O futuro já tem capital:
Brasília
O Brasil, com a sua nova
Capital, deixa para trás o próprio tempo. Brasília saltou por cima do Século XX.
É um poema com a marca da imortalidade. É de cimento e de sonho. Eis o que
traduz a cobertura dos repórteres Ubiratan de Lemos, Audálio Dantas, Luiz Carlos
Barreto, José Medeiros, Ronaldo Moraes, Paulo Namorado, Geraldo Viola, Rubens
Américo e Lisl Steiner.
Brasília é a
nova Capital
A CHAVE da Cidade está nas mãos do
Presidente. O colosso, que é Brasília, foi obra de um esfôrço quase
sôbre-humano. Tudo foi construído dentro de três anos de trabalho duro e
constante. O mundo inteiro voltou suas vistas para o que, no dia 20 de abril,
acontecia em Brasília: uma cidade para abrigar 500 mil habitantes se inaugurava
e um sonho de mais de cem anos se tornava em realidade.
A DOIS de outubro de 1956 o
Presidente Juscelino Kubitschek pisou o planalto pela vez primeira. Só havia no
cerrado sulcos recentes. Meia dúzia de veredas de serviço, insignificantes
tatuagens vermelhas no corpo crestado do chapadão. O Presidente posava
de visionário. Descreveu uma cidade encantada. Aqui um lago, lá um palácio
transparente, além os 3 Podêres da República. O vidente Juscelino não viu o
sorriso irônico do pequeno auditório que testemunhou êsse quadro.
Em março de 57 um trator
abriu espaço para as primeiras barracas. E começaram os alicerces. A primeira
estaca da Praça dos 3 Podêres foi fincada a 4 de janeiro de 58. Pois às 9.30 h
do dia 21 de abril de 60, no Salão de Despachos do Palácio do Planalto, cercado
por seus Ministros e Embaixadores Especiais, JK teve estas palavras curtas: -
Declaro inaugurada a cidade de Brasília, Capital dos Estados Unidos do
Brasil!
NO mesmo instante, o Poder
Legislativo e Judiciário confirmaram a inauguração do jovem DF, que nasceu num
dia de sol forte, e céu azul, a mais de 1.200 metros. Os Ministros do Supremo,
com discursos do Presidente Barros Barreto e de Nelson Hungria, destacaram a
tranqüilidade do planalto, como propícia ao exercício de uma Justiça de
profundidade, além da dinâmica de uma metrópole eclética. E houve aplausos no
palácio branco do Supremo que, como os outros, parece levitar na área dos 3
Podêres. No plenário da Câmara os congressistas, sob a arquitetura ano 2 mil de
Niemeyer, também instalaram o poder que legisla sôbre os dois outros. E com
vozes também quentes.
Ficaram para trás as
descrenças. A melopéia do pessimismo caboclo. Quase 3 anos de grita contra o
poema-cidade do nosso oeste. São hoje peça de museu até mesmo os protestos bem
intencionados. Brasília
está aí - como realidade e mensagem. As suas orquídeas de cimento armado podem
ser apalpadas pelo olhar mais desfocado. O seu jardim de concreto e vidro, que
dá à cidade impressão de chapa de Raios X, também é imoderado impulso para a
conquista de claros econômicos de mais de 6 milhões de Km2 de Brasil. Ela é a
“cidade síntese” da fala presidencial, a fôrça
aglutinadora de um povo que marcou encontro com o futuro, nos longes do Brasil
Central. Não discriminará Estados, porque nivelará a dinâmica do progresso,
entre irmãos ricos e pobres. Mas se lhe cabe essa função histórica, levando os
marcos econômicos aos limites dos políticos, não é menos verdade que criou nova
mentalidade para o País. O Presidente fêz mais que construir Brasília, descobriu
as energias do seu povo. Um povo que se ignorava. E que desperta com Brasília
para iluminar o mundo.
O Presidente havia empenhado
a palavra: Brasília seria DF no dia 21 de abril. Teria de ser acelerado o galope
da sua construção. Brasília, que nunca parou, teria de bater um recorde de
velocidade sôbre si mesma. Fizeram-se mais rápidos os seus 60 mil candangos. As
abelhas do planalto dobraram os turnos de trabalho. Foi uma sinfonia de
martelos, picaretas, pás, com background de poeira. E máquinas enormes
que abriam e asfaltavam quilômetros num só dia. Havia um misto de suor e
sorrisos eufóricos. Suor de candangos trepados em andaimes e sorrisos de
milhares de visitantes, uns 250 mil, segundo estimativa (de ôlho) da NOVACAP.
Dir-se-ia uma imensa quermesse: gente exclamando em todos os sotaques nacionais.
Então, no dia 20 a festa engrossou. Mais de mil carros, com placas de todos os
Estados, cruzaram, por dia, a fronteira da caçula da Federação.
Em pouco, cêrca de 20 mil ou mais viaturas
rodavam confusamente nos 300 km asfaltados de Brasília. Nos 26 km de eixo a eixo
da cidade, mil engenheiros (de 25 a 30 anos de idade) comandavam a corrida para
o 21 de abril. Só os Institutos, em 11 meses, construíram perto de 3 mil
apartamentos de luxo, sem falar nos menores, em fase de acabamento. A instalação
de micro-ondas foi resumida numa semana de trabalho. A Tv Brasília (associada)
fêz-se em 90 dias: instalação de 400 operários, construção (por terminar) dos
estúdios e montagem de tôrres retransmissoras, no eixo Brasília - Belo Horizonte
- Rio e São Paulo. Mais de 4 toneladas de material técnico, inclusive
video-tape, dispararam via área dos EE.UU. para Brasília, em menos de
uma semana. Vejam o balanço de trabalho do Deputado Neiva Moreira, que
superintendeu a mudança do Congresso. Pois, só num dia, êle alojou 240
deputados, instalando mais de mil mudanças, incluindo a de funcionários
federais. Também num só dia, o Deputado Neiva Moreira comprou e instalou 600
camas. Além disso, providenciou 100 toneladas de comida. E ainda havia 4 aviões
de prontidão, no Rio, para abastecer Brasília, no caso de necessidade. Só uma
firma comercial (como tantas outras) vendeu 100 mil lanches acondicionados em
plástico. Conteúdo: sanduíches, maçã, bombom e refrigerante. Tudo por 120
cruzeiros. Os bares inflacionaram os preços. Um sanduíche de mortadela custava
70 cruzeiros. E 225, dois ovos com arroz, com espera mínima de duas horas. As
cantinas dos Institutos foram incorporadas à rede de alimentação, com preços
razoáveis.
Com o seu lago de 62 km de
linhas divisórias, seu recorde mundial de terraplenagem e seu bloco de 17
viadutos (a maior obra do mundo em concreto protendido), Brasília
marcha para os seus últimos retoques até setembro próximo, Ficará, pronta, até a
última vírgula do plano-pilôto de Lúcio Costa e da mensagem de Niemeyer,
precisamente a 12 de setembro, quando o Presidente Juscelino fará aniversário. E
como é o próprio Presidente quem o afirma, é claro que não cabe
dúvidas.
Brasília, que tem clima
saudável, mais mínimas que máximas, depende muito da cidade livre, cuja ficha
são 13 bilhões de cruzeiros em víveres estocados e um movimento mensal da ordem
de 800 milhões. Mas o debutante DF, que já custou 26 bilhões e que é
autofinanciável (observe-se a supervalorização dos terrenos), terá, nos próximos
dois anos, absolutas condições de vida. Segue-se um quadro de suas atuais
condições, de parceria com a cidade livre. Brasília tem ginásio para 1.200
alunos, escolas primárias além de suas necessidades, colégios de irmãs
dominicanas, clubes de bridge, 2 lavanderias, 6 cabeleireiros, um massagista, 30
farmácias, 35 agências de banco, 5 agências de automóveis, 15 restaurantes, 50
sapatarias, 2 mercados, 50 médicos, 20 dentistas, 10 piscinas, 5 hotéis, 6
buates, vários ribeirões, uma cachoeira, 17 times de futebol - e, por que não? -
o Doutor Ralph, que faz cirurgia plástica. Vinte e seis troncos telefônicos
(microondas) comunicam a cidade com o mundo. E apesar de seu ritmo de 24 horas
por dia de trabalho, Brasília perdeu um recorde: o de acidentes de trabalho.
Sòmente 944 casos simples, com um fatal, para a maior concentração obreira do
mundo de 1960! E mais duas palavrinhas sôbre o que chamaram de
operação-toillete. 3 mil operários limpando a cidade, em 3 dias.
Maratona de vassouras sem política, mas com fartura de poeira. E vamos concluir
esta minuta, uma página da enciclopédia de Brasília, com um desmentido. Nenhum
deputado, ou senador, ou mesmo jornalistas, dormiu na “fôlha de jornal” do samba. Os apartamentos e casas
de conjunto serviram a todos, embora sem excelentes condições. O que devia
predominar era o espírito pioneiro. Um impulso enxuto de patriotismo. Uma
contribuição de sacrifício.
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