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segunda-feira, 16 de abril de 2012

"With A Song In My Heart"


por que seu coração sabe meu idioma...

Bob Dylan, de gorro, nas ruas de Copa

Bob Dylan sozinho, na Av. Nossa Senhora de Copacabana, de casaco preto em um calor de 34ºC.

Procurar por Bob Dylan na tarde do Rio equivale a procurar pelo Eldorado no meio da Amazônia peruana. Como achar essa espécie de Greta Garbo do rock entre ciclistas e corredores marombados, mulatas sargentellianas, turistas franceses e alemães com rostos tão vermelhos que parecem o braseiro da churrascaria Porcão? Dylan nunca quis ser encontrado, por que iria facilitar agora? Ainda assim, por contingência profissional, não restava outra coisa a fazer a não ser buscar por ele quixotescamente pela estupenda tarde de domingo. A estratégia era a mais óbvia: um giro pelos hotéis mais estrelados do Rio.

No Fasano, às 13h, não restava outra coisa a não ser entrar e fingir naturalidade no restaurante, e pedir pelo que o dinheiro alcançava ali: um carpaccio de vieiras e uma taça de cabernet sauvignon chileno. Uma dica: rejeitar o couvert nunca é um bom salvo-conduto para camuflar o boné, o jeans puído e o tênis novinho. Todos vão estranhar.

Mas isso tudo só serviu para enrolar pouco mais de uma hora e meia, e não havia sinais da comitiva dylanesca por ali, apenas um cheiro caro de requinte e exclusividade.

Do Fasano de Ipanema para o Copacabana Palace foi um pulo. Mas a piscina e o buffet lotados de sósias de Jorginho Guinle não pareciam um bom refúgio para o bardo esquivo de Minnesota. Mais uns minutos enrolando ao pé da estátua de Ibrahim Sued, com sua famosa frase: "Ademã, que eu vou eu frente!", e a inutilidade da empreitada começou a ficar mais penosa.

Ok, Ibrahim, você venceu! O estômago ronca, hora de dar um chapéu nas obrigações e ir até a cantina italiana que é um clássico desde 1976, tentando esquecer a frustração de mais uma pequena caçada inútil aos mitos do rock - bailes famosos de Mick Jagger e Bono estão na conta dessa peregrinação. Ao sairmos, chegou uma mensagem no celular de um amigo aniversariante: "Bom Dylan pra vocês!"

Cara de touca. Pouco antes das 16h, saída pela esquerda, já abastecido de uma refeição que custava metade do couvert do Fasano, tomando o rumo da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, para o táxi final antes do show. Ao menos no show ele dará as caras, e a torcida é para que essa noite promova novamente um encontro com a sua música mutante que inaugurou uma nova perspectiva para a arte contemporânea. "Aquele cara de touca e casaco ali parece o Dylan", ela diz, desencanadamente. Só o que me faltava, um sósia a essa hora, eu pensei. Mas aí o sujeito se virou para a avenida e o sangue gelou nas veias.

"A máquina! A máquina! A máquina! É ele! É ele MESMO!" Os segundos pareciam horas, a avenida parecia mais larga, e Dylan olhava para um lado e para o outro sem se decidir, parado na frente da banca de jornais da Rua Inhangá. "No direction home", como sempre. Se for para o outro lado, vai pegar mal correr atrás dele, pensei. Mas aí ele veio para o nosso lado, tranquilamente, como se fosse parte da paisagem, sem causar nenhuma curiosidade dos velhinhos e dos cães de estimação de Copacabana. Caminhando resoluto, com as mãos nos bolsos. Fez uma careta quando viu a máquina fotográfica, mas não parou, continuou andando na direção da lente, e passou por nós aceleradamente.




"Hey, Dylan!" Ele já ia sumindo na rua quando se voltou e respondeu com um grunhido: "You are a f... paparazzi!" Não, não, não, eu jurava, querendo acreditar em minhas próprias palavras. "Para quê a foto?", ele perguntou. "Para o Facebook, para a gente mesmo", menti. Eu me peguei mentindo para Bob Dylan, minha alma estava ficando atormentada, ele era o primeiro ídolo e será o último. "Por quê?", ele ainda perguntou. "Porque você é um dos importantes artistas do século 20", respondi.

E ele sorriu. Só aí ele relaxou. Pediu para a garota se aproximar, para que eu tirasse uma foto dele com ela. As mãos tremiam, o foco desapareceu, a rua desapareceu. Sorriu quando ela perguntou se estava se divertindo no Rio. "Eu adoro!" Não sabia mais como mantê-lo ali. "Você está com fome?", perguntei. Dylan acariciou a barriga com as mãos, fazendo o clássico gesto de bucho cheio. "Não mesmo." Eu apontei: "É que ali na rua de trás tem uma cantina italiana daquelas clássicas, sabe aquelas que parecem frequentadas pela máfia? Muito boa mesmo." Ele se interessou: "Para lá?" Sim, eu disse. "Ok", ele disse, sorrindo de novo, e mudou a direção para a rua de trás. Resolvemos deixá-lo em paz (mas aposto que ele viu a gente pulando e se abraçando no meio da rua como doidos).

Trinta e quatro graus na sombra, e Dylan de casaco, gorro de lã e bota de caubói. Achamos que ele se disfarçaria melhor se saísse de sunga branca e fones de iPod nos ouvidos. No táxi, as mãos ainda suavam, o coração destrambelhado, e eu olhava para o Rio e sorria como uma criança. Não acreditava nos próprios sentidos. Publicar isso tudo seria trair a confiança do velho Dylan? Acho que só se fosse por lucro, e não é o caso.

Ao deixar a gente no hotel, o taxista, que ficou só ouvindo a euforia, perguntou: "Quem vocês focaram?" Ao ouvir a resposta, ele demonstrou conhecimento do assunto. "Ah, o senhor Zimmerman! O narigudo! Aposto que o reconheceram pelo nariz, não?"

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bob-dylan-de-gorro-nas-ruas-de-copa,861558,0.htm

'Jorge Amado e Universal'

Museu da Língua Portuguesa presta homenagem a Jorge Amado

'Jorge Amado e Universal' fica em cartaz até o dia 22 de julho em SP, depois segue para Salvador


15 de abril de 2012 |
Imagem da exposição 'Jorge Amado e Universal' - Divulgação
Imagem da exposição 'Jorge Amado e Universal'
Dos autores brasileiros, Jorge Amado talvez seja o mais local, universal e internacional. Escrevia a partir da Bahia, sobre coisas da sua terra e sua gente, e seus livros encantavam leitores do mundo todo. Pelas contas da Fundação Casa de Jorge Amado, a obra do escritor baiano foi traduzida para 49 idiomas e premiada em lugares tão diversos quanto a ex-União Soviética, a Itália e a França, sem contar o Brasil.

Gabriela Cravo e Canela, Tocaia Grande, Capitães da Areia, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Os Subterrâneos da Liberdade, Bahia de Todos os Santos, Mar Morto e Navegação de Cabotagem são apenas alguns dos livros que escreveu em seus 89 anos de vida. Vida essa que será apresentada a partir desta segunda-feira, 16, para convidados, e terça-feira para o público, na exposição Jorge Amado e Universal. Ela fica em cartaz até o dia 22 de julho no Museu da Língua Portuguesa, de onde segue para Salvador. Chega em 9 de agosto, um dia antes da festa do centenário de nascimento do escritor.

A ideia da organização é que a mostra não fique restrita a essas cidades, embora os R$ 3,2 milhões captados pela Lei Rouanet devam ser usados exclusivamente nessas duas iniciativas. Já está quase certa uma temporada no Recife. Rio de Janeiro, Brasília, Lisboa e Porto também demonstraram interesse, conta William Naked, diretor-geral da exposição, que sonha até com uma ida à Feira do Livro de Frankfurt em 2013, quando o Brasil será o país homenageado e exposições como essa serão bem-vindas.

Difícil será transportar a Bahia criada nos 420 m² do espaço do museu para esses outros lugares. São 8 mil fitas do Nosso Senhor do Bonfim, 1.800 garrafas de 2 litros de azeite de dendê, 4 sacas de cacau, mais de 600 imagens, 80 documentos originais, 110 livros, 243 placas de cronologia. Tudo para dar a dimensão de quem foi e o que produziu Jorge.

“Jorge Amado foi quem mais escreveu, mais foi traduzido, mais foi premiado. Se ele é superlativo, então a mostra também é”, explica a curadora Ana Helena Curti. Que o visitante não espere um formato quadrado e cronológico ou cenas de novelas e filmes, que tanto ajudaram a popularizar sua obra.

Para a curadora, não faria sentido apresentar o que o público já conhece e a ideia não é ser tão didático. “A maioria das pessoas já assistiu a alguma adaptação audiovisual da obra de Jorge Amado, no cinema ou na televisão, até porque provavelmente ele é o escritor brasileiro que mais foi adaptado para telenovelas, filmes e peças de teatro. O visitante trará tais impressões consigo, mas esperamos que ele possa somar novas informações e imagens a essas que já possui.”

Vídeos produzidos pela O2 Filmes, com depoimentos do próprio escritor, de estudiosos de sua obra, amigos e familiares ajudam a compor o universo do autor. Mas o visitante vai poder ver ainda manuscritos, fotos de viagens e de seu dia a dia, cartas recebidas de amigos ilustres, exemplares estrangeiros, livros de sua biblioteca particular e até sua coleção de camisas havaianas.

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,museu-da-lingua-portuguesa-presta-homenagem-a-jorge-amado,861507,0.htm

O mundo de Jorge Amado

Mostra em São Paulo leva o visitante ao mundo de Jorge Amado

Entre as atrações, nove instalações multimídias transmitem entrevistas e áudios do autor

16 de abril de 2012 |
 
Maria Fernanda Rodrigues - O Estado de S.Paulo


Exposição em homenagem a Jorge Amado no Museu da Língua Portuguesa - Nilton Fukuda/AE
Nilton Fukuda/AE
Exposição em homenagem a Jorge Amado no Museu da Língua Portuguesa
Um mural de 9 m de comprimento por 4 m de altura, com azulejos brancos pintados com frases de Jorge Amado e imagens de objetos encontrados na Casa do Rio Vermelho, recebe o visitante na mostra Jorge Amado e Universal.

A segunda sala é dedicada aos clássicos personagens. Como não daria para nomear todos os mais de mil criados por ele, a exposição apresenta os que têm um DNA que foi emprestado aos outros. Todos os demais são representados por uma instalação com 8 mil fitas vindas da Bahia, como as do Nosso Senhor do Bonfim. Em cada uma delas consta o personagem e o livro em que ele habita. Nove instalações multimídias transmitem entrevistas e áudios.

Saindo do ambiente em que reencontrou Gabriela, Nacib, Tieta, Dona Flor, Vadinho e companheiros, o visitante conhece o lado político de Jorge Amado. Compõem a cenografia mais sóbria dessa sala uma instalação que representa as rotativas da imprensa alternativa em movimento, trechos de obras escritas nesse período de maior engajamento, documentos e imagens – como a foto dele recebendo o Prêmio Stalin da Paz, em 1951, em Moscou, além de cartazes da campanha para deputado pelo PCdoB e a ata de sua eleição.

O ambiente volta a ser colorido na sala dedicada ao sincretismo e à miscigenação. Caixotes fazem lembrar os mercados e feiras da Bahia e são suporte para imagens de santos e orixás. De um lado da parede, placas com os nomes das cores de pele citadas pelos brasileiros em pesquisa. Do outro, as inventadas por Jorge, como a cor de canela de Gabriela.

Das cores do povo à frieza do espaço seguinte. A aposta é na curiosidade do visitante. Há apenas visores e dentro, trechos que mostram o jeitinho brasileiro, a sensualidade, a safadeza.

Até aí as salas eram pequenas e a introdução ao universo de Jorge, em pílulas. No maior dos ambientes da exposição, chamada extraoficialmente de Praça Jorges, há até um mar de dendê. Foram necessárias 1.800 garrafas pet de 2 litros do azeite, em diferentes estados de decantação, para representar, numa grande parede, o mar da Bahia. Na altura dos olhos, frases sobre o mar.

Perto dessa instalação estão outras menores, que comportam 4 sacas de cacau torrado, responsáveis por levar o cheiro do fruto à Estação da Luz. Sobre um banco à frente do mar alaranjado, foram colocados livros lidos por Jorge ao longo de sua vida.

Como nas igrejas, foi montada uma Sala dos Milagres, com 352 fotos e outros objetos. Será possível ver retratos dele com os amigos Fidel Castro, Roman Polansky, Carybé e Pierre Verger; ler cartas enviadas por Carlos Drummond de Andrade e Mario de Andrade ou a enviada a José Saramago; e conferir os carimbos de seus passaportes. Algumas das correspondências ora expostas são do acervo da família do escritor e não estavam à mostra nem na Fundação Casa de Jorge Amado. Mais curiosa, no entanto, é a instalação com as camisas coloridas, sua marca registrada.

Dois vídeos mostram o lado escritor e o lado pessoal do baiano e trazem depoimentos dele e de pessoas próximas. Uma exposição de fotos da Bahia feitas por artistas de lá ajuda a mostrar como está a terra natal do escritor hoje. Textos de Jorge são intercalados com as fotos tiradas por Adenor Gondim, Patrícia Carmo, Roberto Faria, Mario Cravo, entre outros.

É de Gondim, também, a imagem da instalação que encaminha o visitante ao final da mostra. Uma foto de multidão foi filetada e colada em canos de PVC estreitos, permitindo caminhar entre essa multidão. Saindo dali, ele encontra uma vitrine com os originais de seus livros e uma cronologia de vida e obra.

“Todo mundo conhece Jorge a seu tempo e ao seu jeito. O visitante vai chegar de braço dado com o seu Jorge e, se cumprirmos nossa missão, vai sair com muitos outros”, diz a curadora Ana Helena Curti.


http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,mostra-em-sao-paulo-leva-o-visitante-ao-mundo-de-jorge-amado-,861788,0.htm

Galeria Lafayette é aconselhada a “falar português”

Lafayette: bon jour, não, bom dia! 

Uma alta executiva da Galeria Lafayette deixou o Brasil na semana passada e levou daqui um conselho de quase todos os interlocutores, consultores de marca e especialistas em varejo: para aumentar ainda mais o gasto das brasileiras por lá, a rede francesa precisa falar português.
Ou seja, contratar vendedoras que dominem o nosso idioma.
Ela acredita que vale a pena melhorar o tratamento. Afinal de contas, só na loja do Boulevard Haussmann, a principal da varejista, as brasileiras deixaram em 2011 cerca de 20 milhões de euros, o que as deixou como uma das três melhores clientes do mundo.
Mesmo assim, a rede descarta abrir filial no Brasil por enquanto. Este ano a Lafayette abriu no Marrocos e, no ano que vem, parte para Dubai.

http://colunistas.ig.com.br/poder-economico/2012/04/16/galeria-lafayette-e-aconselhada-a-falar-portugues/

Sidney Miller dá o recado....











Navegante - Zé Renato e Trinadus - Sidney Miller



O Navegante (Sidney Miller)

Quero um montão de tábuas

E um motor de pano

Pra passear meu corpo

E adormecer meu som

Na esburacada estrada do oceano
Aportarei meu barco apenas de ano em ano

E onde houver silêncio

Eu ficarei cantando

Pra não deixar morrer o gesto humano
Entenderei as águas e os peixes passando

E se me perguntarem pra onde vou e quando

Responderei

Apenas navegando

Apenas navegando
Embarcarei comigo o feminino encanto

Pra que não falte à vida quando for preciso

Uma razão mais forte que o espanto
Mais forte que o espanto
Semearei meu sangue, 

Meu amor, meu rosto

Pra que depois de mim eu possa estar presente

Entre as canções que eu não houver composto
Naufragarei um dia

Em pleno mar sem dono

E submerso em lendas como um visitante

Entre os recifes dormirei meu sono

Sidney Miller por Joyce

Eis aí o flyer do show em que irei cantar as canções do primeiro LP do querido Sidney Miller, lançado pela Elenco em 1967. É uma iniciativa do Instituto Moreira Salles, que de tempos em tempos apresenta algum disco clássico, geralmente com a presença do artista que gravou, cantando e sendo entrevistado para falar do trabalho em questão.


No caso do Sidney, isso é impossível (e por isso mesmo estarei lá para representá-lo, espero que bem), já que ele morreu em 1980, aos 35 anos, em circunstâncias misteriosas, deixando uma obra pequena e apenas 3 discos gravados. Isso significa que ele tinha somente 22 anos quando compôs e gravou grandes canções como 'O Circo', 'Pede Passagem', 'A Estrada e o Violeiro', 'Menina da Agulha', 'Maria Joana' e outras tantas que estão neste seu primeiríssimo lançamento.

Pessoalmente, eu gostaria de mostrar também outras coisas posteriores de sua obra, como as músicas que fazem parte do segundo LP, 'Brasil, Do Guarani ao Guaraná' - outras grandes canções, como a linda e depressiva 'Pois É, Pra Quê', a divertida e crítica 'Maravilhoso' (nesta, ele anuncia premonitoriamente a futura sociedade guiada pela TV em que hoje vivemos), a linda modinha 'Seresta' (na emocionada interpretação de Jards Macalé, que na época também compunha modinhas belas e tristíssimas)... Ou ainda sucessos gravados por outros artistas, como 'Alô Fevereiro', 'É Isso Aí' ('Isso é Problema Dela') e 'Nós, Os Foliões' (esta gravada divinamente por Paulinho da Viola'). Mas não é esse o mote do show que vamos fazer, e sim manter o foco no repertório integral de um único disco.

(Importante mencionar aqui que convidei o jovem e talentoso Alfredo del Penho para ser meu par neste show, já que este primeiro disco de Sidney tinha como um dos pontos altos seus duetos com Nara)

Sidney nunca foi um artista de sucesso, pelo contrário: era um tímido incurável. Era avesso às luzes do palco, diferentemente de outros colegas de geração - Caetano, Paulinho da Viola, Macalé, todos amigos seus. A timidez era tanta que, num show que fizemos juntos em 1968 (que também tinha no elenco Gutemberg Guarabyra e o Momentoquatro), ele conseguiu convencer o diretor, Paulo Afonso Grisolli, a deixá-lo cantar o show inteiro dentro da cabine de luz, fora das vistas da plateia, no último dia da temporada.

Suas músicas tinham um sabor meio antigo, numa hora em que todo o mundo queria reinventar a música popular brasileira. Talvez por isso ele tenha passado despercebido em vida, apesar de no começo da carreira ter sido muito comparado a Chico Buarque, ambos lançados pela mesma Nara Leão. Chico iria logo dar uma reviravolta a partir de 'Roda-Viva' (a canção e a peça), enquanto Sidney aparentemente ficava para trás e se deixava vencer pela doença do alcoolismo, que não dá trégua a ninguém e requer muita fé, força e ajuda externa para que se saia dela. E foi assim, numa fase difícil da vida, que ele acabou partindo antes da hora.

Porém, ai, porém... há um culto secreto a Sidney Miller pelo ar. Há toda uma geração de jovens cantores e compositores que se interessa pela obra dele, que tem sido regravada por novos artistas como Roberta Sá, o grupo Casuarina e, bem próximo a mim, minha filha Ana Martins. E a partir do momento em que se anunciou meu show no IMS cantando sua obra, o comentário foi geral, com imprensa e redes sociais noticiando, gente pedindo convites, telefonemas, emails, uma repercussão inesperada, que apenas atesta que existia um desejo contido de que a obra deste 'jovem mestre' (no dizer de Ruy Castro) fosse revista nos dias de hoje.

Pois então, vida longa à obra deste amigo querido! e que eu possa estar à altura da tarefa que me foi proposta.
("Ouça bem o que eu lhe digo/ vá cantar um samba antigo/ pra entender o que há de novo" - trecho de 'Argumento', de Sidney Miller)

escrito por joyce

amor & sexo, comienzos & finales

Así en el amor como en el sexo: posibles comienzos, indecibles finales (I)

Por: | 16 de abril de 2012
"Una vibración lujuriosa mueve continuamente a Cloe, la más casta de las ciudades. Si hombres y mujeres empezaran a vivir sus efímeros sueños, cada fantasma se convertiría en una persona con quien comenzar una historia de persecuciones, simulaciones, malentendidos, choques, opresiones, y el carrusel de las fantasías se detendría". Fragmento de Las ciudades invisibles, de Italo Calvino.
Los habitantes de Cloe –una de las ciudades que Marco Polo describe al emperador Kublai Kan a la vuelta de sus viajes, en la novela de Calvino– parecen abstenerse del goce carnal y, sin embargo, transitan una ciudad en la que late un deseo que puede auscultarse con solo acercar el oído o apoyando, apenas, las yemas de los dedos. Contradicción e inquietud.
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Contradicción e inquietud desde el primer piropo, la mirada pícara o la grave, la que te atraviesa… ojos que bajan sin disimulo, para escrutar tu cuerpo, tus curvas, confirmar la pulsión erótica.
Hablamos de esa turbación que se acrecienta en cada estación del juego de seducción entre dos personas que ya han vivido un buen tiempo, muchos arranques y unos cuantos inefables y seguros desenlaces.
¿Qué adulto actual se ha librado de los finales, los que se pueden prever y los que dejan ese poso de decepción que no es más que el desvanecimiento de las propias expectativas y la desaparición del personaje que cada uno se ha creado para seguir enamorado del amor y para volver al sexo una y otra vez?
En la sintaxis del amor, las mismas ilusiones que abren los dos puntos chocan, en algún momento, contra el punto y coma de la imposibilidad, o el punto y seguido de las divergencias de ambas trayectorias o el del temor a las relaciones, como titulaba Ángel Gabilondo, días atrás, un post de su blog El salto del ángel.
Alguna vez llega el punto y aparte, después de varias exclamaciones, preguntas, paréntesis, y comas, o guiones. Conocemos los signos de puntuación, pero confiamos en seguir deleitándonos con el discurrir libre de nuestras emociones, con la continuidad de esos relatos del fluir de la conciencia, que no necesitan mayúsculas ni puntos suspensivos (ni llantos ni dolores).
Todos somos perdedores desde el principio, pase lo que pase, se concreten o no la primera cita, la segunda, la plácida convivencia o el afán de novedad, las rivalidades y la entrega, el cariño, el buen sexo y el caviloso, el que tiene bríos y el desganado, el júbilo y el aburrimiento. Y no por ello dejaremos de intentar ganar cada instante para la memoria de la generosidad y nuestros goces.

Una escena decisiva de Drive, con Ryan Gosling y Carey Mulligan.
En Drive, esa película penetrante, tanto a nivel visual como sonoro, Ryan Gosling interpreta a un héroe perdedor (valga el oxímoron) que, sin proponérselo, sin voluntad de grandes epopeyas vitales, comienza una inmensa historia de amor. Así, sin querer, se embarca en problemas cada vez más irresolubles, con toda la pureza y el altruismo del que parece que somos capaces en ese estado de “embobados”.
No hay que perderse esta peli ambientada en la más intransigente L.A. ni perderle la pista a este director sensible, que hace sangre como Tarantino pero nos ahorra el manierismo, y que se llama Nicolas Winding Refn (nacido en Dinamarca y criado en los EE UU).
El cine nos ha acercado a algunos de estos antihéroes que, con cautela y conocimiento de causa, previenen a sus objetos de deseo: ellos mismos saben hasta dónde son capaces de llegar, conocen a sus propios monstruos y también descreen del idilio puesto en la adoración del otro, ese otro que será perfecto mientras lo conozcamos poco.

Tráiler de Redención (Tyrannosaur) de Paddy Considine, con el gran Peter Mullan.
Son seres desamparados que se evitan todo lo que pueden, se disputan el territorio, pero terminan cobijándose juntos, casi a la intemperie, pero juntos. Uno de estos ejemplares es el interpretado por el convincente actor escocés Peter Mullan en otra película imperdible: la británica Redención (Tyrannosaur), de Paddy Considine.
“Solo quería mirarte, ver tu sonrisa. Sabía que si te conocía más iba a descubrir las cosas en las que no eres perfecta”, le dice el iracundo Joseph (Mullan) a la aparentemente ingenua Hannah (Olivia Colman).
Así en el amor como en el sexo, no hay manera de congelar la perfecta postal del enamoramiento bobo, solo se puede disfrutar y rogar para que el afecto cubra las imperfecciones (y la intolerancia) que vayan entrando en cuadro, y/o refrescar la pantalla y volver a enamorarse.
Para poner la advertencia en verso, aquí está el chileno Nicanor Parra, el último Premio Cervantes, con su poema Atención:
A los jóvenes aficionados
A cortejar muchachas buenas-mozas
En los jardines de los monasterios
Hago saber con toda franqueza
Que en el amor
Por casto
Por inocente que parezca al comienzo
Suelen presentarse sus complicaciones.

Totalmente de acuerdo
Que el amor es más dulce que la miel.


Pero se les advierte
Que en el jardín hay luces y sombras
Además de sonrisas
En el jardín hay disgustos y lágrimas
En el jardín hay no solo verdad
Sino también su poco de mentira.

http://blogs.elpais.com/eros/2012/04/posibles-comienzos-indecibles-finales-i.html