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segunda-feira, 29 de julho de 2013

De cineastas cerebrais e intuitivos




Delphine Seyrig em O ano passado em Marienbad (1962), de Alain Resnais

A linguagem cinematográfica, já se disse aqui em alguma coluna, foi sendo construída durante as seis primeiras décadas do século passado. Se a data da aparição do cinema se dá em 1895, somente quase 20 anos depois, em 1914/1915, é que se estabelece a configuração expressiva da sua narrativa, de sua linguagem, com O nascimento de uma nação (The birth of a nation), de David Wark Griffith, e, logo adiante, em 1916, Intolerância (Intolerance), do mesmo diretor. Durante duas décadas (1895/1915), a linguagem cinematográfica tem seus elementos determinantes descobertos aos poucos e por acaso.

Um cinegrafista de Auguste e Louis Lumière (os inventores oficiais do cinema, embora muitos outros, na mesma ocasião, tentassem, em outros países, a projeção das imagens em movimento), Alexandre Promio, numa gôndola num canal de Veneza, liga o seu cinematografo e, a filmar os casarios com a barca em movimento, descobriu um movimento de câmera, otravelling. Um inglês, em 1901, G.A. Smith, da Escola de Brighton, Inglaterra, enquanto registra uma cena de uma mulher diante de um fogão, que está a ponto de explodir, em plano geral, tem a idéia de cortar e introduzir, neste, um close up do rosto da mulher aflita com o acidente prestes a acontecer. A descoberta da inserção de um close dentro de um plano geral é um grande passo na evolução da linguagem.

Assim como a montagem alternada, quando se vê, simultaneamente, vários espaços que se alternam em ritmo crescente até que se convergem num único espaço. A grosso modo, num filme do princípio do século XX, ainda nos primórdios da invenção, o exemplo da mulher que, amarrada aos trilhos por bandidos inescrupulosos (primeiro espaço), está quase a ser espedaçada pelo trem que vai vindo ao longe (segundo espaço) e que, com o desenvolvimento da narrativa, está cada vez mais perto, enquanto o mocinho, namorado da mocinha, toma conhecimento de que ela está em perigo (terceiro espaço) e vai em disparada salvá-la. No final, os três espaços se unificam no primeiro, com a chegada do mocinho, que consegue desamarrar a namorada dos trilhos, e fazer parar o trem. Outros elementos da linguagem são descobertos neste período, principalmente por Griffith em seu período na Biograph (ler, neste sentido, o fundamental livrinho da coleção Encanto Radical (Brasiliense, 1984) de autoria de Ismail Xavier: D.W. Griffith: O nascimento de um cinema ou, também muito importante, Serguei M. Eisenstein: Geometria do êxtase, da mesma coleção e editora, de Arlindo Machado).

Griffith, nos dois filmes citados, é aquele que consegue sistematizar, com eficiência dramática, as descobertas anteriores dos elementos da linguagem cinematográfica. Mas a linguagem ainda precisa de muitas décadas para se aperfeiçoar e se cristalizar, o que se dá em meados da década de 60. Os inventores de fórmulas (Hitchcock, Eisenstein, Orson Welles...) deixam de existir para dar lugar a um cinema de estilo.

Existem, a rigor, entre os realizadores cinematográficos, dois modos fundamentais de abordar o mundo: o cerebral/conceitual e o sensorial/intuitivo. Classificação formulada por Marcel Martin em A linguagem cinematográfica (pág 245), editado várias vezes por diversas editoras e livro imprescindível para um conhecimento básico da dita cuja. O exemplar que se está em mãos é da Brasiliense de 1990.

Nestes dois modos de abordar o mundo, os realizadores cerebrais/conceituais procuram reconstruir o mundo em função de sua visão pessoal, acentuando a imagem como meio essencial de conceituar o seu universo fílmico. Que outro cineasta mais cerebral e conceitual que Orson Welles. O autor de Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) privilegia mais a imagem do que a chamada realidade e seu filme é, no fundo, como disse o historiador francês Georges Sadoul, "um retrato do artista por ele mesmo". Também se incluem como cerebrais/conceituais realizadores como Eisenstein cujo realismo, se assim se pode chamar, é um realismo conceitual, Carl Theodor Dreyer que, com seus quadraux mouvants (quadros moventes) sempre está a fazer exercícios cerebrais diante do tema exposto, a exemplo de O martírio de Joana D'Arc (La passion de Jeanne D'Arc, 1928), A palavra (Ordet), Vampyr, Gertrud, entre outros. E o esteta Luchino Visconti cuja forma privilegia na composição de sua mise-en-scèneembora o propósito de fazer emergir uma realidade determinada (e Rocco e seus irmãos/Rocco i suoi fratelli, 1960, não seria, então, mais intuitivo?). Robert Bresson é cérebro e conceito, assim como Alain Resnais (cuja simbiose entre forma e conteúdo atinge as raias de um processo inextricável em O ano passado em Marienbad [L'année dernière a Marienbad, 1961], entre outras tantas obras de sua rica filmografia,que se considera uma das mais importantes do cinema em todos os tempos - recentemente Medos privados em lugares públicos [Coeurs], filme recente de um senhor em idade provecta, veio a mostrar diante de um cinema contemporâneo apático a jovialidade, a inventiva, a grandeza desse cineasta francês desbravador de fórmulas que muito acresceu à evolução da linguagem cinematográfica. O filme permanece em cartaz por mais de um ano em uma sala paulista). E mais cérebros: Jean-Luc Godard, que praticamente inventou o filme-ensaio, Tarkosky, entre tantos que o espaço não permite a citação.

Os realizadores cinematográficos sensoriais e intuitivos procuram subtrair-se diante da realidade (como se desaparecessem diante dela), fazendo surgir, da representação da realidade direta o objetiva, a significação que querem obter. Para estes cineastas, o trabalho de elaboração da imagem tem menos importância que a sua função natural de figuração do real. Os sensoriais e intuitivos não almejam confiscar o espectador diante da fascinação da imagem, mas, pelo contrário, respeitam a sua liberdade. Assim, em seus filmes, a característica essencial está menos no caráter insólito de suas imagens do que na intensidade da representação da realidade. Marcel Martin diz textualmente: “E poderíamos acrescentar, ainda esquematicamente, que o período em que a linguagem (imagem, montagem) teve um papel predominante correspondeu ao triunfo dos cerebrais, ao passo que o progressivo abandono da linguagem tradicional assinala a preponderância dos sensoriais e de sua visão plástica não mais obcecada pelo conceitualismo.”

David Wark Griffith talvez seja o maior exemplo do cineasta sensorial e intuitivo, assim como Charles Chaplin, Robert Flaherty, Wilhelm Murnau, Yasujiro Ozu, Jean Renoir, Roberto Rossellini, Vittorio DeSica, Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Theo Agelopoulos, Wim Wenders, etc.

Estes cineastas se esforçam para subtrair-se diante da realidade e o que desejam é fazer surgir a produção de sentidos pela sua representação direta e objetiva. Os realizadores cerebrais estão a desaparecer. E o que dizer dos neófitos que pegam em câmeras digitais e filmam a torto e a direito? Nestes, conceitualismo e cerebralismo são bichos de sete cabeças.

http://setarosblog.blogspot.com/2013/07/de-cineastas-cerebrais-e-intuitivos.html?spref=fb


"Cacilda Becker: Uma Mulher de Muita Importância"

29/07/2013 -
Vida pessoal e fotos de Cacilda Becker dominam novo livro


NELSON DE SÁ
DE SÃO PAULO


Maria Thereza Vargas conheceu Cacilda Becker quando tinha de 15 para 16 anos, em 1945. Já havia assistido à atriz nas primeiras peças profissionais, ao lado do ator argentino Raul Roulien, e no teatro estudantil, dirigida por Décio de Almeida Prado.

Começou ali, quando a adolescente foi levar textos seus para a apreciação de Cacilda, que buscava roteiros de radioteatro, uma amizade que se manteve até a morte da atriz, em 1969. Amizade que é expressa agora na biografia que a pesquisadora lança pela Imprensa Oficial.

O livro segue ordem cronológica e põe em primeiro plano a trajetória pessoal.

Com 160 páginas, reproduz mais de cem imagens, grande parte delas inédita e de qualidade superior à das que se conhecia até agora, tiradas por fotógrafos como Boris Kauffmann, amigo de juventude da atriz. A maior parte das fotos é do acervo pessoal da própria autora.
Divulgação

Cacilda Becker em retrato que está em sua nova biografia, que sai pela Imprensa Oficial


"Cacilda Becker: Uma Mulher de Muita Importância" apresenta, segundo Vargas, a "longa caminhada" da emblemática atriz, com "um traçado firme conseguido a golpes rudes", em que não faltou luta "contra a miséria".

"Foi uma vida conquistada dia a dia", acrescenta Vargas em entrevista, observando porém que "Cacilda tinha um temperamento, assim, muito dramático, de quem sofria demais. Ela sempre repetia: 'Eu só sou feliz no palco'".

PAIXÕES

Sua trajetória é pontuada pelos artistas com quem se relacionou -do modernista Flávio de Carvalho, precursor da performance no país, passando por Roulien e pelo diretor Adolfo Celi no Teatro Brasileiro de Comédia, até o ator Walmor Chagas.

"Ela queria se completar com uma figura masculina, era muito apaixonada", diz Vargas. "Nem sempre deu certo." Como as novas fotos indicam, acrescenta, "era muito sensual", com presença que teria se acentuado, no palco, pelo estilo de direção trazido por Celi da Itália.

O diretor José Celso Martinez Corrêa, que estreia em agosto a terceira parte da série de peças "Cacilda", confirma que "ela era muito sensual" e teve "milhares de namorados". Com Celi "ela levantou o TBC, amor e teatro ao mesmo tempo". Além de "muito bonita em cena", também "fotografava bem", lembra ele, destacando a qualidade das imagens do livro.

Mas Cacilda pouco atuou para as câmeras, no cinema e na TV. Como relata o livro, deixou só "vestígios", entre eles o filme "Floradas na Serra", de Luciano Salce, na Companhia Vera Cruz, e a novela "Ciúme", dirigida por Roberto Talma na TV Tupi.

Em tom melancólico, Vargas anota que restam as "imagens fotográficas, formas fixas que agitam a memória dos que a viram representar e que exigem imaginação dos que não a conheceram".

CACILDA BECKER
AUTOR Maria Thereza Vargas
EDITORA Imprensa Oficial
QUANTO R$ 30 (160 págs.)




http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/07/1318198-vida-pessoal-e-fotos-de-cacilda-becker-dominam-novo-livro.shtml

sábado, 27 de julho de 2013

querer não é poder



decididamente querer não é poder (1973), Aninha Franco (Salvador, 1951):

se eu fosse um bicho e você fosse gente
eu me faria animal de estimação
seria um leão manso
deitaria sobre assoalhos
com você sobre meu pelo
te veria dormir e te deixaria dormir
afastando com as patas as baratas e os ratos

se eu fosse gente e você fosse uma coisa
eu me permitiria usar coleiras
você seria o enfeite da minha prisão
e eu desistiria da liberdade dos becos
seria um cão com dono

mas se você fosse um bicho e eu fosse um bicho
eu te comeria.





Memory Motel - Mick Jagger -



Eu não disse que ela sabe das coisas?


LIÇÕES DE SEDUÇÃO
DE MARIA DO CÉU



Maria do Céu Santo – parece nome inventado, não é não? Ou nome de freira. Trata-se, porém, de uma ginecologista e obstetra, nova estrela da televisão portuguesa. Loura bonitona, bem-humorada e bem casada há 30 anos,
virou uma espécie de guru das assinantes do Sic Mulher, onde comanda o programa Amor sem Limites com a desenvoltura e a polêmica sinceridade de uma Oprah Winfrey.

Diz coisas assim: “Uma mulher apaixonada não conquista ninguém. Você só consegue conquistar um homem se não estiver apaixonada por ele”. Para a doutora, paixão não passa de um coquetel de neurotransmissores e processos obsessivos que tem prazo de validade. Se durar muito, nunca é mais do que três anos. Depois, vira amor ou pesadelo.

Não existe paixão até que a morte nos separe. A menos que seja platônica ou alimentada por muita insegurança. Quer dizer, para manter um parceiro fissurado, só não dando o que ele quer ou fazendo o infeliz se sentir eternamentena marca do pênalti.



As feministas não são muito chegadas a certas afirmações bombásticas da nova consultora do mulherio. Arrepiam-se todas quando garante que os problemas e as brigas de um casal podem ser resolvidos com sexo, sim senhora. Pela simples razão de que transar relaxa, faz a gente ver os aborrecimentos com outros olhos e perceber que são menores do que pareciam.

Outro conselho que ela garante ser o melhor que pode dar a esposas estressadas ou de alguma forma entediadas: faça amor mesmo que não esteja muito a fim. Porque depois que você começa, a vontade aparece e costuma ser mais gostoso do que ir dormir chateada.

Adorei a opinião dela sobre essa mania dos sexólogos de garantir que é possível ter orgasmo em qualquer posição – “no chuveiro, por exemplo, dificilmente dá certo”; na melhor das hipóteses, a água quente relaxante é boa para aquecer as preliminares.

Maria do Céu também contesta a verdade pétrea de que mulher é dada a disfunções sexuais. Coisa nenhuma! As realmente problemáticas são a minoria da minoria. O que atrapalha nossa vida sexual é que, ao contrário dos homens, recebemos verdadeiros compêndios sobre como seduzir, mas ninguém nos ensina a transar, e acontece que “fazer amor exige uma técnica que você só aprende na base da tentativa e erro”.



Ela também não concorda que sexo é coisa que se faz na calada da noite. Idéia mais antiquada e fora da realidade! Para quem quiser “treinar”, a melhor hora é de manhã, antes da maratona de trabalho e das mais variadas encheções de saco. Principalmente depois de três anos de vida em comum, que é quando a atividade sexual costuma cair por volta de 30% e muita gente começa a considerar a possibilidade de partir para outra.

Mas não se trata apenas de não deixar a peteca cair; o que realmente importa é prestar atenção no “jogo”. Mulher tem a tendência de só olhar para o próprio umbigo, diz ela. Prova disso são as insatisfeitas que vão procurá-la no consultório, queixando-se de que o marido não faz isso ou não faz aquilo. Quando pergunta “e ele, do que gosta?”, a maioria não sabe responder.

Como boa conselheira, claro que a dra. Maria do Céu também tem o que dizer aos homens. E vai direto ao ponto: se quiser mais sexo, faça de conta que não está nem aí para a parceira. É receita infalível para atiçar o desejo feminino.

Eu não disse que ela sabe das coisas?


(Publicado originalmente na revista Bianchini.)

SONETO “COMPRADO”

26/07/2013


O considerado José Nêumanne Pinto, jornalista, escritor e poeta dos maiores do Brasil, contou a história:


Quando voltei a Bahia para tentar resistir ao naufrágio da barca municipal Gregório de Mattos, fui "freguês" do poeta Ildásio Tavares em intermináveis "facadas".

Fatava pagar a conta do gás ou a conta da luz, o poeta recorria ao "rico" amigo; faltava comprar farinha de mandioca ou a comida para o "totó", tome facada no "rico" amigo.

Dei um basta!

Ildásio se assustou.

Precisava de um dinheiro, segundo ele, para comprar urgentemente um terno de linho para o casamento de um suposto amigo.

E ofereceu-me em troca da última "facada", segundo prometeu-me, um poema inédito.

-- Pode dizer que é seu!!!.

E acabou me "vendendo" esta obra prima:

SONETO DA LUZ

Quando eu nasci, já recebi a cruz,
Plantada no caminho à minha espera
A projetar a sua sombra austera
Onde eu busquei reduto paz e luz.

Quando eu nasci já recebi Jesus
Como anúncio de dor e primavera.
Mas era outra luz; Outra esfera-
Meu caminho, não sei aonde conduz.

Resta-me a cruz e a dura provação
Dos espinhos da vida, triste dança
De enganos, dissabores, ilusão

Que me penetram o peito feito lança
E afastam a luz que a vista não alcança-
Numa só chaga pulsa o coração.

Moacir Japiassu

Sítio Maravalha


DE COMO O JORNALISTA-SITIANTE COMETEU GRAVE INFRAÇÃO CONTRA O MEIO AMBIENTE





Na manhã do domingo ensolarado este Sítio Maravalha recebeu a visita de três soldados da Polícia Florestal. Muito educados, explicaram que o Departamento havia recebido denúncia de que tínhamos derrubado alguns eucaliptos “ilegalmente” e comprovaram o crime. Disse-lhes ignorar a lei que me proibia cortar árvores que eu mesmo plantei há mais de 30 anos e que estavam com as pontas secas e ameaçavam cair.


É lógico que um jornalista com 51 anos de profissão, e ainda em atividade, não pode ignorar a lei que protege o meio ambiente, principalmente quando vive no meio do mato. Concordo. Todavia, se tenho mais de meio século de trabalho, é certo que também amargo 71 anos de idade, e, se li a respeito e vi as reportagens do Globo Rural, o assunto sumiu da memória como somem as lontras quando secam os rios.

Argumentei que nenhum outro sitiante desta região do Alto Paraíba havia cuidado tão bem da paisagem original; toda a vegetação nativa que encontramos neste terreno em 1975 tem sido preservada desde então e ainda pedimos à CESP que aqui plantasse árvores da Mata Atlântica. Da janela do escritório, contemplo uma delas, a mais alta e vigorosa: a paineira de tronco espinhento e belas flores.

Agora me digam: alguém com tal preocupação pode ser acusado de crime ambiental por cortar eucaliptos ameaçados de cair durante os vendavais tão comuns na região?



“O sertanejo é antes de tudo um forte” e doce, como Dominguinhos.




26/07/2013
NÊUMANNE NOTA DEZ


UM PRÍNCIPE

NASCIDO EM

FORMA DE

MATUTO-FLOR

Trecho de Tenho sede, de Dominguinhos e Anastácia: “Traga-me um copo d’água, tenho sede / e essa sede pode me matar. / Minha garganta pede um pouco d’água / e os meus olhos pedem o teu olhar”.

“O sertanejo é antes de tudo um forte”, sapecou Euclides da Cunha em “Os sertões”. Os desavisados reconhecerão na definição o protótipo do cangaceiro, do cabra macho, do matuto destemido que não leva desaforo para casa. Ledo engano. Como o próprio Euclides deixou claro, essa força não reside na coragem, na valentia ou no destemor, mas repousa na improvável força interior contida no termo euclidiano Hércules-Quasímodo.

O sanfoneiro, compositor e cantor Dominguinhos encarnou o lado sensível, belo e pungente dessa força, contrapondo-o à valentia da cabroeira que dormia ao relento e lutava contra as tropas da lei e da ordem. Lampião era o sertanejo-mandacaru. Dominguinhos, o matuto-flor: a flor que brota do cacto com a beleza protegida pela agressividade bélica dos espinhos.

Desde cedo ungido príncipe da música regional nordestina que o Rei Gonzaga fundou e sustentou com o rebuliço mágico dos 180 baixos de sua sanfona, o garoto de Garanhuns, Pernambuco, cruzou as veredas da vida sem trocar de patente nem de coroa: sempre foi menino, sempre foi príncipe.

Consciente da majestade de seu Lua, legitimada pela dimensão universal de sua herança, a grandeza dele, caudatária da simplicidade, o tornou herdeiro perpétuo, impedindo-o de subir ao trono com o desaparecimento físico do criador do forró. Não se confunda, contudo, essa simplicidade com complexo de inferioridade ou desconhecimento do próprio potencial que levou Gonzaga a lhe transferir sanfona, cetro, reinado e gibão.

Nada disso: mantendo-se na infância, ele preservou o segredo da beleza e da variedade da obra que o fundador trouxe das brenhas para transformar no ponto de contato e de solidariedade dos deserdados da seca no bulício das metrópoles.

Em Dominguinhos comungavam a humildade dos mansos de espírito e a altivez dos gênios que reconhecem seu valor ao identificá-lo não nas glórias da fama, mas na consciência da fidelidade a sua grei, que a retribui com um amor mudo, sincero e pleno, que vai além do aplauso fácil.

Este reconhecimento passou, é claro, pela unção real, mas se confirmou em todos os contatos que o artista manteve com seu público, gente com quem partilhava as mesmas origens e com quem se comunicava pela mudez de cúmplices egressos dos mesmos roçados nos quais a necessidade e a escassez tornam a solidariedade gênero de primeira necessidade.

Esse povo aprendeu a linguagem das pausas longas e o reconhecimento da labuta na textura áspera da pele da palma da mão acostumada com a soleira que ofusca e a aridez do solo de pouca água.

Se o Rei do Baião fez de Asa Branca, com a letra do urbano Humberto Teixeira, o hino da diáspora nordestina pelo mundo afora, o príncipe da sanfona compôs em Lamento Sertanejo, com a letra-síntese de Gilberto Gil, negro e interiorano qual Gonzaga, a saga do retirante aculturado. “Quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação, / eu te asseguro, não chore não, viu, / eu voltarei, viu, pro meu sertão”: Gonzaga e Teixeira cantaram o mito da volta do homem à terra, bastando que caia a chuva do céu.

“Por ser de lá, / na certa por isso mesmo, / não gosto de cama mole, / não sei comer sem torresmo. / Eu quase não falo, / eu quase não sei de nada. / Sou como rês desgarrada / nessa multidão boiada caminhando a esmo“ - na melodia de Dominguinhos Gil decretou a saga de um Ulisses-Quasímodo que não retorna a Penélope, mas faz do desassossego solitário o jeito de ficar onde estiver, construindo Ítaca em si mesmo.

A Odisseia do cantor do vale do Araripe, nos confins onde Pernambuco acaba no Ceará, foi registrada no percurso do peixe em Riacho do Navio, com letra do parceiro Zé Dantas, partindo do Atlântico na direção do paraíso idílico perdido nas margens do riacho da Brígida, contra a correnteza.

Essa busca do cordão umbilical enterrado na porteira do curral avoengo se expressa na utopia do desterrado: “Pra ver o meu brejinho, / fazer umas caçada, / ver as ‘pegá’ de boi, / andar nas vaquejada, / dormir ao som do chocalho / e acordar com a passarada, / sem rádio e sem notícia / das terra civilizada”.

A Ilíada do sanfoneiro da “Suíça nordestina” mantém o desterrado no desterro, universo transportado de Garanhuns para os guetos nordestinos nas metrópoles - o Brás em São Paulo, o Campo de São Cristóvão no Rio... Nesses lugares, o cavalo de madeira transporta o retirante para os ambientes urbanos, tornando-o uma espécie de extra-terrestre adaptado aos hábitos e à cultura da Troia que desconhecia.

O retirante pede água, busca o amor e vai ficando: a obra de Dominguinhos é a consciência de que todo lugar é sertão e o sertão é aqui mesmo, reconhecido nas manchas de suor tornadas mapas da solidão que virou ritual de encontro. Como cantou em Tenho sede, com letra de Anastácia, sua mulher e parceira de origem: “Traga-me um copo d'água, tenho sede / e essa sede pode me matar. / Minha garganta pede um pouco d'água / e os meus olhos pedem teu olhar”.


por Moacir JapiassuJornalista, poeta e escritor

(Publicado na Pag.D03 do Caderno 2 do Estado de S. Paulo de quarta 24 de julho)

http://www.blogstraquis.blog-se.com.br/blog/conteudo/home.asp?idblog=11383

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Rubem Braga é “obrigado até a beber para esquecer”


Autor: Pedro Corrêa do Lago

16/01/2013

O centenário de Rubem Braga mostrou que as duas décadas passadas desde sua morte não lhe trouxeram o progressivo esquecimento que é o destino da maioria dos cronistas.

Seu anedotário é infinito, mas nesse centenário − que encheu as paginas dos jornais do Rio e de São Paulo – seu apartamento de cobertura na rua Barão da Torre, em Ipanema, onde recebia os amigos, foi um dos assuntos mais evocados, assim como as noites de muita bebida e boa conversa.

Dois documentos permitem evocar aqui a figura de Rubem Braga.

O primeiro, uma carta dirigida em 1967 a Newton Freitas (a quem Braga chamava alternadamente de Zico ou tio) na qual recomenda Ana Maria Ribas, (falecida no ano passado) como uma “flor de moça” e onde Braga pede a Zico: “Trate-a bem, e a apresente a gente boa. Seja cavalheiro!”

Três grandes amigos, Cícero Dias, João Leite e Arnaldo Pedroso d´Horta, que moram fora do Rio de Janeiro, o visitam no momento da carta, e Braga, que os acompanha boa parte do tempo, comenta a que ponto teve que “adaptar” sua rotina: “Imagine o trabalho que não tenho tido. Sou obrigado até a beber para esquecer”.

Em seguida, evoca a possibilidade de nomeação de seu amigo como adido cultural em Madri, e promete falar com o então Ministro das Relações Exteriores, o politico mineiro José de Magalhães Pinto.

Braga fecha a carta mandando “muitas saudades do velho sobrinho” e deixa sob sua assinatura o famoso endereço da cobertura de Ipanema.








O outro documento data dos últimos meses de sua vida e foi evocado na crônica que Arnaldo Jabor dedica em forma de carta ao centenário de seu amigo, intitulada “Caro Rubem Braga”. No último parágrafo da “carta” que manda a Rubem Braga por seus 100 anos, Jabor diz: “Depois, você morreu. Soube emocionado que você contratou a própria cremação - foi a São Paulo e o funcionário perguntou: "Pra quem é?" "Para mim mesmo", respondeu você, poeta macho”.

A tal declaração foi de fato preenchida por Rubem Braga num formulário oficial de São Paulo, quatro meses antes de sua morte e o original está reproduzido nesta página.

Depois da menção impressa “São Paulo”, no formulário, o escritor insiste em escrever “Rio”, em sua letra.





http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-manuscritas/geral/rubem-braga-e-obrigado-ate-a-beber-para-esquecer

LUA COM FRIO




Nei Duclós


Ponha na roda a palavra que é fogo lento e sobe até o teto.

Passaste por acaso no meu inverno, calor que derrete mesmo de longe.

Ventas para que eu te navegue, vela que desfaz a âncora. Levas o que mais me atinge:
tua lembrança

Amor não é motivo de poesia, disse o sábio. Deverias ajoelhar no milho da disciplina rígida em vez de ficar de olhar perdido na vaga estrela guia.

Tudo o que escreves não passa de besteira, disse ela ao romper comigo. E foi-se embora levando os poemas.

Inventei perder-me para que desconfiasses. Mas tua indiferença não persegue cheiros.

Sonha comigo, pelo menos isso. Já que não passeias na via láctea do meu beijo.

Quando cansaste de mim, fiz outros versos. E mudei a rotação do meu planeta.

Queria dizer mais mas acho que já chega. Senão cairemos numa espiral de entrega. Quem vai segurar o amor querendo existir, mas em queda?

Gelei quando fizeste a mala. E era ainda verão

Abandonei meu barco quando preferiste o voo.

Te trouxe pela cabresto, esfinge marítima.

É bom que sejas de Lua. Recomeças quando ficas cheia.

A Lua rola no morro, moeda de metal nobre, objeto de um tesouro que escapou da eternidade.

Lua friorenta ilumina o gelo, meu coração de pedra, à espera do que perdi para sempre.

Houve um equívoco. O que está nascendo agora é o sol, não a Lua cheia.

A Lua fica na terra. Em teu olhar que me amarra.

Abra o sol na minha chuva, lã dos olhos de vidro.

A esplêndida lua cheia coloca ovos de incêndio, clones de si mesma, na alma devassada pela massa polar.

A lua é flor que cultuas para que eu colha antes da chuva.

O verso não veio, ficou com frio. A não ser que confesses o quanto ele perde quando não te lê.

A toda hora peço para deixar-te, mas o coração não me obedece.

A pressão para te esquecer aumenta, mas não há desistência. Cada amanhecer me alimenta.

Confessou enfim que sentiu falta. Ato falho sem remendo. Não pode mais fingir indiferença.

O conhecimento cansa a palavra, que boceja. Ela prefere a dança. O duro é aguentar a conversa do partner ignorante.

A noite é quando o dia pensa.

Frio é quando te afastas.

Penso junto contigo para que voltemos ao corpo embevecidos de linguagens diversas.

Entre milhares de versos, escolheste o meu. Olho de lince, coração a mil.


http://outubro.blogspot.com.br/2013/07/lua-com-frio.html

quarta-feira, 24 de julho de 2013

domingo, 21 de julho de 2013

FRANK SINATRA - LOVE'S BEEN GOOD TO ME



A ROUPA PARA DORMIR QUE NOS ACORDA




Arte de Isabelle Tuchband


A mulher mais sexy não dorme de baby doll.

Não dorme de camisola.

Não dorme de pijama.

Não é a que dorme nua tampouco.

É a que dorme com as roupas emprestadas de seu homem. Aquela que veste sua camiseta.

Você vê sua roupa nela e fica com vontade de botar no dia seguinte, deseja levar o perfume futuro adentro. Você lembrará dela ao escolher o que vestir de manhã, não somente ao se despir de noite.

É uma armadilha para a dependência. Para criar vínculo e intimidade.

A mulher que dorme com sua roupa devolverá a crença do sexo no casamento e o gosto pela rotina, além de ser uma prova incontestável de beleza. Pois, apesar de seu traje, ela permanece linda. Nem as medidas masculinas estragam sua volúpia. Ela transforma a camiseta larga em um vestido curto, sofisticando a simplicidade.

A mulher fatal não é a que encarna figurino de sex shop, que está armada para o crime.

A mulher fatal não é a que realiza espetáculo e pole dance.

A mulher fatal não será previsível com rendas e cinta-liga, não aparecerá rebolando com chicote e algemas.

A mulher fatal é absolutamente caseira. Ela disfarça seu desejo, não entrega sua intenção de imediato.

Jamais imaginará que terá sexo com alguém que colocou sua camiseta.

Mas ela engana para impressionar, é uma pureza que excita, uma ingenuidade que desconcerta.

Com a despretensão de uma peça emprestada, ela não segue roteiro, faz com que a transa seja inesperada.

Você cogitará que ela quer apenas dormir, mas ela acordará seus instintos selvagens.

É um golpe de estado. Uma impressionante virada de mesa. Na verdade, uma virada de cama.

A mulher que toma sua roupa para dormir arma um ataque caseiro, uma invasão camuflada. Finge que não se interessa para assumir o controle da situação.

Uma mulher que pega sua roupa para dormir irá enlouquecê-lo (o que é mais sensual do que o improviso?).

Ela vai dizendo nas entrelinhas: “Enquanto não tenho seu corpo, uso sua roupa”.

Não existe cena mais encantadora do que uma mulher que rouba sua roupa para dormir. É o começo de todos os saques. Roubará sua vida dali por diante.

Fabrício Carpinejar

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 21/07/2013 Edição N° 17498

A dor dos brasileiros calados, na visão de Pedro Nava


O médico, escritor e poeta mineiro Pedro da Silva Nava (1903-1984), no poema “Toadas Para Meu Irmão”, expressa a dor dos brasileiros calados.



TOADAS PARA MEU IRMÃO
Pedro Nava

Nem eu posso esconder
que esta noite fina assim
seja a mesma noite assu
que assombra Taquarassu!

Que seja a mesma noite densa
soturno enorme abajada
escondendo o sofrimento
dos brasileiros calados!

Mas fosse a noite maior
mais densa, mais abajada
mesmo assim seria fraca
e se deixaria varar
pela ternura que eu mando
voando com a força do vento
- Meu pensamento rasgando
o assombro da noite assu
vai velar sono cansado
dos brasileiros calados…

O sono tão sossegado
de um brasileiro cansado
dormindo na noite assu
que esmaga Taquarassu!

Da cidade outro poeta
quer a distância varar
pra ver o sono do irmão
seu descanso proteger!

Dorme teu sono José (…)

Meu pensamento voando
nesta noite fina assim
vai fugindo da cidade
desgarra sertão afora
pra vigiar bem de perto
o doce sono sossegado
dum brasileiro calado!

Te beijo de leve nos olhos
te beijo de leve na face
te beijo o cabelo inteirinho
te beijo no coração…

Brasileiro sossegado
dorme teu sono calado…

Dorme teu sono José…
E me perdoa, meu Mano
se eu não posso cantar
cantos mansos pro teu sono!
Quem me dera, mas não posso!
Pois na noite da cidade
Só de pensar no teu sono,
as veias ficaram doendo
O corpo todo sem jeito
fiquei esquisito, palavra!
Coração no peito calado…
Que dor nos nervos senti
de não ter voz pra falar
(o coração no peito calado)
de não ter choro pra chorar
de palavra não achar,
dor(i)da boa sincera

como aquela comovida
achada por Mário de Andrade
(aquela tão comovida)
que acalantou de São Paulo
o brasileiro do Acre…
Te beijo o cabelo inteirinho
te beijo no coração…

Descansa na noite mansa
descansa, Mano, descansa…

O suicídio anunciado de Pedro Nava



HUMBERTO WERNECK - O Estado de S.Paulo


Tanto tempo depois de Pedro Nava disparar um tiro contra a própria cabeça, aos 80 anos de idade, tenho hoje poucas dúvidas de que o grande escritor mineiro há muito caminhava para se matar. Se não fisicamente (como fez naquela noite, 13 de maio de 1984, arriado num banco sob um oitizeiro quase em frente à sua casa, no Rio), ao menos literariamente Nava teria decidido abreviar o fim.

Não vou dizer que eu desconfiava disso quando, um ano antes, passei alguns dias conversando com ele, em seu apartamento na rua da Glória, para escrever na IstoÉ um perfil do memorialista às vésperas de completar 80 anos. Hoje vejo que poderia, deveria ter desconfiado, tantas eram as evidências. Estavam numas enigmáticas entrelinhas de nossa conversa, quando, enfático, Nava deplorava a erosão do corpo na velhice e insistia no esplendor da juventude e no primado do amor físico. Estavam sobretudo nas 2.500 páginas dos seis volumes de memórias que ele publicou em vida. Depois de sua morte, voltei aos livros - e tudo então me pareceu transparente.

"Sou um suicidário", chegou a dizer Nava, pela boca de um personagem de O Círio Perfeito, saído cinco meses antes da tragédia. "O calvário para o suicida é arranjar o revólver, providenciar o veneno, pendurar a corda no gancho, sentar-se no peitoril da janela." Naqueles dias em que o entrevistei, estive também, para falar sobre ele, com Afonso Arinos de Melo Franco, seu amigo de vida inteira, e o ex-senador me contou que Nava, certa vez, o demovera da ideia de matar-se. Saiu levando a arma - cuja lembrança, um ano mais tarde, me veio instantaneamente, ao saber do suicídio. (Mas não, não foi com o trabuco de Afonso Arinos que Pedro Nava escoiceou as têmporas, e sim com um Taurus calibre 32, comprado em 1980.)

A revelação de que o escritor se matou porque estava sendo chantageado por um garoto de programa - circunstância que a imprensa descobriu no ato, mas sobre a qual silenciou por anos, até que Zuenir Ventura escancarasse aquele mau momento do nosso jornalismo num memorável capítulo de Minhas Histórias dos Outros - veio jogar luzes sobre a trajetória de Nava rumo a um silêncio sem apelo.

Quem conhece a extraordinária sensualidade de sua prosa pode se indagar se o memorialista, ao desfiá-la, não enveredou, ou se viu arrastado, por aquele "desregramento sistemático de todos os sentidos", capaz, disse Arthur Rimbaud, de fazer do poeta um vidente. Não é descabido imaginar que Nava, ao se contar, tenha se aproximado por demais de algo que havia nele desde sempre, muito bem guardado, e que por inconfessável não deveria subir à tona, mas que ainda assim foi emergindo, inelutavelmente, até se converter, chegado à superfície, na fogueira que o consumiria.

Nos quatro primeiros volumes de suas memórias - Baú de Ossos, Balão Cativo, Chão de Ferro e Beira-Mar -, Pedro Nava está na primeira pessoa. A partir de Galo-das-Trevas, em que as sombras já estão no título, ele se refugia num alter ego, José Egon Barros da Cunha, protagonista também do sexto volume, O Círio Perfeito e das poucas páginas de Cera das Almas, em que trabalhava quando se matou.

Nas linhas finais de O Círio Perfeito, Nava chegou à beira de uma radical revelação: ao descobrir que o Egon flagrara, certa madrugada, seus amores masculinos, o misterioso e fascinante amigo Comendador entrega os pontos - e se dispõe a contar: "Agora escuta". Cera das Almas não retoma a narrativa nesse ponto, mas não tarda a enveredar pela descrição naturalista de um corpo de macho em que arde "a arrogância floral dos genitais".

Penso na sugestão crepuscular dos títulos dos três últimos livros: um candelabro cujas 13 velas vão se apagando uma a uma, um círio integralmente consumido e aquilo que restou de sua combustão. Com ou sem revelação, pareciam fechar-se os horizontes: difícil supor que depois disso algo estivesse por vir - embora as memórias mal houvessem entrado na década de 30, faltando ainda meio século para o momento em que eram escritas. Físico ou literário, ou ambos, era o silêncio final a se precipitar.

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-suicidio-anunciado--de-pedro-nava-,1055754,0.htm

sábado, 20 de julho de 2013

França Teixeira encarnou os ficcionais paradoxos baianos





No início da década de 1960, a poetisa Lina Gadelha disse para um deslumbrado Sartre, recém-desembarcado na Cidade da Bahia, que o dendê simbolizava a alma de Salvador. É pouco provável que o ateu existencialista, sempre reticente para com as coisas invisíveis, tenha caído na culhuda oleaginosa da moça – até porque esta província lambuzada de exclusão nunca teve alma. Aliás, urbe alguma possui qualquer tipo de espírito – a não ser o de porco.

Mas derivo.

O fato é que, neste mesmo início da década 1960, estreava na rádio de Soterópolis um sujeito que conseguiu dialogar com a alma da capital baiana, independentemente de ela existir ou não. Antônio França Teixeira, eis o nome do cristo-exu, soube, como nenhum outro, captar a alma citadina, esta entidade etérea e intangível.

E o fez de modo absolutamente radical. Em apenas um bordão, ele abraçou todos os dialetos soteropolitanos, conseguindo criar uma saudação ao mesmo tempo anárquica e reverente. Ouçam: “É ferro na boneca, minha cara e nobre família baiana”.

(E a cara e nem tão nobre família baiana, testemunharia, algum tempo depois, “o ferro na boneca” ser escolhido como título do primeiro disco de estúdio de uma certa banda chamadaOs Novos Baianos).

Assim sempre foi França Teixeira: uma contradição ambulante. Conseguiu parecer anti-carlista ao mesmo tempo em que lançava um dos epítetos que mais agradariam a ACM: “O Pelé branco das construções”. E acabou arrumando uma sinecura no Tribunal de Contas do Estado exatamente pelas mãos de Waldir Pires, maior adversário político do Cabeça Branca.

PUTAQUEPARIU A MALEMOLÊNCIA!!!

Aliás, talvez tenha sido exatamente por conta destes insanos paradoxos que França Teixeira e a Bahia conseguiram se entrelaçar de forma inexorável. Afinal, o sobrenome desta terra é oximoro. É uma utopia de lugar, tristemente alegre, onde estúpidos são confundidos com gênios, retrógrados com revolucionários e viva o vice-versa.

E ninguém, como nosso anti-herói, foi tão pródigo em circular entre os extremos desta besta (e ainda bela) província. Inclusive, o refrão de sua campanha a prefeito na década de 80 pregava esta, digamos assim, totalizante elasticidade: “De Itapuã a Ribeira o voto é de França Teixeira”.

Porém, foi na área do Ludopédio que ele conseguiu ser mais baiano, com toda a beleza, perversidade e ousadia possíveis. Durante sua conservadora e vanguardista atuação, inovou, correu riscos e fez bobagens em doses cavalares.

Eis abaixo quatro exemplos, nos quais ele trafega da mais ampla e irrestrita irresponsabilidade até a galhofa pura e genuína.

1- No auge da ditadura militar, se é que ditadura tem auge, o indigitado teve o desplante de propagar o terror, inventando que a Fonte Nova, que seria reinaugurada, não suportaria a multidão.

No dia da reabertura do estádio, um refletor ou outro objeto não identificado pipocou e a velha Fonte foi o palco de uma das maiores tragédias do futebol brasileiro. (Esta triste história tem poucos relatos porque vivíamos sob a pesada farda de Médici, que, inclusive, estava no estádio. Até hoje não se sabe a quantidade exata de vítimas. O jornal A Tarde relatou na ocasião que “nem todos os casos atendidos pelo HPS foram registrados, em vista da balbúrdia reinante. Na porta do ambulatório do Hospital, soldados da Polícia Militar vedavam a passagem de jornalistas”).

2- O ex-preparador físico da seleção brasileira, Paulo Amaral, tentava implantar no Bahia um novo sistema, privilegiando a força física. Como não concordava, França, então, colocou no ar relinchos de cavalos afirmando que era o treinamento do Esquadrão de Aço. Antes do final do programa, o musculoso e careca treinador entrava por uma porta na emissora e o apresentador fugia por outra.

3- Romântico inveterado, França Teixeira defendia uma tese anti-europeia, meio que impedimentística. Ele entendia que, mesmo o maior craque, se tivesse atuando no exterior, não deveria jogar na seleção brasileira. Aliás, nem ser convocado. “Jogou fora, tá fora”, dizia, acrescentando que isso iria melhorar o nível do futebol brasileiro e contribuir para a diminuição das negociatas.

4- Apesar de se auto-proclamar torcedor do Ypiranga (time que só lhe dava alegria, pois “não treinava, não jogava e não perdia”), a verdade é que França Teixeira sempre torceu pelo Bahia, inclusive interferindo na administração do clube. Tal fato, porém, não impedia de armar sacanagens, como no dia em que inventou uma fictícia contratação de Pelé, contando com a participação do próprio Edson Arantes e do então presidente do Bahia Alfredo Saad na consecução da farsa. (Recentemente, em entrevista, França Teixeira afirmou que quem o ajudou nesta presepada foi o presidente Osório Vilas-Boas, mas se equivocou, pois nesta época Osório não comandava mais a agremiação).

Pouco importa. O fato é que o cidadão nunca sossegou, ao contrário dos hodiernos radialistas escrotos baianos (desculpem a redundância), que se acomodaram e se acostumaram a armar falsas polêmicas apenas para incrementarem o holerite. É óbvio que França também agiu pensando no contracheque, mas não somente. Era uma genuíno adepto do fuzuê dos 600 DEMÔNHOS.

Porém, baiano e paradoxal ao extremo, o homem que revolucionou os meios de comunicação da província, especialmente o rádio e a TV, acabou passando os últimos 20 anos numa repartição pública, como um simples burocrata. Simples, vírgula, pois mesmo na Corte de Contas, ele achava um jeito de polemizar, seja lendo os relatórios governamentais como se estivesse narrando uma partida de futebol ou usando uma démodé gravata borboleta, que ele classificava como vanguardista.

Enfim, o fato é que com a morte de França na última quinta-feira, dia 18, morre também uma parte da paradoxal alma da cidade, mesmo que ela nunca tenha existido.

A Bahia perde um pouco de sua ficção.

Franciel Cruz

P.S França Teixeira foi também pioneiro na nova linguagem da TV. Muito antes da Rede Globo, ele fez um programa chamado França Teixeira – Profissão Repórter. Porém, em entrevista ao jornalista Nelson Rocha na Tribuna da Bahia, ele conta que “A Globo patenteou o Profissão Repórter, e eu ganho o que Inês ganhou na roça”.

Na TV, França também criou a seguinte expressão que intimidava os entrevistados “Câmera nos olhos dele”. Um dia, ele mandou a câmera fixar nos olhos de Luís Melodia – e estava uma brasa, mora?


http://impedimento.org/franca-teixeira-encarnou-os-ficcionais-paradoxos-baianos/

terça-feira, 16 de julho de 2013

Lágrima - Oasis de Bethânia



Lágrima 

autor: Candido das Neves

Ai, deixa-me chorar para suavizar
O que não sei dizer, mas sei sentir
Não prantear um amor que se perdeu
É a nossa alma enganar
E ao próprio coração querer mentir

Rir é quase iludir
É querer forçar o próprio coração a gargalhar
Quando ele está solitário na dor
A soluçar de amor

É mais sublime a lágrima
Que exprime as nossas emoções
Amenizando a alma cheia de ilusões
Do que sorrir para esconder a mágoa
Que o olhar não diz
Não há ninguem feliz

Quero fazer das lágrimas que choro
Estrelas a brilhar
Rosas de cristal
Do pranto emocional
Mas se ela voltar
Fulgente diadema então lhe ofertarei
O pranto que chorei

Sim, quem nunca chorou
Certo nunca amou
Talves nem alma tenha para sentir
Não me faz inveja este prazer
Eu gosto até de padecer
Chorar é a mága em pérolas diluir
mas quem quiser amar
Certo há de chorar
Há de sentir morrer o coração
Porque o amor sendo belo e falaz
como os ais
se desfaz em ilusão.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Superwoman (where were you when I needed you) - Stevie wonder -


porte, vestuario, actitud...


Nueve cantantes elegantes: porte, vestuario, actitud

Por: Diego A. Manrique | 15 de julio de 2013



La música pop alienta las extravagancias indumentarias pero también ha generado su cupo de elegantes, que saben distinguir las buenas telas y apreciar los cortes certeros.

Forma parte del ritual del estrellato. Adquirir la mansión, los coches, tal vez el barco. Y, sin duda, hacerse con el sastre fiable o el estilista que sabe atender las nuevas necesidades del jilguero dorado. Puede que tus seguidores paguen por verte en vaquero y camisa de leñador pero descubres que necesitas otro atuendo para acudir a las funciones de la industria y demás actos donde se congregan cámaras ansiosas.

Para algunos cantantes, el vestir elegante forma parte del ADN o incluso del paquete de “la mejor venganza es vivir bien”. En algún momento, hasta el vocalista más desastrado descubre la necesidad de proyectarse como un galán. Otros van aprendiendo mediante la prueba, el error y vuelta a empezar. Además, existe la figura del personal shopper, que se patea tiendas hasta que localiza las prendas necesarias. Y que firma el contrato de confidencialidad, como cualquier empleado valorado.


DAVID BOWIE

Durante años, parecía tener la mejor bola de cristal y adivinar hacía donde se movían las tendencias punteras. Como se puede comprobar en la exposición que se desarrolla en el Victoria and Albert Museum, esa intuición produjo algunas de imágenes más impactantes de la historia del pop. Pero no debe olvidarse que David (1947) comenzó como chico moden el Londres de los sesenta. Que acudió al panal de rica miel que ofrecía Carnaby Street; se decepcionó ante la baja calidad de los productos teen y descubrió que, en los alrededores, trabajaban modistos, camiseros y zapateros dispuestos a materializar los deseos de los aspirantes a la nueva aristocracia pop. Luego llegarían las etapas hippy,glam, futurista y un largo etcétera...pero nunca perdió el contacto con aquellos artesanos caros y discretos.


YVES MONTAND


Intenten imaginar los equilibrios que el hombre nacido como Ivo Livi hizo a lo largo de su intensa vida (1921-1991). El italiano sureño que se convirtió en esencia del charme francés. El vocalista que alternaba con el cine, incluso con estancia en Hollywood (donde NADIE se hubiera atrevido a cantar un repertorio como el suyo). El caprichoso que se retiraba de la circulación y se dejaba querer cuando se le reclamaba para actuar, girar, grabar, hacer televisión. El militante que rompió estrepitosamente con el comunismo. El hombre que intimó con Édith Piaf, Marilyn Monroe y, claro, Simone Signoret. Le ayudaba su apostura innata; bajo los focos, su capacidad para manejar un bastón, un paraguas, un sombrero hasta que se convertían en extensiones de su persona.

ROBERT PALMER

A poco que se esfuercen, encontrarán fotos de un Robert Palmer (1949-2003) con pelos largos, barba, chaqueta de cuero con flecos, pantalones vaqueros: los tiempos del grupo Vinegar Joe, por ejemplo. Sin embargo, a partir de 1974, se reinventó como cantante sofisticado y un tanto canalla, acompañado por damas con poca o ninguna ropa. Siguió la pista de tantos ilustres bon viveurs ingleses y se instaló en las Bahamas (aunque terminó en Suiza, cuando el ambiente isleño se puso peligroso). En contra de su reputación de pichabrava, era buen esposo y mejor padre. Su refinamiento exterior le permitió ir saltando de estilo en estilo, incluyendo el rock duro con Power Station. Con el fotógrafo Terence Donovan, hizo videos cruciales, que se burlaban del arquetipo de la modelo descerebrada. ¿Algún secreto? Era mañoso en coctelería. Me reservo lo del dia que nos quedamos encerrados en el ascensor diminuto que sube hasta los estudios madrileños de la SER...

FRANK SINATRA

Los chicos pobres suelen asimilar rápido las ventajas sociales de mostrarse impecables. Sinatra (1915-1998) era físicamente un alfeñique pero se hizo estrella en tiempos de carencias, durante el racionamiento de la Segunda Guerra Mundial, y decidió lucir una gallardía vulnerable. No renunció a las buenas tijeras que le vistieron en sus primeros tiempos, aunque también adoptó algo de la moda sport propia de ámbitos calurosos, como Los Ángeles o Las Vegas. Cabe imaginar que su conocida repugnancia ante el rock and roll tuvo que ver con lo que creía era el uniforme oficial de la delincuencia juvenil. Los rockeros, sin embargo, le tomaron la medida: como dijo Springsteen, “se convirtió en sinónimo de elegancia, buena vida, champán y refinamiento, pero su voz evocaba las desgracias del mundo”.

MARVIN GAYE

Durante un tiempo que él creyó demasiado largo, la Motown concibió a Marvin Gaye (1939-1984) como la versión sepia de Frank Sinatra o, en todo caso, el continuador de Nat King Cole. Así que lo sabía todo sobre los trajes de corte italiano o el esmoquin apto para impresionar en el Copacabana. Ya en los setenta, se reinventó como cantante socialmente atormentado y, ya de forma definitiva, como el perfecto lover man. Se ennobleció recurriendo a moda sensata entre los excesos del cine blaxploitation, aunque era capaz de salir a actuar con un batín, quizás como metáfora de la desnudez con la que se enfrentaba a sus adicciones al sexo y la cocaína. Cierto que llevaba una pesada carga: diferenciarse de su padre, un reverendo dado al travestismo. El hombre que terminó matando a Marvin.

DOMENICO MODUGNO

¿Qué admiramos de Modugno? Que se organizó una vida plena (1928-1994), a pesar de sus orígenes humildes: su padre era policía municipal e hizo sus estudios (cinematográficos) con una beca. Ejerció de actor hasta que descubrió que poseía talento inmenso para renovar el cancionero italiano, con una amplitud de recursos que iban desde la exuberancia al patetismo. Como decía una de sus piezas, le sentaba bien un viejo frac pero sabía qué ponerse para no desentonar en cualquier contexto. Solo admitía una fobia: la ropa interior blanca (“recuerda a los hospitales ¿no?”). Un ictus le llevó a esas instituciones que tanto detestaba pero se recuperó para funcionar como parlamentario combativo, en las filas del Partido Radical: hizo mucho por humanizar la existencia en los antiguos manicomios.

BRYAN FERRY

Pocas biografías como las de Ferry (1945) justifican los recurrentes mitos sobre la permeabilidad de la sociedad británica para la gente con talento. Hijo de un agricultor, que también cuidaba los ponis que trabajaban en una mina de carbón, supo evitar el destino que le tenían reservado -un “colegio técnico”- y estudió bellas artes en la universidad de Newcastle. Culto, experto en pop art, traspasó ese caudal al pop con Roxy Music y sus abundantes discos en solitario. Su gusto por las bellas cosas de la vida le permitió integrarse en la high society londinense. Aunque esencialmente apolítico, perdió sus simpatías por el laborismo cuando su hijo Otis combatió las leyes contra la caza del zorro; el conservadurismo de Cameron le va como guante a un esteta que se ha hecho a sí mismo.

LEONARD COHEN

Tuvo una larga etapa bohemia, como corresponde a un literato rebelde, pero Leonard (1934) gusta de proclamar que “nació vistiendo un traje”. Los Cohen habían prosperado en el negocio de la ropa, una industria donde solían destacar los judíos, y Leonard asimiló indefectiblemente una apreciación por los paños de calidad, las costuras exactas, los zapatos relucientes y el detalle-que-despista del sombrero. Nunca pareció una impostación: le destacaba entre la desastrada tropa de los cantautores. Esa facilidad para mostrarse impecable le ha permitido sobrevivir a desastres musicales, catástrofes amorosas e incluso a una hecatombe financiera. Todavía sigue el consejo de su madre: “cuando te sientas deprimido y miserable, no te abandones: te afeitas y te sentirás mejor.” Funciona, asegura.

JAY-Z

El sueño americano, versión ghetto. Shawn Corey Carter (1969) creció en una familia sin padre y asegura que se familiarizó con las armas y el menudeo del crack. Chico astuto, pronto aprendió que el hip-hop era un negocio mucho más seguro y rentable. Aunque posee un extraordinario flow, comprendió que la fama rapera se rentabiliza realmente en otros campos. Así que racionó sus lanzamientos mientras, por ejemplo, lanzaba la marca Rocawear, con gran éxito en el rebosante mercado de la “ropa urbana”. Pero él también viste su versión particular del uniforme de los ejecutivos, con una pulcritud que desconcierta a los inversores, políticos y capitanes de industria que se acercan a este Rey Midas. Tener a su lado a la pantera negra de Beyoncé también ayuda, naturalmente.


Entrada realizada a partir de una sugerencia de Fernando Rimblas para la revista Gentleman.

http://blogs.elpais.com/planeta-manrique/2013/07/nueve-cantantes-elegantes-porte-vestuario-actitud.html

El sexo que te para el corazón



'Total Eclipse of Heart' de Bonnie Tyler resume esa necesidad del otro que solo logramos acallar en el sexo.


Por: Silvia C. Carpallo | 10 de julio de 2013


Cuando hablamos de sexo nos gusta hablar mucho de lo físico o, incluso, casi más de lo social, pero parece que nos 'cortamos' más a la hora de hablar de lo emocional.


No voy a entrar en el debate de si se es mejor el sexo sin amor o el amor sin sexo (pero si queréis opinar, los comentarios siempre están abiertos). Aunque aviso: en esta ocasión me voy a poner un poco ñoña, para variar. No quiero hablar del amor con mayúsculas (o quizás sí), sino de ese sexo que, de tan intenso, parece que nos hace parar el corazón.





Nos pasamos la vida buscando la técnica o postura que nos haga llegar al cielo. El lubricante que consiga intensificar nuestras sensaciones, el vibrador que nos enloquezca, o el juego que revolucione nuestro deseo. Y no nos damos cuenta de que, a veces, nuestras propias emociones son el mejor aliciente para hacer del sexo algo único.

El sexo es una de las experiencias emocionales más intensas que podemos llegar a experimentar. Porque somos vulnerables, porque nos exponemos, porque nos entregamos al otro sin restricciones. Pero también es cierto que tal impacto solo sucede en contadas sesiones de sexo. No es lo habitual, claro está, pero a veces simplemente surge sin más. No hay una receta mágica. En cuestión de sentimientos no existen ejercicios, normas, ni pautas a seguir. Simplemente existen momentos que, por una razón u otra, nos marcan a fuego.

¿Sientes ese instante en el que apenas un roce despierta infinitos escalofríos, en el que una caricia nos transmite más que mil palabras, en el que un beso, es simplemente más que un beso? Nuestro yo racional nos abandona, y nos dejamos llevar totalmente por los impulsos, incluso a veces más de lo que deberíamos. No se puede parar, nos dirige la pura e instintiva necesidad, la ansiedad, las ganas de sentir más y más.

En ocasiones se trata de una chispa que surge por casualidad y, en otras, tiene que ver con nuestras propias circunstancias. Dos amantes que se reencuentran tras un largo tiempo, bien por la distancia, o bien por una ruptura que no fue definitiva. Y tras la larga espera, sus manos vuelven a recorrerse con ansia, pero con mimo. Casi beben el aire que respira el otro, mientras se devoran, se idolatran.

Otras veces se trata de una pareja que lleva toda una vida junta y que, tras un tiempo en que ambos han estado sumidos en sus rutinas, vuelven a mirarse y a verse, de verdad, por primera vez. Y se besan lento, como la primera vez, para volver a sentir esas mariposas en el estómago. La pasión se transforma con los años, pero el deseo, si nos los proponemos, puede ser mucho más intenso en una pareja que se profesa un amor sincero.




Escena de la película 'El Diario de Noa' (2004), con Ryan Gosling y Rachel McAdams.


En ocasiones puede tratarse simplemente de pura química. Dos completos desconocidos que se encuentran y que, al rozarse, sienten esa electricidad que nunca antes habían pensado experimentar. Todo es rápido, desordenado. Quizás no sea el orgasmo más largo, ni el más intenso de tu vida, quizás ni siquiera llegues al orgasmo, y sin embargo, todo tu cuerpo sucumbe a una serie de sensaciones deliciosas.

No son más que ejemplos, pero seguro que cada cual ha sentido alguna vez algo parecido. Seguro que alguna vez se os ha parado el corazón (en sentido figurado) haciendo el amor.

Todos sabemos lo importante que son los sentimientos en el sexo, y sin embargo, por algún motivo, tendemos a huir de ellos. Nos da miedo sentir, porque nos da miedo sufrir. Tenemos miedo a implicarnos, a poner toda la carne en el asador, si bien no siempre con la otra persona, sí con el momento. Pero no nos damos cuenta de que el dolor y el placer a veces son caras de una misma moneda, que si no sentimos, no estamos vivos del todo. Que el sexo puede ser explosivo cuando nos dejamos llevar de verdad.

Y vosotros, ¿creéis en el sexo como algo más ligado a lo físico o a lo emocional? ¿Alguna vez habéis tenido ese sexo que te para el corazón?




Una de esas imágenes que circulan por la red, con una precios a frase.

Come Slowly



Come Slowly

Come slowly, Eden

Lips unused to thee.

Bashful, sip thy jasmines,

As the fainting bee,

Reaching late his flower,

Round her chamber hums,

Counts his nectars -alights,

And is lost in balms!


Emily Dickinson

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Num Corpo So - Maria Rita


teu amor me espera




Não tenho medo de errar,

vi nos teus olhos que

me saberás iluminar os dias...

Não tenho medo de cansar,

descanso quando tua mão

acolha a minha...

Não tenho medo de esperar,

desperto quando tu me chamas...

Não tenho medo de dizer,

ainda que saibas meu pensar.... 

teu amor me liberta sem atropelos,

teu amor me entende,

teu amor me guarda,

teu amor me espera.



RS 07/11/13

tudo o mais pode esperar.....



Inadiável é te amar até a última gota

Indefinível






...À memória, um outro corpo salvando meu corpo desses teus confins inconclusos, para que eu não desista do amor que me deixou quebrada e indefinível. Para que eu não desaprenda o caminho das sedes e a penumbra das faltas entardecidas de Domingo. Para que eu não perca essa alegria de manhã levantada, recém-plantada em minha pele que ora te envolve, ora te desprega de mim.



Priscila Rôde



http://www.priscilarode.com/2013/07/indefinivel.html


Se a palavra...





Se palavra for a semente que em nós floresce, o descanso que em nós se sente, um abraço que ao outro serve, o carinho que em nós nos veste, o aconchego que o outro pede, uma cura que a dor despede, o convite que em nós nos leva, uma prece que a Alma eleva, ou um silêncio que dissolve os nós, seja lá o que for que tenhamos dito, teremos realizado o nobre e encantatório ofício da palavra em ser Poesia.

..CONTADO POR GUILHERME

DOIDICE - DJAVAN


DOIDICE



É natural

Um vendaval que passa aqui

Mais doidice ali

Ou uma seca que arrasou

Pior é não te ver agora

Aflora vícios

Claras manhãs

Ou tanto mais

que eu possa ter

Nada quer dizer

Se o teu beijo não é meu

Cio chegando

Calor explodindo

Temores rondando o ar

E eu pensando em ti

Me apaixonei?

Talvez, pode ser

Enlouqueci?

Não sei, nunca vi

Preciso sair

Depois que eu descobri

que há você

Nunca mais existi...

terça-feira, 9 de julho de 2013

A FLOR DO JAZZ BRASILEIRO

por  em 09 de jul de 2013 

Blubell, nome originado de uma delicada florzinha azul inglesa, tornou-se o pseudônimo de uma simpática cantora, dona de uma voz bastante peculiar e especial. Ela traz na sua música, fortes influências do jazz clássico e limpo, jazz este de Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong e tantos outros que fizeram história e atravessam gerações.
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Na última quinta-feira (04/07), Blubell me concedeu uma entrevista muito bacana na qual falou sobre várias coisas, como, por exemplo, a formação da sua bagagem musical; a experiência de cantar no festival Lollapalooza (2012), por ocasião do qual foi muito elogiada e surpreendeu a todos; além de nos revelar suas atuais fontes de inspiração e o que podemos esperar do seu novo CD.
A cantora que começou a tocar aos treze anos e nunca mais parou. Hoje vive da música apesar das dificuldades de se viver de arte no nosso país. Já recebeu elogios de artistas consagrados, como a cantora Marisa Monte e do diretor Fernando Meirelles. Confira o que rolou na entrevista.
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Foto de Rodrigo Schmidt
Grand Café (Obvious): Blubell é uma flor inglesa muito rara em outros lugares do mundo, certo? Gostaria que você me contasse como foi a escolha do seu pseudônimo.
Blubell: Esse pseudônimo foi um apelido que eu ganhei de um amigo português.
Grand Café (Obvious): Não tem nada a ver com a flor?
Blubell: Tem a ver com a flor, sim. É que meu nome é Isabel, daí ele me apelidou pela florzinha, Blubell.
Grand Café (Obvious): Como nasceu a paixão pela música e quando você decidiu seguir carreira?
Blubell: Com treze anos de idade comecei a tocar violão e ai nasceu a paixão pela música. Aí eu não parei mais de cantar e tocar. Mas, pra decidir seguir a carreira... nossa, é muito difícil pra falar a verdade, porque daqui que você comece a ganhar dinheiro e poder se sustentar demora, né? Nossa! Eu fiquei muito incerta. Acho que até o momento em que eu gravei meu primeiro disco em 2006 eu ainda tinha dúvida se devia seguir cantando e compondo ou não. Acho que foi quando eu lancei meu primeiro disco que eu entendi que sou compositora e aí não tinha mais volta.
Grand Café (Obvious): Você foi meio que levada a isso então, né?

Blubell:
 É. Acontece isso, sabe?! Teve uma fase antes de eu gravar meu disco que parei com a música e fui estudar design. Daqui a pouco já estava com banda, cantando, fazendo show e não conseguia ir às aulas. Então, foi isso... a música sempre me puxou.

Grand Café (Obvious):
 Que influências musicais você teve nessa época? E atualmente, que fontes de inspiração você nos citaria?
Blubell: Olha, passei por tudo. Comecei com os discos dos meus pais. Aqueles que tínhamos em casa. Então, tinha bastante MPB: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Tom Jobim e, depois, meu pai começou a se interessar muito por jazz e começou a colecionar discos de jazz. Então eu ouvia clássicos do jazz, desde bem pequena. E depois meu irmão mais velho me apresentou ao rock: Beatles, Led Zeplin, The Doors... todas essas bandas do anos 60 e 70. E... depois, teve uma fase que eu me interessei muito pelos anos 80. Enfim, eu sempre gostei de música. Sabe, eu gosto de quase tudo.

Gran Café (Obvious):
 Sendo música boa, né?
Blubell: Exatamente. E agora, eu tenho ouvido muita coisa dos anos 50. Sabe? Quando o jazz começa a virar rock. E meio que flerta com o soul e com o blues. Com a música negra americana dos anos 50. Isso já está influenciando as minhas composições. Tem algumas músicas no disco novo já, que tem essa pegada meio anos 50.

Grand Café (Obvious):
 O seu primeiro álbum Slow motion ballet também foi a sua estreia como Blubell. Ele tem uma pegada mais rock. Já o seu segundo álbum, Eu sou do tempo em que a gente se telefonava, traz jazz. Como foi essa transição? O jazz veio pra ficar?
Blubell: Olha, eu acho que não dá pra saber (risos). Eu ainda tenho 35 anos ainda. Tem chão. Vai que aos cinquenta eu resolva que eu quero tocar só tcha-tcha, então não dá pra saber. E na verdade isso é bom, porque é bom você ter essa liberdade, sabe? Eu não quero ficar presa num estilo só. Na verdade, na transição o que aconteceu é que o Slow motion ballet foi uma parceria minha com dois produtores, Luciano Kurban e Paulo Corcione, e eu não tive como dar nenhum “pitaco” na produção desse disco. Então eu fui simplesmente a compositora das músicas e a intérprete. Agora, do jeito que ele foi feito, bem puxado para o rock e outras músicas mais puxadas pro eletrônico e tal. Foi o que os produtores colocaram. Então, eu considero o slow motion meio que o disco zero, sabe? (risos) O eu sou do tempo já foi mais o primeiro disco, porque eu tinha mais liberdade para escolher quem ia tocar comigo, fazer os arranjos, está participando na hora de fazer os arranjos, participando na hora de mixar e etc... Então, por isso que aconteceu. E também se passou cinco anos entre um disco e outro. Minha cabeça “tava” diferente também.
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Foto de Fabiana Brandão
Grand Café (Obvious): Em 2012 você tocou no palco alternativo do Lollapalooza. Li que seu show foi curto, mas marcou presença. Muitos o descrevem como uma das apresentações mais curiosas do festival e destacam que ele chamou bastante atenção pela mistura de idiomas, tanto nas letras das músicas, quanto na interação com o público. Como foi a sensação de apresentar seu segundo álbum para o público que conhecia poucas músicas suas, como “Chalala”, abertura da série Aline da Rede Globo, e, mesmo assim, conseguir encantar a todos?
Blubell: Então... o show foi curto porque eles quiseram adiantar o show quando a gente chegou lá no dia. O show já ia ser um pouco curto, 45 minutos de show. Daí eles quiseram, por conta do problema de time com o palco principal, que a gente ia ter que adiantar. Só que já “tava” super cedo, não dava tempo para abrir os portões do Jóquei e as pessoas chegarem, porque é uma caminhada, assim... Então, eu preferi, ao invés de adiantar, fazer um show mais curto, mas começar na hora que estava marcado. Também é sacanagem a pessoa chegar lá na hora e já começou o show. Por isso, que ficou meio curto. Foi muito interessante fazer um show com esse formato que é com um público grande, espaço grande, né? Você tem que forçar mais a voz, dar tudo de si. Eu fiquei molhada, “tava” suando “bicas”. É uma coisa bem diferente do tipo de show que eu costumo fazer, que é em lugares bem menores. Eu faço muito show em teatro que você mexe um dedinho e todo mundo vê. Num lugar como o Lollapalooza não funciona isso. Pra mim então foi bem interessante essa experiência. E agora a gente fez a Virada Paulista, em Bauru. Também tinha muita gente. E eu também tive essa sensação de show em estádio. Aquele que pode correr de um lado pro outro e brincar com o público. Não dá pra ficar falando muito tem que ter ação, sabe? (risos) Fora a exposição que te dá um festival desse, né? Teve bastante retorno, bastante gente passou a me conhecer ali. Então, foi demais! Eu queria poder tocar todo ano no Lollapalooza.
Grand Café (Obvious): O projeto I charleston the world passou por várias cidades do mundo, fazendo pessoas dançarem o charleston que é um estilo de dança do jazz anos 20. Como surgiu a ideia de trazer o projeto para o Brasil?
Blubell: Bem, “tava” querendo fazer uma mudança já há muito tempo e conversando com a Daniela Cuchiarelli e a Bianca Lombardi, que foram as diretoras do clipe, a gente conversou, até que eu dei a ideia de fazer uma homenagem ao filme Flashdance, aquele filme dos anos 80. Daí a gente descobriu que a Jennifer Lopez já tinha feito (risos). Aí quando a Dani foi ver o meu show, nesse ultimo show que eu “tava” fazendo, eu estava cantando a música charleston, do Balão Mágico, que é da minha infância a Simony que cantava e tal. Nesse mesmo tempo ela ficou conhecendo esse projeto I charleston the world e trouxe a ideia, e eu abracei na hora, que tinha tudo a ver realmente com o que eu estava fazendo. E aí elas tiveram a ideia de a gente fazer o Crowd Funding, que foi uma experiência muito bacana. Eu como a maioria das pessoas tinha a impressão de que o Crowd Funding era meio que pedir esmola, e não é, né? Cada pessoa que contribui um pouquinho ganha uma recompensa. Então, eu achei muito legal, porque que ao invés de ser os diretores de marketing das grandes empresas serem aqueles que escolhem que artista vai ser contemplado. Eles têm o direito de patrocinar os artistas grandes e tal, mas ninguém melhor que o público pra decidir que artista vai ser contemplado ou não. Então eu sou super apoiadora do Crowd Funding, quem quiser fazer, eu dou o maior apoio.

Grand Café (Obvious):
 Sei que um álbum novo está sendo cuidadosamente preparado e em breve poderemos apreciá-lo. Você gostaria de nos contar um sobre o que podemos esperar dele?
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Blubell: Eu posso te contar que eu sou a única autora de todas as onze faixas e isso faz com que o disco seja um retrato bastante fiel assim do que foi minha vida nesse últimos dois anos, que foi o período em que eu compus essas músicas. Então, tem muito humor, muito mais do que Eu sou do tempo que a gente se telefonava que teve um pitadinha. Esse já “tá” mais escancarado assim, mas a sonoridade, apesar da banda ter trocado inteira, continua com jazz mas um pouco mais pop. Esses meninos que estão comigo agora eles conseguem circular mais entre o pop e o jazz.

Grand Café (Obvious):
 Gostaria de encerrar com a seguinte pergunta: e os projetos futuros? O que você poderia nos revelar sobre eles?
Blubell: Olha, lançar esse disco. Eu quero tentar lança-lo no segundo semestre ainda e fazer bastante shows, viajar, ir para cidades onde eu ainda não fui, algumas capitais, Salvador, por exemplo, Brasília, são cidades que toda hora tem alguém me pedindo pra ir. Mas eu ainda não tive essa oportunidade. E eu quero continuar com as coisas paralelas, como “tá” sendo o trabalho com o Black Tie, continuar com esse trabalho de intérprete. Eu tenho a impressão de que meu próximo disco, depois desse que vamos lançar agora, vai ser um disco mais como intérprete, fazendo versões e tal. Acho que eu quero alternar entre o trabalho de autora e de intérprete. E eu estou estudando, fazendo aulas de Charleston, para poder dançar cada vez melhor e... é isso. Tem bastante coisa ainda para fazer.
I charleston SP:
What if...:
Chalala:
Blubell e Filipe Catto (Johnny, Jackie and Jameson):


Artigo da autoria de Larissa Mota Calixto.
Escritora que adora jazz, folk, dias chuvosos, conversas interessantes e cinema..
Saiba como fazer parte da obvious.