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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Luxos de verão

10/01/2014



ruy castro




RIO DE JANEIRO - Para fascínio do noticiário, o Rio está passando por temperaturas de 40 graus, com "sensação térmica" de 50. "Sensação térmica" é qualquer coisa 10 graus acima dos termômetros de rua, os quais marcam, cada um, uma temperatura diferente. Enquanto isso, Nova York está a 15 graus abaixo de zero, com "sensação térmica" de 25 abaixo, ideal para trincar narizes e orelhas. O frio de Nova York é multiplicado pelo vento, que varre as ruas, dobra esquinas e penetra pelas fechaduras.

Em janeiro de 1974, conheci o pior dos dois mundos. Saí do antigo Galeão, onde a temperatura devia estar beirando os 50 graus, e, dez horas depois, desembarquei em Nova York a 10 abaixo de zero –uma diferença de 60 graus. E, como bom brasileiro, protegido por um casaco, suéter e cachecol, tudo da Ducal, ou seja, nu. Aprendi a diferença: no extremo calor, a sensação é a de estar morrendo aos poucos; no extremo frio, é a de já estar morto.

Mas ninguém morre de calor no Rio. Para quem pode se dar ao luxo, há as praias (inclusive à noite), a brisa do mar, o ar das montanhas e florestas e os vários parques públicos, além de bairros excepcionalmente frescos, como o Alto da Boa Vista, o Horto, as Paineiras. Nestas, por sinal, toma-se banho de cachoeira –a 10 minutos de carro de Ipanema. E, para quem não pode dar-se ao luxo, resta o ar-condicionado dos escritórios, lojas, táxis e residências. Os aparelhos estão por toda parte.

Bem ou mal, somos equipados para o calor. Ao contrário de Paris, onde, em julho e agosto, idosos morrem sozinhos, às dezenas, em seus cubículos fechados, asfixiados por roupas de lã, desidratados e sem atendimento, porque os médicos saem em massa da cidade.

E, como se não bastasse, no Rio, este ano, estamos assistindo à volta do leque, nas mãos de lindas mulheres nas sorveterias.




Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão impressa.
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