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sábado, 28 de abril de 2012

Vevé Calasans sobe ao céu


Armandinho Macêdo - É D'Oxum (Geronimo Santana-Vevé Calasans) Salvador-Bahia




Brigitte Bardot: O mito de uma mulher

 

em Cinema por em 01 de fev de 2012
 
 
 
Uma bela mulher que mudou toda uma geração a sua volta. Ela se tornou a francesa mais famosa do século XX. Beleza, comportamento, atitude, cinema, música, ambientalismo, modernidade. Tudo isso é Brigitte Bardot e muito mais. Como uma senhora de quase 78 anos ainda causa tanto furor e polêmica? Conheça agora a mulher Brigitte por detrás do mito de Bardot.

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Não é nada fácil falar de Brigitte Bardot ou B.B. as iniciais imortalizadas na canção de Serge Gainsbourg. Ela uma é daquelas mulheres que só se desperta aos nossos olhos de muito em muito tempo; é como um cometa que só visita a terra de centenas em centenas de anos. Isso faz dela uma mulher especial mas, isso não basta. Ao longo dos anos, poucas pessoas entenderam B.B., mas muitas sabem o tamanho do fascínio e da magia que esta mulher exerceu sobre o mundo durante décadas, porque sentiram isso. Brigitte Bardot tem uma espécie de terceira dimensão que magnetiza as pessoas com muito deslumbramento na mais mínima ação.
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Uma beleza estonteante, longos cabelos loiros que a assemelhavam à própria Vênus, boca carnuda, olhos penetrantes e um corpo esteticamente perfeito. Ela já seria linda se fosse apenas isso, mas B.B. nunca foi uma mulher oca. Tudo isso era muito preenchido de graça, de paixão, de encanto, de frescor. Um espírito cativante de mulher inquieta, transgressora, jovem, ardendo por viver. Brigitte Bardot nunca fez concessões a nada. Nem à família, aos filhos, ao casamento, aos maridos (quatro até hoje, fora os famosos romances), aos costumes e a sociedade francesa do seu tempo.
Para o cinema ela deu o melhor de si, nem que a maledicente imprensa da época falasse o contrário. Basta ver sua atuação maravilhosa em E Deus Criou a Mulher (1956), Amar é Minha Profissão (1958), A Verdade (1960) e O Desprezo (1963). Filmes que reúnem as melhores interpretações de Brigitte Bardot. B.B. galgou os degraus do sucesso até na música, gravando vários discos e inúmeros programas de televisão, ao lado de Sacha Distel, Yves Montand, Gilbert Bécaud e Serge Gainsbourg. Tornando-se uma precursora das atuais cantoras Pop. Aos homens, como ela mesma disse, deu toda sua beleza e juventude. A mulher, lançou um modelo de comportamento – nem correto, nem errado – apenas moderno.
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O mundo amou Brigitte Bardot. Nunca uma mulher foi tão odiada, invejada, incensada, insultada, e amada. Seus filmes arrastavam multidões aos cinemas, seus namoros se tornavam escândalos, suas viagens a América Latina e aos Estados Unidos causavam um furor inimaginável, sua simples presença poderia mudar a história de toda uma cidade (como fez em Búzios, no Brasil, em 1964). Serge Gainsbourg compôs para ela uma das mais belas - e polêmicas - canções de amor de todos os tempos: “Je T’aime...Moi Non Plus”. Sua popularidade atingia níveis incomparáveis a qualquer outra estrela do cinema. Dizia-se que perto dela Marilyn Monroe era um homem. Nos Estados Unidos chegou-se a criar o termo Bardolatria, para definir o frenesi que a atriz francesa causava entre os jovens, No auge da popularidade, em 1970 o escultor Alain Aslan escolheu B.B. como inspiração para a Marianne – a mulher que é o símbolo e a personificação da própria República Francesa.
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Tudo teve um alto preço, sua vida privada foi destruída, ela perdeu sua paz e isso lhe traria grandes traumas por toda a vida. B.B. era extremamente perseguida pelos paparazzi, sempre a caça de um ângulo da atriz. Ela chegou a sofrer traições se pessoas próximas a ela que vendiam diários e a sua localização para revistas de fofocas e fotógrafos. B.B. chegou a tentar o suicídio mais de uma vez, em momentos de profundo desespero e sofrimento. Após dezenas de filmes, em 1974 a beira dos 40 anos, o mundo assistiu incrédulo ao anúncio do seu aposento do cinema. Abandonar o cinema no auge foi a melhor escolha, do ponto de vista profissional e pessoal. Foi sua grande salvação como ela mesma disse “Num mundo que me era hostil”.
Sua luta, há mais de 30 anos em defesa dos pobres animais é admirável, uma luta incessante, que não teve fim até hoje. Brigitte Bardot esta cansada, amargurada, triste, solitária. A sociedade ainda a julga sem absolvição. Ela teme morrer sem conseguir ver terminada uma batalha de décadas: o fim do massacre dos bebês foca.
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Envolvida em vários processos de racismo e preconceito na última década por declarações polêmicas que lhe renderam uma grande antipatia da parcela jovem da sociedade francesa, Brigitte acaba inserida numa questão tão atual quanto polêmica: a xenofobia e a imigração islâmica na França atual. Ela ainda permanece tão contraditória quanto no auge do sucesso. Mas, sempre autêntica, verdadeira, sincera e corajosa.
Posso crer que a maioria das pessoas nunca vai entender Brigitte Bardot, lamento, mas até posso compreender, porque realmente são poucos os que conseguem entender mulheres tão grandes como Brigitte Bardot é. Há uma certeza: B.B. é um mito na Terra e isso é incontestável.

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http://lounge.obviousmag.org/vitor_dirami/2012/02/brigitte-bardot-o-mito-de-uma-mulher.html

Escrúpulos - MÔNICA WALDVOGEL

Image Detail

Num sábado de manhã, quando eu tinha uns catorze anos, meus pais me chamaram para acompanhá-los ao centro. À cidade, como se falava naquela época. Um convite que não fazia o menor sentido. A troco de quê tomar ônibus e metrô com meus pais para visitar meia dúzia de lojas sem o menor interesse? Nem pensar! Mas eles me obrigaram a ir.

Eu fui uma adolescente bem chatinha. Sendo a mais velha de cinco filhos, cabia a mim enfrentar a linha-dura lá de casa. Como não havia muito espaço para grandes transgressões, usava todas as oportunidades para deixar bem claro aos meus pais que eu não era como eles, não pensava como eles nem teria a vida deles. Uma típica rebelde de classe média.

Naqueles dias meu comportamento variava das pequenas hostilidades às grandes contestações verbais cuidadosamente anotadas num diário mal escondido para que, se encontrado, minha mãe pudesse ler e se magoar à vontade. Coisa que aconteceu, claro, e fez rolar muitas lágrimas.

Voltando àquele sábado. Eu estava num desses estados insuportáveis que, entre mil e uma razões, diziam respeito à sanha com que tentava domar meu cabelo farto, grosso e ondulado. Como então só se admitia o liso absoluto, eu acalentava um sonho: o secador de cabelos Arno que todas, todas as minhas amigas tinham.

Era um trambolhão de baixa potência. Fazia um barulho danado e vinha com um capuz de plástico munido de um tubo que se adaptava ao bocal do aparelho.Esquentava como o diabo. Levava umas três horas para o cabelo ficar seco sob a touca — se a orelha suportasse o calor — mas, com uma pilha de fotonovelas ao lado e a promessa do liso maravilhoso, quem se importava?

Meu pai não era um homem sensível para futilidades e feminilidades, tinha lá seus princípios pétreos. Ele equilibrava o orçamento familiar fazendo infindáveis horas extras com que pagava mensalidades de cinco bons colégios, material escolar de primeira, aulas de línguas e de música para as meninas. Vestido novo para festinha de aniversário e mesada para o cabeleireiro estavam fora de qualquer cogitação.

O fato é que até hoje não entendi a insistência de meus pais naquele passeio de sábado. Tenho certeza de que não havia uma surpresa programada porque perdi a conta de quantas vezes interroguei minha mãe. Ela sempre negou. O que sei mesmo é que fiquei num terrível emburramento, de cara feia, para deixar bem claro que nunca mais eles deveriam ter ideias ridículas.

Chegando ao centro, flanamos pra lá e pra cá procurando vitaminas para as crianças, um longplay de ópera, livros para os meninos. Eu estava morrendo de tédio. Perto da Praça da República, meus pais pararam para tomar um café. Enquanto aguardavam no balcão, saí andando pela calçada atraída pela vitrine de uma loja de eletrodomésticos e lá fiquei admirando o estojo cor-de-rosa em que se abrigava meu objeto de desejo.

“Por que você não compra o secador para ela?”, ouvi minha mãe atrás de mim.

“Vamos ver quanto custa”, respondeu meu pai.

Olhei incrédula para a imagem dos dois refletida no vidro. Poucos minutos mais tarde saíamos da loja
com um pacote desajeitado em direção ao ponto de ônibus.

Desemburrei, claro. Mas, em vez de eufórica e agradecida, estava constrangida. Consternada é uma palavra melhor. “Que foi?”, perguntou meu pai, “não ficou contente?” Devo ter encolhido os ombros procurando o que dizer. Decidi ser sincera.

“Por que ganhei esse presente afinal? Eu estava chata, aborrecida, desagradável, não merecia. Fiz de tudo para estragar o passeio e, no final, ganhei o secador que eu tanto queria!”

Meu pai sorriu. “Sabe o que quer dizer a palavra ‘escúpulo’?”. Era uma das manias que ele tinha que eu mais detestava: para toda palavra, uma origem histórica e um significado ancestral. Por que não ir diretamente ao ponto?

“Vem do latim. Quer dizer ‘pedrinha’. Escrúpulos são pedregulhos que a gente leva no sapato, no bolso, no coração e que atrapalham a caminhada e deixam a vida mais pesada. Jogue fora esses escrúpulos, não servem para nada. Se sua mãe achou que você deveria ganhar o secador, alguma razão ela tem.”

Entendi.

Cheguei em casa e joguei o último escrúpulo que eu tinha no lixo. Junto com meu diário.

E-mail para esta coluna:
cadernoela@oglobo.com.br

O Globo/Ela
28/04/2012

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

sábado abr 28, 2012

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2011), de Beto Brant e Renato Ciasca

Serão poucos aqueles que, hoje, irão discordar da afirmação de que Beto Brant é o mais talentoso cineasta brasileiro surgido desde a chamada “retomada”. A começar por sua estreia em longas-metragens, com Os Matadores, realizado em 1997, Brant conseguiu produzir com uma regularidade quase sem par entre nossos realizadores, construindo uma filmografia forte e coerente, de alguma forma passando ao largo das facilidades dos vícios autorais ou das concessões ao grande público.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é seu sétimo filme, o quinto em parceria com o escritor Marçal Aquino e o segundo codirigido por Renato Ciasca (o primeiro sendo o delicado Cão Sem Dono). O trio assina o roteiro, adaptado do romance homônimo de Aquino, sua obra mais famosa.
Certeiramente, a versão cinematográfica vai ao cerne do livro, eliminando personagens secundários e substituindo o pano de fundo do garimpo pelo da exploração madeireira: Cauby (Gustavo Machado) é um fotógrafo que chega a uma cidade ribeirinha, no interior da Amazônia. Lá, envolve-se em uma paixão avassaladora com Lavínia (Camila Pitanga). Neste momento, Brant, habilmente, instaura o espectador na vida de seus dois personagens, relegando a segundo plano suas vidas pregressas. Ela é casada com Ernani (Zécarlos Machado), o pastor da cidade e, claramente, dita o ritmo simultaneamente incerto e imediato de seu caso com Cauby, que passa os dias aguardando-a em sua casa.
É, assim, tão mais vigoroso o longo e inesperado flashback que nos leva ao Rio de Janeiro, onde Lavínia cambaleia drogada e fora de si, pelas calçadas, até ser socorrida por Ernani; ele mesmo um homem recém-recuperado da morte abrupta de sua esposa, tendo encontrado, na religião, a força para prosseguir e mudar o rumo de sua vida. E é através de suas palavras que ele consegue tirar Lavínia da prostituição e, finalmente, encontrar uma parceira com quem possa viajar, oferecendo sua experiência e suas preces às comunidades carentes.
E é quando a narrativa volta à Amazônia que os tons premente e ameaçador da história passam a prevalecer e, só então, o espectador começa a ter dimensão da tragédia iminente (no romance já sabemos, de início, que a conclusão da história não será sem grandes custos aos personagens). E tal estranhamento se dá pelas oscilações da narrativa, sempre com sua força atrelada às inquietações emotivas e espirituais de Lavínia, estilhaçada entre dois homens apaixonados e propensos a tudo por sua companhia – e se o elenco está extraordinário, podemos destacar Camila Pitanga, no que consiste na melhor atuação de sua carreira.
Absorto nos personagens e no ambiente hostil que os cercam, Brant novamente lida com os liames entre as forças vitais cônscias dessas vidas e seus destinos inelutáveis; no entanto, aqui inserindo uma invulgar camada ascética a seus amores e motivações. Não obstante as várias cenas de sexo e, novamente, uma trama centrada no relacionamento entre um artista (Cauby, fotógrafo) e sua musa (Lavínia), a esses se sobrepõem, em uma instância, a moral de um homem cuja compaixão cristã parece trazer pouco além de tumulto e, antes, uma sufocante e extravagante paisagem, onde nela refletem-se os mistérios ameaçadores do porvir de seus habitantes: esse ambiente parece, crescentemente, ser a causa e a razão inescapáveis da fatalidade das vidas desses personagens. Cauby, Lavínia e Ernani encontram-se tão indefesos de suas próprias existências quanto a floresta, que é rápida e ilegalmente devastada.
O que antes era intimidade e introspecção (Cão Sem Dono, O Amor Segundo B. Schianberg), com a natureza fervorosa torna-se objeto de clamor público e desejos imperiosos. E assim, Brant realiza um fascinante (senão, e por isso, errático e dilatado) conto de seres traumatizados em situações extremas (amor, morte; ganância, generosidade) que, ao final delas, se encontrão renascidos e, de uma maneira ou de outra, com seus caminhos já percorridos.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é, arriscadamente, atordoante, belo e vivo, como poucos lançamentos do ano, brasileiros ou não.

Bruno Cursini
http://www.revistainterludio.com.br/?p=3018