O que faz nascer uma amizade imorredoura? O que move uma paixão desmedidamente extraordinária dentro de nossos humanos corações? O que nos leva a gostarmos tão intensamente de uma pessoa, por vezes tão diversa de nós?
Montaigne, Chico Buarque e o Amor que não pede explicações
“O que tem de ser tem muita força, tem uma força enorme”
— João Guimarães Rosa, no livro “Grande Sertão: Veredas”.
– por Paulo Setúbal
O que faz nascer uma amizade imorredoura? O que move uma paixão desmedidamente extraordinária dentro de nossos humanos corações? O que nos leva a gostarmos tão intensamente de uma pessoa, por vezes tão diversa de nós? Ou a nos apaixonarmos perdidamente por alguém e mantermos com esse alguém um relacionamento que, no dizer do Poetinha, enquanto dura infinito é.
Amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos, veem essa relação vivida com olhos de quem assiste a algo em que a lógica se volatiliza e se lhes escapa, algo improvável, indefinível, pleno de estranheza, difícil de ser decodificado, entendido, assimilado. Para desvendar esse mistério, buscando um satisfatório entendimento disso, Chico Buarque – compositor, cantor, dramaturgo e escritor – foi buscar a melhor definição nos ensaios de Michel de Montaigne, o célebre escritor, humanista e filósofo da França. Chico conta em um vídeo que Montaigne, por ser insistentemente questionado sobre o porquê de sua mais que imensa e eterna amizade por outro humanista e filósofo francês, Étienne de La Boétie, cuja morte precoce o levou a escrever o ensaio “Da amizade”, Montaigne disse apenas que gostava dele e ponto. Quinze anos mais tarde, revendo o que escrevera, o escritor acrescentou que gostava do grande amigo “porque era ele”. Outros quinze anos depois fez mais um acréscimo à frase, completando-a definitivamente: “porque era ele, porque era eu”. Chico entendeu como simples porem perfeita a definição dada por Montaigne.
Achando que ela também era perfeita para definir a paixão, o amor que sentimos por outro alguém, dela se valeu para compor uma música feita para a trilha sonora do filme brasileiro A máquina, do diretor João Falcão. A essência do que definiu Montaigne está no nome da música: “Porque era ela, porque era eu”. Maravilhoso, formidável Montaigne. Maravilhoso, formidável Chico Buarque.
“A areia do deserto é para o viajante cansado a mesma coisa que a conversa incessante para o amante do silêncio.”
– Provérbio persa
Afortunadamente, o silêncio exerce o efeito oposto em nosso cérebro. Enquanto o ruído causa tensão e estresse, o silêncio tem um efeito curador e relaxante.