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terça-feira, 28 de agosto de 2012

O maior desejo

Sábado, 25 de agosto de 2012

 

Desde o dia em que resolvi ter minha própria casa, foram muitos os desejos. O primeiro de todos adquirir a bendita residência. Um apartamento, na verdade. Que fosse amplo, ventilado, nascente e com duas garagens. Foram esses os pré-requisitos solicitados a duas imobiliárias. Após visitar trocentos imóveis novos e usados, eu e ele chegamos a conclusão que a melhor opção do momento era o aluguel. Os novos eram muito caros, muito pequenos e repletos de itens que os encareciam e não nos interessava, como varanda gourmet (entenda: uma pia na varanda) e deck molhado (entenda novamente: uma espreguiçadeira dentro da piscina). Os antigos agradavam em espaço ao passo que intimidavam no quesito reforma. Ele, engenheiro, em uma rápida vistoria percebia que seria necessário trocar toda rede hidráulica (inclusive a do vizinho) ou então detectava falta de isolamento acústico, ou não tinha garagem, ou era de escada, sem falar que, na maioria dos casos, o valor do condomínio era bem próximo a um aluguel. Passada a frustação e com a casinha alugada, voltamos a sonhar. Com a geladeira vintage, o sofá top of conforto, os livros na estante, os quadros na parede, a cama king, o iMac, a porcelana Smith, meus cristais... Passaram-se sete meses, parte dos desejos foi realizado, parte foi improvisada e a outra parte está vindo a prestação. Aos poucos a casinha pode ser chamada de lar. Só não contávamos que para se tornar um doce lar seria necessária a presença de um terceiro elemento: a cozinheira, acessório de utilidade doméstica ameaçado de extinção. No quesito faxina, mesmo com a canseira cotidiana, somos imbatíveis. Ele passa pano como ninguém e arruma gavetas e armários com simetria prussiana. Eu sou ótima para tirar pó, decorar e lavar banheiro. Cozinho relativamente bem. Ele também. Problema é que trabalhando mais de dez horas por dia (contando com hora extra e engarrafamento) não sobra tempo para viver direito quem dirá para cozinhar. Pior coisa é chegar em casa e não ter o que comer - além do marido, digo. Sem falar que cozinha é bom apenas quando dá vontade. Cozinhar para os amigos, pro amor ou para agradar a si mesmo. Fora isso, preparar o café, almoço e jantar, lavar louça e panelas todo dia é martírio. Por aqui, já passaram sete candidatas. Jamile quebrou a vassoura (nova, cabo de madeira) logo no primeiro dia. Rosa - que é excelente na casa da minha amiga - na minha ela marca e não aparece. Tati achei meio porca. Mari, a mais caprichosa, se mudou pro interior. Sandrinha comia produto de limpeza. As duas últimas eram tão boas que nem lembro o nome direito. E o pior: nenhuma queria cozinhar; apenas faxina. Já pedi indicação aos amigos, vizinhos, colegas de trabalho, Sutrab etc etc. Estamos praticamente desiludidos. Mas, como a esperança é a última que morre, continuamos pedindo a Deus, todos os dias antes de dormir, que coloque uma cozinheira de mão cheia em nossas vidas. Porque parece que a casa própria, a lua de mel na Europa, o carro novo, tudo isso um dia será possível de conquistar. Não precisa cardápio sofisticado. Basta que faça um arroz, feijão e frango assado. Pouco sal, porém bem temperado.
 
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Obsessão









 
"Sou um menino
que vê o amor
pelo buraco da fechadura.
Nunca fui outra coisa.
Nasci menino,
hei de morrer menino.
E o buraco da fechadura é,
realmente,
a minha ótica de ficcionista."
 
Nelson Rodrigues

Exactly Like You (Live In Rio) - Diana Krall