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sábado, 29 de outubro de 2011


"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la."
Clarice Lispector




David Gilmour - Wish You Were Here Live in Gdansk

A Tribute to Audrey Hepburn & Gregory Peck



Em busca da Alma Americana

Por que criar romances que traduzam a psique do país é uma obsessão dos escritores dos Estados Unidos - e como “Liberdade”, de Jonathan Franzen, se juntou a essa liga.
por Paulo Nogueira



Liberdade é o quarto romance do norte-americano Jonathan Franzen, 51 anos. Se a sua obra anterior, As Correções (2001), faturou com um pé nas costas o mais cobiçado prêmio literário dos EUA, o National Book Award, Liberdade desencadeou uma pirotecnia que reduz os fogos de artifício do Réveillon do Rio a um anêmico vagalume. Um episódio mostra como o autor aumentou de tamanho entre uma e outra obra. Em 2001, a tentacular apresentadora de TV Oprah Winfrey selecionou As Correções para o seu Clube do Livro, um privilégio que garante a venda de muitas baciadas de exemplares. Só que o escritor deu um chá de cadeira na mulher mais influente dos Estados Unidos. ”As escolhas dela são piegas e unidimensionais”, esnobou o autor. A apresentadora cancelou a participação de Franzen no seu talk-show, alegando que ele “iria se sentir desconfortável”. Dez anos depois, esgrimindo um espírito esportivo digno do Barão de Coubertin, o idealizador dos jogos olímpicos, Oprah selecionou Liberdade para o seu Clube do Livro, reverenciando-o: “É uma obra-prima”. Se ninguém leva a mal um elogio, quanto mais dois – e, desta vez, Franzen não emburrou: passou do chá de cadeira para a colher de chá.
E fez bem, pois era só a ponta do iceberg. Em suas férias, o presidente Barack Obama desfilou com um exemplar do romance sob a axila. E disse do autor: “Ele é o cara!” (talvez esteja na hora de Obama virar o disco). A revista Time fez capa com o criador e a criatura, não regateando chiliques na manchete: “O Grande Romance Americano”. Vantagens de jogar em casa? Que nada. Do outro lado do Atlântico, o diário inglês The Guardian se derreteu todo e ronronou: “É o livro do século”. Os leitores brasileiros que anseiam por ver em carne e osso esse prodígio, podem ir desembainhando as suas Bics: Franzen já confirmou que vai bater ponto na Festa Literária de Paraty em 2012.
Antes de entrar no mérito de Liberdade, convém passar a pente fino aquele rótulo da Time – até para avaliarmos devidamente a dimensão da proeza. De que diabo falamos quando falamos do “Grande Romance Americano”? O termo surgiu num ensaioescrito pelo romancista da Guerra Civil Americana, John William de Forest, publicado em 9 de janeiro de 1888 – e se referia a um tipo de obra que conseguisse captar o sentimento e a psique tipicamente norte-americanos. A segunda metade do século 19 assinala não apenas a gênese dessa demanda (ou gincana) literária – são também outorgados os primeiros prêmios. De um lado, Mark Twain, com o seu As Aventuras de Huckleberry Finn, banhava a escrita da ex-colônia inglesa no realismo, no humor, no coloquialismo. Já em 1891, o crítico britânico Andrew Lang proclamou as lambanças de Huck e Tom Sawyer “o grande romance americano”. Do outro lado da barricada, dois escritores atormentados, doidinhos por sugestões simbólicas – e amigos do peito: Herman Melville (Moby Dick) e Nathaniel Hawthorne (A Letra Escarlate).
Moby Dick seria entronizado como clássico apenas em 1926, quando o ensaísta Lawrence Buell escreveu The Unkillable Dream of the Great American Novel: Moby Dick as a Test Case (em tradução livre, O Sonho Imortal do Grande Romance Americano: Moby Dick Como um Estudo de Caso). Como todo o símbolo que preste, a baleia Moby Dick era metafórica. Daí que até hoje exegetas e leitores gastem o seu latim jurando por Netuno que o animal representa a ânsia humana do Absoluto, ou aquilo a que os existencialistas chamavam de “a força das coisas”, ou um Santo Graal cetáceo. Menos, menos. Tendo em conta que o autor mobiliza mais de 100 páginas para descrever a técnica e a tecnologia da pesca à baleia, talvez seja simplesmente a maior história de pescaria de todos os tempos. Por sua vez, A Letra Escarlate, com uma ressonância quase gótica, ajuda o circo a pegar fogo ao introduzir um tema que se tornará longevo na literatura dos Estados Unidos, com múltiplos avatares: o puritanismo norte-americano.
ROL DE DESAVENÇAS
Mas é em 1925 que sai a síntese mais convincente das pulsões e poéticas que povoam a melhor literatura norte-americana: O Grande Gatsby, de Francis Scott Fitzgerald. Jay Gatsby é um anti-herói, contrabandista de bebidas. Mas o capitalista selvagem que tenta ser não passa de mera cascata: Gatsby torra toda a grana aos pés da sua idolatrada (e casada) Daisy, que o ignora. O protagonista acaba assassinado pelas costas por um crime que não cometeu (ele, que cometera tantos). O outdoor de uma ótica, como uns olhos que tudo veem, preside o romance – quem sabe a metáfora mais fecunda e inquietante da ficção norte-americana. Por outras palavras, Fitzgerald reconcilia momentaneamente as duas tendências acima mencionadas: a simbólica e a realista. Proeza digna de nota.
Para ter uma noção da vitalidade da literatura norte-americana, basta lembrar que, apenas quatro anos depois de Gatsby, desponta O Som e a Fúria, de William Faulkner. Com uma técnica modernista, brandindo numerosos pontos de vista (volta e meia, simultaneamente), Faulkner – no melhor estilo Balzac – coloniza todo um território imaginário, o condado de Yoknapatawpha. E inaugura um filão que dará pano para mangas: a temática do “Sul profundo”, com os fantasmas da Guerra Civil vivinhos da silva – tanto que chegam e sobram para puxar o pé (ou a mão) de escritoras tão admiráveis como Harper Lee, Flannery O’Connor e Tony Morrison. A partir daí, as correntes se espraiam em um dédalo de tendências. Se a trilogia USA, de John Dos Passos, e As Vinhas da Ira, de John Steinbeck, são demasiado esquemáticos e sentimentais, O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, e O Homem Invisível, de Ralph Ellison, correspondem à representação romanesca de alguns supremos arquétipos norte-americanos: a traumática perda da inocência e as vicissitudes do individualismo. É uma diversidade de temas queespelha a galopante complexidade da sociedade norte-americana. O que um judeu nova-iorquino tem em comum com um mórmon de Salt Lake City? Brotam não propriamente efusões regionais (os Estados Unidos não têm aquilo que no Brasil se intitula de “literatura regionalista”), mas testemunhos e experiências contrastantes.
Cheguemos a Liberdade. Como em As Correções, no âmago do romance estão três décadas de uma família e os seus satélites emocionais. Desta vez, são os Berglund: Walter (“o cara mais legal do Minnesota”), a sua mulher, Patty, e os filhos, Joey e Jessica. Gravita em redor deles Richard, um veterano astro do folk-rock, ex e futuro amor de Patty – os norte-americanos o descreveriam como um “frenemy” de Walter, contração de amigo (friend) com inimigo (enemy). Enfim, um amigo da onça.Walter, a aparente efígie da decência e da responsabilidade, tem um lado negro que é um verdadeiro breu. Saliva pela sua jovem secretária – tão jovem que Franzen a batiza de Lalitha, uma óbvia homenagemà ninfeta de Vladimir Nabokov. Pior: advogado ambientalista e um apaixonado por aves (o próprio Franzen é um inveterado observador de pássaros), ele trabalha para uma empresa carbonífera de alto teor poluente.Walter e Patty, rebentos de pais disfuncionais, fazem das tripas coração para criar os seus filhos com a melhor das intenções. Mas não conseguem evitar um rol de desavenças e amarguras entre todos osintegrantes da família.
ERROS FORAM COMETIDOS
Se As Correções se ocupava das relações familiares quando o autor ainda estava na faixa etária dos filhos, em Liberdade, Franzen, aos 51 anos, emparelha claramente com os pais – mas não forçosamente para vestir a camisa deles. O romance começa nos anos 1980 e avança aos ziguezagues até 2004 e depois até o presente. Geograficamente, transita de Saint Paul, no Meio-Oeste (o berço de Franzen), para a capital, Washington.Há mais paralelismos obra/autor: o músico Richard (o “artista” do livro), depois de uma ascese estética mais ou menos voluntária, tira o pé da jaca e alcança a notoriedade em 2001, o mesmo ano em que Franzen ganhou o National Book Award com As Correções e se tornou uma (talvez “a”) figurinha carimbada das letras norte-americanas. Richard e Jonathan se locupletam com a mesma idade: aos 40 anos. Patty é uma das criaturas mais poliédricas do romance, desenhada até a mais ínfima filigrana. O título do diário dela, uma das seções narrativas de Liberdade, diz tudo: Erros Foram Cometidos. Botem erros nisso. Ex-estrela do basquete universitário, uma típica princesa do Minnesota e indefectível imperatriz do seu bairro chique, a partir daí a vida de Patty vai ladeira abaixo – sem freios de pé ou de mão (e vem uma jamanta no cruzamento).
Liberdade revolve laboriosamente os conteúdos e significados de “juventude” e “maturidade”, liberalismo e libertarismo. Assim, embora o cenário do romance seja a mais completa tradução do livre-mercado, a sacrossanta palavra do título acaba por assumir um inopinado sentido semipejorativo. Franzen celebra implicitamente os valores da responsabilidade e da probidade e relativiza uma liberdade à moda da casa. Por exemplo, a liberdade de impingir ao mundo Bush ou Sarah Palin, ou de infestar o planeta com os McDonald’s da vida. É, erros foram cometidos. Aquilo que o romancista escreve sobre outro personagem também se aplica a Walter, o mocinho/bandido da história: “A personalidade suscetível de sonhar com uma liberdade ilimitada é uma personalidade igualmente propensa à misantropia e à ira”. Apesar de o enredo sugerir isso, Franzen transcende a sátira, por mais impagável e virótica que esta seja. Os personagens de Liberdade são muito mais do que fantoches hilários. E, se acabamos por conhecer o clã Berglund e sua constelação como a palma da mão, algo neles permanece enigmático e intangível. São seres humanos, prismáticos e camaleônicos, gente como a gente.
Liberdade, com mais de 600 páginas, ganhava com uma lipoaspiração, como fungaram alguns críticos? Talvez. Mas não choremos de barriga cheia. A humanidade, a destreza, o humor e a tristeza do autor (que em alguns momentos lembram os filmes de Frank Capra) compensam esses hipotéticos pneuzinhos. Antes sobrar que faltar. E antes as calorias de Liberdade do que a anorexia de forma e conteúdo de tantos romances que bruxuleiam por aí.

Paulo Nogueira é escritor e jornalista, autor do romance O Suicida Feliz, entre outros.

António Zambujo - estabelece o diálogo entre o fado e a bossa nova


Me senti como Moisés quando conversou com Deus

É assim que António Zambujo se refere aos elogios que recebeu de Caetano Veloso. O jovem cantor português vem se destacando pelo diálogo que estabelece entre o fado e a bossa nova
por Barbara Heckler
 
 
Quem se aferra à ideia de que um oceano separa o dramático fado da intimista bossa nova precisa ouvir António Zambujo. Dono de um timbre delicado, o jovem fadista vem chamando a atenção por reinventar um dos gêneros mais tradicionais de Portugal ao aproximá-lo da música brasileira, em especial da sonoridade que João Gilberto inaugurou. Os discos do intérprete alentejano não apenas abrem espaço para participações da sambista Roberta Sá ou de Zé Renato como também alternam canções de Baden Powell, Vinicius de Moraes, Antônio Maria e Ivan Lins com fados tão célebres quanto Nem às Paredes Confesso.
Já nas especulações sobre as origens do ritmo português, paira uma sombra dos trópicos. Quando, em 1821, a família do imperador dom João VI deixou o Rio de Janeiro e retornou à Europa, levou na bagagem o lundu, considerado por muitos o primeiro estilo musical afro-brasileiro. A cadência do lundu inspiraria o fado, do latim fatum, que quer dizer "destino". Mas tanto essa como outras teorias sobre o surgimento do gênero lusitano (há quem lhe atribua raízes árabes, por exemplo) carecem de provas mais concretas. O que realmente se sabe é que, de início, o fado se associava às tabernas e aos prostíbulos, principalmente os de Lisboa. Só em meados do século 20, o tipo popular, tocado com uma guitarra clássica e uma portuguesa, adentrou os salões aristocráticos.
Aos 35 anos, António Zambujo também impressiona por se destacar num universo em que as mulheres costumam imperar. A atriz e cantora lisboeta Amália Rodrigues (1920-1999) é ainda hoje o maior nome do gênero, dentro e fora de Portugal. Em 2008, assim que descobriu Zambujo, Caetano Veloso o elogiou com entusiasmo - entre outras razões, justamente pelo fato de uma voz masculina sobressair em seara tão feminina. "Há nele dois elementos (...) que compõem para mim um grande passo", escreveu no blog Obra em Progresso, "que seja um homem a cantar fado tão lindamente (...) e que o diálogo com a música brasileira se apresente tão orgânico, já não-pensado, já resultante de forças históricas que vêm se expandindo há décadas".
Em Guia, o quarto e mais recente álbum de Zambujo, tal diálogo se aprimora. O amor e a saudade, temas comuns tanto no fado como na bossa nova, são interpretados pelo alentejano não com o derramamento típico dos portugueses, mas com a serenidade de João Gilberto e seus herdeiros. De Lisboa, por telefone, o cantor luso deu uma entrevista a BRAVO!.

BRAVO!: Como você se interessou pelo fado?
António Zambujo: Foi algo natural. Quando menino, em 1980, não ouvíamos muito fado nas ruas. Só o escutávamos dentro da casa de familiares. Eram discos de Amália Rodrigues, a grande referência, além de Max e Francisco José. De tanto ouvi-los, acabei me apaixonando por algumas letras e alguns poemas cantados. Passei a cantá-los também, mas nunca em público. Cantava sempre com quem havia mais intimidade.
No entanto, logo cedo, aos 16 anos, você ganhou um concurso como fadista...
Ganhei, mas era um concurso só para as pessoas da região do Alentejo, e o prêmio não me trouxe nenhum fruto imediato. Continuei a minha vida em Beja, cidade onde nasci, com várias dúvidas sobre o que gostaria de fazer. Sabia que queria ser músico, mas ainda não sabia exatamente de que tipo. Apenas mais tarde é que me envolvi realmente com o fado e passei a cantá-lo pelos arredores de Beja. Até que recebi um convite para me apresentar duas vezes por semana em Évora. De lá, segui para Lisboa a convite de Mário Pacheco, o fundador do Clube de Fado (célebre restaurante no bairro de Alfama, onde se pode escutar o gênero ao vivo). Foi então que tomei mais consciência do estilo lisboeta de cantar. Quem pretende virar fadista deve passar pela capital do país, já que tudo começou ali.
De que modo os jovens viam o fado quando você era mais novo?
Não o viam com bons olhos. Consideravam-no uma música para velhos. Eu não sentia vergonha de interpretá-lo. Mas sabia que, se falasse sobre o assunto para os jovens da minha idade, eles ririam. Pura ignorância porque o gênero nos permite cantar os grandes poetas da língua portuguesa. A responsável por isso foi Amália Rodrigues, que deu outra dimensão ao fado quando interpretou Vaz de Camões, Pedro Homem de Mello e o próprio Vinicius de Moraes. Até então, as músicas falavam principalmente sobre o cotidiano de Lisboa e eram escritas por poetas populares e não por poetas eruditos. Ao lançar o álbum Com que Voz (1970), em que cantou grandes poemas da língua portuguesa, Amália modificou esse cenário. Aliás, o que solidificou sua carreira internacional foi justamente o cuidado com a escolha de repertório.
Quando o fado voltou a agradar aos jovens?
A partir de 1994, quando Lisboa foi considerada a Capital da Cultura pela União Europeia. Na época, o fado teve muito destaque e projetou diversos cantores, o que atraiu a atenção de um público mais amplo. Depois, a partir dos anos 2000, com a morte de Amália, houve outro boom do gênero e surgiram novos fadistas, como Mariza, que alcançou uma projeção imensa, inclusive no exterior. Toda vez que um disco dela chega às lojas de Portugal, ocupa imediatamente o primeiro lugar na lista dos mais vendidos. Fenômeno idêntico acontece com outros jovens intérpretes: o Camané, a Ana Moura e a Carminho. Acho importante para os moços terem acesso a artistas com os quais se identificam tanto pela faixa etária como pelos temas que cantam, sempre relacionados ao dia a dia.
Por que você coloca a morte de Amália Rodrigues como um marco?
Apesar de já existirem grandes fadistas jovens nos anos 90, o público em geral só passou a conhecê-los após o falecimento de Amália, em 1999. Ela exibia uma aura tão grande que acabava obscurecendo todo o resto... Depois de sua morte, é como se tivesse desentupido um cano, e outros fadistas puderam finalmente aparecer.
No que essa nova geração de intérpretes se diferencia das anteriores?
O fado é uma música que vive da improvisação, do que cada um de nós tem para dar. O que noto na minha geração é que os fadistas de qualidade não soam todos iguais. Cada intérprete possui influências muito particulares. É essa diferenciação que permite ao gênero atingir um público cada vez mais abrangente. Quem não gosta de minha abordagem pode gostar da abordagem de outro cantor.
Que fadistas da geração pós-Amália você aprecia?
Ricardo Ribeiro e Camané, entre os homens. Das mulheres, minhas preferidas são a Carminho e a Ana Moura, que se parece comigo por inserir no fado elementos de outros gêneros. Os demais têm um apego maior à tradição.
Quais são suas principais influências fora do universo fadista?
Eu trouxe do canto alentejano o meu modo de interpretar, o meu timbre. Já a minha voz, sem tanta dramaticidade nem vibratos, veio de mestres como Chet Backer, João Gilberto e Caetano Veloso. Sou reflexo daquilo que ouço.
Como você reagiu quando soube que Caetano o elogiou no blog Obra em Progresso?
Fiquei 45 minutos de boca aberta. Nunca imaginei que Caetano fosse me ouvir e muito menos que fosse escrever alguma coisa sobre mim. Quando li os comentários, me senti como Moisés quando Deus falou com ele.

http://bravonline.abril.com.br/materia/me-senti-como-moises-quando-conversou-deus



BRAVO!