Os dias idos, e não mais vindos, fazem com que as pessoas que já ultrapassaram o cabo da boa esperança, pensem no pretérito e façam uma revisão de sua vida. Daí que os mais velhos são mais chegados à nostalgia, às lembranças. Embora com 62 anos e meio, declaro que ainda dou no couro, e, ainda que crepuscular, aprecio as boas coisas da vida. Mas cada um tem suas preferências, suas ''boas coisas da vida''. Para muitos, o Carnaval é um instante de felicidade. Para mim é um instante de aborrecimento. A Salvador de hoje é um ''Líbano em guerra''. Morre-se por qualquer cinquenta centavos, uma cerveja quente, uma briga de namorados. A mídia, aliada aos grupos poderosos, tenta passar uma imagem de felicidade durante o Carnaval. Falsa. A festa momesca é violenta por excelência, e se encontra cada vez mais elitizada. Os camarotes situados em Ondina são verdadeiros palácios, com banheiros, hidromassagem, quartos para descansar. O povo se espreme, com uma latinha na mão, empurrado, massacrado, mas, por incrível que pareça, feliz. Procuro esconder meu riso escarninho de tudo isso.