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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Speak Low - Barbra Streisand



 

Das utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Mario Quintana

 

“Vivo sonhando” em três tempos

Nos instantes de mau humor costumamos proferir máximas insustentáveis. Uma delas é constante em minhas falas: “existem músicas que não deveriam mais ser regravadas”. Um clássico se constrói na qualidade e na atemporalidade. Músicas massacradas por roupagens pretensamente inovadoras, mesmo nessas, ainda mantém uma respiro, um traço do seu brilho. Clássicos sobrevivem, mas não raro são imolados e cansam de tanto aparecer. O tempo e as recorrências nos dão a oportunidade de rever as máximas de gostar ou desgostar. Abrimos concessão e renovamos o olhar (ouvir) sobre algo abandonado. Mesmo a original ou alguma versão já há muito conhecida passa a ter novo sentido. A beleza muda com o tempo, mas não deixa de ser. Essa é do Jobim. Em certos momentos é preciso ser previsível para vencer as teimas, inclusive esta, de sempre querer fugir do óbvio…em três tempos.


 

O tom da casa…

E existiu um tempo em que você tinha só cinco, seis anos de idade, e as pessoas escolhiam o que você ia ouvir. Se houve proximidade, esta escolhas sempre funcionarão. São os sons da casa onde nasceu, cresceu e das pessoas com quem você conviveu. Voce não percebia preocupação e nenhum compromisso com a escolha. Leve. As músicas ficavam zanzando em tudo, provavelmente como você ficava. E davam o tom para a casa. Passa muito tempo e muitas dessas escolhas ainda te tocam e fazem lembrar quem deu carinho e, também, quem não esta mais do seu lado. Funcionou. A música.


 

 

Filmes presentes, fatos passados


André Setaro
De Salvador (BA)

1.) Basta, para se ter uma ideia do talento de Roman Polanski, a tomada fixa da cabine telefônica em O bebê de Rosemary (Rosemary's baby, 1968), tomada demorada que concentra no rosto agoniado de Mia Farrow toda a sua carga dramática e emotiva. Rosemary, a personagem da atriz neste filme impressionante, apavorada por descobrir que está sendo envolvida com uma seita diabólica, acaba de fugir do consultório de seu médico especializado em obstetrícia por desconfiar que também faça parte do complô, e refugia-se numa cabine para telefonar para o seu antigo médico. Com a chegada de Rosemary à cabine - após deambular pelas ruas da cidade em impressionante caracterização, grávida e desengonçada, Polanski se aplica num plano fixo de seu rosto para desenvolver todo o clima de angústia e desespero. É de pequenos momentos e de pequenos gestos que se fazem os grandes filmes. Polanski é um realizador que sabe pensar cinematograficamente, que intui o possível impacto que uma determinada sequência possa ter pelo seu sentido agudo no que se refere à utilização dos elementos determinantes da linguagem cinematográfica. Na tomada em questão, uma lição de cinema, mas, antes de concluí-la, o realizador de Chinatown, faz uma brincadeira com a chegada, frente à cabine, de um corpulento homem que parece o médico, mas que, na verdade, trata-se do produtor William Castle, famoso por seus terroríficos classe B.

2.) Por falar em William Castle, lembro de um seu filme, que vi apenas uma vez nos anos 60, Trama diabólica (se não há engano memorialístico, o título original é Homicidal). Visto num poeira da Baixa dos Sapateiros, no Pax, precisamente, o filme, quando pouco antes de atingir o clímax, tem sua narrativa interrompida e aparece, na tela, um relógio com um tic-tac macabro. Uma voz em off anuncia que o produtor do filme vai conceder alguns minutos para que os "cardíacos e pessoas nervosas" (sic) possam sair da sala de projeção, pois o clímax, chocante segundo as palavras, pode provocar danos naqueles mais sensíveis. O fato foi que, realmente, vi, e me lembro que vi, pessoas saindo da sala. Em seguida (eu não saí), dá-se o desfecho pleno de apelações e planos de detalhes. Castle gostava muito de assustar, chocar pelo estrépito das imagens. O que mais assusta, em minha opinião, no entanto, é o desenrolar sutil, a ausência de choques no transcorrer da narrativa, reservados estes para os momentos certos. William Castle, talvez sem o saber, foi um pioneiro no marketing. Não sei quem foi o gênio baiano que inventou, em Salvador, para o lançamento de O vampiro da noite (Horror of Dracula, 1958), de Terence Fisher, com Christoper Lee, em 1960, colocar, nos dois cinemas em que a fita foi apresentada, uma ambulância na porta. Uma tabuleta em cima da bilheteria avisava que "pessoas nervosas e cardíacas" (a implicância com cardíacos, lembro-me bem, verdadeira) não deviam comprar os ingressos para ver o filme, mas, se assim procedessem, e viessem a se sentir mal, a gerência dispunha de uma ambulância para a sua locomoção à emergência mais próxima.

3.) O exibidor Francisco Pithon, que reinou no circuito soteropolitano nas décadas de 60 e 70, gostava de promover alguns filmes que lançava com certo estardalhaço e originalidade. Quando, em meados dos anos 60, foi lançado no Guarany Sodoma e Gomorra, de (sim, é verdade) Robert Aldrich, com Stewart Granger e Rossana Podestá, Pithon contratou duas belas mulheres que se vestiram com a indumentária idêntica à usada pelos personagens femininas de Sodoma e Gomorra, postando-as, num pequeno pódio, ao lado, cada uma, das duas bilheterias. O público pensou que fossem figurantes do próprio filme, que ficou, assim, muito badalado. Aldrich, diretor americano renovador na década de 50 (A morte num beijo) e desmistificador da guerra (em Morte sem glória/Attack), e do índio (Apache) realizou Sodoma e Gomorra como encomenda no seu exílio europeu. Vi apenas no lançamento há, portanto, mais de quarenta anos. Recordo-me mais da promoção das moças seminuas e belas na porta do Guarany do que do filme (parece que, no fim, Granger, embora aconselhado a não olhar para trás, após o dilúvio das cidades, teimoso como uma mula, não obedece ao conselho e vira pedra). Rossana Podestá era uma atriz italiana muito bonita (fez Helena de Tróia com Robert Wise), e esteve aqui, na Bahia, para o lançamento de Os sete homens de ouro, acompanhada do marido Marco Viccario, que era também o diretor do filme. Nesta ocasião, e quem sabe o caso é o jornalista José Augusto Berbert de Castro, protagonista da história. Hospedados no Grande Hotel da Barra, na praia do Porto (que foi considerada por jornalista inglês uma das mais belas praias do mundo), Podestá, seu marido, filhos, receberam a imprensa - nesta época, ainda que atento ao cinema e às suas coisas, não militava no jornalismo e lia apenas as críticas e comentários, adolescente que era. Berbert escrevia uma coluna sobre cinema no jornal A Tarde e se formou em medicina, apesar de nunca a ter exercido. A família da artista passou o dia inteiro no Porto e, de noite, um dos filhos, um garoto, teve brutal insolação. Viccario e Podestá, desolados e aflitos, lembraram que um jornalista, Berbert, era também médico. Embora um médico para ser temido, por causa de seu afastamento da prática, Bebert atendeu ao chamado, pois era oportunidade de ouro para ficar mais íntimo de gente famosa, principalmente Podestá, uma beleza de mulher.

4.) A conversação (The conversation, 1974), de Francis Ford Coppola, com Gene Hackman, é uma obra que atesta o grande talento desse realizador antenado com seu tempo e sua circunstância e, principalmente, extremamente preocupado com a natureza da arte do filme. A conversação, filme sem atrativos comercial e talvez por isso tão esquecido e pouco visto, é uma obra que se aproxima, pela sua angústia narrativa, de Blow up, de Michelangelo Antonioni. Sente-se, no personagem vivido por Gene Hackman, aquela angústia para descobrir que atormenta o personagem do fotógrafo (David Hemmings) no filme do mestre italiano. Mais de trinta anos depois, o impacto continua o mesmo, ainda que o cinema, do ponto de vista tecnológico, tenha dado saltos atléticos. Mas a beleza do plano final, com Hackman, apartamento virado de cabeça para baixo na procura de algum objeto capaz de grampo qualquer, a fazer de conta que toca o saxofone, é um dos pontos altos do cinema na década de 70.

5.) Os trailers contemporâneos estão todos padronizados e submetidos à dolorosa estética do vídeoclip (nada contra esta em si, mas que se restrinja aos videoclipes propriamente ditos e não se incorpore, como está a acontecer, na narrativa cinematográfica). A imagem surge rápida, e um escurecimento, também na maior rapidez, engole-a, por assim dizer, para, em seguida, surgir outra. Decididamente: já não se fazem trailers como antigamente. Havia um savoir-faire de trailers no cinema americano que a partir dos anos 80 foi se diluindo para emergir uma espécie assim de savoir-non-faire. Dava gosto se ver os trailers, o que não acontece nos dias que correm. Antes dos malditos trailers contemporâneos, que não gosto de vê-los - porque mesmo trailers de filmes bons, a exemplo de Além da vida, estão construídos dentro da pavorosa estética do vídeoclip, tinha prazer em conferi-los, chegando mesmo, quando se podia fazer isso, a ficar para a outra sessão somente para rever os trailers. No esquema atual, o espectador compra o ingresso para uma determinada sessão e terminada esta é expulso da sala de projeção. Nos bons tempos que não voltam mais (não creio ser saudosista, mas a constatação de uma época mais calma e mais inteligente, e, caso saudosismo, que o seja, e daí?), o indivíduo que comprasse o ingresso podia entrar, por exemplo, duas da tarde e só sair quando da última sessão.

6.) Lembrei-me agora que gostava muito de ir às sessões das 22 horas. Pelo menos aqui na Bahia (interessante observar que se chama a cidade de Salvador de Bahia, ou seja, ao invés de aqui em Salvador - que pode também ser usado, aqui na Bahia, como está sendo usado por mim neste blog) as sessões eram assim estabelecidas: 14, 16, 18, 20 e 22 horas. Quando o filme tinha duração acima de 120 minutos: 14, 16:30, 19 e 21:30 horas. Em caso de duração maior: 14, 17 e 20 horas. Nas superproduções como ...E o vento levou, Ben-Hur, Spartacus, duas únicas sessões, uma vespertina, outra noturna, ou, como se gostava de dizer (e aí sim com ênfase saudosista), uma matinée, e uma soirée, às 15 e 21 horas. Mas estava querendo contar uma história sem importância acontecida comigo. Há algumas décadas (volto ao assunto, mas parece que a nova geração se esqueceu que existe o verbo haver, pois encontro em todo canto expressões do tipo: a dez dias fui ao cinema etc.), indo a uma sessão das 22 horas, dormi um sono profundo nas poltronas do finado cinema Bahia, que ficava à Rua Carlos Gomes e atualmente abriga os apóstolos da Igreja Universal do Reino de Deus. Pois muito bem! Finda a sessão, os funcionários, ainda que sempre fizessem revista, não me encontraram, e continuei nos braços de Morfeu até a manhã seguinte, quando encontrei o chão sendo lavado e a porta, aberta, possibilitando-me sair com a cara de quem está acordando. A cara de quem está acordando é um dos fatores ocultos que determinam a desordem conjugal.

André Setaro é crítico de cinema e professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba).


Mãe Stela: “Será que só existem invejados? Onde estarão os invejosos?”


Mãe Stela
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CRÔNICA/ SABEDORIA
Olhos magros: uma nova tendência
Maria Stella de Azevedo Santos

A minha função espiritual faz de mim uma intermediária entre o humano e o sagrado e para exercê-la da melhor maneira possível tenho como instrumento o Jogo de Búzios. Pessoas de diferentes idades, raças e até mesmo credos, buscam a ajuda desse oráculo. Surpreende-me o fato de que uma grande parte dos que me procuram sente-se vítimas de inveja.
Engraçado é que nunca, nem um só dia sequer, alguém chegou pedindo-me ajuda para se libertar da inveja que sentia dos outros. Será que só existem invejados? Onde estarão os invejosos? E o pior é quando consulto o oráculo e ele me diz que os problemas apresentados não são decorrentes de inveja, a pessoa fica enfurecida.
Percebo logo que existe ali uma profunda insegurança, que gera uma necessidade de autovalorização. Se isso ocorresse apenas algumas vezes, menos mal, o problema é que esse comportamento é uma constante. Isso me leva a pensar que cada pessoa precisa olhar dentro de si, tentar perceber em que grau a inveja existe dentro dela, para assim buscar controlar e emanar este sentimento, de modo que ela não venha a atuar de maneira prejudicial ao outro, mas principalmente a si, pois qualquer energia que emitimos, reflete primeiro em nós mesmos.
Uma fábula sobre a inveja serve para nossa reflexão: Uma cobra deu para perseguir um vagalume, cuja única atividade era brilhar. Muito trabalho deu o animalzinho brilhante à insistente cobra, que não desistia de seu intento. Já exausto de tanto fugir e sem possuir mais forças o vagalume parou e disse à cobra: – Posso fazer três perguntas? Relutante a cobra respondeu: – Não costumo conversar com quem vou destruir, mas vou abrir um precedente. O vagalume então perguntou: -Pertenço à sua cadeia alimentar?- Não, respondeu a cobra. – Fiz algum mal a você-?- Não, continuou respondendo a cobra.- Então por que me persegue?- perplexo, perguntou o brilhante inseto. A cobra respondeu: – Porque não suporto ver você brilhar, seu brilho me incomoda.
Ingênuas as pessoas que pensam que o brilho do outro tem o poder de ofuscar o seu. Cada um possui seu brilho próprio, que deve estar de acordo com sua função. Existem até pessoas cujas funções requerem simplicidade, onde o brilho natural só é percebido através do reflexo do olhar do outro.
Lembro-me de uma garotinha de apenas 10 anos de idade que a mãe me procurou para ajudá-la, pois ela ficava furiosa quando não tirava nota dez na escola. Comportamento que fazia com que seus coleguinhas se afastassem dela. Algumas tardes eu passei conversando com a garota. Um dia ela chegou me dizendo que não aparesentava mais o referido problema, que até tirou nota dois e não se incomodou.
Fiquei muito feliz, cheguei mesmo a ficar vaidosa, pois acreditei que aquela nova atitude era resultado de nossas conversas. Foi quando ela me disse:- Sabe por que não me incomodei de tirar nota dois, Mãe Stella? Ansiosa, perguntei:- Por que? Ao que ela me respondeu: – Porque o resto da turma tirou nota um. Rimos juntas da minha pretensa sabedoria de conselheira e do natural instinto de vaidade que ela possuía e que muito trabalho teria para domá-lo. O desejo que a garota possuía de brilhar mais do que os outros, com certeza atrairia para ela muitos problemas. Afinal, ela não queria ser sábia, ela queria ser vista.
O caso contado anteriormente fez lembrar-me de outro que eu presenciei, onde uma senhora repleta de ouro insistia em me dizer que as pessoas estavam olhando para ela com inveja. Cansada daquele queixume, disse-lhe que quem não quer ser visto, não se mostra.
A inveja é popularmente conhecida com olho gordo. Se não queremos ser atingidos pelo olho gordo do outro, devemos cuidar para que que nossos olhos emagreçam, não deixando que eles cresçam com o desejo de possuir o alheio. Já que fazemos dieta para nossos corpos serem saudáveis, devemos também fazer dieta para nossos olhos, pois eles refletem a beleza da alma. A tendência agora é, portanto, olhos magrinhos, mas não anoréxicos, pois alguns desejos eles precisam ter, de preferência desejos saudáveis.

Maria Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. Texto publicado originalmente na edição impressa do jornal A Tarde.

http://bahiaempauta.com.br/

Zezé Freitas canta...e dá o recado..




METÁFORA

 


Foto por Fernando Campanella

Já não tento reter do dia
a luz que por exata concede
a chama alquímica dos amantes
a doçura de pétalas breves.
O tempo tem o galope das fúrias
ventos que jamais enternecem.
Melhor correr da memória o labirinto
drenar os aquíferos fundos
e aguardar: tudo vai escapando
o que restar será na noite
a forma intáctil, o espectro redivivo.

(Mais no mundo me tardo
mais no comando de sombras me esmero)

Deus conceda que me baste
este último apelo de náufrago: a metáfora,
pétala incorpórea com que me visto.

Fernando Campanella, 2006

O PADEIRO


Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. Enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

- Não é ninguém, é o padeiro!

Interroguei-o uma vez: como tivera a idéia de gritar aquilo?

"Então você não é ninguém?"

Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não, senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém...

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como o pão saído do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"

E assobiava pelas escadas.

Rubem Braga, Rio, maio, 1956.

O urso de mel

Publicado no guida Divirta-se em O Estado de S. Paulo, em junho de 2011
Ah, mas faça-se o favor. Você perdendo tempo com André Laurentino. Só não é perda total pela sugestão que urge e encontra você agora: corra, um Sabiá está esperando. Ou uma orquídea (Physosiphon Bragae Ruschi). Ou um urso. Ou um homem que queria ser urubu. Chama-se Rubem Braga, e agora vive solto no mais recente dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles.

Vou resistir à tentação de iluminar esta crônica com brilhos tirados do Braga, exemplos de seu gênio. As aspas usadas dariam asinhas muito finas para suportar o peso do desnível. Que o leitor imagine nesta pena de pardal a maravilha do pavão.

Rubem Braga foi um homem generoso, e não se pode abusar do generoso. Seria feio, duplamente feio. Nas suas crônicas, as frases e o modo de dizer mais simples — ou melhor, o modo de perceber o que é mais simples — vinham entregues ao leitor sem cerimônia. No museu de Rubem Braga, ele estaria observando o guarda dormir enquanto os mais tolos perderiam tempo com o que fica além das cordas, das faixas vermelhas e dentro de cúpulas. Ao sinal de “Proibido Fotografar” Rubem daria de ombros, e empunharia lápis e papel para desenhar. O mundo visto por ele era mais rico e delicado, e mais mordaz.

Escreveu algumas das melhores crônicas da língua, e ao mesmo tempo piorou quase todas as outras. Perto dele, somos quando muito passarinhos pedestres. Não precisava de assunto. Até uma aula de inglês, com suas perguntas idiotas (is this an elephant?), era suficiente para fazer rir ou voar.

Rubem riu do próprio câncer, amou as mulheres e viveu solteiro a maior parte do tempo. Saiu da cobertura em Ipanema para as antologias, depois para prateleiras esquecidas e para os maus vendedores que precisam buscar seu nome em computadores de livraria — a vida fora do jornal diário.

Agora, volta na pele lustrosa do couchê desses Cadernos. Talvez não gostasse do brilho. Ou do barulho exagerado que os dedos fazem ao apurar suas páginas. Mas merece as fotos de Eduardo Simões, os depoimentos, e uma certa solenidade que nunca deixou de afugentar. Corra. Vá ver Rubem Braga. Chega de passe-partout.

Meditation for Modern Life

What Got Me Hooked on Meditation?

A Clinical Psychologist’s Contemplative Path

I started my meditative practice during my late teens when I was introduced to the work of Harvard professor, Herbert Benson. His book, The Relaxation Response, was a basic guide, and it was one that sparked an interest that would continue for the next three decades.
My attraction to Dr. Benson's approach was that it was rooted in science. He demonstrated the health benefits of regular practice, which resonated with my reasonable side. Although meditation wasn't easy to do at first, and I wasn't always consistent in my practice, I accepted it as a healthy way to decrease stress.
Throughout the years that I spent earning advanced degrees, I studied various forms of meditation, and as its benefits became clearer, my practice deepened. My meditative tipping point, so to speak, happened when someone whom I respected immensely, shared her beliefs about meditation. She was deeply spiritual, and she told me, "Meditation is the key to both spiritual and psychological growth." Up to that point, meditation for me was primarily a tool for relaxation and decreasing stress; it wasn't something that I would have characterized as spiritual. My friend's words resonated with me because I was passionate about personal growth. It was from there that my practice took on a new level of intensity.
The state I was looking for is often referred to as Enlightenment. Some call it "Awakening," and in the social sciences, it's referred to as "self-actualization." Whatever you call it, after years, and countless hours becoming a licensed clinical psychologist, I still hadn't experienced it. I had amassed advanced degrees, licenses, and certificates, which gave me to the tools to deal with stress and emotional traumas, but I still hadn't reached my full potential as a whole, healthy human being--for all its benefits, psychology clearly had limitations.
Meditation, on the other hand, was nearly limitless in its ability to make me a happy, whole person on a consistent basis. With regular practice, I connected with personal growth fundamentals, such as who I am, why I'm here, and my one-ness with everything around me. Psychology and science had given me the tools for functional living, and meditation taught me to live fully, in the present, and connected to every moment.
Turning a Meditative Practice into a Meditative Lifestyle
There was one final lesson that I needed to learn. Although I had become a skilled meditator--which made me very relaxed on the meditative mat--once I was done sitting, my mind chatter would resume. My insight came when I realized that throughout the day, I could continue experiencing the same state of being at peace and being at one with the world, even off the meditative cushion. While the mind chatter still continued, I learned to acknowledge it, witness it, and not be distracted by it.
The result? The weakening of the grip of the "monkey mind" on daily life. My mind is now at ease. As a result, I require less sleep. Specifically, I sleep for three to six hours a day. Prior to my present sleep pattern, I needed six to eight hours. Also, during my meditations, I have so-called mystical experiences. Which means that I feel at one with the universe. I've learned, however, not to attach to such phenomenon, otherwise I'd experience disappointment when I didn't have them. Nevertheless, when they come, they are intense and provide peace beyond words.
If you want to lead an "Enlightened," "Awakened," or "self-actualized" life, meditation is the way to achieve this. If spiritual and personal growth are important to you, meditation is the most transformative tool there is. With regular practice, you can experience joy, wonder, and a peace that is beyond description.

http://www.psychologytoday.com/blog/meditation-modern-life/201111/what-got-me-hooked-meditation-0

Foolish Doctor


 
How Conrad Murray Rose to the Level of His Own Incompetence
According to the "Peter Principle" espoused by Laurence Peter and Raymond Hull,"in a hierarchy every employee tends to rise to his level of incompetence." We see this every time a good underling is promoted into becoming a disastrous leader. The principle applies in other settings beside organizations, and may be reframed in systems (and cautionary) terms to read: "people are tempted to aspire to roles for which they are unsuited or unready, but it is in their own interest to honestly weigh the risks and rewards before they take an upward leap." As in anything, the risk in taking on an unsuitable role can range from minor (unhappiness, failure) to major (catastrophe). The story of Dr. Conrad Murray, the physician whose behavior resulted in the death of pop icon Michael Jackson as well as his own career is an illustration of the latter.
Jackson met Murray when the entertainer was in Las Vegas and he was called in to treat one of Jackson's children. Murray is an internist and (non Board-certified) cardiologist, with offices in Nevada and Texas. Jackson apparently liked Murray and asked him to be his personal physician for the duration of a six month show in London and in the several months of rehearsal leading up to that show. Murray, a man with seven children, a complicated love life and major debts, was teetering on the brink of (a second) bankruptcy. When approached by Jackson, he initially asked for a yearly salary of $5 million, but eventually settled for $1.8 million. Murray's major job was to help Jackson, a man with severe primary insomnia, to get to sleep at night. Jackson made clear to Murray that he wanted him to administer propofol, a powerful drug used by anesthesiologists to induce sedation in surgical settings. Jackson, who had previously been given propofol for cosmetic procedures (always by an anesthesiologist), had reportedly asked other medical personnel to administer it to help him sleep, but had been tuned down. Murray, a man with no training in either anesthesiology or sleep disorders, apparently had no such reservations, and agreed to the request.

According to his recorded statement to police, Murray had been administering propofol to Jackson for over a month, using an injection followed by an IV-drip. On the night when Jackson died, Murray claims he initially resisted giving propofol, feeling the singer was becoming addicted, but he eventually relented. Leaving the singer's side to go in another room (he claimed it was a two-minute bathroom break, but cell phone records suggest it was much longer) he returned to find Jackson had stopped breathing. Instead of calling 911 immediately (he delayed that critical step by 30 minutes), he called in a security guard and ordered him to dispose of evidence, then made an inept (and counter-productive) attempt at chest compression, when the correct protocol called for pumping in oxygen (as the problem was not cardiac arrest but lack of oxygen getting to the heart). When paramedics arrived, Murray did not tell them he had administered propofol (suggesting consciousness of wrongdoing), and he also kept this critical information from the doctor treating Jackson in the emergency room.
After the coroner found that Jackson had died from acute propofol intoxication, and in light of Murray's admission to having administered the drug, the physician was charged with and tried for involuntary manslaughter: essentially gross negligence reflecting disregard for life. Murray faces four years in prison (the trial is still ongoing), significant financial liability and the loss of his license, career and reputation. Although Murray's disposing of evidence makes some speculation necessary, the most likely explanation for what happened is that the propofol was being administered through an IV-drip without the use of a dose-regulating pump, and there was a malfunction or miscalculation resulting in way too much of the sedative getting into Jackson's bloodstream. This caused the patient to cross over the thin line between unconsciousness with, to unconsciousness without, breathing. The lack of monitoring or emergency equipment, coupled with the doctor's lack of knowledge or preparation in coping with the emergency situation, combined with his fear-driven delay in calling 911, all contributed to an easily preventable death.
In terms of the Peter Principle, an attractive upward status move (a sizeable salary and the prestige of attending to the world's most famous person) resulted in the worst kind of failure imaginable for Murray. According to my theory of foolish behavior, such an act results from the intersection of four factors, one of them (situation) being external to the actor, and three of them (cognition, personality and affect/ state) being internal. There were two action points in this story that involved foolishness: (a) the first was when Murray agreed to Jackson's request to administer propofol, (b) the second was his failure to use appropriate emergency procedures, including immediately calling 911. I will not consider Murray's incriminating statements about propofol administration to police as foolish (after first trying to cover it up in the hospital), as I believe full honesty in such a situation is an ethical requirement. However, as a general rule, it is usually a mistake for a criminal suspect or offender to agree to a police interview, as nothing good generally comes out of it.

In explaining Murray's first foolish act, agreeing to administer propofol, there were two situational pulls: being asked by Jackson to give the drug, and the fact that it had been used by Murray without mishap for several weeks. The first situational pull was relatively mild (other docs and at least one nurse had no trouble saying "no") but the second one was relatively strong, as nothing bad happening can lull a person into underestimating the risks of something bad eventually happening. Cognition clearly was a factor here, as Murray evidently did not appreciate the risks associated with giving such a powerful sedative, as reflected both in his agreeing to administer it and in his many deviations from standard procedure in the way it was administered. Personality entered in here in two ways: weakness in standing up to Michael (who he saw as his employer and friend more than his patient) and in a seeming tendency towards self-delusion in over-estimating his own abilities. Probably the biggest factor here was affect: Murray was apparently in a very desperate state financially, and he saw the chance to pull in very big bucks (while getting to rub shoulders with a superstar) as too attractive to turn down. Affect (boredom from standing around watching what he thought of as non-risky sleep) also likely contributed to Murray making the fundamental error of abandoning his post to attend to his cell phone (a device that has contributed to untold numbers of foolish acts.) Affect, in the form of fear (as he saw his life come crashing down) also explained Murray's unconscionable behavior after he noticed Jackson had stopped breathing, although cognition (profound ignorance of emergency procedures) undoubtedly was also a contributor.

The Conrad Murray story is interesting to me not only as an example of foolishness (risk-oblivious behavior), but for the insights it gives into the role of competence in professional ethics. As a licensed physician, Murray was not committing a crime in purchasing or administering propofol, but he was acting unethically in going beyond his training and competence in doing so. It became a crime after it went wrong, but wisdom or common sense (awareness of medical and career risks), combined with a stronger or better character, would have caused him to avoid putting himself in that situation in the first place. The fact is that every professional is given enough rope by his or her license to do things that are outside of his or her training or competence, but ethical codes require them to avoid doing so. That is because in going beyond our competence we run the risk of performing poorly and thus failing to meet our obligations to the people who hire us. I don't doubt that Murray was competent in other aspects of his medical practice, whether treating Jackson's child in Las Vegas or a man with a heart condition in Houston. But as a sleep doctor and propofol pusher, Murray was a catastrophe waiting to happen. Physicians, and mental health professionals for that matter, sometimes find themselves faking it (usually in minor ways), such as opining on subjects where their knowledge is a little shaky. I see my own competent internist doing that from time to time, as when he spouts off on topics (such as nutrition) he knows almost nothing about, but I trust that he has the sense not to try and perform heart surgery on me. It is tempting for physicians (who are smart and confident in their ability to solve problems) to overestimate their ability to quickly take on and master new challenges (it is not a coincidence that doctors and dentists are the pilots most likely to die in single engine plane crashes). Unfortunately for Conrad Murray, becoming Michael Jackson's sleep doctor was one challenge where feigning competence didn't work.
http://www.psychologytoday.com/collections/201111/when-professionals-slip/foolish-doctor?page=2


GRANDE POLA!!!!




Eu vi você crescer... e como cresceu!!!