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domingo, 20 de novembro de 2011

Noite feliz - Danuza Leão


Danuza Leão(Foto: Nana Moraes)
 é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras)

Aperte os cintos: foi dada a partida para a temporada de festas de fi m de ano. E você, já tomou alguma providência para o Natal? Já sabe onde vai passar o seu? Os casamentos foram vários e, com filhos de alguns maridos (sendo que eles já vieram com filhos de outros tantos casamentos), reunir a família virou tarefa impossível. E ter que arrumar presente para o meio-irmão de seu filho, com o qual você não tem nada a ver, é justo? Esses são problemas do mundo moderno, absolutamente corriqueiros e sem solução.
Mas tem ainda pior: é quando os filhos já cresceram, estão no segundo casamento e tiveram filhos com as duas mulheres, que também vinham de outros relacionamentos e traziam as respectivas crianças. Ah, assim não dá para organizar. E você, mãe ou avó dessa família tão maravilhosa e tão moderna, pode me dizer como pretende passar a noite feliz de 24 de dezembro? E os presentes? Sempre, na hora de comprar, há o plano de encontrar aquela coisa especial que vai agradar plenamente ao presenteado - mais uma ilusão. De casa em casa, os mimos vão sendo recolhidos em uma grande sacola e, no dia seguinte, ninguém tem a mais vaga idéia do que recebeu de quem. Aliás, presente de Natal é exatamente para isso. Então, qual a solução? E por acaso existe alguma?
Se resolver fazer uma ceia tradicional com direito a árvore e pacotes, será impossível saber com quantas pessoas vai contar. Afi nal, são tantas as famílias, sogras e ex-sogras que terão que ser visitadas que o risco é que cada um passe dez minutos em cada casa (inclusive na sua). E tem maior deprê do que, depois de tanto trabalho - para quase nada -, na hora de ir para a cama ver a sala toda desarrumada, a mesa com as travessas quase intocadas, sabendo que a empregada só virá dois dias depois? Ah, um problema esse tal de Natal. Se você for uma mulher resolvida e não se importar absolutamente com sua reputação diante da família e do péssimo exemplo que vai dar, uma boa idéia é reservar uma passagem para bem longe, embarcando na noite de 24. É claro que todos vão se sentir desamados, achar que você é uma mãe e avó desnaturada e que todas as neuroses da família aconteceram por sua causa. Você detestaria carregar essa culpa pela vida? Então fique, e prepare-se.
E, já que fi cou, faça as coisas bem feitas para descontar os Natais que passou com a família olhando para o relógio, esperando que as crianças caíssem no sono para sair e encontrar o namorado. Esteja pronta para a qualquer momento - geralmente dia 23 - seu filho adorado dizer que resolveu passar a noite de Natal no Caribe ou no sítio da nova sogra. Se você pular na carótida dele, vai aparecer no jornal da TV como exemplo de violência materna, logo na véspera do dia 25 de dezembro; por isso, contenha-se. Mas só por isso.
Há uma última solução: vá jantar num ótimo restaurante, bem cedo, tipo 8 da noite, mesmo que esteja inteiramente só. Quando chegar em casa, ligue a televisão e tome um sonífero - leva só 20 minutos para fazer efeito. Mas providencie a receita já: como se sabe, todos os médicos viajam no Natal. Como cada caixa vem com 20 comprimidos, dê os 19 que vão sobrar a 19 amigos, que vão ficar muito mais felizes do que se recebessem uma carteira de presente. E dia 25 acorde cedo pensando, com alívio: já passou.

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