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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Let's Get Lost - Chet Baker

Não há silêncio que não termine

 


"Si no se saben mis palabras
no dudes que soy el que fui.
No hay silencio que no termine.
Cuando llegue el momento, espérame,
y que sepan todos que llego
a la calle con mi violín"

Neruda

De existir

 

Antes de ir embora, eu toquei sua mão como um adolescente que encosta o dedinho na mão amada no escuro do cinema torcendo para que ela não desencoste. Se ela deixasse, sinal verdade. A permanência, ainda que completamente imóvel, era a mais vigorosa declaração de amor.

Ela me olhou bem fundo e durante aquela que foi sua única frase na noite, o toque se tornou um carinho afetuoso. Ela disse com a convicção de quem não tem nada a perder, sede de tudo ganhar.

- Eu nunca desisto do que ainda não existe.
 
 
 

Saúde

Pesquisa pode ajudar a prever quais casos de câncer de mama irão gerar metástases


Estudo estabeleceu uma nova maneira de mapear a doença e deve tornar possível descobrir se ela atingirá outras partes do corpo

Atualmente, parte significativa dos estudos sobre câncer é conduzida testando o efeito de medicamentos em tecidos humanos cultivados em laboratórios. Essas pesquisas tentam definir modelos confiáveis que reproduzam o funcionamento de tratamentos em seres humanos. Pesquisadores do Instituto de Câncer de Huntsman, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, deram um passo à frente neste campo. Eles descobriram uma nova e mais precisa maneira de estudar, em laboratório, o câncer de mama. A descoberta pode se tornar uma importante ferramenta para que médicos prevejam quando, e como, o câncer de mama irá se espalhar, além de ajudar em novas maneiras de testar drogas capazes de parar a propagação. Os resultados foram publicados nesta segunda-feira no site do periódico Nature Medicine.
No estudo, os pesquisadores inseriram tecidos de pacientes com câncer de mama diretamente nas glândulas mamárias de ratos. Essa abordagem foi diferente das tradicionais, que costumam estudar culturas de células cancerígenas desenvolvidas em laboratório.
Os resultados demonstraram que os enxertos de tecido nos animais se comportaram de maneira praticamente idêntica aos presentes em humanos, tanto em estrutura quanto composição genética. Pesquisas anteriores, baseadas em culturas de células, ainda não haviam demonstrado tal semelhança. "O resultado mais surpreendente foi que o tumor inserido se espalhou da mesma maneira como o fez em pacientes humanos", diz a principal autora do estudo, professora assistente do Departamento de Ciência Oncológica da Universidade de Utah, Alana Welm. “Por exemplo, tecidos de tumor de pacientes cujo câncer havia se espalhado para o pulmão também atingiram os pulmões dos ratos que os receberam”.
A maioria das mortes por câncer de mama é resultado de tumores que se espalham para outras partes do corpo, como o sistema linfático, pulmões, fígado, ossos ou o cérebro. Os resultados dessa pesquisa revela seu potencial para, logo após um diagnóstico, identificar se o tumor tem potencial para se espalhar, ajudando os médicos a selecionar os tratamento mais eficientes. "Também há um potencial de desenvolver modelos similares para outros cânceres usando esse método", diz Welm. Segundo as pesquisadora, seu grupo já está trabalhando nisso com tecidos de câncer de colo.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o segundo câncer mais comum do mundo e o mais prevalente entre as mulheres. Ainda de acordo com o Inca, a sobrevida média mundial após cinco anos de câncer é de 61%, sendo uma mortalidade ainda alta, já que a doença costuma ser diagnosticada em estágios mais avançados. O Instituto constatou mais de 49 mil novos casos da doença no último ano no Brasil.



 

Amor em SP – Caetano Veloso

Toda essa exuberância de interações me pôs num estado que tem muito de vontade de morar em São Paulo

Vejo a cara de Criolo que olha para mim antes de andar até o microfone. Estamos no escuro esperando a deixa para começarmos nosso número. MV Bill é quem nos anuncia no VMB. Essa festa de premiação é o B do VMA? Enquanto espero, vejo Bento Ribeiro e acho que Tatá Wernek num telão: eles atuam num outro palco que parece ficar a quilômetros do que Criolo e eu ocupamos. Bill, Bento e Tatá, três cariocas em Sampa — e eu e Criolo cantando “Não existe amor em SP”. São Paulo está cheio de amor. Eu tinha feito o ensaio com uma segurança que me surpreendeu. Na hora H, nervoso e emocionado, quase me perco nas palavras e nas notas. Nos corredores e camarins, pude falar com Erasmo (grande momento: toda a nossa atividade em Sampa nos anos 60 veio à cabeça), Arnaldo Antunes, Mallu Magalhães, Tulipa, Tiê… Queria poder ter falado com os humoristas da MTV (Dani Calabresa, Marcelo Adnet, Tatá e, sobretudo, Bento, que não vejo pessoalmente desde sua puberdade).

Penso na chegada da MTV ao Brasil, com Deborah Cohen organizando e dirigindo. Foi Deborah, amiga com quem já trabalhei em viagens internacionais, uma americana que fala português
muito bem (e francês perfeito), quem, logo antes de o canal ser lançado ao público, me fez a pergunta: “Você acha que devemos pronunciar Emtivi, à inglesa, ou Emetevê, dizendo o nome das letras na pronúncia portuguesa?” E eu respondi sem hesitar: “Emetevê.” Nunca me ocorreu dizer agá-bê-ó em vez de eitch-bi-ou ao me referir à HBO, mas sempre achei que MTV é parente de Fenemê, entra natural na fala brasileira. Mas é claro que Deborah perguntou a outras pessoas e suponho que todas estavam loucas para simplesmente repetir o nome em inglês da emissora (só anglófilosamericanófilos estavam a par da existência de tal canal de TV). Havia até aquela canção do Dire Straits (por vezes acusada de sexista, racista e homofóbica), “Money for nothing”, em que Sting (como artista convidado ) repete (com a melodia de “Don’t stand so close to me”) o grito “I want my MTV”. Mas eu decidi me manter fiel à minha decisão declarada a Deborah.

Eu adorava “clips” (que é como os brasileiros chamam, em inglês, o que os americanos chamam simplesmente de “video”, como uma abreviatura de “music video”). Ainda gosto. Em horas mortas a emissora ainda os exibe, se bem que a nova direção tem tendido a fazer da MTV uma estação mais musical. Mas eu adoro os humoristas. Assisti a inúmeros VMBs. Foi lá que conheci Mano Brown. Os amigos de meu filho de 14 anos não acreditavam quando eu dizia que já tinha falado com Mano Brown e que ele tinha sido muito amável — tendo inclusive me pedido para ir até a mesa em que estava sentado para me apresentar a sua mulher: os adolescentes da Zona Sul (no que se igualam aos da Zona Norte e aos das favelas) têm Brown como um semideus, um líder inatingível. Pois, na noite em que acabara de ensaiar com Criolo na MTV, anteontem, Brown me convidou para assistir a Boogie Naipe, um projeto paralelo que ele toca com amigos de dentro, de fora, de perto e de longe do quarteto dos Racionais. Ice Blue está com ele sobre o palco. Cantores e rappers (Helião, Lino Krizz, Vanessa Jackson, Flora Matos, Terra Preta), DJs (Sing e CIA) e dançarinos (com as caras pintadas de branco, em reconhecimento à importância que teve Marcel Marceau na criação da break dance) — e Seu Jorge. Este é, em muitos sentidos, um caso à parte: é o único instrumentista dentre os artistas presentes, e sua linguagem corporal é tão carioca (ele usava uma camisa onde se lia “Menino do Rio”) que o estilo paulistano da black music (com muito de disco) do coletivo fica ressaltado em sua precisão, inocência e originalidade. Não era a primeira vez que eu via esse bando em ação. Justamente para levar Tom e seus incrédulos amigos para ver o líder dos Racionais, fui ao Centro do Rio assistir a uma apresentação do Boggie Naipe, pouco menos de um ano atrás. Tal como agora em São Paulo, vimos um Brown sorridente, em quase nada semelhante
em atitude ao sisudo frontman dos Racionais MCs, muito soul, disco, funk, Seu Jorge e tudo o mais. Os amigos de Tom ficaram impressionados com a costumeira amabilidade do Mano em relação a mim (aliás, ele foi muito mais formal com os meninos do que comigo: educado, não fing e i n t i m i d a d e com quem não tem, embora demonstre calor com quem já conhece e a quem já deu mostras de amizade).

Tal como tinha acontecido no Rio, Mano Brown me chamou para que subisse ao palco e cantasse “Sampa”. Como todos sabem, é a canção que anuncia que São Paulo, uma vez chamada de “túmulo do samba”, é futuro quilombo de Zumbi, o que pôde ser tomado como uma profecia do nascimento de coisas como os Racionais. Depois de ter ensaiado “Não existe amor em SP” com Criolo (que Fernando Salem observou que tem parecença física com Diogo Nogueira), toda essa exuberância de interações (de Tatá Wernek a Terra Preta) me pôs num estado de ânimo que tem muito de vontade de morar em São Paulo, saudade do tempo em que vivi aqui, esperanças na união de forças das novas gerações de paulistas e cariocas (o eixão Rio- Sampa existe e não deve ser demonizado, embora Fábio Cascadura seja um dos melhores cantores que o rock, o Brasil, já teve e mora na B a h i a , e n q u a n t o o f i n o Glauber Guimarães está em Sampa produzindo mas ainda não reprofissionalizado), um flash do enfrentamento dos Browns, Carlinhos e Mano, um sentimento da força do pop, com o Brasil nele.


Steve Jobs and his biological father - Short encounter



In an interview with "60 Minutes" on Sunday evening, Steve Jobs' biographer Walter Isaacson revealed that the Apple founder actually did meet his biological father face-to-face once--even though neither man realized it at the time.
The intensely private Jobs sought out his biological mother and sister in the mid 1980s, saying that he felt something was missing from his life. He became very close with his biological sister, the novelist Mona Simpson. But he decided he didn't want to meet his father, Abdulfattah Jandali, who had left his mother when Mona was still young. (The couple gave Jobs up for adoption when they were both in graduate school.)
"I learned a little bit about him, and I didn't like what I learned," Jobs says in new audio recordings released by Isaacson. "I asked her to not tell him that we'd ever met and not tell him anything about me."
But it turns out they had already met, even though neither man realized it. When Mona Simpson tracked down Jandali, he told her about a restaurant he used to manage in Silicon Valley that was very popular. "Everybody used to come there, even Steve Jobs used to come there," he told her. "He was a great tipper." Simpson was shocked, but didn't reveal that Jobs was Jandali's son.
"I remember meeting the owner who was from Syria, and it was most certainly him, and I shook his hand and he shook my hand and that's all," Jobs told Isaacson.
Jandali, now 80, said he sent Jobs' birthday emails after he found out he was his father, and claims that one time he received a response that just said "Thank you."

Jobs tears into Google in upcoming biography



Anger over percived theft of iPhone ideas like a beyond the grave call for 'jihad' says one observer



Google can only hope that Steve Jobs' final vendetta doesn't haunt the Internet search leader from his grave.
The depths of Jobs' antipathy toward Google leaps out of Walter Isaacson's authorized biography of Apple's co-founder. The book goes on sale Monday, less than three weeks after Jobs' long battle with pancreatic cancer culminated in his Oct. 5 death. The Associated Press obtained a copy Thursday.
The biography drips with Jobs' vitriol as he discusses his belief that Google stole from Apple's iPhone to build many of the features in Google's Android software for rival phones.
It's clear that the perceived theft represented an unforgiveable act of betrayal to Jobs, who had been a mentor to Google co-founders Larry Page and Sergey Brin and had welcomed Google's CEO at the time, Eric Schmidt, to be on Apple's board.
Jobs retaliated with a profane manifesto during a 2010 conversation with his chosen biographer. Isaacson wrote that he never saw Jobs angrier in any of their conversations, which covered a wide variety of emotional topics during a two-year period.
After equating Android to "grand theft" of the iPhone, Jobs lobbed a series of grenades that may blow a hole in Google's image as an innovative company on a crusade to make the world a better place.
"I will spend my last dying breath if I need to, and I will spend every penny of Apple's $40 billion in the bank, to right this wrong," Jobs told Isaacson. "I'm going to destroy Android because it's a stolen product. I'm willing to go to thermonuclear war on this. They are scared to death because they know they are guilty."
Jobs then used a crude word for defecation to describe Android and other products outside of search.
Android now represents one of the chief threats to the iPhone. Although iPhones had a head start and still draw huge lines when new models go on sale, Android devices sold twice as well in the second quarter. According to Gartner, Android's market share grew 2 1/2 times to 43 percent, compared with 17 percent a year earlier. The iPhone's grew as well, but by a smaller margin — to 18 percent, from 14 percent.
Both Google and Apple declined comment to The Associated Press when asked about Jobs' remarks.
 
Jobs' attack is troubling for Google on several levels.
It suggests that Apple, which has pledged to be true to Jobs' vision, may try to derail Android in court, even if Google obtains more patent protection through its proposed $12.5 billion acquisition of phone maker Motorola Mobility Inc. The derision comes across as a bitter pill for Page and Brin, who have hailed Jobs as one of their idols. It also appears to contradict Schmidt's repeated assertions that he remained on friendly terms with Jobs even after he resigned from Apple's board in 2009.
Most of all, Google should be worried whether the Android brand is damaged by the withering criticism of a revered figure whose public esteem seems to have risen as friends, colleagues and customers paid tribute over the past few weeks.
"The words of cultural icons have a lot of power after death," veteran technology analyst Rob Enderle said. "This almost sounds like a spiritual leader declaring a jihad on Android as his dying wish."
Apple fans tend to be fiercely loyal, making it more feasible to envision an anti-Android movement taking shape like some kind of political protest, Enderle said.
It's also possible that Jobs' criticisms of Google may be seen as hypocritical. That's because some of Apple's computing breakthroughs were based on technology developed by others. The Mac's easy-to-use interface and its mouse controller, for instance, came out of Xerox Corp.
The bitter divide between two of the most beloved and successful technology companies would have seemed inconceivable a few years ago.
In 2006, Google and Apple were on such friendly terms that Jobs welcomed Schmidt to Apple's board of directors with these words: "Like Apple, Google is very focused on innovation and we think Eric's insights and experience will be very valuable in helping to guide Apple in the years ahead," Jobs said.
But in 2008, a year after the iPhone came out, Google unveiled plans to release Android as a free software system that phone makers can use to make devices that compete with the iPhone. Jobs was so infuriated that he went to Google's Mountain View headquarters — about nine miles from Apple's Cupertino office— to try to stop the project, according to the biography.
Jobs' persuasive powers failed to sway Google's leaders.
Now, more than 550,000 devices running on Android are being activated each day. Apple, meanwhile, sold about 3 million fewer iPhones than anticipated in the July-September quarter, contributing to a sharp drop in the company's stock. The newest Android challenger to the iPhone, the Galaxy Nexus from Samsung, is scheduled to go on sale next month.
 
Although there's no indication in the book that he ever forgave Google, Jobs set aside his disdain for the company long enough to counsel Page nine months ago, according to the biography.
After Google's Jan. 20 announcement that Page would replace Schmidt as CEO in April, Page called Jobs for some pointers. Jobs told Isaacson that his first instinct was to reject Page with a curt expletive, but he reconsidered as he recalled his times as a young entrepreneur listening to the advice of elder Silicon Valley statesmen including Bill Hewlett, co-founder of Hewlett-Packard Co.
Jobs didn't mince words when Page arrived at Jobs' Palo Alto home. He told Page to build a good team of lieutenants. In his first week as Google's CEO, Page reshuffled his management team to eliminate bureaucracy. Jobs also warned Page not to let Google get lazy or flabby.
"The main thing I stressed was to focus," Jobs told Isaacson about his conversation with Page. "Figure out what Google wants to be when it grows up. It's now all over the map. What are the five products you want to focus on? Get rid of the rest because they're dragging you down. They're turning you into Microsoft. They're causing you to turn out adequate products that are adequate but not great."
Page has shut more than 20 Google products and services in his first six months as Google's CEO as part of an effort to "put more wood behind fewer arrows." It was the type of discipline Jobs instilled on Apple when he returned in 1997 after a dozen years of exile. Jobs killed such products as the Newton handheld device and the PC clones that were allowed to run on Apple's operating system.
It still remains to be seen whether Jobs' words of wisdom or his grievances will leave a bigger imprint on Google.

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Livros

Biografia revela afetos e desafetos de Steve Jobs

Bill Gates, Barack Obama, Tim Cook estão na lista do criador da Apple

Divulgação
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Steve Jobs (Companhia das Letras; tradução de Denise Bottmann, Pedro Maia Soares e Berilo Vargas; 624 páginas; 50 reais)

A biografia de Steve Jobs, escrita pelo jornalista Walter Isaacson e lançada em 18 países nesta segunda-feira, traz informações fundamentais para compreender a vida do criador da Apple, que sempre manteve discrição sobre sua vida privada e também sobre detalhes de seu negócio. O livro Steve Jobs revela, por exemplo, a ira que o executivo cultivava em relação ao Google, devido à lançamento do sistema operacional Android, que, na visão dele, violaria patentes pertencentes à Apple.
Leia o primeiro capítulo da biografia oficial de Steve Jobs, escrita pelo americano Walter Isaacson
Especial: Steve Jobs e Apple
Bill Gates, outro importante nome do mercado, também é citado. Segundo Jobs, o bilionário fundador da Microsoft não passava de uma pessoa sem imaginação, acostumada a copiar a ideia dos outros. Para o ex-CEO da Apple, Gates seria alguém mais aberto às inovações se tivesse usado LSD ou realizado uma viagem espiritual na juventude, o que fez o próprio Jobs.
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, encontrou Jobs em 2010. Além de dar conselhos econômicos ao chefe de estado, o executivo se ofereceu para ajudar em sua campanha política à reeleição, em 2012. Pode-se imaginar que Obama, mergulhado em problemas políticos e econômicos, de fato precisaria da ajuda de um homem de visão como Jobs.
Outra revelação que está no livro: Tim Cook, atual CEO da Apple, não foi escolhido pelo antecessor. No entanto, foi o próprio criador da companhia quem informou Cook que ele era o eleito, uma decisão tomada pelo conselho diretor da empresa. Jobs comunicou a promoção a Cook por telefone.
Conhecido por seu perfeccionismo, Jobs contou ao biógrafo uma passagem curiosa. Certa vez, foi vaiado pelos funcionários da Apple, que tanto o admiravam, por propor que todos usassem uniformes. A ideia surgiu ao fazer uma visita às instalações da Sony, no Japão, onde os colaboradores adotavam uma vestimenta padrão. Na mesma época, Jobs pediu a Issey Miyake, designer japonês, que criasse um uniforme para ele. Dali, saiu a indefectível blusa preta de gola rolê, acompanha por calça jeans e tênis.
Jobs fez questão de explicar por que decidiu contribuir com Isaacson, concedendo-lhe quase cinquenta entrevistas e revelando bem mais detalhes sobre a vida íntima do que costumava. O objetivo, revelou um Jobs já bastante enfraquecido pelo câncer no pâncreas que o vitimaria, era mostrar aos filhos quem era, o que fizera em vida e, especialmente, por que fizera. Queria tambem explicar por que, em alguns momentos, esteve ausente da vida deles. O trabalho o consumia.
Livro - Isaacson, ex-presidente da CNN e ex-editor executivo da revista Time, dedicou dois anos à produção biografia. Escrita a pedido do executivo, o material não sofreu qualquer interferência por parte do biografado, que preferiu não ter acesso à obra antes de sua publicação. Para a apuração, Isaacson conversou com uma centena de amigos, parentes, ex-namoradas, concorrentes, adversários e colegas de Jobs.

http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/biografia-revela-afetos-e-desafetos-de-steve-jobs

teus olhos


Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são
teus olhos
Não quero dormir
sem teus olhos.
Não quero ser...
sem que me olhes.
Abro mão da primavera para
que continues me olhando.



Mulher Cabeça - A neurocientista Suzana Herculano explica

Enquanto você dorme, come, faz sexo ou trabalha ligada no automático, seu cérebro pondera decisões, julga, justifica. Se não fosse sua função non-stop, mulheres não teriam tanta facilidade em encontrar a saída de um shopping nem achariam lindo homem grisalho. Aos 38 anos, a neurocientista explica o que acontece dentro de nossa cabeça – e da dela – enquanto simplesmente vivemos


Você sabe o que acontece em seu cérebro quando está apaixonada? Tem ideia do que, de fato, faz você levantar da cama diariamente? Ou ainda: conhece as reais diferenças entre o cérebro feminino e o masculino? Suzana Herculano-Houzel tem respostas para todas essas perguntas. Ou, pelo menos, dúvidas melhores. A neurocientista virou referência no Brasil por traduzir para o público leigo as descobertas de sua ciência. Muito além de doenças e tratamentos, ela fala sobre o funcionamento de nosso cérebro na vida cotidiana, como o que acontece quando nos perdemos dentro de um shopping, nos deprimimos ou tomamos decisões. “Acho que a vocação da ciência é de autoajuda, no sentido de desenvolvimento pessoal, de ter informações para viver melhor”, resume ela.

Aos 38 anos, Suzana é autora de seis livros, entre eles Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor e Sexo, Drogas, Rock’ n’ Roll... & Chocolate. Agora, está finalizando Mentes Apaixonadas (editora Sextante), sobre causas e efeitos fisiológicos das paixões, com lançamento previsto para o segundo semestre. Ano passado, ela levou uma bolada de US$ 600 mil e o mérito de ser o primeiro nome brasileiro (entre 12 eleitos no mundo) a receber o prêmio Scholar Award in Understanding Human Cognition, concedido pela James S. McDonnell Foundation. Além disso, assina uma coluna quinzenal na Folha de S.Paulo, tem um quadro esporádico no Fantástico, o “NeuroLógica”, e dirige o Laboratório de Neuroanatomia Comparada na UFRJ, onde também leciona. Foi lá, e com a ajuda de uma equipe de 15 orientandos, que ela promoveu “uma grande sopa de cérebro” e contabilizou o número de neurônios presentes no cérebro humano: 86 bilhões. Sua revelação derrubou a estimativa de 100 bilhões que valia para a ciência até 2009.

Filha de uma socióloga e de um economista, Suzana cresceu na Ilha do Governador, bairro classe média do Rio de Janeiro, ao lado da irmã caçula – mora lá até hoje. Aos 5 anos já sabia ler e, aos 16, entrou na faculdade. Formou-se bióloga aos 19 anos e foi estudar genética nos Estados Unidos; porém, se apaixonou pela neurociência e concluiu o doutorado entre França e Alemanha. Hoje, casada com o tradutor e escritor Carlos Irineu da Costa e mãe de Luiza, 11 anos, e Lucas, 7 (do primeiro casamento), vive no Brasil, mas faz constantes viagens ao exterior.

Corpo são, mente sã

Com a mesma desenvoltura com que pincela as entranhas do cérebro, soma 15 anos de estudo musical: domina piano, violão, violoncelo e flauta transversal. Já alternou exercícios como musculação, corrida, sapateado e agora pratica pilates. Na cabeceira, vai de Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa a temas médicos. “O melhor exercício para o cérebro é fazer coisas variadas. Exigir da sua memória, da sua atenção, do seu raciocínio, da sua capacidade de interagir socialmente com outras pessoas”, disserta ela sobre escolhas e atitudes para uma mente saudável.

A seguir, você descobre o que povoa o cérebro desta neurocientista, as reais diferenças entre os sexos, os mecanismos dos vícios, a biologia da homossexualidade e entende por que ser mulher pode ser algo pioneiro.
Tpm. O que significa ser uma mulher cientista no Brasil?
Suzana Herculano-Houzel. É mais fácil do que em qualquer outro lugar do mundo. Porque aqui a gente consegue ser cientista e ter uma vida, uma estrutura familiar. Vejo as minhas colegas nos Estados Unidos com dificuldade de trabalhar, pois elas não têm com quem deixar os filhos. Day care custa os tubos. No começo do ano, na Austrália, trabalhei num laboratório com uma chinesa. Uma das primeiras coisas que ela me falou foi: “Estou tão contente de ver que você é casada, com filhos, que se cuida. Aqui, as mulheres são solteiras ou divorciadas e dificilmente têm filhos”. Na Alemanha, as moças eram bem-vindas no laboratório até o dia em que se casavam. Lembro de o meu chefe dizer a uma moça: “Pena que você vai deixar a ciência”. Pensei: “Como assim? Ela está casando, não abandonando o trabalho!”.

Quando você foi morar fora do Brasil?
Aos 19 anos, me formei em biologia e fui para Cleveland, nos Estados Unidos. Fiz pós-graduação em genética, mas conheci um neurocientista americano que quis me catequizar no assunto. Um dia estávamos andando na rua, ele parou de costas para uma árvore e falou: “Como sei que tem uma árvore aqui atrás se não estou olhando pra ela? É porque meu cérebro criou uma representação dela e sei usá-la
sem nem olhar”. Eu pensava: “Uau!”. O tema é fascinante. Uma das coisas de que mais gostava é que o assunto não terminava no laboratório. Tinha perguntas e mais perguntas, parecia um portal para uma nova dimensão.

Se você se formou com 19 anos, com que idade entrou na faculdade?
Com 16. Aprendi a ler com 4 anos. Minha madrinha era professora primária e, uma vez, numas férias, pedi para ela me ensinar a ler. Ela perguntou a minha mãe: “A Suzana quer aprender a ler, posso ensinar?”. Ela respondeu: “Pode, isso não vai dar em nada mesmo”. Mas eu aprendi. Quando voltamos pra casa, mamãe me botou na escola. Com 5 anos estava na primeira série. Aí foi o problema habitual: a professora achava que eu era nova demais, que tinha decorado o livro. Então, tirou uma revista da bolsa, e li a revista.
“Com 5 anos estava na primeira série. Aí foi o problema habitual: a professora achava que eu era nova demais, que tinha decorado o livro. Então, tirou uma revista da bolsa, e li a revista”
Dizem que mulher tem mais capacidade de lidar com vários temas ao mesmo tempo. Sob o ponto de vista da ciência, isso se confirma?
Isso é fato. Na verdade, homens e mulheres só conseguem prestar atenção em uma coisa de cada vez. Mas mulheres tendem a ter mais facilidade em alternar tarefas. É o “ficar com um olho no fogão e o outro no telefone”.

De onde vem isso?
Não sei. Mas sempre tenho a suspeita de que o que quer que seja está relacionado à maternidade. Porque quando temos filhos somos obrigadas a dividir a atenção e ficar alternando muito rápido entre saber onde eles estão, o que estão fazendo e o que você precisa fazer naquela hora.

Será que a mulher brasileira, por conseguir trabalhar e ser mãe, tem uma capacidade maior do que a estrangeira de se adaptar às situações?
Que o brasileiro tem capacidade de inventar, tem. Vi isso em todos os laboratórios em que passei. Somos muito valorizados lá fora, temos a cultura de não desperdiçar. O brasileiro não deixa de fazer um experimento porque está faltando um material. Na Alemanha, o pessoal abria o catálogo, encomendava e esperava chegar. Os brasileiros abriam o armário do laboratório, olhavam o que tinha e construíam o próprio aparelho com sucata.

Que diferenças de fato existem entre o cérebro feminino e o masculino? Uma delas é como nos situamos no espaço. Temos pelo menos dois sistemas complementares no cérebro. Um usa marcos visuais, como cartazes de loja. O outro usa direção e distância. Os dois funcionam em todo mundo. A diferença é que os homens tendem a se guiar por direção e distância; e as mulheres por marcos visuais. Então, quando você está no mato, ser capaz de se orientar por direção e distância é ótimo. Já quando está num shopping ou no centro da cidade, por exemplo, dar atenção a marcos visuais funciona mais.

O cérebro de homens e mulheres tem maneiras diferentes de lidar com o sexo?
Sim, é a maior diferença entre os cérebros. Embora homens e mulheres tenham a mesma capacidade de se sentir excitados, as partes do cérebro do homem que controlam a motivação sexual precisam de muito pouco pra ter estímulo. Sabe aquela história de que qualquer rabo de saia serve? É isso mesmo [risos]. Qualquer imagem vagamente relacionada a sexo já está valendo. Enquanto as mulheres, em geral, precisam de um estímulo mais direto ou elaborado.

Por quê? Isso faz sentido em termos evolutivos. As mulheres engravidam, o que gera um investimento enorme de tempo e energia. Já os homens podem gerar três filhos por dia se quiserem.

Que outras diferenças existem?
Outra grande diferença é evidente: metade da população só se interessa por mulheres e a outra metade, só por homens, que é o que acontece em 90% dos casos.

Os outros 10% são gays?
Sim. A sua preferência sexual depende da constituição do seu cérebro.

Isso significa que homossexualidade é biológico?
Claro. Mas isso é uma causa enorme de sofrimento para boa parte da população, que não se aceita, portanto faz uma opção sexual diferente da sua preferência. Ou seja, prefere sair com o sexo oposto porque é considerado normal. Acontece que a definição do que é “normal” é estatística, é a característica que a maior parte da população apresenta. É como dizer que é normal para a população brasileira ter cabelo escuro. Isso não quer dizer que ter cabelo claro seja um problema.
“A diferença é que as partes do cérebro do homem que controlam a motivação sexual precisam de muito pouco pra ter estímulo. Sabe aquela história de que qualquer rabo de saia serve? É isso mesmo”
Qual o custo cerebral de fazer uma opção sexual diferente de sua preferência?
Ir contra a própria natureza é um conflito que exige esforço enorme do cérebro para suprimir a ação que seria natural. O processo gera uma ansiedade enorme e se aplica para decisões que vão desde a opção sexual até contar uma mentira ou manter um segredo.

O cérebro de um homem homossexual funciona como o de uma mulher hétero?

A parte do cérebro que responde às informações sensoriais sobre o sexo da pessoa que está perto de você, sim. A reação é igual no cérebro de uma mulher hétero e no de um homem homossexual e vice-versa.
No livro Cérebro em Transformação, você disse que o cérebro masculino tem algumas áreas com mais neurônios que o da mulher. O que significa isso?
Isso acontece em uma área do cérebro que está justamente relacionada com a iniciação sexual, na adolescência. E está relacionada à ideia de que o padrão, o default do cérebro, seria feminino e ele precisaria ser masculinizado.

Como assim?

Imagine que, se nada mais acontecer, o cérebro se forma como feminino. Esse “mais acontecer” são os poucos genes que sobraram no cromossomo Y [responsável por determinar o sexo masculino] e que, no primeiro trimestre da gravidez, estão relacionados à produção de hormônios, por exemplo, que vão masculinizar o cérebro e o corpo. É como a massa de biscoito. Se você não acrescentar o chocolate, o padrão é um biscoito normal, de creme. Você tem que fazer algo mais para mudar esse padrão.

Então o cérebro da mulher é mais antigo?

Não dá para saber que cérebro vem primeiro, embora a ciência tenha boas razões para considerar que o padrão geral é feminino.

O que esperar de um cérebro feminino no comando do país?
Espero o que esperaria de qualquer outra pessoa, homem ou mulher. Votei na Dilma [Rousseff] porque acho que o governo Lula fez mudanças importantes que quero que continuem. Mas não deveria fazer diferença. Até porque a maior parte das tais diferenças entre os sexos está na expectativa das pessoas.

Quais, por exemplo?
Dizer que homem é melhor em matemática ou raciocínio espacial é besteira. Acho que é só motivação. Se você consegue se ver fazendo uma tarefa bem, tudo conspira para que seu desempenho seja bom. E isso desde estacionar o carro até o seu desempenho na escola. Então, se você passa confiança para as meninas desde a escola, se incute nelas a ideia de que são tão boas quanto os rapazes da turma, vai encontrar um desempenho ótimo. Só que muitas vezes são expostas a professoras que não se sentem capazes, justamente porque elas mesmas esperam pouco de si. As mulheres acabam incorporando esse exemplo. Tem uma série de estudos que mostram isso.

Seus colegas questionam o fato de você fazer o meio de campo entre a ciência e o público leigo?
Alguns questionam, mas não sou de ficar fazendo fofoca. Então, tem um lado social que perco. Mas tenho colegas que vêm me agradecer: “Esta semana um aluno me procurou por causa dos seus livros”. Quando o pessoal quer falar mal, diz que meus livros são de autoajuda. Mas acho que a vocação da ciência é justamente essa, você ter aquela informação e usá-la para viver melhor. A ideia é informar o público e valorizar a figura do cientista. A neurociência não se importa só em descobrir doenças e tratamentos. E as pessoas também se interessam em saber como funciona o cérebro feliz, motivado.

E aquela história de que usamos apenas 10% do cérebro, é verdade?
Claro que não! Você usa o seu cérebro todo o tempo inteiro.

Você está escrevendo um livro sobre paixões. Ele é baseado em descobertas recentes da ciência?

É. Ele fala de amor, mas também da paixão pelo trabalho, pelo futebol, pela música. E sobre como isso é fundamental na vida de cada um.

O que é a paixão sob o ponto de vista da ciência?
A paixão é quando o seu cérebro decide que a pessoa mais extraordinária é aquela. O resultado é que você associa muito prazer a ela e tira energia do nada para fazer o que for preciso para ficar perto. A paixão é o estado de motivação extremamente exacerbado. O grande barato é que isso faz você encontrar energia para organizar sua vida em redor daquilo. Sem paixão nada funciona.

Como isso se dá no cérebro?
É o sistema de recompensa: a gente só levanta do sofá se vislumbrar alguma coisa boa como resultado. Sem essa antecipação você não mexe um dedo. É esse sistema que permite que a gente se apaixone pelas coisas e ache que aquilo vai ser bom. Para mim, essa é uma das grandes lições da neurociência moderna.

Quanto tempo dura a paixão?
Não tem um prazo de validade. Ela dura enquanto o cérebro continuar associando prazeres incríveis àquela pessoa. Sabendo disso, tem um monte de coisas que podemos fazer pra manter a chama acesa, como sexo, viagens, novidades de todo tipo, carinho, assistir a aulas interessantes juntos. Tudo isso funciona.

E a ideia de que é preciso sofrer para conquistar algo de bom?
Discordo. O esforço, sim, tem um papel importante. O cérebro detecta quando você fez alguma coisa digna de prêmio. E o prêmio é a sensação de prazer. Mas o que move o esforço é justamente a antecipação do prazer. Então, o reconhecimento que vem do outro, o elogio, é muito importante. Agora, se a pessoa não consegue enxergar nada de positivo em fazer algo, muitas vezes aceita o sofrimento, mas não se mexe. É o que acontece na depressão profunda.

E quando a pessoa é viciada em drogas?
O problema do vício é que ele acaba com a sua variedade de prazeres e a única coisa que funciona é aquela substância. Enquanto, ao natural, a vida da gente é uma sucessão de prazeres variados. As drogas dão um prazer fora de todos os limites normais do que o cérebro conseguiria pelos próprios meios. Então, o cérebro se protege desse excesso tornando seu sistema de recompensa menos sensível. Como é esse sistema que processa todos os prazeres, ele se dessensibiliza a tudo o que antes dava satisfação. Por isso, com o tempo, nem aquela substância vai surtir o mesmo efeito e aí vira uma bola de neve: você precisa cada vez mais de drogas para conseguir um efeito cada vez menor.
“Quando o pessoal quer falar mal, diz que meus livros são de autoajuda. Mas acho que a vocação da ciência é justamente essa, você ter aquela informação e usá-la para viver melhor”
Existe alguma maneira de garantir um cérebro saudável e satisfeito?
O melhor exercício é fazer coisas variadas. Exigir da sua memória, da sua atenção, do seu raciocínio, da sua capacidade de linguagem, da sua capacidade de interagir socialmente com outras pessoas. Tudo isso é importante, quanto mais rica a sua vida, mais você está contribuindo para manter cada uma dessas capacidades do cérebro funcionando bem. Mas, se existe uma panaceia universal, o que chega mais perto disso é o exercício físico. Muita gente acha que não tem tempo, que tem coisa mais importante para fazer, mas o efeito é fisiológico. Seu cérebro muda por causa do exercício intenso e regular.

O que acontece?
Além de melhorar a atenção, a memória, a facilidade de aprendizado, o exercício protege contra os transtornos de humor. Ele é um estabilizador, porque faz com que todas as suas respostas de estresse, de ansiedade, fiquem mais tranquilas. E a autoconfiança que você ganha com qualquer tipo de esporte ou outra atividade se expande para outras áreas.

E o que acontece no cérebro quando estamos ansiosas, preocupadas, tensas?

A parte do cérebro que cuida de todas as suas preocupações recentes, isto é, aquela lista mental com as tarefas do dia, é o hipocampo. Essa lista fala diretamente com um alarme do cérebro que faz a gente ficar alerta, atenta, acordada. Mas, quando esse sistema está em “overdrive”, ou seja, quando seu hipocampo fica hiperativo, é como se você tivesse sua agenda eletrônica tocando o alarme o tempo todo.

Isso piora com a quantidade de estímulos que recebemos hoje em dia?
Sim. O cérebro em si não mudou nada. Mas acho que o problema maior é o potencial de ansiedade que isso gera quando você nota que poderia fazer uma série de coisas além do que está fazendo. Então, a lista mental de preocupações deixa você permanentemente angustiada e ansiosa. Mas isso pode mudar com o exercício físico. O efeito de fazer esporte é comparável ao de antidepressivos e ansiolíticos, com o benefício de que funciona também a longo prazo e não tem efeito colateral.

O sexo tem esse mesmo efeito?
De certa forma sim. Boa parte dos benefícios, da sensação de prazer, de relaxamento, é do mesmo sistema de recompensa do cérebro, que é acionado nos dois casos. A diferença é que o sexo tem o componente afetivo, social, emocional, que o exercício físico não tem. E uma das descobertas recentes da neurociência é que o cérebro muda quando você recebe carinho. Todos os sistemas de resposta ao estresse, de geração de ansiedade, tudo isso se acalma, você fica com uma resposta muito mais saudável e isso vale para o resto da vida. Quem recebe carinho na infância, em geral, torna-se um adulto com mais chance de se recuperar rápido de um problema, de lidar com o estresse de maneira mais tranquila.

Você pratica esporte?
Sim, vou três vezes por semana ao pilates. Mas já corri, fiz musculação e três anos de sapateado com minha filha. As pessoas perguntam qual é o melhor exercício. É aquele que você gosta de fazer, porque é o que você vai fazer de fato.

De que maneira esses conhecimentos ajudam no seu dia a dia?
Em muita coisa. Um exemplo é que eu tinha muita enxaqueca e aprendi a aliviar a dor. Quando você inspira profundamente, aumenta a atividade do sistema nervoso parassimpático, que é responsável por tranquilizar, e alivia a dor naqueles segundos. É o que se faz em meditação, ioga, pilates. E hoje sabemos que a percepção da dor aumenta pela atividade simpática, que é responsável pela resposta ao estresse. Então, quanto mais angustiada e ansiosa você fica, maior é sua percepção da dor. Outra coisa que faz diferença é saber do aspecto social do cérebro, isto é, de pensar no que sua ação pode causar nos outros. Desenvolve a tolerância. Você se chateia menos com alguém porque pensa que ele pode ter feito um comentário só porque está tendo um dia ruim.

Você escreveu, em uma coluna na Folha de S.Paulo, que desde que cortou o glúten da alimentação não tem mais enxaqueca. Qual a relação entre os dois?
Ainda não há um entendimento da relação entre os dois além da suspeita do envolvimento de anticorpos produzidos pelo corpo contra o glúten, o que talvez cause inflamação e um número cada vez maior de pacientes que identificam o glúten como gatilho ou fator de risco das crises de enxaqueca. Mas eu estou feliz da vida sem glúten na minha dieta.

Você tem uma filha de 11 anos e um filho de 7. Como os educa?

Aqui em casa ninguém quebra copo e chora. Se alguma coisa quebra, eles ficam parados, olham e já estão pensando no que é para fazer. Quando entrei em trabalho de parto do Lucas, a Luiza tinha 4 anos.
Comecei a sentir dor, ela veio do lado e disse: “Mãe, fica calminha, vai ficar tudo bem. Eu vou para a casa da vovó e o vovô vai te levar para o hospital”. Eu pensei: “Meu Deus, o que eu fiz?” [risos].

Você se separou do seu primeiro marido, pai das crianças, há sete anos. Como foi lidar com isso? Nessa época, um amigo meu, médico, me ligava preocupado, perguntava se estava deprimida, se estava
dormindo. Eu dizia: “Sei que soa estranho, mas é a corrida que está me segurando”. Outro benefício da prática de exercício físico é que é uma das maneiras comprovadas que ajudam a envelhecer mais devagar.

O que mais ajuda a retardar o envelhecimento?
Comer pouco. Tanto a redução calórica quanto o aumento do metabolismo por meio do exercício físico ajudam a reduzir a produção de radicais livres, que são grandes culpados pelo desgaste das células.
“Uma das descobertas recentes da neurociência é que o cérebro muda quando você recebe carinho. Os sistemas de resposta ao estresse se acalmam”
A mulher parece envelhecer mais rápido do que o homem. Isso acontece? A aparência é cruel. Homens ficam lindos quando envelhecem. As mulheres só ficam velhas. Isso faz sentido na evolução: as mulheres valorizam nos homens a responsabilidade, a dedicação à família, características que vêm com a idade. Nos homens, elas ficam cada vez mais intensas e aparentes, então, ficam lindos grisalhos. Já a mulher, quando fica grisalha, só fica velha. Em termos evolutivos, uma mulher velha é a que não reproduz mais. E os homens, se se interessarem por mulheres jovens, podem deixar mais descendentes. E tem outras diferenças associadas a isso.

Por exemplo?
Por exemplo, as mulheres loiras têm pele mais clara e tendem a envelhecer mais rápido. Então, quando uma mulher morena pinta o cabelo de loiro, ela acaba parecendo mais nova do que é. E isso tende a deixá-la mais atraente para os homens.

Você pinta o cabelo?
Pinto. Tenho uma quantidade incrível de cabelos brancos e recentemente descobri a hena, que fica ótima. Eu não quero ter uma aparência envelhecida porque não me sinto assim.

Como lida com a ideia da morte?

Quero morrer bem velha. No meu laboratório tem um monte de cérebros humanos em formol, então não passo um dia sem lembrar de que vou morrer, o que é uma coisa boa. Como tenho certeza de que isso tudo acaba, acho bacana a gente usar bem o que tem.

Acredita em vida após a morte?

Não acredito em nada disso. Sou ateia. Não acredito em Deus. Encontrar uma explicação para as coisas que acontecem é uma das atividades-padrão do cérebro. A diferença entre as pessoas está em que tipo de explicação você aceita, quanto de evidência você exige. Para mim, o problema é que não posso testar a explicação de Deus.

Você se sente discriminada quando assume que é ateia?

No Brasil me sinto. É só abrir os jornais e ver que quando começam a falar sobre assuntos relacionados à política, que tocam em religião, como aborto e casamento gay, fica claro que este país se diz laico, mas não é. A religião, sobretudo a católica, tem uma mão incrível dentro do governo, olha a quantidade de padres e pastores na bancada do Congresso. Num país laico, não deveria fazer diferença qual é sua religião e se você tem uma. O bacana é a aceitação. Na prática, os ateus tendem a ser mais tolerantes do que os próprios religiosos. Prefiro acreditar no que está ao alcance das minhas mãos.



George Harrison






'Living in the Material World' aborda a vida do 'beatle quieto'



Filme de quatro horas entra com cautela na vida de George Harrison

Quando entra em cena pela primeira vez, George Harrison não está em evidência. Encara a câmera protegido por uma parede de tulipas. Uma voz o provoca: "Vá em frente e voe, baby, apenas sinta-se livre." O tom enigmático prepara o espectador para a limitação da própria natureza da linguagem documental. Mesmo com as quase quatro horas de imagens, o ‘beatle quieto’ poderá até ficar mais próximo, mas não será plenamente compreendido.

Living in the Material World, exibido nesta semana no festival do Rio e lançado em DVD na Europa e nos EUA (ainda sem previsão de ser lançado aqui em DVD, embora já esteja na internet), traz o rigor jornalístico de Martin Scorsese para desvendar o personagem, guitarrista, membro da maior banda de rock.



Harrison, assim como Ringo, nunca desfrutou da idolatria gerada por Paul McCartney e John Lennon. Sempre foi um outsider, metido em descobertas religiosas e pouco preocupado em agradar o show biz. Ao reconstituir seus passos, o cineasta renova o fascínio por alguém que ignorou a posteridade.

"Não me importo se eu não for lembrado", disse certa vez, conforme relatou Olivia Harrison ao New York Times. Ela foi casada com o britânico entre 1978 e 2001, ano da morte dele. Olivia, também produtora do filme, foi quem procurou Scorsese para assumir a empreitada. O principal argumento para sensibilizá-lo foi uma afetuosa carta escrita por George para a mãe dele quando tinha um pouco mais de 20 anos. "Ele expressava a ideia de que sabia que a vida não se limitava à riqueza e à fama", afirmou o diretor também ao NYT.

A disposição em apresentar um Harrison mais espiritual do que 'material' ajuda a descolá-lo do 'efeito Beatles'. O foco aqui está nos depoimentos de quem conviveu com o músico, gente como Paul, Yoko Ono, Terry Gilliam, Ringo, Jackie Stewart, Eric Idle e George Martin. Fazem com carinho o panorama de um George impulsivo, perfeccionista e introvertido.



O produtor Phil Spector, por exemplo, descreve o 'tormento' de gravar algumas faixas de All Things Must Pass, primeiro álbum solo de Harrison pós-Beatles, por conta da obsessão harmônica do guitarrista em suas composições. Eric Clapton fala abertamente do caso em que ele roubou a primeira esposa do amigo, Patti Boyd - a famosa história por trás do hit Layla. Paul admite em um dos trechos de sua entrevista que a relação de trabalho com o companheiro nem sempre foi das mais equilibradas. O filme, aliás, mostra uma destas discussões no estúdio. Tom Petty relembra como foi montar os Travelling Wilburys, aprender a tocar o ukelele e sobre a estranha reação de George à morte de Roy Orbison. "Não está aliviado por não ser você?", disse o beatle ao telefone.



Há um vasto material audiovisual, que inclui vídeos caseiros, fotografias, gravações de áudio e cartas. Num dos arquivos exibidos, há um pitoresco prenúncio do fim. "Acordei, fui para Twickenham, pratiquei até a hora do almoço - deixei os Beatles - fui para a casa, e à tarde fiz King of Fuh no estúdio Trident, depois comi umas batatinhas", escreveu em seu diário em 1969. No ano seguinte, após as conturbadas gravações de Let it Be, a banda encerrou as atividades. Curiosamente, ele assina a primeira (Cry For a Shadow, com McCartney) e a última música registrada pelo quarteto (I Me Mine).
Harrison já vinha espremido pelas composições de Paul e John. Ao fim, se aprofundou no misticismo oriental. Boa parte do documentário se dedica a mostrar esta conversão, suavizando a questão das drogas na vida do músico. São abundantes as cenas ao lado de Ravi Shankar, o aprendizado da cítara, as viagens à Índia.
Livin in the Material World mostra um homem que, em seu silêncio, morreu cercado de grandes amigos. Ringo conta que quando visitou George na Suíça, nos seus últimos dias de vida, disse ao colega que logo precisaria viajar aos EUA, onde sua filha também lutava contra um câncer. E George disse: "Quer que vá com você?"

Emanuel Bomfim

Segredos

 


O homem diz à namorada: “Olha, decidi uma coisa. Vou contar para você o que eu nunca sonhei em contar para ninguém na vida”. Ela diz: “O que? Aquela história do que você fez na guerra?”. O homem fica parado: “Como é que você sabe?”. Ela continua: “Quando você estava na Itália e matou um fugitivo? Você já me contou”. E ele: “Peraí. Quando?”

Todo mundo tem segredo. Felizmente, todo mundo conta. Falando nisso, por favor, não espalhe para ninguém, mas esse primeiro parágrafo aí em cima é a abertura de um livro de Elmore Leonard. Que eu queria ter escrito. Pronto falei.

#prontofalei, inclusive, é um dos tópicos mais comuns no site de miniblogs Twitter. Uma rápida pesquisa e se lê coisas do tipo: “Eu curto homem”, “Quero voltar para Goiânia” ou “Vou liberar o Chuck Norris que existe em mim”. (Acho feio escrever “site de miniblogs Twitter”, mas preciso ser mais claro para aqueles leitores que não conhecem o Twitter. Aliás, como estava o tempo lá em Marte? #prontofalei).

Voltando ao tema. Segredo bom é segredo dos outros. Por isso, outro passatempo divertido, que transforma você num estagiário de padre em confessionário, é ler os postais do www.postsecret.com. Um site que publica postais anônimos com segredos escabrosos. Meus favoritos: “Só dou esmola quando tem alguém olhando”, “Gosto de ficar amigo de quem eu tenho inveja”, “Eu leio e-mails dos meus ex-namorados diariamente”. O sucesso é tamanho que o projeto já virou três livros, um site com 470 milhões de visitas e até um aplicativo para iPhone.

Acho que parte desse sucesso é ver nos outros segredos que são também nossos. Pensamentos tão mesquinhos que dá vergonha contar até para a gente mesmo. E, de repente, um deles já estava lá, num cartão postal. São retratos de paisagens feias, de um Cubatão interior que o CVC da nossa consciência não nos deixa visitar. Mas eu sempre olhei a fumaça de Cubatão com certo encanto: olha lá, uma fábrica de nuvens! Dá prazer ver que nossas doenças são sinais de normalidade. Como disse Chekov: “tudo o que sei sobre a natureza humana aprendi comigo”.

E, para terminar, um segredinho: toda pessoa que cita Chekov quer parecer mais inteligente do que é.
 
Publicado no guía Divirta-se, em O Estado de S. Paulo em outubro de 2011
 
Sunday Secrets



PostSecret is an ongoing community art project where people mail in their secrets anonymously on one side of a homemade postcard.


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Mine did too, and I don't have the guts to email her your secret. She was 8. I couldn't bear the idea of her finding me dead in the morning, and I just don't know how to thank her. I'm saving the secret on my computer, in case I ever get up the guts to send it to her. Thanks for the "card".


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I wrote in about my younger sister saving my life and that she didn't know, and I wasn't sure how to tell her. The person who emailed in response to my secret, gave me the courage to call my younger sister and inform her of how she saved my life.






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I am the President of my school's college Republicans and the organizer for our school's International Human Rights Day. I do it because I care. But just to let you know we are not all racist. And not all democrats are saints.

www.postsecret.com