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sábado, 26 de novembro de 2011

Lanterna dos Afogados - Maria Gadú

MARIO LAGO - 100 anos






Mário Lago, 100 Anos

Autor:
É bem provável que as gerações recentes não conheçam a totalidade da grande obra de Mário Lago que completa 100 anos, hoje, 26 de novembro de 2011.
Na minha opinião é um dos artistas mais completos do cenário cultural brasileiro. A sua história se confunde com a do nosso teatro de revista, do rádio, do cinema, da música popular, da televisão, da política, da militância, da boemia e, porque não, do Rio de Janeiro e do Brasil. Mário Lago foi muitos. E sua alma brasileiríssima há de perpetuar-se, infinitamente, no coração dos brasileiros.
Saiba mais, AQUI.
Imagens:
Mário Lago, 100 Anos
Vídeos:
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A poesia do Fontana

A receita


(luiz alfredo motta fontana)


Caminhar!

essa a receita

A voz prenhe de razão

e cuidados


determinou



Caminhar?

e a preguiça?

o deixe para amanhã?

o refúgio do poeta
?



Talvez...

levar ao passeio

personagens ainda por compor

letras ainda soltas


Deixá-los nus


E
retornar

na manhã seguinte

distraidamente

recolhendo os seus

com ares de mundo


Quem sabe?

a receita aceite

o tempero da poesia!

e por falar em saudade...


Ausência

(Vinícius de Moraes)



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.

Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.

Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.

Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.

Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.

Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Pipoca – Rubem Alves



“A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.
Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.
Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas.
Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida…). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.
Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé…
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.
Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.
“Morre e transforma-te!” — dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.
Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á”.A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira…
“Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu”.”

Rubem Alves

"Bom Dia para Nascer"

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA



Alécio de Andrade/Divulgação
O escritor Otto Lara Resende em 1972, no Café Coupole, em Paris
O escritor Otto Lara Resende em 1972, no Café Coupole, em Paris

"Se há uma coisa boa de ler, é carta", diz Otto Lara Resende (1922-1992) numa crônica para a Folha.
Especialmente se o autor da carta for o próprio Otto. Suas cartas a Fernando Sabino (1923-2004) saem agora em "O Rio é Tão Longe", livro com introdução e notas (ótimas) de Humberto Werneck.
Por vários anos, Otto Lara trabalhou como diplomata em Bruxelas e Lisboa. Reclama dos amigos que não escrevem, pede notícias, queixa-se dos compromissos chatos.

Não conseguia levar adiante sua obra de ficcionista, que iria empacar num único romance ("O Braço Direito") e em alguns volumes de contos. O cronista só apareceria com plena força nos seus dois últimos anos de vida, quando Otto Lara passou a escrever na página 2 da Folha.


Mas quem o conheceu pessoalmente tende a dizer que seu maior gênio não estava na crônica ou na ficção, e sim na conversa ao vivo.

Pude comprovar isso num almoço aqui no jornal. Baixinho, agitado, veloz, ele era um conversador deslumbrante. Tanto que, por mais que eu me esforce, não consigo me lembrar do que ele falou. Quem poderia descrever, passo a passo, um show de fogos de artifício? Suas cartas esbanjam a mesma verve.



Consagração na crônica veio no fim da vida


"Bom Dia para Nascer" reúne 266 textos que Otto Lara Resende publicou durante colaboração diária para a Folha

Autor mineiro escreveu as crônicas entre 1991 e 1992; nova edição do livro foi organizada por Humberto Werneck
COLUNISTA DA FOLHA

A obra completa de Otto Lara Resende começa a ser reeditada pela Companhia das Letras.

"Bom Dia para Nascer" reúne 266 crônicas publicadas na Folha nos anos de 1991 e 1992. Selecionados por Humberto Werneck, aparecem 72 textos a mais do que na primeira edição do livro, organizado por Matinas Suzuki Jr. em 1993.

Por décadas, Otto parece ter invejado o sucesso de seu amigo Fernando Sabino como cronista. Meio de brincadeira, meio a sério, as cartas de "O Rio É Tão Longe" voltam frequentemente ao tema.

Chateado com a demora de Sabino em responder às cartas, Otto diz que vai enviar-lhe uns US$ 50, já que o amigo parecia só escrever quando lhe pagassem...

No fim da vida, Otto deu o troco. Com sua colaboração diária para a Folha, ele se consagrou como cronista.

Reunidas, as crônicas crescem. O mesmo assunto aparece em vários textos, como se cada crônica fosse o fragmento de um ensaio maior. É o caso de sua polêmica a respeito da suposta traição de Capitu em "Dom Casmurro", que ele teimava ser fato comprovado e batatal.

Como seus contemporâneos mineiros (Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos), Otto Lara Resende tinha o gênio da amizade. Os rápidos perfis de escritores e políticos constituem, talvez, o que há de melhor em suas crônicas.

Otto parece ter sido amigo de todo mundo, mesmo de quem nunca conheceu. Fala de dom Pedro 2º como se o tivesse encontrado na esquina.

A informalidade, claro, é um dos requisitos da boa crônica. Otto levou-a até ao exagero. A meu ver, muitos dos seus textos se aproximam de uma "escrita automática", encadeando clichês numa espécie de corrida frenética contra o silêncio.

Um exemplo. "Se o carioca curte o verão, é porque há no verão o que curtir. O calor convida ao riso e à folga. Ao lazer, em suma, numa sociedade que cancelou a disponibilidade de espírito." E por aí vai. Não importa. A pontuação é assim. Telegráfica.

No meio dessa coloquialidade, o senso do bizarro, da extravagância, surge quando menos se espera: "Em Dacar não há avenida Presidente Vargas". É o mesmo gosto pelo absurdo, inofensivamente mineiro, que aparece nos adjetivos, nas metáforas, nas associações arbitrárias.

Otto conta que foi ver um eclipse na cidade de Bocaiuva, em Minas Gerais. O fenômeno atraiu, por alguma razão, cientistas de todo o mundo. "De volta ao Rio, escrevi que o eclipse tinha me parecido um elefante de circo."

A regularidade dos acontecimentos, o dia a dia do cronista, tem desses elefantes, dessas proezas de circo.
O mesmo espírito reaparece nas cartas de "O Rio É Tão Longe", especialmente as da primeira metade da coletânea, escritas de Bruxelas, na década de 1950. Há delícias de adjetivação e exemplos antológicos da arte de cutucar os amigos.

Com o passar do tempo, e em especial depois de 1964, a máquina de amizades, favores e relacionamentos importantes assume o primeiro plano, e seria um bom assunto para um estudo sociológico. Escritores, Itamaraty, esquerda e direita, pingue-pongue com o marechal Costa e Silva e uísques com Márcio Moreira Alves se alternam em discreta, mas incansável cordialidade. (Marcelo Coelho)




A publicação das cartas inéditas de Otto Lara Resende a Fernando Sabino é um acontecimento cultural. O livro "O Rio É Tão Longe" é a porta de entrada que deverá conduzir os leitores brasileiros a um gigantesco território literário: a correspondência que Otto Lara manteve, durante várias décadas, com numerosos interlocutores.

É provável que, no prazer e no esmero dedicado à missiva, Otto Lara só encontre um rival na literatura brasileira, Mário de Andrade. Cerca de 8.500 correspondências já foram catalogadas pelo Instituto Moreira Salles (IMS), que detém o acervo de Otto.

A maior parte da coleção é composta de cartas recebidas por Otto. O recluso escritor Dalton Trevisan foi quem mais lhe escreveu: são 324 cartas no total. Outras missivas abundantes são as de Sabino (166) e as do jornalistaCarlos Castello Branco (104).

"Não é novidade que Otto foi um grande missivista. As cartas são deliciosas. Em conjunto, formam um retrato político e cultural do Brasil", diz Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS.
Em 2012, a Companhia das Letras vai lançar mais um livro de cartas de Otto, provavelmente das trocadas com Paulo Mendes Campos ou Hélio Pellegrino. Em relação a Trevisan, não há previsão de lançamento -o autor ainda não foi procurado pela editora.
Trechos

É o diabo haver o sempre gente disposta ao cinismo de ter vinte anos. E é uma impiedade carregarem a gente assim contra a vontade para não sei onde, para a nostalgia dos 43 anos. Mas eu vou fazer 23, pílulas! E a vida não se limita ainda pela morte porque há caminhos que talvez seja preciso recusar.
(19 de janeiro de 1944)

E me lembrei de você também em outros momentos. Uma noite, no Curzon Hotel, Claridges Street, escovando os dentes, com a minha cara enrugada dentro do espelho, eu disse para Helena, como se concluísse um raciocínio: "O que está me faltando aqui é a companhia do Fernando Sabino!" (...) Não me aborreço, não me angustio, não me debato. Vou enfiando um dia no outro, como as contas iguais de um rosário -quantos mistérios terá?
(10 de fevereiro de 1958)

Extraídos do livro "O Rio É Tão Longe - Cartas a Fernando Sabino"

A História do Brasil tem, por exemplo, um "Hino do Deputado", que começa assim: "Chora, meu filho, chora. Ai quem não chora não mama, quem não mama fica fraco". E vai por aí afora.
(31 de julho de 1991)

Na República Velha, era todo mundo de sobrecasaca. Um calor de derreter os untos e o sujeito fechado até o último botão (...) Antigos conselheiros, os presidentes eram sisudos. Deodoro, coitado, era asmático. Aliás, asthmatico. Na velha ortografia a dispneia era maior. Getúlio foi quem inaugurou a gargalhada.
(7 de setembro de 1991)

Essa pretensão de me reinaugurar. Pulsa nela uma expectativa que se abre, quase eufórica. Um alvoroço de asas. Deixar para trás o arquivo morto, fechar a porta, selada como um túmulo. É preciso morrer para renascer (...) Poxa, quanta filigrana para chegar aonde eu quero. Visto pelo lado de fora, é só isto: deixei a barba crescer.
(9 de agosto de 1992)

Extraídos do livro "Bom Dia para Nascer"

http://sergyovitro.blogspot.com/2011/11/encontro-marcado.html

Comics






Es un mundo mágico ¡Vamos a explorarlo!

Por: Guillermo Altares

PeticionImagen Hace 15 años se publicó una obra maestra del cómic, para muchos la obra maestra: la última tira de Calvin y Hobbes. Bill Watterson, el creador de las historias de un niño y su tigre de peluche que cobra vida cuando no hay adultos cerca, decidió acabar con una tira inolvidable que todavía publican decenas de diarios en todo el mundo. Apenas duró una década. Watterson, que nunca ha permitido que se haga merchandising con sus personajes, es una especie de Salinger, menos arisco, pero es alguien que se esconde. El dibujante acaba de conceder su primera entrevista en 15 años, al diario Plain Dealer, del área de Cleveland, donde vive (Entrevista con Watterson, en inglés).
"Una vez que las tiras se publican, los lectores llevan a los dibujos sus propias experiencias y el trabajo cobra vida propia. Cada uno responde de forma diferente a las distintas partes", asegura el ermitaño Watterson, en esta breve entrevista, a la que respondió por mail. "Siempre es mejor irse pronto de la fiesta. Creo que Calvin y Hobbes sigue funcionando todavía porque decidí no agotarlo", señala Watterson para explicar el motivo por el que colgó los lápices tan pronto. En España lo edita Ediciones B (aunque los primeros volúmenes fueron publicados por una pequeña editorial artesanal que dependía de la librería Madrid Cómics), pero la joya entre las joyas sigue inédita en castellano: los tres tomos del Complete Calvin y Hobbes, uno de esos libros inagotables que uno se llevaría a una isla desierta.


Final_calvin
¿Y qué cuenta la última viñeta? Calvin y Hobbes se despiertan y encuentren una tremenda nevada. "Wow, nevó muchísimo anoche. ¿No es maravilloso?", se pregunta Calvin. "Todo lo que nos parecía familiar ha desaparecido", responde el tigre. "Un nuevo año, un comienzo nuevo y limpio". "Es como tener una sábana blanca gigante de papel para dibujar". "Un día lleno de posibilidades". Y el diálogo se cierra con una frase involvidable: "Es un mundo mágico, Hobbes, viejo amigo. ¡Vamos a explorarlo!". Una maravillosa filosofía de la vida que responde a una maravillosa filosofía de la creación.

http://blogs.elpais.com/papeles-perdidos/2010/02/es-un-mundo-m%C3%A1gico-vamos-a-explorarlo.html

Las mujeres marcan el ritmo en la música latinoamericana

Por: Winston Manrique Sabogal

Hoy les ofrecemos una sesión de música y ensayo en BabeliAmérica 2. Maloca cultural-virtual. Y por partida triple: primero con el vídeo sobre la mujer latinoamericana en la música, donde están marcando el paso; segundo porque el tema de la sección de ustedes, Álbum del lector, es sobre Músicos y bailarines callejeros; y tercero proque el encuentro digital es con el historiador, ensayista y editor mexicano Enrique Krauze, a las 17 horas. (puedes enviar aquí tus preguntas)
"Muchos años ya de lucha, en la música, contra el machismo latinoamericano. Décadas de arduo trabajo por parte de mujeres suficientemente fuertes para intentar revertir la situacón. Y chicas que parecen haber ganado la partida", dice Carlos Galilea en el vídeo que acompaña este post y que abre la jornada en el especial BabeliAmérica 2. Un siglo XXI de las herederas de Chabuca Granda o Celia Cruz, y que van desde Lila Downs hasta Shakira, pasando por Maria Gadú, Javiera Mena o Claudia Acuña.

Puedes seguir nuestra programación de BabeliAmérica 2 en este mismo enlace.

http://blogs.elpais.com/papeles-perdidos/2011/10/sesi%C3%B3n-de-m%C3%BAsica-y-ensayo.html

Vargas Llosa: "Temo que Internet frivolice la literatura"

Por: Winston Manrique Sabogal26/11/2011


"El momento más exaltante de mi escritura es cuando empiezo a soñar con los personajes, y aunque no hablo con ellos sí los llego a comprender"; "La cultura se ha frivolizado y banalizado y es una tendencia que se manifiesta en todas las artes"; "Mi temor con Internet y el libro electrónico es que banalice la literatura". Estas son algunas de las respuestas que ha dado en un vídeo-chat Mario Vargas Llosa a sus lectores. La entrevista la grabamos ayer viernes hacia las 7 y 30 de la noche.
El premio Nobel peruano, desde Guadalajara (México), inaugura con ustedes este especial y escenario virtual e interactivo con el cual Babelia y EL PAIS quieren llevar a su computador lo mejor de la cita literaria más importante del mundo hispanohablante. Casi mil preguntas recibió Vargas Llosa en dos días, a través de EL PAÍS.com. En la entrevista, yo he servido de intermediario a las preguntas de ustedes. Debido al alto número de ellas y el tiempo de la entrevista, hice una selección con los temas más planteados y elegí a uno de los lectores como representante de ese grupo de preguntas de la misma estirpe. Algunos de los temas tratados fueron:
- El origen de la vocación literaria: "Para mí nunca ha sido un trabajo sino un placer la escritura. Y nunca me he arrepentido de haber elegido ser escritor"
- El acto de creación: "Tengo una relación curiosa con los personajes. Incluso hay algunos que me persiguen y quieren que los incluya en otros libros".
- Sus influencias literarias, sobre todo Flaubert: "Descubrirlo me permitió saber el tipo de escritor que quería ser: muy realista pero sin despreocuparme de la estética y la forma".
- El humor: "Cuando empecé a escribir desconfiaba del humor en la literatura, por la mala influencia en ese sentido de Sartre. Tenía la idea equivocada de que una obra seria no podía tener humor".
-Las novelas más importantes del siglo XX y XXI: "Ulises, de Joyce; Luz de agosto, de Faulkner; La montaña mágica, de Mann; La condición humana, de Malraux; y como forma narrativa incluyo algunos cuentos de Borges".
- La literatura como vía para cambiar: "El efecto que tienen los libros sobre la vida no se puede medir. La gran literatura nos hace desconfiar de lo que nos rodea y nos crea el apetito de la perfección y la belleza".
- El estado de la cultura contemporánea. "Se ha frivolizado y banalizado y es una tendencia que se manifiesta en todas las artes".
- El papel del intelectual. "Los escritores de hoy consideran pretensioso involucrarse mucho en la vida cívica y política y es legítima esa opinión. Yo soy de una generación en la que participo más de toda esa actividad".
- Internet y el libro digital: "No tengo nada encontra de Internet pero prefiero leer en papel. Mi temor es que el libro se frivolice como ha ocurrido con la televisión, que ha sido importante, pero no ha dado muchos frutos creativos".

http://blogs.elpais.com/papeles-perdidos/

“Mulheres envelhecem melhor que homens”


A afirmação é de Mirian Goldenberg, antropóloga, que acaba de publicar um livro intitulado Corpo, envelhecimento e felicidade. Mas também é o ponto de vista do psicanalista Sócrates Nolasco, autor de quatro livros sobre o universo masculino, que acha a mulher acima de 60 anos mais inquieta e mais aberta que seus companheiros sessentões. Conversei com ambos depois de assistir a uma comédia romântica para a terceira idade, com Isabella Rossellini (Mary) e William Hurt (Adam), o casal charmoso da foto deste post. O filme, dirigido pela francesa Julie Gavras (Late Bloomers – O Amor não tem fim), estreará nos cinemas no Brasil em novembro.

Comédias românticas costumam mostrar casais de 20, 30 anos, nunca 60. É estranho, mas é assim. Cada vez mais se endeusa “o jovem”. É como se tivéssemos um “prazo de validade”, numa cultura que não valoriza a maturidade como um capital, apenas o corpo e a aparência. E essa visão atinge de maneira especial as mulheres. Sofrem mais aquelas que se deixam aprisionar por alguns papéis e querem se eternizar como se tivessem 20 ou 30 anos. Uma das questões hoje entre muitas mulheres (da classe média à elite) é exatamente como envelhecer com dignidade, sem cair no ridículo de bancar a menininha. Ou seja, é difícil generalizar sobre quem envelhece melhor em relação a gêneros, mas temos algumas pistas e podemos aprender com elas.

O filme de Julie Gavras – filha do cineasta Costa-Gavras – é mais feminino, embora fale de um casal. As mulheres riem muito de si mesmas (ou de suas mães) na plateia, porque algumas situações constrangedoras são universais. Quando Mary faz acrobacias para conseguir contornar os olhos com delineador por trás dos óculos de grau ou quando percebe que os homens não olham mais para ela porque se tornou invisível, muitas se veem na personagem, com humor e não com tristeza. Sentada num café, ao se deparar com sua imagem refletida no espelho, Mary leva um choque, como se aquela não fosse ela. Estica a face com as mãos, puxa a pele do pescoço para cima…e apela para uma écharpe salvadora.

Por causa do filme, divertido e leve, escrevi uma coluna para a ÉPOCA, Entrando nos sessenta. Para o blog, decidi fazer as mesmas perguntas, separadamente, a uma mulher, Mirian, e a um homem, Sócrates, sobre essa passagem dos 60 anos. Ambos estudam há muito essas questões.

Percebo entre amigos duas atitudes mais frequentes nessa data: os que fazem festança com som flashback até de manhã e convidam todo mundo pelas redes sociais. E há os que viajam, fogem da data e preferem ignorar “a virada”. Poucos são – no meio em que vivo – os que encaram esse aniversário com naturalidade, como qualquer outro.

Eis as visões de Mirian e Sócrates. Ambos acham que a mulher enfrenta essa nova fase da vida com menos acomodação, mais energia e mais curiosidade.

7×7 - 60 anos para a mulher, 60 anos para o homem. Quais são as principais semelhanças e as principais diferenças?

Mirian Goldenberg – Existe uma inversão: as mulheres querem aproveitar o mundo, viajar, passear, dançar, ver filmes e peças, fazer cursos… os homens querem ficar em casa, curtir a família, os filhos, netos, valorizam muito a esposa…. elas se cuidam mais, eles bebem mais…. elas vão a médicos, fazem ginástica, eles engordam, gostam do chopinho com amigos ou mesmo sozinhos. Elas envelhecem melhor, apesar do mito de que o homem envelhece melhor.

Sócrates Nolasco – Com o aumento da expectativa de vida, homens e mulheres estão podendo viver mais. O que percebo é que as mulheres se mantêm mais ativas em suas vidas do que os homens que as construíram exclusivamente em torno do trabalho. A fase após os 60 requer intimidade consigo mesmo, uma vida que se interioriza e descobre o que a juventude jamais poderia saber.

7×7 – 
 O que a mulher especialmente pode esperar da fase dos 60 aos 80 anos?

Mirian – Maior liberdade, maior felicidade, menos medo da opinião dos outros, mais descobertas… muitas me dizem “É a melhor fase da minha vida, nunca fui tão feliz, pela primeira vez na vida posso ser eu mesma”.

Sócrates - Existe algo mais triste do que envelhecer, e é permanecer criança. É tão importante para um jovem saber que a vida não começa nesta fase, quanto, na velhice, saber que a vida não termina com o envelhecimento. Envelhecer no mundo de hoje é mais difícil do que era anteriormente. A vida vazia não leva a um bom envelhecimento. Desconhecer a si mesmo é um mau prognóstico para o envelhecimento. Autonomia e independência emocional devem ser conquistadas através de uma vida rica e produtiva.

7×7O que é mais barra enfrentar nessa idade? E o que é mais prazeroso ou libertador?

Mirian - Para a mulher que se preocupa muito com a opinião dos outros, com a aparência, com o fato de ter um namorado ou marido, pode ser uma fase mais complicada, pois ela vai olhar só para a natural decadência do corpo ou para a falta de homem. Mas, para as outras, é um momento de extrema liberdade, de descobrir novos prazeres, de ter o espaço e o tempo para si mesma, de se priorizar.

Sócrates – 
 Em cada fase da vida, existem aspectos a administrar. Uma boa dica é entender quais são as transformações físicas e emocionais do passar dos anos para saber como superá-las positivamente. A superação é o destino humano, não se pode negligenciar isso. Sentir-se velho é pior do que ter 60 ou 80 anos, e para sentir-se assim não tem idade. Poucos sabem ser velhos, pois ao envelhecer creio que devemos nos tornar mais loucos e sábios, nisto reside a paixão pela vida. Quem ama a vida a vive em liberdade, a maioria dos jovens tem medo de viver o que sente.

7×7Como se preparar para os 60 anos?

Mirian – Tendo projetos de vida que sejam prazerosos, investindo em si mesma, não sendo dependente dos homens ou dos filhos e aprendendo a não se preocupar muito com o que os outros pensam. Deixando de achar que família e filhos vão garantir a felicidade no futuro.

Sócrates – É possível e desejável se preparar, quando se envelhece é preciso ser mais ativo do que quando jovem. A melhor maneira de se preparar para a etapa seguinte da vida é vivendo a atual em profundidade e conteúdo. A juventude é cansativa, preservá-la como anos dourados é tolice. É importante saber contentar-se com o que cada fase da vida oferece para torná-la melhor.

7×7Você pretende dar uma super festa aos 60? Parece ser moda hoje em dia, embora eu tenha amigas que resolvam sumir, viajar. Tem atriz que falsifica a carteira de identidade.

Mirian – Não, nunca fiz festa de aniversário, para mim é um dia como qualquer outro, comemoro a vida nas minhas realizações cotidianas, não gosto de celebrar datas específicas…. para mim, os 60 serão apenas mais uma etapa, não necessariamente diferente de agora, que estou com 54.

Sócrates – Um escritor inglês costumava dizer que um homem é tão mais velho quanto se sente, e uma mulher é tão mais velha quanto parece (o que parece cruel). Na velhice, a morte fica mais próxima como fato. Não existe uma regra para comemorar, mas fugir de si mesmo em qualquer momento da vida não parece ser boa estratégia para quem deseja viver o último ato da comédia humana.

7×7Da mesma forma que se falava na crise dos sete anos de casamento, existe hoje uma crise do casamento aos 60 anos de idade? Por que aumentaram divórcios na terceira idade? As idades mentais entre homem e mulher continuam diferentes aos 60? Como valorizar o companheirismo nessa idade e manter o amor?

Mirian – Muitos casais se renovam depois da saída dos filhos de casa e da aposentadoria, buscam prazeres juntos, viagens, programas culturais, conversas…. Outros descobrem que sem os filhos eles não têm muito em comum, são estranhos que construíram uma família. A identidade da mulher, mesmo daquela que trabalha fora de casa, está ancorada na vida familiar, em seus papéis de dona de casa, esposa e mãe. Por isso ela se sente desobrigada de um monte de funções aos 60 anos. Já o homem, quando se aposenta, perde uma das principais fontes de construção e valorização da identidade masculina: o trabalho. Ao se retirar do mundo profissional, ele provoca um problema no espaço doméstico, antes dominado pela esposa e pelos filhos. Muitos sexagenários se frustram porque percebem que a família não deu o retorno que imaginavam e que os amigos são muito mais importantes nesta fase da vida. Como hoje se vive muito mais, há um desejo de renovação, uma esperança de se reinventar com outra pessoa ou mesmo a sós mesmo.

Sócrates – Com a possibilidade de viver mais, aumentou o número de pessoas que querem tentar algo novo, uma fantasia, uma ilusão. Talvez, mas o que cada um espera de sua vida? Como deseja vivê-la? Na artificialidade da mentira de uma vida eternamente jovem, como se a juventude não fosse aborrecida e sem profundidade? Os prazeres migram de lugar em nossas vidas, com 10 anos são uns, com 20 e 30 outros e assim sucessivamente. Tentar manter padrões de excitabilidade sempre nos mesmos patamares exclui a possibilidade de formar parcerias solidárias, cúmplices e comprometidas. O amor se aprende desce cedo através das escolhas que fazemos, e das que optamos por não fazer. O que acrescenta, valoriza e faz crescer deve ser preservado se quisermos realmente ser felizes.

http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2011/10/30/%e2%80%9cmulheres-envelhecem-melhor-que-homens%e2%80%9d/

"A profissão mais íntima do mundo"

A depiladora brasileira Reny Ryan, de 58 anos, que veio ao Brasil divulgar seu livro Confissões de uma depiladora brasileira nos Estados Unidos, acha que não há uma profissão mais íntima do que a de depiladora. “Peço para minhas clientes tirarem a roupa e abrirem as pernas”, diz Reny. “É a partir daí que começa o meu trabalho”, afirma.

Reny tem uma história de vida emocionante. Há pouco mais de 30 anos deixou o marido, de quem dizia apanhar, em Paranaguá (PR), e se mudou para o Rio de Janeiro com o filho pequeno. Da cidade maravilhosa foi para os EUA, onde viveu ilegalmente, se casou e criou mais três filhos, até se tornar uma das depiladoras mais conhecidas do país. Antes disso, porém, como boa parte dos imigrantes brasileiros, fez bico como jardineira, babá e lavou prato.

Sua técnica de depilação cavada é conhecida como Brazilian Bikini Waxer, ou bigode de Hitler, como se costuma chamar por aqui. As histórias hilárias que ouvia na clínica eram tantas que Reny passou a anotá-las em um caderninho, para em 2008 transformá-las em livro nos EUA. E agora traduzi-las para o português.

“Acredita que as americanas vêm depilar e não querem abrir as pernas, nem tirar a calcinha? É uma cultura bem mais conservadora que a nossa”, diz Reny. “Para vencer o preconceito é preciso dedicação e muito respeito”, afirma.

Nos últimos anos, sua clínica passou a receber um público mais velho, na casa dos 60 anos. “São casais que se depilam e saem felizes para mais uma lua-de-mel”, diz. “Uma senhora disse que depois que começou a se depilar, o marido começou a persegui-la de um jeito que ela aparentemente gostou bastante”.

Reny suspeita que os homens passaram a se depilar com mais frequência por duas razões principais: “a primeira é a higiene, a segunda é para o pênis parecer maior”, diz. “Afinal, sem aquela cabeleira, até um pintinho se transforma em uma bengala”, afirma. A depiladora brasileira diz que seu trabalho já mudou a vida de muita gente. “Muitos homens e mulheres se olham no espelho e passam a se gostar mais”, afirma. “E isso é bom para elas próprias e seus parceiros”, diz.

http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2011/11/21/a-profissao-mais-intima-do-mundo/

"Eu te amo" vão chegar no seu coração antes que "I love you"

Carta ao meu filho que vai nascer


Gabriel,
Faltam três meses para você nascer. A primeira coisa que eu vou fazer quando você chegar é ver o quanto você se parece comigo ou com o seu pai. Mas, mesmo que você tenha meus olhos grandes e negros, mesmo que tenha a mesma carinha redonda, eu tenho medo de todo o resto ser muito, muito diferente de mim.

Você vai nascer americano.

Você nunca vai saber o que é poder andar o ano inteiro de short, camiseta e sandália Ortopé. Não vai saber o que e ir à feira domingos de manhã, não vai escutar o homem gritando na praia Biscooooito Globo. Não vai me ouvir reclamando porque você me pediu pra eu te levar pela centésima vez às grutas do Parque Lage. Não vai chorar porque os girinos que capturou no Jardim Botânico não aceitaram o pão que você deixou e apareceram boiando na tapeware com água depois de três dias. Você nunca vai saber o que é ir todos os anos na Loja Bonita pra comprar a roupa do seu aniversário. Não vai poder fugir para a casa dos avós quando brigar comigo. Não vai escutar a música do Jornal Nacional e saber que é hora de dormir. Vai pedir cupcakes em vez de bolo de milho. Sesame Street em vez de Sitio do Pica-Pau Amarelo.

É por isso que numa noite qualquer do meu futuro eu vou acordar com olhos arregalados e peito apertado que nem rosbife em barbante, pensando que você me esquecerá logo, porque a sua realidade vai ser completamente diferente da minha.

Pra você, junho não vai ser mês de festa junina, 12 de outubro não vai ser Dia das Crianças. Quem chegar por último não vai ser a mulher do padre e escolhas não serão feitas por unidunitê. Não vai ter primos pra brincar, não vai ter primos pra brigar. A Floresta da Tijuca não vai ser o seu quintal, e sua língua nunca vai ficar roxa de comer sacolé de uva. Você não vai ver Pluft no teatro Tablado e não vai ter medo da Cuca. Não vai saber o que é ter uma jabuticabeira no quintal ou torcer pelo Botafogo.

Mas ao menos vai saber o que é um choro do Pixinguinha e quem foi Vinícius de Morais. Porque eu vou estar na sua cama todas as noites contando histórias deste lugar de onde eu vim, lendo Lygia Bojunga e Monteiro Lobato. E quando não forem histórias de livro serão histórias de mim. Na sua cabeça, o Brasil vai se tornar esta terra distante e exótica, onde ainda é possível encontrar nas matas saci pererê e mula-sem-cabeça. Onde todo mundo dança por uma semana todo o ano. Onde espíritos de pretos velhos podem tomar pessoas. Onde um poeta chamado Chico colocou em versos toda a história do pais, e uma praia em frente a uma imensa lagoa contém as mulheres mais bonitas do mundo.

Vai ser tanto meu empenho em te formar brasileiro que talvez eu consiga te fazer dividido como eu. Mas, olha, isso e bom. Existem várias janelas de se ver o mundo, e você terá pelo menos quatro – a brasileira, a americana, a portoriquenha e a cubana – consulte seu pai sobre as últimas duas, que de assuntos caribenhos entende ele.

Mas prometo não ser também completamente brasileira, pra me adaptar a este mundo que é todo seu e apenas metade meu. Prometo ser a melhor mãe americana que eu puder. Prometo aprender a fazer bolos em formato de castelos, balões e elefantes, só porque todas as mães dos seus amigos precisam ser parecidas com a Martha Stweart – e você precisa que eu seja parecida com a mae dos seus amigos. Prometo aprender a comer peru no Thanksgiving – desde que eu possa repetir a receita no Natal, porque Natal de verdade se faz com peru, calor e rabanadas. Prometo te vestir de Ninja para juntos batermos de porta em porta pedindo doces em 31 de outubro. Prometo um dia me esforçar e aprender a viver numa destas casas de subúrbio longe de tudo e para onde todos vão, pra que você tenha um jardim com balanço e casa na árvore. Prometo deixar você pedir no restaurante um cheesburguer duplo com batatas fritas com queijo e bacon, mas uma só vez por ano, e se o ano for bissexto. Prometo me esconder pra chorar quando você sair de casa aos 18 anos pra fazer faculdade, sabendo que poderá nunca mais voltar. Prometo não invadir o campo quando cinco trogloditas pularem em cima de você no jogo de futebol americano.

Não, isso eu não prometo.

Eu te prometo tudo (ou quase tudo), e só te peço uma coisa. Não se esqueça de onde você veio. Não se esqueça de que você é metade latino. Jamais tenha vergonha de falar espanhol ou português, mesmo quando você descobrir que existe uma hierarquia de culturas no mundo, e que o Brasil ou Porto Rico não encabeçam a lista. Perdoe sua mãe quando ela errar o passado de algum verbo irregular em inglês na frente dos seus amigos.

Agradeça em espanhol ao ajudante de garcon que limpar a mesa do restaurante em que você levar a sua namorada. Não finja que não entende português quando for a única pessoa do check in do vôo para o Rio com apenas uma mala, e estiver cercado por pessoas com bagagem suficiente para passar 40 anos no deserto e descobrir com Moisés a terra prometida. Não tenha vergonha do seu sobrenome Suarez Batalha, mesmo se você um dia tiver um emprego muito, muito chique, e só tenha Smiths, Alens, Caldwells e Williams como colegas. Você vai se chamar Gabriel pra levar a marca latina no nome e sobrenome. É isso o que os latinos dizem aqui, você sabia? Que todos eles nascem com uma marca. Você terá muito mais oportunidades do que a maioria dos latinos neste país, mas nunca deixará de ser um deles. Respeite todos os imigrantes – ilegais ou não. É sempre sofrido mudar de país, e a maioria deles veio de lugares tristes. E, de certa forma são mais do que você. Porque foram capazes de chegar onde chegaram com muito menos possibilidades.

É isso, Gabriel. Eu sei que você vai ser muito diferente de mim. Mas sei também que as palavras Eu te amo vão chegar no seu coração antes que I love you. E espero que a minha insistência faça você tão latino quanto eu. Mesmo quando você estiver quase se esquecendo de mim, jamais renegue o seu passado.

Se eu souber que isso aconteceu, só não vou baixar suas calças e bater na sua bunda cabeluda de homem feito porque meu olhar já fará o serviço.

http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2011/11/26/carta-ao-meu-filho-que-vai-nascer/