no living room furniture. So why all the hype about turning 30?
For the better part of three decades, I've been shrugging off milestone birthdays. Forty: eclipsed by my mother's death two weeks earlier. Fifty: an excuse to squeeze a girlfriends' lunch between my morning and afternoon meetings. Then, last October, I turned 60. I marked the day with my first birthday bash since primary school, but I hated to leave my fifties. Oh, what a glorious decade - like the forties, with more confidence and savvy. Let me tell you, there's nothing familiar about 60.

Age: Just a number - or more?

"Age is just a number," people say. I've probably said it myself. But, at 60, I am now twice 30 - the age at which, in the parlance of my flower-power youth, a person can no longer be trusted. At 60, I wonder if I can trust myself to navigate the years ahead with the same emotional tool kit that had seen me through my rapidly dwindling middle age. I face a perplexing, even shocking new question: "How old is old?" Emotionally speaking, this latest birthday has flipped me upside down, swung me by the feet in a stiff wind and deposited me back on terra firma unsure just where I'm bound.
At least I'm in glamorous company: Meryl Streep and Twiggy, also 60, and Helen Mirren, at 64, are putting the sex appeal in sexagenarian. Looking at their life-burnished faces, I'm tempted to believe the rah-rah slogan (more than 400 million Google citations), "60 is the new 40!" But I know better. My bum knee and complaining shoulder won't allow me to forget. Sixty is the boundary between thinking I have forever to do my growing up, and accepting the fact that I don't.
You might think I'd be a full-fledged adult at this advanced age, but I haven't quite lost the goofiness of girlhood. I still reach for the wrong fork at the occasional candlelit table, still replay awkward conversations and realize too late what I should have said. I still walk down busy streets smiling at my own private jokes, while passersby wonder what's got into me. My days belong to me, but won't last forever. Without even trying, I've recaptured a young person's sense of doors about to swing open on discoveries that could change my life. But it's not the same anticipation. In my youth, the adventure was about finding someone: a partner to love me or a mentor to groom me for promotion. Now it's all about finding the newly unencumbered me.
I no longer have a son to raise, a mortgage to pay or a boss to impress. This has been so ever since I quit my job at 55, but there's something about being 60 that compels me to reflect on my life as if it were a treasure I could hold in my hand and examine from every angle. The first thing I see is this: My days belong to me. And they won't stretch on forever, like childhood summer vacations. I've acquired an elder's sense of time, in which decades speed up as if on fast-forward.
Forty seems, if not quite yesterday, then no more than a few birthdays ago. I still remember every detail of the home we sold when I was 40. I can feel the warmth of the polished oak banister under my hand. But here I am at the midpoint between 40 and - can it be? - 80. No question, 80 is old. Old enough to worry that your next "home" might have a logo and a brochure that delicately promises "care when you need it."

Dressing your age - or not

On a good day, seen from afar, I don't look all that different from the 40-year-old me. I can still wear tight jeans and sleeveless tops. I take offence at fashion stories on "dressing for your age" (ever notice how the sixtysomething gets the least appealing outfits?). Not so long ago, a younger man addressed me as "babe." I wasn't 60 then, or even 59, but I've hardly changed, honest. I've been eating broccoli and fish, sweating up a storm in Pilates class, wearing full-strength sunscreen even on the darkest winter days...doing everything I can, short of surgery, to keep the spring in my step and the wrinkles off my face.
In short, I've thought of aging as a manageable process, the cruise control of my later decades - as if, with the right preventive measures, I could coast along the highway of life, smooth-cheeked and taut-bellied, never reaching the dreaded end point, old.
I look at photos of my grandmother at my age or younger and am struck by how ancient she seemed in her prim shawl-collared dresses and orthopaedic shoes. Every night she put her teeth in a glass and gave her face a rubdown with Noxzema from an economy-size jar. How she'd scoff at what I've spent on skincare products sold only by white-coated estheticians, when I could be saving up for my grandkid's education. I feel blessed to have the means and the self-assurance to put myself first from time to time, as Grandma never could.
Yet her generation faced a truth we've willed ourselves to deny: No matter how buff you look at 60, you're headed for one of two fates: You'll either die too soon or you'll grow old. I'm not ready for this.
Perhaps I ought to feel grateful for reaching this age. Five of my friends, all stricken with cancer, didn't live to be 60. The first died in her mid-forties - a shocking fluke, it seemed at the time. Women our age were supposed to be hiking in the Rockies, going back to school, landing our dream jobs and generally becoming our most fulfilled, accomplished selves.
Now scarcely a month goes by when I don't hear of a contemporary stricken with a life-threatening illness, or felled by one. Such news never fails to unnerve me, no matter how slightly I knew the former colleague whose death notice I've just read. The shocker isn't that I could be next, but that time is already dismantling and rebuilding the world as I have known it.

Old women in a youth-obsessed culture

I'm not ready for this. I don't want to be unsexed and unnoticed, as old women are in a culture obsessed with youth. I take it personally when unemployed peers can't even land an interview, much less a job, because they have "too much experience." I cringe at predictions that addled, tottering boomers will soon bankrupt the healthcare system. Hey, pundits! You're talking about me and my friends! Yesterday, we defined the promise of the future. And now you've recast us as the problem?
Way back around my 30th birthday, I drew strength from stories of women achievers, a little older and a lot bolder than I as they forged careers in a man's world. At 60, I look for a different brand of female boldness - the courage to be fully oneself. My current heroine, British memoirist Diana Athill, released her latest memoir at 91. "When you are young a great deal of what you are is created by how you are seen by others, and this often continues to be true even into middle age," she writes. "But once you are old you are beyond all that...."
Athill is wonderfully frank about the diminutions of old age - sore feet, for example. Speaking about one of her last lovers, she observes that sharing painful feet "was almost as important as liking sex, because when you start feeling your age it is comforting to be with someone in the same condition." She has since lost all interest in sex, which perhaps is just as well since she's tethered to a cranky, bedridden partner whose demands never end. But that's my judgment, not hers.
What inspires me about Athill is the pure delight she finds in new pleasures and accomplishments (her dog, her drawing class and, above all, her writing) that continue to expand the boundaries of her life. On top of all this, she has answered the question on my mind: How old is old? Seventy-one, says Athill, with an elder's penchant for emphatic declarations. If she's right, I have 11 more years "within hailing distance of middle age, not safe on its shores, perhaps, but navigating its coastal waters."
Oh well. I've decided I don't give a damn how old is old. You can call my stage of life whatever you want; I'll call it the wisdom years. I've earned the right. Maybe somewhere along the way I will finally grow up.

A internet faz mal ao cérebro?