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domingo, 2 de setembro de 2012

See You in September-The Tempos-original song-1959


Carlos Heitor Cony e suas memórias...

Aos 86 anos, Carlos Heitor Cony faz uma revisão amarga e irônica da vida

 

Às vésperas de lançar ‘JK e a ditadura’, o autor de ‘Quase memória’ critica o político mineiro, compara a ABL a um ‘jardim de infância ao avesso’ e se diz cansado da ficção

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Com as pernas enfraquecidas pelo câncer, Cony acaba de ir a Nova York
Foto: O Globo / Ana Branco
Com as pernas enfraquecidas pelo câncer, Cony acaba de ir a Nova YorkO Globo / Ana Branco

 
RIO - Os passeios na Lagoa acabaram: um câncer linfático crônico, considerado terminal há 11 anos, e que afetou a força de suas pernas, o obriga a passeios modestos, dentro de casa, com fisioterapeutas. Mas quando vai à rua, na condição de cadeirante, Carlos Heitor Cony, 86 anos, não vê limites: viaja para palestras, vai a Nova York e visita o Marco Zero. E não descarta futuras viagens de navio. Fumante de quatro charutos por dia, lê, escreve suas crônicas para a "Folha de S. Paulo" e participa de debates matinais com Artur Xexéo na CBN. Há um ano, não vai à Academia Brasileira de Letras (ABL) e não pretende voltar à ficção, como tantos fãs esperam. O que não o impede de dissertar, horas seguidas, sobre o relançamento de "Memorial do exílio" (Bloch Editores, 1982), com novo título, "JK e a ditadura", agora pela Editora Objetiva. Nesta entrevista, o ceticismo de sempre dá espaço a sorrisos entre o diabólico e o abençoado que o tornam uma das figuras mais carismáticas da literatura brasileira.
O GLOBO - Por ser uma espécie de autobiografia em terceira pessoa, "JK e a ditadura" é carente de um viés crítico. Ele existe?
Deveria ser o terceiro volume de sua autobiografia, mas ele morreu. Sim, tenho minhas restrições a Juscelino, em que pese o carinho e a admiração por sua obra. Ele se vendeu como democrata irredutível, mas pressionava o Congresso. Por exemplo, quando pediu licença para processar Carlos Lacerda por vazar informações do Itamaraty, jogou pesado para cima da Câmara na intenção de cassar o adversário. Não conseguiu. Mas comprou voto, constrangeu a imprensa, o diabo a quatro, como todo mundo faz, na base do fisiologismo. Politicamente, errou feio ao apoiar Carlos Castello Branco em troca da promessa de respeitar o pleito de 1965, o que não aconteceu. A jogada de mestre teria sido renunciar à candidatura em favor do (general Eurico Gaspar) Dutra, um pessedista de 90 anos que estava na lista dos preferidos dos militares e lhe era leal. Dutra ia corrigir os rumos e acalmar os radicais. Uma vez ele me perguntou onde foi que pegou a curva errada, e eu disse isso.
Mas isso seria suficiente para neutralizar a hidra da ditadura?
Seria a chance de evitar um quadro tão violento. Além disso, uma falta menos grave: JK mentia sobre a idade. Dizia, no primeiro volume das memórias, que nasceu em Diamantina em 1902. Tenho a certidão de nascimento: o ano correto é 1900. O então repórter Roberto Muggiati chegou a ser demitido por ter publicado na "Manchete" a idade certa: JK reclamou com o patrão. Interferi a seu favor e ele acabou "exilado" atrás de uma coluna da redação. Dois anos depois, virou diretor da revista.
E o aspecto programático?
A questão de JK sempre foi mesmo a indústria. Getúlio Vargas fez legislação trabalhista sem um tiro e a sociedade, inclusive o empresariado, aceitou. Mas Getúlio não menciona a questão da terra. Se mexesse na terra, seria deposto. JK também foi avesso a essa questão. Mas, com o que fez, transformou a sociedade brasileira e a levou a outro patamar.
A segunda parte do livro, espécie de apêndice, reedita trechos de "O Anjo da Morte", reforçando a tese de assassinato de Juscelino. Você realmente acredita nisso?
Os indícios são todos nesse sentido. Guilherme Romano, braço direito de Golbery (do Couto e Silva), foi o primeiro a aparecer no local. O pouso onde ele parou pertencia a militares e JK vivia sendo seguido. A notícia da morte por acidente correu dias antes. E, em telegrama ao general (João Batista) Figueiredo, o chefe da Dina, o SNI chileno, equipara Letelier, assassinado pela CIA, a JK, como "um problema para o Brasil", num tempo em que o presidente Jimmy Carter ouviu de (Ernesto) Geisel que, antes da redemocratização, ainda estava em vias uma "limpeza de terreno". Sei que indícios não são provas, embora tenha ouvido o (ex-ministro do STF Cezar) Peluso dizer que existe a "prova indicial". Miro Teixeira chegou a criar uma comissão para apurar as circunstâncias. Todos os depoentes afirmaram isso. O último foi Miguel Arraes, grande articulador da resistência à Operação Condor, que assim se pronunciou: "JK foi assassinado."
Em 1968, você foi preso na mesma leva que deteve JK. O que guarda desse episódio?
Foi na noite de 3 de dezembro, até depois do carnaval. Três meses. Quando fui sequestrado, ouvi que naquela noite iam fuzilar JK. Incomunicável, acreditei, aquele tempo todo, que havia um paredão. Não fui torturado, mas em muitas noites vomitei ao ouvir berros e pancadas das outras celas. Fiquei numa cela miserável, com um cano de água, que usava para escovar os dentes, e um vaso sanitário. Esta foi a segunda prisão. No total, foram seis. Em 1965, quando ainda havia legalidade, fui processado por (Artur da) Costa e Silva, que, pela Lei de Segurança Nacional, queria me botar 30 anos em cana. O STF transferiu para Lei de Imprensa e peguei seis meses. Cumpri três: foi a única vez na vida que tive bom comportamento. Os militares ainda eram educados. Invoquei a convenção de Genebra e a comida melhorou, ganhei banho de sol e lençóis, e, no Natal, um coronel nos mandou peru, vinho, farofa e castanhas, da casa do comandante.
Você foi muito atacado quando recebeu benefícios como reparação aos danos. Isso o magoou?
Vou contar só um episódio. Quando, em abril de 1964, escrevi, no "Correio da Manhã", o artigo "A revolução dos caranguejos", que atacava violentamente o movimento militar, tive que me esconder. No dia da publicação, três sujeitos foram à escola de minhas filhas, que tinham 12 e 8 anos, e disseram à professora que vinham buscá-las, que eram amigos dos pais e precisavam protegê-las pois estavam sob ameaça de sequestro. À saída, a dona do colégio, ao ver duas alunas com três homens estranhos à paisana, pediu documentos. Eles se recusaram a mostrar e puseram minhas filhas num carro. A mulher anotou a placa e nos procurou. Ênio Silveira, que tinha contatos, fez a coisa circular em meios militares e descobriu-se que o carro servia a um oficial da Marinha. Elas foram soltas aos empurrões. Durante o sequestro, haviam sido ameaçadas e insinuaram que tirariam, naquela noite, a sua virgindade. O resto são tecnicalidades que nem preciso mencionar, além do fato de os desembargadores nem terem lido o processo por serem contemporâneos e saberem o que passei. Mas nem se me dessem a Petrobras eu me sentiria compensado. Nem a Amazônia pagaria todo o meu sofrimento.
Por que sua aversão a livros inéditos de ficção? Você desistiu?
Olha, com "Pilatos", livro da década de 1970, eu disse tudo o que queria dizer. Thomas Mann, depois de escrever "Doutor Fausto", pensou em não escrever mais. E disse: "Infelizmente, vivi mais que minha obra." Teve que escrever ainda três ou quatro livros, tudo porcaria, pois precisava de dinheiro. Quando fiz "Pilatos" foi isso: fiquei 23 anos sem escrever. Aí veio o computador, e a doença de minha cadela Mila, eu escrevi "Quase memória" para suportar o sofrimento de ouvir seus gemidos.
"Quase memória" não é bom?
É um desabafo. O que escrevi depois foi por pura pressão comercial. Nada desse período interessa.
Como é sua rotina hoje?
Tenho um câncer linfático e estou em estado terminal há 11 anos. É o mesmo câncer da Dilma e do (Reynaldo) Gianecchini. Não perdi o cabelo, mas o tratamento enfraqueceu minhas pernas. O câncer, porém, não é mais a tal da insidiosa moléstia. Todo mundo tem um. A Hebe, a Ana Maria Braga, todos os líderes do Cone Sul, Lula, Fidel, Chávez, Cristina! Há 12 dias não saio de casa. Meses atrás fui a Nova York. Para visitar os museus, ser cadeirante é bom: fui tratado como príncipe, uma maravilha. No Marco Zero me puseram de cuecas para entrar.
Em "JK e a ditadura" você diz que, com a Frente Ampla, JK, (Carlos) Lacerda e Jango (João Goulart) provaram, tardiamente, que a Humanidade pode ser melhor desde que cada homem procure, no outro, o seu melhor. Você acredita nisso? Precisamos de homens cordiais, como JK?
Não. Em "O ventre", aos 32 anos, eu digo que só creio naquilo que pode ser atingido pelo meu cuspe. Como disse no meu discurso de posse na ABL, não tenho convicções firmes para ser de direita, disciplina para ser de esquerda nem a imobilidade do centro, que é oportunista. Sou um anarquista inofensivo.
A Academia foi uma concessão, em vistas desse ceticismo?
Entrei com 74 anos, idade com que morreu o JK. Desde 1964 já me haviam convidado. Acabaram me convencendo num movimento para legitimar a candidatura paralela, para outra vaga, de Roberto Campos, que até o Celso Furtado queria. Acabei cedendo, sob a condição de não fazer campanha. A Academia é um ambiente de cordialidade. Resumindo, porém, eu diria que é uma espécie de jardim de infância às avessas. No jardim de infância você não tem passado mas um futuro o espera, com relações novas e amigos vindouros. Na academia, não temos futuro. Temos todos um passado, se é que temos, bom, brilhante ou medíocre, mas 90% dos que lá estão não têm mais nada para fazer na vida. O futuro é o mausoléu.
Você tem medo da morte?
Não, a não ser do ritual da morte. Não quero velório. Nem quero ir para o mausoléu da Academia. Serei cremado. Toda a liturgia da morte hoje é uma contrafação, fria, impessoal. Já conquistei o que queria. Só me restam o Nobel e a morte. Como o Nobel não virá...

http://oglobo.globo.com/cultura/aos-86-anos-carlos-heitor-cony-faz-uma-revisao-amarga-ironica-da-vida-5976125
 

¿Qué tiene de raro conocerse en Internet?

 

Por: | 27 de agosto de 2012
 
Cuando llevas mucho tiempo en pareja ya casi nadie te pregunta cómo has conocido a tu compañero/a. Pero cuando cuentas que has empezado a salir con alguien o lo presentas, la primera demanda de los amigos y familiares va acerca de dónde y cómo.
Desde que existe Internet o, más bien, digamos que desde que se popularizó su uso, bien entrados los años noventa, la gente entabla relaciones por la Red. Mucha gente conoce a su pareja (circunstancial o estable) en la web, mucha más de la que lo admite.

Leandro lamas
Ilustración de Leandro Lamas.

No cabe duda de que el cruzarse casualmente, en vivo, con un otro que nos mueve el alma y todos los instintos y hacer de ello una situación narrable, linda y sexy no tiene parangón. Seguirá ocurriendo… o seguiremos inventándonos películas románticas para tapar el verdadero origen de algunos romances: unas letritas en la pantalla del ordenador.
No sabemos el porqué del desprestigio digital, pero lo cierto es que casi todos (por las dudas) hemos ocultado alguna vez que un pionero “hola” y los primeros flirteos han ocurrido entre comentarios en algún foro, a través del chat de un website de encuentros o en una red social, por amigos de amigos (o sin amigos por medio), por pura coincidencia de opiniones sobre algo, un mismo libro leído hace poco, una foto que contagia buena onda, un director de cine favorito, dos “me gusta” al unísono o varios retweets como para llamar la atención.Estas nuevas formas de ligar cada día suenan menos raras y menos de frikis, pero las sospechas de los enemigos del amor digital siempre se posan sobre los afortunados que continúan y refuerzan su relación de pareja, la amistad o el deseo en la vida real.
Podemos aventurar que conocerse por Internet da más vergüenza que hacerlo en una reunión de Alcohólicos Anónimos, como les sucede a dos chicos guapos de la inspirada Café de Flore del canadiense Jean-Marc Vallée, estrenada hace algunas semanas en España. El relato de un encuentro cibernético costará mucho más, sobre todo si el interlocutor es una de esas personas que lleva casada desde antes de la Commodore 64 o de cuando todavía usábamos sistemas operativos DOS.


El irresistible Kevin Parent en algunas escenas de 'Café de Flore' (2011) que preanuncian momentos más tórridos.

Por ejemplo, a poco de salir juntos, un periodista me pidió que pensáramos en una supuesta rueda de prensa en la cual hubiéramos podido coincidir para no pisarnos al responder el “cómo os conocisteis” a sus amigos. Me explicó, mientras íbamos hacia una cena de colegas, que quería evitar suspicacias porque sus amigos desconfiaban de los individuos y las relaciones provenientes de Internet.
Al parecer, falseando ciertos aconteceres podemos parecer más interesantes siendo los mismos, es decir, los que somos en este mismo instante, tanto delante como detrás de esta pantalla.
¿Alguien cree, de verdad, que somos más atractivos y perspicaces resistiéndonos a las redes sociales y a la vida social, en general, vía web?
Con un buen amigo llegado a mi existencia desde el amplio mundo digital siempre bromeamos con la que fue nuestra cita a ciegas en un parque, algo que acordamos por chat (aunque en varios años de vínculo, casi no hemos vuelto a chatear). Como, casualmente, ambos hemos residido en las mismas distintas ciudades europeas, jugamos a imaginar que, si nos preguntan, diremos alternativamente que nos conocimos en tal parque de una ciudad o en tal de la otra, porque nadie podrá ponerlo en duda y siempre sonará más cool que el chat.
Y es que el momento digital suele ser solo un preludio de las relaciones verdaderas: ineludiblemente será el mundo de carne y hueso el que nos permita constatar afinidades y probar (o no) la piel de quien nos tentó en letritas.


Una escena de 'Serendipity'' (2001), con John Cusack y Kate Beckinsale, o la típica manera de conocerse en las comedias románticas norteamericanas (y navideñas): en unos grandes almacenes.

Mientras sigamos en la vida, tomando aviones, metros y buses, yendo al cine, a presentaciones de libros y a bares, a estudiar y a trabajar, a la casa de un amigo y a buscar los niños al colegio, habrá ocasiones y sensuales encuentros para evocar, algunos por muchos años. Puede que internet sea un espacio más prosaico que los mencionados, quizá incluso menos literario (o cinematográfico) que el conocerse comprando artículos de limpieza en el supermercado, pero ¿quién no necesita jabón, lejía o un cepillito para lustrar los zapatos?

http://blogs.elpais.com/eros/2012/08/que-tiene-de-malo-conocerse-en-internet.html#more
 

El hechizo de las listas de cine


Madrid31 AGO 2012



Es un ejercicio sencillo solo en apariencia. Meditar unos minutos, sacar papel y lápiz o, en su defecto, teclear un par de tuits, y aventurar la lista de las mejores películas de todos los tiempos. Sí, sí, conviene no ponerse nerviosos, las listas, ya se sabe, provocan un sentimiento muy acorde a nuestros tiempos: ansiedad. Ansiedad al elaborarlas, al conocerlas, al rebatirlas, al compararlas y, finalmente, al olvidarlas. Pasado el agobio, la elaboración de un ránking tan solo debería ser una vía más para hablar y discutir sobre una pasión común: el cine.
Así ha ocurrido este verano con la publicación de la conocida lista de las mejores películas de la historia del cine de la revista británica Sight & Sound, probablemente la más prestigiosa que existe en la actualidad y que se anuncia cada década desde 1962. Elaborada en esta ocasión con los votos de casi 900 especialistas de 73 países de todo el mundo, por primera vez la eterna nº 1 de todas las listas de cine, Ciudadano Kane, era apartada del pódium por Vértigo, obra cumbre de Alfred Hitchcock que llevaba tiempo pisándole los talones a la ópera prima de Orson Welles.
En un registro más humilde, EL PAÍS ha decidido confeccionar la suya propia con los votos de sus lectores y partiendo de la base de un catálogo que se efectuó en agosto de 2010 para El País Semanal a partir de una encuesta con 100 profesionales del cine hispanos. Entre las películas elegidas entonces estaban, además de Ciudadano Kane y Vértigo; otros clásicos incontestables que forman parte de algunos de los episodios de mayor esplendor de la historia del cine, como Amanecer, de Murnau; Luces de la ciudad, de Chaplin; Ocho ½ , de Fellini; El ladrón de bicicletas, de De Sica; Cantando bajo la lluvia, de Stanley Donen y Gene Kelly; El apartamento, de Billy Wilder; Ser o no ser, de Lubitsch; Los 400 golpes, de Truffaut; 2001: una odisea del espacio, de Kubrick; Annie Hall, de Woody Allen; El río, de Jean Renoir; Una mujer bajo la influencia, de Cassavettes; Centauros del desierto, de John Ford; Ordet, de Dreyer; Al final de la escapada; de Godard o El padrino, de Coppola. El cine español también estará representado por películas fundamentales como El verdugo, Plácido y ¡Bienvenido, míster Marshall!, de Berlanga; Viridiana, El ángel exterminador y El discreto encanto de la burguesía, de Luis Buñuel; ¿Qué he hecho yo para merecer esto? y Átame, de Pedro Almodóvar; Los santos inocentes, de Mario Camus; El espíritu de la colmena, de Víctor Erice; El día de la bestia, de Alex de la Iglesia y El viaje a ninguna parte, de Fernando Fernán Gómez.

La invitación de EL PAÍS va más allá del mero juego y pretende brindar también una ocasión para que el lector se adentre en algunas joyas de la historia del cine.
 
Sea cual sea el resultado final, la invitación de EL PAÍS va más allá del mero juego y pretende brindar también una ocasión para que el lector se adentre en algunas joyas de la historia del cine. Un arte que muchos aprendieron a conocer tachando una a una la lista de Las 100 mejores películas de John Kobal, elaborada a finales de los años ochenta a partir de una encuesta a 100 críticos y cinéfilos de 22 países y en la que se podía cotejar, por ejemplo, las películas favoritas de Susan Sontag frente a las de Bertrand Tavernier. Entre ambas, por cierto, una sola coincidencia: La regla del juego, de Jean Renoir.
Sontag advertía modestamente en un breve texto a pie de página que, por supuesto, ella hablaba de sus películas favoritas, las cuales, a su juicio, “no pertenecen a la lista de las 10 mejores". Tavernier, modestia aparte, extendía su lista hasta 15 y, en el mismo volumen, Guillermo Cabrera Infante se salía por la tangente con uno de sus felices malabarismos: “¿Por que diez? ¿Por qué no 20, 100 o 100.000? Ahora en el invierno de nuestra satisfacción todos somos, como le gusta decir a Langlois, una cinemática de la mente”. Pero todo esto fue mucho antes de la era del “me gusta” y “no me gusta”, aunque ya predijera Roland Barthes en 1975 esta manera de clasificar el mundo: "Me gusta, no me gusta: esto no tiene la más mínima importancia para nadie; aparentemente, no tiene sentido. Y, sin embargo, todo esto quiere decir: mi cuerpo no es igual que el tuyo. Así, en esta espuma anárquica de los gustos y las repelencias, especie de plumeado distraído, se va dibujando poco a poco la figura de un enigma corporal, que invita a la complicidad o a la irritación"
La avidez de la relación nos empuja a menudo a leer también las listas prácticas como si fueran lista poéticas, en realidad, lo que distingue una lista poética de una lista práctica es solo la intención con que la contemplamos
 
Pero dejemos de lado fervores y enojos y volvamos a la lista de 2012 de Sight & Sound: son interesantes las diferencias que se establecen entre el criterio de los críticos y el de los directores, que también han sido consultados. Si para los primeros Vértigo (esa película dentro de otras tantas películas que según explicó Hitchcock a François Truffaut cuenta en realidad como un hombre se quiere ir a la cama con una mujer que está muerta y por ello se entrega a una peculiar forma de necrofilia) es la número uno, para los cineastas (han votado desde Martin Scorsese a Paul Schrader, Aki Kaurismäki o Woody Allen) la ganadora es Cuentos de Tokio, de Yasujiro Ozu, ese melodrama japonés que cambió la hoja de ruta del lenguaje cinematográfico y con la que tantos grandes cineastas se sienten y sentirán en permanente deuda.
En cualquier caso, encerrar la historia del cine en un ránking no deja de ser un gesto excluyente y temerario del que quizá solo quepa librarse extrayendo esta reflexión de Umberto Eco en El vértigo de las listas (Lumen). Películas, libros o flores, en realidad, que sea algo más que la lista de la compra solo depende de nosotros: “La avidez de la relación nos empuja a menudo a leer también las listas prácticas como si fueran lista poéticas, en realidad, lo que distingue una lista poética de una lista práctica es solo la intención con que la contemplamos”.

http://cultura.elpais.com/cultura/2012/08/31/actualidad/1346431264_851786.html

 

Encontro Domingueiro

 

Por Verônica Mambrini*
O encontro tão adiado e recombinado. Eu nunca tinha visto você pessoalmente, não sabia nem se ia reconhecê-lo no ponto de encontro no metrô. Saí de casa antes do sol levantar do horizonte. Ainda tinha estrelas pontilhando o céu, bêbados felizes pelas ruas e calçadas, a ressaca chegando devagarinho pelas pálpebras semicerradas deles. Não das minhas: a cama me abraçou cedo, na ansiedade que perturba a véspera de qualquer coisa esperada, e a madrugada já me encontrou desperta.
Entre conversas banais de quem não tem intimidade, o riso veio fácil. Dois bicudos não se beijam? Nada, eu ria das teimosias, grosserias e polêmicas que escandalizavam amigos em comum porque cada linha que ouvia, podia assinar eu mesma. E você tinha prazer no meu riso, a onda elétrica no ar indo dos lábios aos outros. Que felicidade que é para uma mulher – para essa mulher – ter por perto um homem que a faça rir. É a primeira entrega, e quando essa acaba, todas as outras vão morrendo junto.
E num dia ao ar livre, entre besteiras desimportantes e um céu azul invernal, começou o jogo invisível de gato e rato. Há tanto tempo eu não era rato que tinha até esquecido a delícia de bobamente me deixar pegar aos pouquinhos. Primeiro na risada de cristal, depois nos esbarrões de leve em que as peles que teimam em se atrair e toques que de acidentais só tem a aparência descarada.
Até que, exausta do dia batendo perna, e me entregando aos silêncios oportunos, deixei a cabeça tomar no seu ombro, caixa de Pandora. Às vezes é preciso rodarmundo, matar dragões e atravessar solitariamente oceanos para descobrir que abandono faz falta. Tão bom deixar a cabeça que pende docemente no ombro levar à cama. E preencher a cama, inteira, ao longo de horas e horas suspensas no ar. Tão necessário ser entregue. Nesses tempos modernos em que o jogo de amor deixa quem quiser buscar e ser buscado, esqueceram de contar às Dianas que há outros papéis para jogar. Que a caça é dona do caçador.


Ah, amado. Quanto tempo precisa para ser amado? Suas marcas na minha pele contam que se trata de achar a fresta por onde passa ar, sol, vida; a corrente leve de vento que traz de volta á luz. E com umas poucas noites insones eu acordei de novo, pronta e vulnerável para desejar de novo e querer ser desejada. E quando você partir confusamente sem grandes explicações – e você vai partir em breve- saiba que deixou cama e mesa posta, numa casa ensolarada.


* Verônica Mabrini é jornalista, fotógrafa e feminista, uma gata de rodas circulando por São Paulo e você pode acompanhá-la pelos seus perfis no Facebook ou pelo twitter @vmambrini ou ainda no seu blog. Boa viagem!