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domingo, 20 de novembro de 2011

Âmbar (tá tudo assim queimando em mim)

Adriana Calcanhoto


TÁ TUDO ACESO EM MIM
TÁ TUDO ASSIM TÃO CLARO
TÁ TUDO BRILHANDO EM MIM
TUDO LIGADO
COMO SE EU FOSSE UM MORRO ILUMINADO
POR UM ÂMBAR ELÉTRICO
QUE VAZASSE NOS PRÉDIOS
E BANHASSE A LAGOA ATÉ SÃO CONRADO
E GANHASSE AS CANOAS

AQUI DO OUTRO LADO
TUDO PLUGADO
TUDO ME ARDENDO
TÁ TUDO ASSIM QUEIMANDO EM MIM
COMO SALVA DE FOGOS
DESDE QUE SIM EU VIM
MORAR NOS SEUS OLHOS

 
Maria Bethânia

Alibi


 Havia mais que um desejo
A força do beijo
Por mais que vadia
Não sacia mais
Meus olhos lacrimejam teu corpo
Exposto à mentira do calor da ira
No afã de um desejo que não contraíra
No amor, a tortura está por um triz
Mas gente atura e até se mostra feliz
Quando se tem o álibi
De ter nascido ávido
E convivido inválido
Mesmo sem ter havido, havido
Havia mais que um desejo.......


Ain't No Sunshine - Bill Withers

A celebração da vida

 

Naquele tempo não havia Internet. Nem as comunicações móveis estavam generalizadas. Nem dialogávamos por sms. A informação global mais instantânea que nos chegava diariamente vinha ainda de um ecrã de televisão, não de um computador: as emissões da CNN, que acompanhávamos com o maior interesse, transmitiam-nos notícias sobre o rescaldo da Guerra do Golfo, o processo de irreversível desagregação da União Soviética ou o precário equilíbrio de poderes na China pós-Tiananmen. Sabíamos de cor os nomes dos repórteres da CNN, tal como decorávamos os nomes de várias personagens de Twin Peaks, a série de David Lynch que pouco antes havia assombrado toda uma geração de telespectadores, ou de X-Files, o grande êxito mundial seguinte.
E que mais? Vasco Rocha Vieira dava os primeiros passos à frente do Executivo de Macau e um tal Bill Clinton, governador do minúsculo estado do Arkansas, anunciava a intenção de concorrer à Casa Branca. Em Portugal, Basílio Horta assumia-se como o candidato presidencial mais à direita de sempre nas eleições de 1991, enfrentando o seu rival Mário Soares com uma questão incómoda: a das supostas irregularidades no processo de concessão do aeroporto de Macau. Vinham ainda muito longe os tempos em que o ex-secretário-geral do CDS se distinguiria como protagonista da bancada do PS nos debates parlamentares em São Bento.
O mundo estava perigoso, alertavam alguns oráculos. Sem imaginarem, há vinte anos, que se vivia então um dos tempos áureos de paz e prosperidade que o planeta em geral -- e o mundo ocidental em particular -- conheceram desde sempre. Ninguém falava então em crise sistémica, em tirania dos mercados, em recessão global. Éramos mais jovens e muito mais felizes, embora sem o saber, como diria Hemingway no final dos anos 50, aludindo aos dias solares que viveu em Paris, na década de 20. Também uma década de transição. Uma década de bonança antes da tempestade.
Alguns de nós podemos hoje orgulhar-nos de ter feito jornalismo numa época que mais tarde será recordada como tempo de pioneiros. Nós, os membros dessa vasta tribo do jornalismo pré-digital. Em que o acesso às fontes era mais difícil, a confirmação de factos não podia concretizar-se com um simples clique num rato, os modems e os telefones de satélite ainda tinham uma aura de ficção científica e o papel impresso parecia quase tão eterno como na geração de Guttenberg. Eram tempos agitados -- mas, paradoxalmente, mais calmos do que os de hoje, em que a tecnologia que devia facilitar-nos o quotidiano acaba por constituir uma nova espécie de escravatura. Tempos em que havia mais vagar para o convívio, para o ócio que estimula a criatividade, para a conversa de circunstância que permitia cimentar amizades que nunca acabam.
Orgulho-me de ter feito parte desta geração de pioneiros. E dessa época em que, fechada a edição do Ponto Final já de madrugada, no 17º andar do edifício Si Toi, contemplávamos as luzes e as águas plácidas do Porto Interior antes de rumarmos noite fora em celebração da vida.
E o que é o jornalismo senão isto -- a celebração da vida?

por Pedro Correia
Publicado no jornal Ponto Final, de Macau -- fundado há 20 anos. Imagem: a península de Macau em 1991 (foto do blogue Macau Antigo)

Leituras

Democracia
Fui dar com a democracia embalsamada, como
o cadáver do Lenine, a cheirar a formol e aguarrás,
numa cave da Europa. Despejavam-lhe por cima
unguentos e colónias, queimavam-lhe incenso
e haxixe, rezavam-lhe as obras completas do
Rousseau, do saint-just, do Vítor Hugo, e
o corpo não se mexia. Gritavam-lhe a liberdade,
a igualdade, a fraternidade, e a pobre morta
cheirava a cemitério, como se esperasse
autópsias que não vinham, relatórios, adêenes
que lhe dessem família e descendência. Esperei
que todos saíssem de ao pé dela, espreitei-lhe
o fundo de um olho, e vi que mexia. Peguei-lhe
na mão, pedi-lhe que acordasse, e vi-a tremer
os lábios, dizendo qualquer coisa. Um testamento?
a última verdade do mundo? «Que queres?»,
perguntei-lhe. E ela, quase viva: «Um cigarro!»

(Nuno Júdice, Democracia, in A Matéria do Poema, Dom Quixote)
 

Hurt - Johnny Cash

Quase toda a gente...

 
 
... paga ao Fisco mais impostos do que aquilo
que consegue levar para casa.
Mas ponham-se a inventar mais taxas camarárias
e vão ver o que é trânsito caótico.


por João Carvalho
 
 

A Galopar - va por España y por su puro talento

O Beijo da Benetton

Por cierto hoy no es el Día de los Inocentes pero podría serlo… ¿Qué opináis de estas fotos? ¿Los reconocéis? Está claro que Italia ha decidido ser el país protagonista del mes, y los besos de los que se han ido por la puerta de atrás y de esta nueva campaña de Benetton, han dado de qué hablar.
Hacía mucho que un beso no levantaba tantas ampollas e incluso provocaba una reacción del Vaticano. Ummmmmm yo tengo claro a quién pondría en España besándose y tocándose las barbas… eso sí que es un sueño



http://blog.hola.com/fionaferrer/



ALL MY LOVING - AMY WINEHOUSE


Noite feliz - Danuza Leão


Danuza Leão(Foto: Nana Moraes)
 é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras)

Aperte os cintos: foi dada a partida para a temporada de festas de fi m de ano. E você, já tomou alguma providência para o Natal? Já sabe onde vai passar o seu? Os casamentos foram vários e, com filhos de alguns maridos (sendo que eles já vieram com filhos de outros tantos casamentos), reunir a família virou tarefa impossível. E ter que arrumar presente para o meio-irmão de seu filho, com o qual você não tem nada a ver, é justo? Esses são problemas do mundo moderno, absolutamente corriqueiros e sem solução.
Mas tem ainda pior: é quando os filhos já cresceram, estão no segundo casamento e tiveram filhos com as duas mulheres, que também vinham de outros relacionamentos e traziam as respectivas crianças. Ah, assim não dá para organizar. E você, mãe ou avó dessa família tão maravilhosa e tão moderna, pode me dizer como pretende passar a noite feliz de 24 de dezembro? E os presentes? Sempre, na hora de comprar, há o plano de encontrar aquela coisa especial que vai agradar plenamente ao presenteado - mais uma ilusão. De casa em casa, os mimos vão sendo recolhidos em uma grande sacola e, no dia seguinte, ninguém tem a mais vaga idéia do que recebeu de quem. Aliás, presente de Natal é exatamente para isso. Então, qual a solução? E por acaso existe alguma?
Se resolver fazer uma ceia tradicional com direito a árvore e pacotes, será impossível saber com quantas pessoas vai contar. Afi nal, são tantas as famílias, sogras e ex-sogras que terão que ser visitadas que o risco é que cada um passe dez minutos em cada casa (inclusive na sua). E tem maior deprê do que, depois de tanto trabalho - para quase nada -, na hora de ir para a cama ver a sala toda desarrumada, a mesa com as travessas quase intocadas, sabendo que a empregada só virá dois dias depois? Ah, um problema esse tal de Natal. Se você for uma mulher resolvida e não se importar absolutamente com sua reputação diante da família e do péssimo exemplo que vai dar, uma boa idéia é reservar uma passagem para bem longe, embarcando na noite de 24. É claro que todos vão se sentir desamados, achar que você é uma mãe e avó desnaturada e que todas as neuroses da família aconteceram por sua causa. Você detestaria carregar essa culpa pela vida? Então fique, e prepare-se.
E, já que fi cou, faça as coisas bem feitas para descontar os Natais que passou com a família olhando para o relógio, esperando que as crianças caíssem no sono para sair e encontrar o namorado. Esteja pronta para a qualquer momento - geralmente dia 23 - seu filho adorado dizer que resolveu passar a noite de Natal no Caribe ou no sítio da nova sogra. Se você pular na carótida dele, vai aparecer no jornal da TV como exemplo de violência materna, logo na véspera do dia 25 de dezembro; por isso, contenha-se. Mas só por isso.
Há uma última solução: vá jantar num ótimo restaurante, bem cedo, tipo 8 da noite, mesmo que esteja inteiramente só. Quando chegar em casa, ligue a televisão e tome um sonífero - leva só 20 minutos para fazer efeito. Mas providencie a receita já: como se sabe, todos os médicos viajam no Natal. Como cada caixa vem com 20 comprimidos, dê os 19 que vão sobrar a 19 amigos, que vão ficar muito mais felizes do que se recebessem uma carteira de presente. E dia 25 acorde cedo pensando, com alívio: já passou.