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sexta-feira, 30 de março de 2012

Bahia de luto







Prata da casa, madeira de lei, a própria alma da Bahia, EDERALDO GENTIL.
Que soem os atabaques, agogôs e berimbaus, que as ruas de Salvador se encham de suas  músicas...

‘Oásis de Bethânia’

Bem acompanhada, Maria Bethânia lança disco ‘solitário’

 

Álbum soa como resposta, ora doce, ora dura, às críticas recebidas por blog de poesia


Maria Bethânia lança novo disco, ‘Oásis de Bethânia’, com arranjadores convidados
Foto: Mônica Imbuzeiro / O Globo
Maria Bethânia lança novo disco, ‘Oásis de Bethânia’, com arranjadores convidadosMônica Imbuzeiro / O Globo

RIO - No fim de 2011, Maria Bethânia teve o impulso de entrar em estúdio para preparar um disco. Só sabia, então, que queria fazê-lo sozinha.
— Queria assinar, arcar com toda a responsabilidade. Meu desejo era por algo solitário, me expressar só. Se pudesse, faria à capela — exagera, sorrindo. — Porque nasci só, vou morrer só, não tenho filhos... Sou só.
Paradoxalmente, porém, o núcleo do CD "Oásis de Bethânia" (Biscoito Fino) está em "Carta de amor" — com refrãos de Paulo César Pinheiro e texto da cantora —, que já na abertura anuncia o oposto da solidão: "Não mexe comigo/ Que eu não ando só". Em seguida, Bethânia declama: "Eu tenho Zumbi, Besouro, o chefe dos Tupis/ (...) Eu tenho Jesus, Maria e José". E continua: "Eu posso engolir você/ Só pra cuspir depois". Palavras que podem ser lidas como resposta às críticas dirigidas a ela quando se soube que o Ministério da Cultura autorizou a captação de R$ 1,3 milhão para o projeto que ficou conhecido como "blog da Bethânia" — proposto a ela por Hermano Vianna, ele consistia na publicação de 365 vídeos com a cantora declamando poemas.
— Eram palavras que eu precisava dizer. Uma urgência. Quem quiser vestir a carapuça que vista — diz a cantora sobre "Carta de amor", justificando o longo silêncio desde a polêmica, há um ano. — Estava fazendo coisas, mas nada que precisasse que eu falasse com a imprensa. Até porque o assunto ia ser só um.
Musicalmente, Bethânia também não anda só. Apesar da instrumentação econômica que confirma seu desejo de solidão (muitas vezes há apenas um músico a seu lado), ela se cercou de boa companhia em "Oásis de Bethânia". Depois de ter Jaime Alem como fiel arranjador por 30 anos, a cantora convidou Jorge Helder (que assina com ela a "criação geral" do CD), Djavan, Hamilton de Holanda, Lenine, Mauricio Carrilho, Marcelo Costa e André Mehmari, além do próprio Alem, para assinar os arranjos — ao espalhar a autoria entre muitos, ela acaba reafirmando sua assinatura, solitária, como a mais forte do disco.
Das dez faixas, cinco são inéditas
Para cada faixa escolhida, vinha à sua mente o arranjador ideal. "O velho Francisco", de Chico Buarque — compositor ao qual a cantora planeja dedicar uma série de CDs ("No mínimo 12!", diz, rindo) — ficou a cargo de Lenine ("Seu Lenine é o que há de mais tradicional e mais moderno, traz uma novidade no entendimento rítmico"). Alem faz "Fado" ("A exuberância dele na viola, para mim, seu forte"). Carrilho está em "Calúnia" ("Seu violão filho de Baden").
— A primeira que pensei foi "Lágrima". Ouvia muito com Orlando Silva, já cantei, mas nunca pensei em gravá-la. Quis logo chamar o Hamilton (de Holanda, bandolinista). Gravamos juntos, ao vivo. Quase todo o CD foi assim. Ouvi "Salmo" (de Raphael Rabello e Paulo César Pinheiro) com Amélia Rabello e o próprio Raphael. Quando ouvi o violão dele, pensei: "Não posso gravar com violão". Chamei o (pianista André) Mehmari, que foi lindo. Aliás, depois que me botaram no pelourinho, tive muita sorte com essas pessoas que chamei. Vieram com tanta doçura, parecia uma coisa de Deus, unguentos de Maria de Bethânia mesmo.
Ela faz referência à personagem bíblica que ungiu os pés de Cristo e batizou a cidade israelense Maria de Bethânia, que inspirou o nome do CD:
— Conheci a cidade, que fica num oásis — conta, lembrando que o nome foi retirado do texto de "Carta de amor". — E meu oásis é o sertão, como na foto de Gringo Cardia na capa do disco.
Com dez faixas, "Oásis de Bethânia" — lançado junto com o aplicativo da cantora para iPhone — traz cinco inéditas: "Vive", de Djavan; "Casablanca" e "Fado", de Roque Ferreira (que tem três no CD); "Calmaria", de Jota Velloso; e "Carta de amor":
— Djavan me disse: "Desde 1978 não componho para você, quero fazer isso agora". Falei para escrever sobre o que quisesse e ele veio com uma de suas melhores. Já "Calmaria" tem a ver com meu momento de isolamento. E Roque, fora do samba de roda, mostra sua grande admiração pelo Caymmi romântico.
Num acaso, "Vive" acaba tocando numa ideia central do CD: o saber viver. Ou seja, chorar quando for para chorar ("Lágrima"), louvar a grandeza da existência ("Salmo"), ter a consciência da calmaria e da tempestade ("Calmaria"), assim como da passagem do tempo ("O velho Francisco"). E, acima de tudo (referência ao episódio do blog?), marcar a poesia como uma instância superior da vida. Bethânia sorri com a observação sobre a repetição no CD de palavras como poesia e poeta e destaca uma ocorrência:
— Fiquei muito com o repertório de Dalva (de Oliveira) para fazer o disco. E "Calúnia", sobre essa mulher que foi traída, caluniada, me pareceu uma boa preparação para "Carta de amor". "Deixa a calúnia de lado se de fato és poeta" (cita o verso de "Calúnia"). Boa parte da grandeza da canção está aí.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/bem-acompanhada-maria-bethania-lanca-disco-solitario-4447063#ixzz1qeasuale

Bares mortos

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Ruy Castro -

RIO DE JANEIRO - Você sente que o mundo mudou quando, ao voltar a seu bar favorito depois de longa folga, não reconhece ninguém ao redor. São outros os rostos, outra a cor dos drinques nas mesas, outra a música de fundo no ambiente, outros, até, os garçons. E, definitivamente, outros os retalhos de conversa que saem das mesas vizinhas -falam de um mundo a que você não pertence mais. Esse novo bar e esse novo mundo parecem frios e hostis. Mas é possível mudar de bar -ou de mundo.

Quem quer que tenha tido um passado em bares conheceu essa experiência. F. Scott Fitzgerald viveu-a em 1931, quando voltou a Paris depois do crack da Bolsa de Nova York, em 1929. Ao sentar-se ao balcão e ver os cacos de seu rosto no espelho, atrás das garrafas, nem ele se reconheceu. O mesmo já havia acontecido com seus antigos companheiros de farra na Paris dos anos loucos. Todos tinham pedido o chapéu antes dele, falindo ou morrendo.

Já Ernest Hemingway, antevendo essa possibilidade, nunca quis ter um pouso fixo. Dividia-se por bares de Nova York, Paris, Madri, Havana, às vezes dois em cada cidade -"Mi mojitos en La Bodeguita, mi daiquirís en La Floridita"-, e, com isso, tinha para onde correr se um bar o abandonasse. Sempre se considerou maior que esses bares, razão pela qual todos que frequentou, e não foram poucos, sacralizaram a mesa a que um dia ele se sentou.

Em minha trajetória etílica, também frequentei bares, no Rio e em São Paulo, que, sem que percebêssemos, estavam se transformando ou morrendo sob nossos pés. É feio ser o último da turma a pedir a saideira ou a conta. Melhor tentar sair mais cedo, antes que emborquem as cadeiras nas mesas, e nós com elas.

Parei de beber em 1988, aos 40. Nem cedo nem tarde, acho. Sobrevivi a todos os lugares onde bebi, mas por um triz.
 
 
 

"O Que Você Quer Saber De Verdade"

100% honesto

                 
publicado em
Suponha que você seja 100% honesto. Eu digo “suponha” porque suponho que você — assim como eu, Pedro e Barrabás — tenha lá seus pecadinhos. E pecado há de todos os calibres, meu irmão.
Em maior ou menor grau, eles estão encastoados no de-ene-á humano a solaparem idoneidade e afrontarem a ética, coisas bobas, aparentemente inofensivas, como: escolher rapidamente o pedaço mais carnudo do frango, antes que alguém da mesa o faça; fingir que um amigo guardava o seu lugar na fila e passar à frente de quem chegou mais cedo (cambada de trouxas!); sair do restaurante sem pagar um produto que você consumiu, mas não foi lançado na sua conta; estacionar o carrão na vaga para deficientes físicos, mesmo gozando de saúde impecável; comprar recibos falsos de um dentista que é primo do vizinho do seu amigo, pra abater no Imposto de Renda e enganar os carcarás da Receita; trapacear na prova, enganando o professor enquanto ele vai ao toalete, cheio de confiança (e a bexiga cheia); comprar uma dissertação na faculdade, ao invés de perder tempo estudando; não assinar a Carteira de Trabalho da empregada doméstica (aquela mocinha semianalfabeta que acabou de chegar do Norte); assediar, azucrinar a vida, mentir o tempo inteiro para uma mulher até conseguir fazer sexo com ela (daí, então, cair fora o mais rápido possível).
Até que alguém descubra os podres em nós, presume-se que sejamos todos honestos. Nestes dias em que denúncias cabeludas permeiam os noticiários, a própria presidente Dilma alertou que Orlando Silva (não o falecido seresteiro Orlando Silva, que cantava sucessos de Ataulfo Alves, como “Errei, erramos” e “Atire a primeira pedra”, mas o Ministro dos Esportes), frente às acusações de corrupção de que foi vítima, teria direito à Presunção de Inocência, como qualquer brasileiro. Putz! Será que até o pecê-dubê...
Quando eu era adolescente havia uma campanha de marketing no país denominada “Amar é...”, através da qual, frases melosas de amor foram utilizadas largamente em cadernos, agendas, cuecas, calcinhas, álbuns de figurinhas e embalagens de gomas de mascar. Lembro-me, como se fora hoje, de ter dito aos colegas de sala: “Amar é... transar com a professora Susi no banheiro do ginásio”. (Susi era nossa professora de Educação Física, linda, formosa, inalcançável e — melhor de tudo — tinha a língua levemente presa).
Não sei quem criou “Amar é...” (sei que não foi nem Deus, nem Moisés) e se o islougã continua vendendo hoje em dia. Com o tempo, perdi cabelos, o bom humor e um bocado de romantismo.
Então, esforçando-me para parecer inteligente (seguindo recomendações de um leitor militante do partido comunista, que postou mensagens no tuíter garantindo que eu era um escritor fraco e só escrevia besteiras), fiz uma analogia ao “Amar é...” (provavelmente, outra de minhas besteiras) para definir (presumir) o que fosse “fazer política no Brasil”.
“Fazer política é... teimar com a mãe e se candidatar a vereador”.
“Fazer política é... não apenas dormir com o inimigo, mas ser por ele sodomizado, e ainda por cima ter que dar tapinhas nas suas costas”.
“Fazer política é... um mal necessário”.
“Fazer política é... fazer o bem. Primeiro a sua família, é claro”.
“Fazer política é... exigir que, durante uma conversa reservada, seu interlocutor esvazie os bolsos e desligue o aparelho celular”.
“Fazer política é... colocar em dúvida a honra do seu adversário, por mais ilibado e probo que ele seja”.
“Fazer política é... conseguir tomar cafezinho com o sujeito que o difamou, ainda há pouco, no plenário da câmara”.
“Fazer política é... trair na hora certa”.
“Fazer política é... subtrair. Somar decepções”.
“Fazer política é... saber dar entrevistas à imprensa”.
“Fazer política é... exercitar o cinismo até convencer sua mãe que você presta”.
“Fazer política é... delatar um correligionário se ele esboçar sinal de fraqueza”.
“Fazer política é... convencer o policial federal que o uso de algemas é absolutamente desnecessário no seu caso”.
“Fazer política é... a arte de engolir sapos e evacuar porcos-espinhos. Há que se ter estômago de avestruz e ânus de elefante. Não tem jeito: precisa fazer parte da fauna”.
“Fazer política é... amar a Deus como se ama (e muito) a si mesmo”.
Para encerrar a minha crônica istendápi-cómedi (o meu surto rafinha-bastiano): eu, cidadão brasileiro, 98% honesto (presumivelmente), penso que fazer política no Brasil seja a arte de se relevar injúrias e difamações, ainda que elas sejam reais.
E antes que algum comunista mal humorado me coma como se eu fosse criancinha, declaro que, tal e qual a Dilma, eu também presumo seja o Ministro inocente. É. Eu também acredito no Landinho, camarada.

POR EM 21/10/2011

A vida é assim mesmo, meu chapa!

publicado em
“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”
Renato Russo

Fazia frio. A chuva fina que caía ininterruptamente há dois dias provocou queda na temperatura. A mudança brusca das condições climáticas de uma cidade do centro-oeste brasileiro, acostumada ao calor seco sempre tão nocivo à mucosa respiratória e ao capim, compromete o humor das pessoas. Geralmente, para menos. Nunca se está plenamente satisfeito com o que se tem, não é mesmo?!
Pois bem: ele morava com a família num condomínio de luxo. Um apartamento por andar. Quisera ele tivesse também um pensamento por vez dentro da cabeça. Não. O turbilhão de lembranças o deixava zonzo e irritado.
A esposa saíra com os filhos pequenos. Aniversário de criança. Preferiu ficar em casa tentando desopilar aquele mau humor pegajoso. Gozava apenas da companhia do cachorro, uma criaturinha pela qual não nutria tanto afeto assim. Aliás, há dois anos, fora voto vencido quanto à sua entrada no apartamento. Sentia-se desamparado naquela noite chuvosa. Frente fria é assim mesmo. Parece remorso. Pega a gente quando menos se espera.
Garimpou na estante alguma música animada que exorcizasse tantos demônios, mas acabou mesmo optando pela coletânea de blues. Colocou bi-bi-quingue pra tocar. Embora não fumasse, desejou um cigarro. O uísque escorria fácil pela garganta e era deglutido em goles apressados. Naquela situação, convinha não adiar o entorpecimento.
Entretanto, os efeitos do álcool e da chuva deixaram-no ainda mais melancólico, neurastênico, saudosista e — convenhamos — deprimido. Episódios vividos na infância e na adolescência invadiam, vividamente, a cabeça, provocando sentimentos antagônicos que o deixaram bem agitado. Apesar do frescor da varanda, gotículas de suor brotavam na sua fronte a desafiar lógicas meteorológicas. É lógico que ele preferia bodar de vez e embotar tantas lembranças remotas.
Tomou, enfim, o telefone em suas mãos. Ficou irritado por não se lembrar do número telefônico do irmão, com o qual não falava há uns quinze anos. Briga debutante (quase riu ao pensar nisto). Cambaleando, serpenteou pela sala em busca da agenda, esbarrando, derrubando, espatifando enfeites frágeis e fúteis da mobília. Tropeçou também no cachorro, aquela criatura inútil (foi assim que esbravejou). Filho da puta! (ele disse, como se o outro fosse humano) Medroso, o bicho foi deitar num canto da sala, com aquele olhar meio constrangido, meio humano, focinho entre as patas, sabe como é?!
Com dificuldade extrema, visão embaçada pela raiva e pelo álcool, conseguiu discar os números do teclado. Tudo era silêncio, a não ser o tum-tum-tum da ligação, cacofonia nos seus ouvidos. Teve chance de desligar, pois o telefone chamou inúmeras vezes. Atendeu do outro lado uma voz feminina. Era a enfermeira. Vocês sabem, famílias abastadas contratam enfermeiras ou cuidadoras; os pobres se viram como podem, cuidam eles próprios dos parentes adoecidos, ou lhes aplicam fortes soníferos antes de saírem pro trabalho.
Ele dorme? Ele pode atender ao telefone? (especulou, quis saber) Educada, a moça de sotaque nordestino pediu que aguardasse um instantinho, viste? Demorou demasiadamente para fazer a verificação. Mais uma vez, a ele ocorreu desistir da conversa.
Alô? (ela principiou) E então: ele vai falar comigo? (perguntou sem disfarçar a ansiedade) Me desculpe, seu moço. Ele manda dizer que não, que não quer falar. E mais ainda: pede pra que o senhor não volte a ligar. Nunca mais. Por favor. É pedido dele. O senhor me desculpe. Eu só estou transmitindo o recado da forma que ele pediu que eu fizesse, palavra por palavra, viste? (e desligou o aparelho sem esperar réplica).
Pressentindo miséria, o cachorro voltou para a sacada e se aninhou aos seus pés. O animal sentia frio, fome e pena do dono. Desta feita, o homem deixou escorregar o braço pesado de tanto malte escocês, pelo vão da poltrona. Com a mão anestesiada, acariciou o bicho. A chuva engrossara. Já não precisava mais se valer das luzes dos postes para enxergar os pingos. Sorveu todo o conteúdo do copo de uma vez só, como se fosse água da chuva.
Queria muito falar com o irmão, pedir autorização para embarcar amanhã cedo no primeiro voo. Pedir desculpas a ele. Abraçá-lo, novamente. Desde o diagnóstico, perdeu uns vinte quilos (foi o que ficou sabendo, através de terceiros). Devia estar com o abraçar diferente, esquálido. Por causa da bebedeira, foi preciso fazer um esforço descomunal para se recordar do motivo da discórdia. Naquela noite, o motivo lhe pareceu bem ridículo. Perdi tanto tempo... (concluiu, enquanto chamegava o totó).
Três dias depois, o telefone tocou no meio da madrugada. E não é que chovia novamente? Diabos de frente fria era aquela? Do outro lado da linha, a moça de sotaque nordestino. Estava ligando para avisar que o patrão tinha morrido indagorinhamesmo. Sucumbiu, finalmente, ao apetite voraz-suicida do câncer, aquele conglomerado anômalo de células que sorvem a seiva de um corpo como se ele nunca tivesse um fim.
Agora sim, homi-seu-minino, o senhor podia embarcar para ver o irmão. Se ainda fosse o caso, é claro, pois ele estava tão diferente... E que fizesse o biséqui de avisar os demais irmãos, o restante da família. Interurbano custa muito caro. Sinceras condolências. Que passasse muito bem e até breve.

POR EM 28/10/2011

Felicidade suprema

publicado em
Às vezes vale a pena pensar sobre a vida. Não sobre o que temos ou não consumido, tampouco a respeito do que fizemos ou deixamos de fazer. São aspectos factuais que, mais do que ajudar em uma reflexão mais profunda, tornam-se barreiras ao pensamento abstrato, aquele onde vamos encontrar as verdadeiras significações. Chegamos quase à Ideia de Platão, mas aí já o terreno é extremamente perigoso e podemos nos enredar.
Tentar entender o que é a felicidade talvez seja um dos caminhos para se chegar ao sentido da vida. É um assunto para o qual não há dona de álbum de pensamentos que não tenha uma resposta pronta: A felicidade não existe. Existem momentos felizes. Essa é uma verdade chocantemente inócua, pois não chega a pensar o que seja a felicidade como também não esclarece o que são tais momentos felizes. Pois bem,
O assunto me ocorre ao me lembrar de que vivemos em uma sociedade excessivamente consumista, sociedade em que a maioria considera-se feliz se pode comprar. Assim é o capitalismo: entranha-se em nossa consciência essa aparência de verdade fazendo parecer que os interesses de alguns sejam verdades inquestionáveis. O que é bom para mim tem de ser bom para todos. Isso tem o nome de ideologia, palavra tão surrada quão pouco entendida. E haja propaganda para que a máquina continue girando. Não sou contra o consumo, declaro desde já, mas contra o consumismo. Erigir o consumo de bens materiais (principalmente) como o bem supremo de um ser humano é tirar-lhe toda a humanidade, é reificação.
Para Diógenes, filósofo contemporâneo de Aristóteles, a felicidade, a verdadeira realização de uma vida, consistia em alcançar o autodomínio e a liberdade espiritual. E Diógenes viveu o que pensou. Para tanto, vivia em um barril, desprezava a opinião do mundo e os bens materiais.
Conta-se que Diógenes saía à rua em pleno sol com uma lanterna na mão. Indagado sobre o que fazia, costumava responder que estava à procura de um homem, mas de um homem de verdade.
Mas eis que aparece Schopenhauer, aquele mesmo, o inimigo do Hegel, e desenvolve seu sistema filosófico quase todo sob a convicção de que o ser humano só pode ser infeliz. É o filósofo do pessimismo. Às vezes sinto-me tentado a pensar que o Schopenhauer, lá do século XIX, já vislumbrava nossa época, a sociedade do consumismo desenfreado. Ele afirmava que o desejo é a regência do mundo. E que desejamos é aquilo que não temos. Portanto, somos infelizes. E se o desejo é satisfeito com a obtenção de seu objeto, novos objetos surgem em seu caminho. Esta insaciabilidade do ser humano é que o vai manter preso à infelicidade.
Bem, e a que chegamos? Enquanto alguém que circule melhor do que eu pela filosofia, que mal tangencio como curioso, vou continuar pensando que a vida não tem sentido, apenas existência. E isso, um pouco à maneira do Alberto Caeiro, para quem pensar é estar doente.

POR EM 26/01/2012

Os livros favoritos de Ernest Hemingway

publicado em
Na edição de fevereiro de 1935, a revista “Esquire” publicou uma lista do escritor norte-americano Ernest Hemingway enumerando 17 livros que ele julgava seminais. Passados quase 80 anos, os livros apontados por ele, em sua maioria, continuam essenciais. Ganhador do Prêmio Pulitzer e do Nobel de Literatura, Hemingway se matou em 1961. A lista, publicada abaixo, foi compilada pelo blog Lists of Note. Ei-los:














Anna Kariênina — Liev Tolstói
Longe e há Muito Tempo — W. H. Hudson
Os Buddenbrooks — Thomas Mann
O Morro dos Ventos Uivantes — Emily Brontë
Madame Bovary — Gustave Flaubert
Guerra e Paz — Liev Tolstói
A Sportsman's Sketches — Ivan Turgenev
Os Irmãos Karamazov — Fiódor Dostoiévski
Hail and Farewell — George Moore
Aventuras de Huckleberry Finn — M. Twain
Winesburg, Ohio — Sherwood Anderson
A Rainha Margot — Alexandre Dumas
A Casa Tellier — Guy de Maupassant
O Vermelho e o Negro — Stendhal
A Cartuxa de Parma — Stendhal
Dubliners — James Joyce
Autobiografias — WB Yeats