Enquanto você dorme, come, faz sexo ou trabalha ligada no automático, seu cérebro pondera decisões, julga, justifica. Se não fosse sua função non-stop, mulheres não teriam tanta facilidade em encontrar a saída de um shopping nem achariam lindo homem grisalho. Aos 38 anos, a neurocientista explica o que acontece dentro de nossa cabeça – e da dela – enquanto simplesmente vivemos
Você sabe o que acontece em seu cérebro quando está apaixonada? Tem ideia do que, de fato, faz você levantar da cama diariamente? Ou ainda: conhece as reais diferenças entre o cérebro feminino e o masculino? Suzana Herculano-Houzel tem respostas para todas essas perguntas. Ou, pelo menos, dúvidas melhores. A neurocientista virou referência no Brasil por traduzir para o público leigo as descobertas de sua ciência. Muito além de doenças e tratamentos, ela fala sobre o funcionamento de nosso cérebro na vida cotidiana, como o que acontece quando nos perdemos dentro de um shopping, nos deprimimos ou tomamos decisões. “Acho que a vocação da ciência é de autoajuda, no sentido de desenvolvimento pessoal, de ter informações para viver melhor”, resume ela.
Aos 38 anos, Suzana é autora de seis livros, entre eles Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor e Sexo, Drogas, Rock’ n’ Roll... & Chocolate. Agora, está finalizando Mentes Apaixonadas (editora Sextante), sobre causas e efeitos fisiológicos das paixões, com lançamento previsto para o segundo semestre. Ano passado, ela levou uma bolada de US$ 600 mil e o mérito de ser o primeiro nome brasileiro (entre 12 eleitos no mundo) a receber o prêmio Scholar Award in Understanding Human Cognition, concedido pela James S. McDonnell Foundation. Além disso, assina uma coluna quinzenal na Folha de S.Paulo, tem um quadro esporádico no Fantástico, o “NeuroLógica”, e dirige o Laboratório de Neuroanatomia Comparada na UFRJ, onde também leciona. Foi lá, e com a ajuda de uma equipe de 15 orientandos, que ela promoveu “uma grande sopa de cérebro” e contabilizou o número de neurônios presentes no cérebro humano: 86 bilhões. Sua revelação derrubou a estimativa de 100 bilhões que valia para a ciência até 2009.
Filha de uma socióloga e de um economista, Suzana cresceu na Ilha do Governador, bairro classe média do Rio de Janeiro, ao lado da irmã caçula – mora lá até hoje. Aos 5 anos já sabia ler e, aos 16, entrou na faculdade. Formou-se bióloga aos 19 anos e foi estudar genética nos Estados Unidos; porém, se apaixonou pela neurociência e concluiu o doutorado entre França e Alemanha. Hoje, casada com o tradutor e escritor Carlos Irineu da Costa e mãe de Luiza, 11 anos, e Lucas, 7 (do primeiro casamento), vive no Brasil, mas faz constantes viagens ao exterior.
Corpo são, mente sã
Com a mesma desenvoltura com que pincela as entranhas do cérebro, soma 15 anos de estudo musical: domina piano, violão, violoncelo e flauta transversal. Já alternou exercícios como musculação, corrida, sapateado e agora pratica pilates. Na cabeceira, vai de Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa a temas médicos. “O melhor exercício para o cérebro é fazer coisas variadas. Exigir da sua memória, da sua atenção, do seu raciocínio, da sua capacidade de interagir socialmente com outras pessoas”, disserta ela sobre escolhas e atitudes para uma mente saudável.
A seguir, você descobre o que povoa o cérebro desta neurocientista, as reais diferenças entre os sexos, os mecanismos dos vícios, a biologia da homossexualidade e entende por que ser mulher pode ser algo pioneiro.
Aos 38 anos, Suzana é autora de seis livros, entre eles Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor e Sexo, Drogas, Rock’ n’ Roll... & Chocolate. Agora, está finalizando Mentes Apaixonadas (editora Sextante), sobre causas e efeitos fisiológicos das paixões, com lançamento previsto para o segundo semestre. Ano passado, ela levou uma bolada de US$ 600 mil e o mérito de ser o primeiro nome brasileiro (entre 12 eleitos no mundo) a receber o prêmio Scholar Award in Understanding Human Cognition, concedido pela James S. McDonnell Foundation. Além disso, assina uma coluna quinzenal na Folha de S.Paulo, tem um quadro esporádico no Fantástico, o “NeuroLógica”, e dirige o Laboratório de Neuroanatomia Comparada na UFRJ, onde também leciona. Foi lá, e com a ajuda de uma equipe de 15 orientandos, que ela promoveu “uma grande sopa de cérebro” e contabilizou o número de neurônios presentes no cérebro humano: 86 bilhões. Sua revelação derrubou a estimativa de 100 bilhões que valia para a ciência até 2009.
Filha de uma socióloga e de um economista, Suzana cresceu na Ilha do Governador, bairro classe média do Rio de Janeiro, ao lado da irmã caçula – mora lá até hoje. Aos 5 anos já sabia ler e, aos 16, entrou na faculdade. Formou-se bióloga aos 19 anos e foi estudar genética nos Estados Unidos; porém, se apaixonou pela neurociência e concluiu o doutorado entre França e Alemanha. Hoje, casada com o tradutor e escritor Carlos Irineu da Costa e mãe de Luiza, 11 anos, e Lucas, 7 (do primeiro casamento), vive no Brasil, mas faz constantes viagens ao exterior.
Corpo são, mente sã
Com a mesma desenvoltura com que pincela as entranhas do cérebro, soma 15 anos de estudo musical: domina piano, violão, violoncelo e flauta transversal. Já alternou exercícios como musculação, corrida, sapateado e agora pratica pilates. Na cabeceira, vai de Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa a temas médicos. “O melhor exercício para o cérebro é fazer coisas variadas. Exigir da sua memória, da sua atenção, do seu raciocínio, da sua capacidade de interagir socialmente com outras pessoas”, disserta ela sobre escolhas e atitudes para uma mente saudável.
A seguir, você descobre o que povoa o cérebro desta neurocientista, as reais diferenças entre os sexos, os mecanismos dos vícios, a biologia da homossexualidade e entende por que ser mulher pode ser algo pioneiro.
Tpm. O que significa ser uma mulher cientista no Brasil?
Suzana Herculano-Houzel. É mais fácil do que em qualquer outro lugar do mundo. Porque aqui a gente consegue ser cientista e ter uma vida, uma estrutura familiar. Vejo as minhas colegas nos Estados Unidos com dificuldade de trabalhar, pois elas não têm com quem deixar os filhos. Day care custa os tubos. No começo do ano, na Austrália, trabalhei num laboratório com uma chinesa. Uma das primeiras coisas que ela me falou foi: “Estou tão contente de ver que você é casada, com filhos, que se cuida. Aqui, as mulheres são solteiras ou divorciadas e dificilmente têm filhos”. Na Alemanha, as moças eram bem-vindas no laboratório até o dia em que se casavam. Lembro de o meu chefe dizer a uma moça: “Pena que você vai deixar a ciência”. Pensei: “Como assim? Ela está casando, não abandonando o trabalho!”.
Quando você foi morar fora do Brasil?
Aos 19 anos, me formei em biologia e fui para Cleveland, nos Estados Unidos. Fiz pós-graduação em genética, mas conheci um neurocientista americano que quis me catequizar no assunto. Um dia estávamos andando na rua, ele parou de costas para uma árvore e falou: “Como sei que tem uma árvore aqui atrás se não estou olhando pra ela? É porque meu cérebro criou uma representação dela e sei usá-la
sem nem olhar”. Eu pensava: “Uau!”. O tema é fascinante. Uma das coisas de que mais gostava é que o assunto não terminava no laboratório. Tinha perguntas e mais perguntas, parecia um portal para uma nova dimensão.
Se você se formou com 19 anos, com que idade entrou na faculdade?
Com 16. Aprendi a ler com 4 anos. Minha madrinha era professora primária e, uma vez, numas férias, pedi para ela me ensinar a ler. Ela perguntou a minha mãe: “A Suzana quer aprender a ler, posso ensinar?”. Ela respondeu: “Pode, isso não vai dar em nada mesmo”. Mas eu aprendi. Quando voltamos pra casa, mamãe me botou na escola. Com 5 anos estava na primeira série. Aí foi o problema habitual: a professora achava que eu era nova demais, que tinha decorado o livro. Então, tirou uma revista da bolsa, e li a revista.
Suzana Herculano-Houzel. É mais fácil do que em qualquer outro lugar do mundo. Porque aqui a gente consegue ser cientista e ter uma vida, uma estrutura familiar. Vejo as minhas colegas nos Estados Unidos com dificuldade de trabalhar, pois elas não têm com quem deixar os filhos. Day care custa os tubos. No começo do ano, na Austrália, trabalhei num laboratório com uma chinesa. Uma das primeiras coisas que ela me falou foi: “Estou tão contente de ver que você é casada, com filhos, que se cuida. Aqui, as mulheres são solteiras ou divorciadas e dificilmente têm filhos”. Na Alemanha, as moças eram bem-vindas no laboratório até o dia em que se casavam. Lembro de o meu chefe dizer a uma moça: “Pena que você vai deixar a ciência”. Pensei: “Como assim? Ela está casando, não abandonando o trabalho!”.
Quando você foi morar fora do Brasil?
Aos 19 anos, me formei em biologia e fui para Cleveland, nos Estados Unidos. Fiz pós-graduação em genética, mas conheci um neurocientista americano que quis me catequizar no assunto. Um dia estávamos andando na rua, ele parou de costas para uma árvore e falou: “Como sei que tem uma árvore aqui atrás se não estou olhando pra ela? É porque meu cérebro criou uma representação dela e sei usá-la
sem nem olhar”. Eu pensava: “Uau!”. O tema é fascinante. Uma das coisas de que mais gostava é que o assunto não terminava no laboratório. Tinha perguntas e mais perguntas, parecia um portal para uma nova dimensão.
Se você se formou com 19 anos, com que idade entrou na faculdade?
Com 16. Aprendi a ler com 4 anos. Minha madrinha era professora primária e, uma vez, numas férias, pedi para ela me ensinar a ler. Ela perguntou a minha mãe: “A Suzana quer aprender a ler, posso ensinar?”. Ela respondeu: “Pode, isso não vai dar em nada mesmo”. Mas eu aprendi. Quando voltamos pra casa, mamãe me botou na escola. Com 5 anos estava na primeira série. Aí foi o problema habitual: a professora achava que eu era nova demais, que tinha decorado o livro. Então, tirou uma revista da bolsa, e li a revista.
“Com 5 anos estava na primeira série. Aí foi o problema habitual: a professora achava que eu era nova demais, que tinha decorado o livro. Então, tirou uma revista da bolsa, e li a revista”
Dizem que mulher tem mais capacidade de lidar com vários temas ao mesmo tempo. Sob o ponto de vista da ciência, isso se confirma?
Isso é fato. Na verdade, homens e mulheres só conseguem prestar atenção em uma coisa de cada vez. Mas mulheres tendem a ter mais facilidade em alternar tarefas. É o “ficar com um olho no fogão e o outro no telefone”.
De onde vem isso?
Não sei. Mas sempre tenho a suspeita de que o que quer que seja está relacionado à maternidade. Porque quando temos filhos somos obrigadas a dividir a atenção e ficar alternando muito rápido entre saber onde eles estão, o que estão fazendo e o que você precisa fazer naquela hora.
Será que a mulher brasileira, por conseguir trabalhar e ser mãe, tem uma capacidade maior do que a estrangeira de se adaptar às situações?
Que o brasileiro tem capacidade de inventar, tem. Vi isso em todos os laboratórios em que passei. Somos muito valorizados lá fora, temos a cultura de não desperdiçar. O brasileiro não deixa de fazer um experimento porque está faltando um material. Na Alemanha, o pessoal abria o catálogo, encomendava e esperava chegar. Os brasileiros abriam o armário do laboratório, olhavam o que tinha e construíam o próprio aparelho com sucata.
Que diferenças de fato existem entre o cérebro feminino e o masculino? Uma delas é como nos situamos no espaço. Temos pelo menos dois sistemas complementares no cérebro. Um usa marcos visuais, como cartazes de loja. O outro usa direção e distância. Os dois funcionam em todo mundo. A diferença é que os homens tendem a se guiar por direção e distância; e as mulheres por marcos visuais. Então, quando você está no mato, ser capaz de se orientar por direção e distância é ótimo. Já quando está num shopping ou no centro da cidade, por exemplo, dar atenção a marcos visuais funciona mais.
O cérebro de homens e mulheres tem maneiras diferentes de lidar com o sexo? Sim, é a maior diferença entre os cérebros. Embora homens e mulheres tenham a mesma capacidade de se sentir excitados, as partes do cérebro do homem que controlam a motivação sexual precisam de muito pouco pra ter estímulo. Sabe aquela história de que qualquer rabo de saia serve? É isso mesmo [risos]. Qualquer imagem vagamente relacionada a sexo já está valendo. Enquanto as mulheres, em geral, precisam de um estímulo mais direto ou elaborado.
Por quê? Isso faz sentido em termos evolutivos. As mulheres engravidam, o que gera um investimento enorme de tempo e energia. Já os homens podem gerar três filhos por dia se quiserem.
Que outras diferenças existem?
Outra grande diferença é evidente: metade da população só se interessa por mulheres e a outra metade, só por homens, que é o que acontece em 90% dos casos.
Os outros 10% são gays?
Sim. A sua preferência sexual depende da constituição do seu cérebro.
Isso significa que homossexualidade é biológico?
Claro. Mas isso é uma causa enorme de sofrimento para boa parte da população, que não se aceita, portanto faz uma opção sexual diferente da sua preferência. Ou seja, prefere sair com o sexo oposto porque é considerado normal. Acontece que a definição do que é “normal” é estatística, é a característica que a maior parte da população apresenta. É como dizer que é normal para a população brasileira ter cabelo escuro. Isso não quer dizer que ter cabelo claro seja um problema.
Isso é fato. Na verdade, homens e mulheres só conseguem prestar atenção em uma coisa de cada vez. Mas mulheres tendem a ter mais facilidade em alternar tarefas. É o “ficar com um olho no fogão e o outro no telefone”.
De onde vem isso?
Não sei. Mas sempre tenho a suspeita de que o que quer que seja está relacionado à maternidade. Porque quando temos filhos somos obrigadas a dividir a atenção e ficar alternando muito rápido entre saber onde eles estão, o que estão fazendo e o que você precisa fazer naquela hora.
Será que a mulher brasileira, por conseguir trabalhar e ser mãe, tem uma capacidade maior do que a estrangeira de se adaptar às situações?
Que o brasileiro tem capacidade de inventar, tem. Vi isso em todos os laboratórios em que passei. Somos muito valorizados lá fora, temos a cultura de não desperdiçar. O brasileiro não deixa de fazer um experimento porque está faltando um material. Na Alemanha, o pessoal abria o catálogo, encomendava e esperava chegar. Os brasileiros abriam o armário do laboratório, olhavam o que tinha e construíam o próprio aparelho com sucata.
Que diferenças de fato existem entre o cérebro feminino e o masculino? Uma delas é como nos situamos no espaço. Temos pelo menos dois sistemas complementares no cérebro. Um usa marcos visuais, como cartazes de loja. O outro usa direção e distância. Os dois funcionam em todo mundo. A diferença é que os homens tendem a se guiar por direção e distância; e as mulheres por marcos visuais. Então, quando você está no mato, ser capaz de se orientar por direção e distância é ótimo. Já quando está num shopping ou no centro da cidade, por exemplo, dar atenção a marcos visuais funciona mais.
O cérebro de homens e mulheres tem maneiras diferentes de lidar com o sexo? Sim, é a maior diferença entre os cérebros. Embora homens e mulheres tenham a mesma capacidade de se sentir excitados, as partes do cérebro do homem que controlam a motivação sexual precisam de muito pouco pra ter estímulo. Sabe aquela história de que qualquer rabo de saia serve? É isso mesmo [risos]. Qualquer imagem vagamente relacionada a sexo já está valendo. Enquanto as mulheres, em geral, precisam de um estímulo mais direto ou elaborado.
Por quê? Isso faz sentido em termos evolutivos. As mulheres engravidam, o que gera um investimento enorme de tempo e energia. Já os homens podem gerar três filhos por dia se quiserem.
Que outras diferenças existem?
Outra grande diferença é evidente: metade da população só se interessa por mulheres e a outra metade, só por homens, que é o que acontece em 90% dos casos.
Os outros 10% são gays?
Sim. A sua preferência sexual depende da constituição do seu cérebro.
Isso significa que homossexualidade é biológico?
Claro. Mas isso é uma causa enorme de sofrimento para boa parte da população, que não se aceita, portanto faz uma opção sexual diferente da sua preferência. Ou seja, prefere sair com o sexo oposto porque é considerado normal. Acontece que a definição do que é “normal” é estatística, é a característica que a maior parte da população apresenta. É como dizer que é normal para a população brasileira ter cabelo escuro. Isso não quer dizer que ter cabelo claro seja um problema.
“A diferença é que as partes do cérebro do homem que controlam a motivação sexual precisam de muito pouco pra ter estímulo. Sabe aquela história de que qualquer rabo de saia serve? É isso mesmo”
Qual o custo cerebral de fazer uma opção sexual diferente de sua preferência?
Ir contra a própria natureza é um conflito que exige esforço enorme do cérebro para suprimir a ação que seria natural. O processo gera uma ansiedade enorme e se aplica para decisões que vão desde a opção sexual até contar uma mentira ou manter um segredo.
O cérebro de um homem homossexual funciona como o de uma mulher hétero?
A parte do cérebro que responde às informações sensoriais sobre o sexo da pessoa que está perto de você, sim. A reação é igual no cérebro de uma mulher hétero e no de um homem homossexual e vice-versa.
Ir contra a própria natureza é um conflito que exige esforço enorme do cérebro para suprimir a ação que seria natural. O processo gera uma ansiedade enorme e se aplica para decisões que vão desde a opção sexual até contar uma mentira ou manter um segredo.
O cérebro de um homem homossexual funciona como o de uma mulher hétero?
A parte do cérebro que responde às informações sensoriais sobre o sexo da pessoa que está perto de você, sim. A reação é igual no cérebro de uma mulher hétero e no de um homem homossexual e vice-versa.
No livro Cérebro em Transformação, você disse que o cérebro masculino tem algumas áreas com mais neurônios que o da mulher. O que significa isso?
Isso acontece em uma área do cérebro que está justamente relacionada com a iniciação sexual, na adolescência. E está relacionada à ideia de que o padrão, o default do cérebro, seria feminino e ele precisaria ser masculinizado.
Como assim?
Imagine que, se nada mais acontecer, o cérebro se forma como feminino. Esse “mais acontecer” são os poucos genes que sobraram no cromossomo Y [responsável por determinar o sexo masculino] e que, no primeiro trimestre da gravidez, estão relacionados à produção de hormônios, por exemplo, que vão masculinizar o cérebro e o corpo. É como a massa de biscoito. Se você não acrescentar o chocolate, o padrão é um biscoito normal, de creme. Você tem que fazer algo mais para mudar esse padrão.
Então o cérebro da mulher é mais antigo?
Não dá para saber que cérebro vem primeiro, embora a ciência tenha boas razões para considerar que o padrão geral é feminino.
O que esperar de um cérebro feminino no comando do país?
Espero o que esperaria de qualquer outra pessoa, homem ou mulher. Votei na Dilma [Rousseff] porque acho que o governo Lula fez mudanças importantes que quero que continuem. Mas não deveria fazer diferença. Até porque a maior parte das tais diferenças entre os sexos está na expectativa das pessoas.
Quais, por exemplo?
Dizer que homem é melhor em matemática ou raciocínio espacial é besteira. Acho que é só motivação. Se você consegue se ver fazendo uma tarefa bem, tudo conspira para que seu desempenho seja bom. E isso desde estacionar o carro até o seu desempenho na escola. Então, se você passa confiança para as meninas desde a escola, se incute nelas a ideia de que são tão boas quanto os rapazes da turma, vai encontrar um desempenho ótimo. Só que muitas vezes são expostas a professoras que não se sentem capazes, justamente porque elas mesmas esperam pouco de si. As mulheres acabam incorporando esse exemplo. Tem uma série de estudos que mostram isso.
Seus colegas questionam o fato de você fazer o meio de campo entre a ciência e o público leigo?
Alguns questionam, mas não sou de ficar fazendo fofoca. Então, tem um lado social que perco. Mas tenho colegas que vêm me agradecer: “Esta semana um aluno me procurou por causa dos seus livros”. Quando o pessoal quer falar mal, diz que meus livros são de autoajuda. Mas acho que a vocação da ciência é justamente essa, você ter aquela informação e usá-la para viver melhor. A ideia é informar o público e valorizar a figura do cientista. A neurociência não se importa só em descobrir doenças e tratamentos. E as pessoas também se interessam em saber como funciona o cérebro feliz, motivado.
E aquela história de que usamos apenas 10% do cérebro, é verdade?
Claro que não! Você usa o seu cérebro todo o tempo inteiro.
Você está escrevendo um livro sobre paixões. Ele é baseado em descobertas recentes da ciência?
É. Ele fala de amor, mas também da paixão pelo trabalho, pelo futebol, pela música. E sobre como isso é fundamental na vida de cada um.
O que é a paixão sob o ponto de vista da ciência?
A paixão é quando o seu cérebro decide que a pessoa mais extraordinária é aquela. O resultado é que você associa muito prazer a ela e tira energia do nada para fazer o que for preciso para ficar perto. A paixão é o estado de motivação extremamente exacerbado. O grande barato é que isso faz você encontrar energia para organizar sua vida em redor daquilo. Sem paixão nada funciona.
Como isso se dá no cérebro?
É o sistema de recompensa: a gente só levanta do sofá se vislumbrar alguma coisa boa como resultado. Sem essa antecipação você não mexe um dedo. É esse sistema que permite que a gente se apaixone pelas coisas e ache que aquilo vai ser bom. Para mim, essa é uma das grandes lições da neurociência moderna.
Quanto tempo dura a paixão?
Não tem um prazo de validade. Ela dura enquanto o cérebro continuar associando prazeres incríveis àquela pessoa. Sabendo disso, tem um monte de coisas que podemos fazer pra manter a chama acesa, como sexo, viagens, novidades de todo tipo, carinho, assistir a aulas interessantes juntos. Tudo isso funciona.
E a ideia de que é preciso sofrer para conquistar algo de bom?
Discordo. O esforço, sim, tem um papel importante. O cérebro detecta quando você fez alguma coisa digna de prêmio. E o prêmio é a sensação de prazer. Mas o que move o esforço é justamente a antecipação do prazer. Então, o reconhecimento que vem do outro, o elogio, é muito importante. Agora, se a pessoa não consegue enxergar nada de positivo em fazer algo, muitas vezes aceita o sofrimento, mas não se mexe. É o que acontece na depressão profunda.
E quando a pessoa é viciada em drogas?
O problema do vício é que ele acaba com a sua variedade de prazeres e a única coisa que funciona é aquela substância. Enquanto, ao natural, a vida da gente é uma sucessão de prazeres variados. As drogas dão um prazer fora de todos os limites normais do que o cérebro conseguiria pelos próprios meios. Então, o cérebro se protege desse excesso tornando seu sistema de recompensa menos sensível. Como é esse sistema que processa todos os prazeres, ele se dessensibiliza a tudo o que antes dava satisfação. Por isso, com o tempo, nem aquela substância vai surtir o mesmo efeito e aí vira uma bola de neve: você precisa cada vez mais de drogas para conseguir um efeito cada vez menor.
Isso acontece em uma área do cérebro que está justamente relacionada com a iniciação sexual, na adolescência. E está relacionada à ideia de que o padrão, o default do cérebro, seria feminino e ele precisaria ser masculinizado.
Como assim?
Imagine que, se nada mais acontecer, o cérebro se forma como feminino. Esse “mais acontecer” são os poucos genes que sobraram no cromossomo Y [responsável por determinar o sexo masculino] e que, no primeiro trimestre da gravidez, estão relacionados à produção de hormônios, por exemplo, que vão masculinizar o cérebro e o corpo. É como a massa de biscoito. Se você não acrescentar o chocolate, o padrão é um biscoito normal, de creme. Você tem que fazer algo mais para mudar esse padrão.
Então o cérebro da mulher é mais antigo?
Não dá para saber que cérebro vem primeiro, embora a ciência tenha boas razões para considerar que o padrão geral é feminino.
O que esperar de um cérebro feminino no comando do país?
Espero o que esperaria de qualquer outra pessoa, homem ou mulher. Votei na Dilma [Rousseff] porque acho que o governo Lula fez mudanças importantes que quero que continuem. Mas não deveria fazer diferença. Até porque a maior parte das tais diferenças entre os sexos está na expectativa das pessoas.
Quais, por exemplo?
Dizer que homem é melhor em matemática ou raciocínio espacial é besteira. Acho que é só motivação. Se você consegue se ver fazendo uma tarefa bem, tudo conspira para que seu desempenho seja bom. E isso desde estacionar o carro até o seu desempenho na escola. Então, se você passa confiança para as meninas desde a escola, se incute nelas a ideia de que são tão boas quanto os rapazes da turma, vai encontrar um desempenho ótimo. Só que muitas vezes são expostas a professoras que não se sentem capazes, justamente porque elas mesmas esperam pouco de si. As mulheres acabam incorporando esse exemplo. Tem uma série de estudos que mostram isso.
Seus colegas questionam o fato de você fazer o meio de campo entre a ciência e o público leigo?
Alguns questionam, mas não sou de ficar fazendo fofoca. Então, tem um lado social que perco. Mas tenho colegas que vêm me agradecer: “Esta semana um aluno me procurou por causa dos seus livros”. Quando o pessoal quer falar mal, diz que meus livros são de autoajuda. Mas acho que a vocação da ciência é justamente essa, você ter aquela informação e usá-la para viver melhor. A ideia é informar o público e valorizar a figura do cientista. A neurociência não se importa só em descobrir doenças e tratamentos. E as pessoas também se interessam em saber como funciona o cérebro feliz, motivado.
E aquela história de que usamos apenas 10% do cérebro, é verdade?
Claro que não! Você usa o seu cérebro todo o tempo inteiro.
Você está escrevendo um livro sobre paixões. Ele é baseado em descobertas recentes da ciência?
É. Ele fala de amor, mas também da paixão pelo trabalho, pelo futebol, pela música. E sobre como isso é fundamental na vida de cada um.
O que é a paixão sob o ponto de vista da ciência?
A paixão é quando o seu cérebro decide que a pessoa mais extraordinária é aquela. O resultado é que você associa muito prazer a ela e tira energia do nada para fazer o que for preciso para ficar perto. A paixão é o estado de motivação extremamente exacerbado. O grande barato é que isso faz você encontrar energia para organizar sua vida em redor daquilo. Sem paixão nada funciona.
Como isso se dá no cérebro?
É o sistema de recompensa: a gente só levanta do sofá se vislumbrar alguma coisa boa como resultado. Sem essa antecipação você não mexe um dedo. É esse sistema que permite que a gente se apaixone pelas coisas e ache que aquilo vai ser bom. Para mim, essa é uma das grandes lições da neurociência moderna.
Quanto tempo dura a paixão?
Não tem um prazo de validade. Ela dura enquanto o cérebro continuar associando prazeres incríveis àquela pessoa. Sabendo disso, tem um monte de coisas que podemos fazer pra manter a chama acesa, como sexo, viagens, novidades de todo tipo, carinho, assistir a aulas interessantes juntos. Tudo isso funciona.
E a ideia de que é preciso sofrer para conquistar algo de bom?
Discordo. O esforço, sim, tem um papel importante. O cérebro detecta quando você fez alguma coisa digna de prêmio. E o prêmio é a sensação de prazer. Mas o que move o esforço é justamente a antecipação do prazer. Então, o reconhecimento que vem do outro, o elogio, é muito importante. Agora, se a pessoa não consegue enxergar nada de positivo em fazer algo, muitas vezes aceita o sofrimento, mas não se mexe. É o que acontece na depressão profunda.
E quando a pessoa é viciada em drogas?
O problema do vício é que ele acaba com a sua variedade de prazeres e a única coisa que funciona é aquela substância. Enquanto, ao natural, a vida da gente é uma sucessão de prazeres variados. As drogas dão um prazer fora de todos os limites normais do que o cérebro conseguiria pelos próprios meios. Então, o cérebro se protege desse excesso tornando seu sistema de recompensa menos sensível. Como é esse sistema que processa todos os prazeres, ele se dessensibiliza a tudo o que antes dava satisfação. Por isso, com o tempo, nem aquela substância vai surtir o mesmo efeito e aí vira uma bola de neve: você precisa cada vez mais de drogas para conseguir um efeito cada vez menor.
“Quando o pessoal quer falar mal, diz que meus livros são de autoajuda. Mas acho que a vocação da ciência é justamente essa, você ter aquela informação e usá-la para viver melhor”
Existe alguma maneira de garantir um cérebro saudável e satisfeito?
O melhor exercício é fazer coisas variadas. Exigir da sua memória, da sua atenção, do seu raciocínio, da sua capacidade de linguagem, da sua capacidade de interagir socialmente com outras pessoas. Tudo isso é importante, quanto mais rica a sua vida, mais você está contribuindo para manter cada uma dessas capacidades do cérebro funcionando bem. Mas, se existe uma panaceia universal, o que chega mais perto disso é o exercício físico. Muita gente acha que não tem tempo, que tem coisa mais importante para fazer, mas o efeito é fisiológico. Seu cérebro muda por causa do exercício intenso e regular.
O que acontece?
Além de melhorar a atenção, a memória, a facilidade de aprendizado, o exercício protege contra os transtornos de humor. Ele é um estabilizador, porque faz com que todas as suas respostas de estresse, de ansiedade, fiquem mais tranquilas. E a autoconfiança que você ganha com qualquer tipo de esporte ou outra atividade se expande para outras áreas.
E o que acontece no cérebro quando estamos ansiosas, preocupadas, tensas?
A parte do cérebro que cuida de todas as suas preocupações recentes, isto é, aquela lista mental com as tarefas do dia, é o hipocampo. Essa lista fala diretamente com um alarme do cérebro que faz a gente ficar alerta, atenta, acordada. Mas, quando esse sistema está em “overdrive”, ou seja, quando seu hipocampo fica hiperativo, é como se você tivesse sua agenda eletrônica tocando o alarme o tempo todo.
Isso piora com a quantidade de estímulos que recebemos hoje em dia?
Sim. O cérebro em si não mudou nada. Mas acho que o problema maior é o potencial de ansiedade que isso gera quando você nota que poderia fazer uma série de coisas além do que está fazendo. Então, a lista mental de preocupações deixa você permanentemente angustiada e ansiosa. Mas isso pode mudar com o exercício físico. O efeito de fazer esporte é comparável ao de antidepressivos e ansiolíticos, com o benefício de que funciona também a longo prazo e não tem efeito colateral.
O melhor exercício é fazer coisas variadas. Exigir da sua memória, da sua atenção, do seu raciocínio, da sua capacidade de linguagem, da sua capacidade de interagir socialmente com outras pessoas. Tudo isso é importante, quanto mais rica a sua vida, mais você está contribuindo para manter cada uma dessas capacidades do cérebro funcionando bem. Mas, se existe uma panaceia universal, o que chega mais perto disso é o exercício físico. Muita gente acha que não tem tempo, que tem coisa mais importante para fazer, mas o efeito é fisiológico. Seu cérebro muda por causa do exercício intenso e regular.
O que acontece?
Além de melhorar a atenção, a memória, a facilidade de aprendizado, o exercício protege contra os transtornos de humor. Ele é um estabilizador, porque faz com que todas as suas respostas de estresse, de ansiedade, fiquem mais tranquilas. E a autoconfiança que você ganha com qualquer tipo de esporte ou outra atividade se expande para outras áreas.
E o que acontece no cérebro quando estamos ansiosas, preocupadas, tensas?
A parte do cérebro que cuida de todas as suas preocupações recentes, isto é, aquela lista mental com as tarefas do dia, é o hipocampo. Essa lista fala diretamente com um alarme do cérebro que faz a gente ficar alerta, atenta, acordada. Mas, quando esse sistema está em “overdrive”, ou seja, quando seu hipocampo fica hiperativo, é como se você tivesse sua agenda eletrônica tocando o alarme o tempo todo.
Isso piora com a quantidade de estímulos que recebemos hoje em dia?
Sim. O cérebro em si não mudou nada. Mas acho que o problema maior é o potencial de ansiedade que isso gera quando você nota que poderia fazer uma série de coisas além do que está fazendo. Então, a lista mental de preocupações deixa você permanentemente angustiada e ansiosa. Mas isso pode mudar com o exercício físico. O efeito de fazer esporte é comparável ao de antidepressivos e ansiolíticos, com o benefício de que funciona também a longo prazo e não tem efeito colateral.
O sexo tem esse mesmo efeito?
De certa forma sim. Boa parte dos benefícios, da sensação de prazer, de relaxamento, é do mesmo sistema de recompensa do cérebro, que é acionado nos dois casos. A diferença é que o sexo tem o componente afetivo, social, emocional, que o exercício físico não tem. E uma das descobertas recentes da neurociência é que o cérebro muda quando você recebe carinho. Todos os sistemas de resposta ao estresse, de geração de ansiedade, tudo isso se acalma, você fica com uma resposta muito mais saudável e isso vale para o resto da vida. Quem recebe carinho na infância, em geral, torna-se um adulto com mais chance de se recuperar rápido de um problema, de lidar com o estresse de maneira mais tranquila.
Você pratica esporte?
Sim, vou três vezes por semana ao pilates. Mas já corri, fiz musculação e três anos de sapateado com minha filha. As pessoas perguntam qual é o melhor exercício. É aquele que você gosta de fazer, porque é o que você vai fazer de fato.
De que maneira esses conhecimentos ajudam no seu dia a dia?
Em muita coisa. Um exemplo é que eu tinha muita enxaqueca e aprendi a aliviar a dor. Quando você inspira profundamente, aumenta a atividade do sistema nervoso parassimpático, que é responsável por tranquilizar, e alivia a dor naqueles segundos. É o que se faz em meditação, ioga, pilates. E hoje sabemos que a percepção da dor aumenta pela atividade simpática, que é responsável pela resposta ao estresse. Então, quanto mais angustiada e ansiosa você fica, maior é sua percepção da dor. Outra coisa que faz diferença é saber do aspecto social do cérebro, isto é, de pensar no que sua ação pode causar nos outros. Desenvolve a tolerância. Você se chateia menos com alguém porque pensa que ele pode ter feito um comentário só porque está tendo um dia ruim.
Você escreveu, em uma coluna na Folha de S.Paulo, que desde que cortou o glúten da alimentação não tem mais enxaqueca. Qual a relação entre os dois?
Ainda não há um entendimento da relação entre os dois além da suspeita do envolvimento de anticorpos produzidos pelo corpo contra o glúten, o que talvez cause inflamação e um número cada vez maior de pacientes que identificam o glúten como gatilho ou fator de risco das crises de enxaqueca. Mas eu estou feliz da vida sem glúten na minha dieta.
Você tem uma filha de 11 anos e um filho de 7. Como os educa?
Aqui em casa ninguém quebra copo e chora. Se alguma coisa quebra, eles ficam parados, olham e já estão pensando no que é para fazer. Quando entrei em trabalho de parto do Lucas, a Luiza tinha 4 anos.
Comecei a sentir dor, ela veio do lado e disse: “Mãe, fica calminha, vai ficar tudo bem. Eu vou para a casa da vovó e o vovô vai te levar para o hospital”. Eu pensei: “Meu Deus, o que eu fiz?” [risos].
Você se separou do seu primeiro marido, pai das crianças, há sete anos. Como foi lidar com isso? Nessa época, um amigo meu, médico, me ligava preocupado, perguntava se estava deprimida, se estava
dormindo. Eu dizia: “Sei que soa estranho, mas é a corrida que está me segurando”. Outro benefício da prática de exercício físico é que é uma das maneiras comprovadas que ajudam a envelhecer mais devagar.
O que mais ajuda a retardar o envelhecimento?
Comer pouco. Tanto a redução calórica quanto o aumento do metabolismo por meio do exercício físico ajudam a reduzir a produção de radicais livres, que são grandes culpados pelo desgaste das células.
De certa forma sim. Boa parte dos benefícios, da sensação de prazer, de relaxamento, é do mesmo sistema de recompensa do cérebro, que é acionado nos dois casos. A diferença é que o sexo tem o componente afetivo, social, emocional, que o exercício físico não tem. E uma das descobertas recentes da neurociência é que o cérebro muda quando você recebe carinho. Todos os sistemas de resposta ao estresse, de geração de ansiedade, tudo isso se acalma, você fica com uma resposta muito mais saudável e isso vale para o resto da vida. Quem recebe carinho na infância, em geral, torna-se um adulto com mais chance de se recuperar rápido de um problema, de lidar com o estresse de maneira mais tranquila.
Você pratica esporte?
Sim, vou três vezes por semana ao pilates. Mas já corri, fiz musculação e três anos de sapateado com minha filha. As pessoas perguntam qual é o melhor exercício. É aquele que você gosta de fazer, porque é o que você vai fazer de fato.
De que maneira esses conhecimentos ajudam no seu dia a dia?
Em muita coisa. Um exemplo é que eu tinha muita enxaqueca e aprendi a aliviar a dor. Quando você inspira profundamente, aumenta a atividade do sistema nervoso parassimpático, que é responsável por tranquilizar, e alivia a dor naqueles segundos. É o que se faz em meditação, ioga, pilates. E hoje sabemos que a percepção da dor aumenta pela atividade simpática, que é responsável pela resposta ao estresse. Então, quanto mais angustiada e ansiosa você fica, maior é sua percepção da dor. Outra coisa que faz diferença é saber do aspecto social do cérebro, isto é, de pensar no que sua ação pode causar nos outros. Desenvolve a tolerância. Você se chateia menos com alguém porque pensa que ele pode ter feito um comentário só porque está tendo um dia ruim.
Você escreveu, em uma coluna na Folha de S.Paulo, que desde que cortou o glúten da alimentação não tem mais enxaqueca. Qual a relação entre os dois?
Ainda não há um entendimento da relação entre os dois além da suspeita do envolvimento de anticorpos produzidos pelo corpo contra o glúten, o que talvez cause inflamação e um número cada vez maior de pacientes que identificam o glúten como gatilho ou fator de risco das crises de enxaqueca. Mas eu estou feliz da vida sem glúten na minha dieta.
Você tem uma filha de 11 anos e um filho de 7. Como os educa?
Aqui em casa ninguém quebra copo e chora. Se alguma coisa quebra, eles ficam parados, olham e já estão pensando no que é para fazer. Quando entrei em trabalho de parto do Lucas, a Luiza tinha 4 anos.
Comecei a sentir dor, ela veio do lado e disse: “Mãe, fica calminha, vai ficar tudo bem. Eu vou para a casa da vovó e o vovô vai te levar para o hospital”. Eu pensei: “Meu Deus, o que eu fiz?” [risos].
Você se separou do seu primeiro marido, pai das crianças, há sete anos. Como foi lidar com isso? Nessa época, um amigo meu, médico, me ligava preocupado, perguntava se estava deprimida, se estava
dormindo. Eu dizia: “Sei que soa estranho, mas é a corrida que está me segurando”. Outro benefício da prática de exercício físico é que é uma das maneiras comprovadas que ajudam a envelhecer mais devagar.
O que mais ajuda a retardar o envelhecimento?
Comer pouco. Tanto a redução calórica quanto o aumento do metabolismo por meio do exercício físico ajudam a reduzir a produção de radicais livres, que são grandes culpados pelo desgaste das células.
“Uma das descobertas recentes da neurociência é que o cérebro muda quando você recebe carinho. Os sistemas de resposta ao estresse se acalmam”
A mulher parece envelhecer mais rápido do que o homem. Isso acontece? A aparência é cruel. Homens ficam lindos quando envelhecem. As mulheres só ficam velhas. Isso faz sentido na evolução: as mulheres valorizam nos homens a responsabilidade, a dedicação à família, características que vêm com a idade. Nos homens, elas ficam cada vez mais intensas e aparentes, então, ficam lindos grisalhos. Já a mulher, quando fica grisalha, só fica velha. Em termos evolutivos, uma mulher velha é a que não reproduz mais. E os homens, se se interessarem por mulheres jovens, podem deixar mais descendentes. E tem outras diferenças associadas a isso.
Por exemplo?
Por exemplo, as mulheres loiras têm pele mais clara e tendem a envelhecer mais rápido. Então, quando uma mulher morena pinta o cabelo de loiro, ela acaba parecendo mais nova do que é. E isso tende a deixá-la mais atraente para os homens.
Você pinta o cabelo?
Pinto. Tenho uma quantidade incrível de cabelos brancos e recentemente descobri a hena, que fica ótima. Eu não quero ter uma aparência envelhecida porque não me sinto assim.
Como lida com a ideia da morte?
Quero morrer bem velha. No meu laboratório tem um monte de cérebros humanos em formol, então não passo um dia sem lembrar de que vou morrer, o que é uma coisa boa. Como tenho certeza de que isso tudo acaba, acho bacana a gente usar bem o que tem.
Acredita em vida após a morte?
Não acredito em nada disso. Sou ateia. Não acredito em Deus. Encontrar uma explicação para as coisas que acontecem é uma das atividades-padrão do cérebro. A diferença entre as pessoas está em que tipo de explicação você aceita, quanto de evidência você exige. Para mim, o problema é que não posso testar a explicação de Deus.
Você se sente discriminada quando assume que é ateia?
No Brasil me sinto. É só abrir os jornais e ver que quando começam a falar sobre assuntos relacionados à política, que tocam em religião, como aborto e casamento gay, fica claro que este país se diz laico, mas não é. A religião, sobretudo a católica, tem uma mão incrível dentro do governo, olha a quantidade de padres e pastores na bancada do Congresso. Num país laico, não deveria fazer diferença qual é sua religião e se você tem uma. O bacana é a aceitação. Na prática, os ateus tendem a ser mais tolerantes do que os próprios religiosos. Prefiro acreditar no que está ao alcance das minhas mãos.
Por exemplo?
Por exemplo, as mulheres loiras têm pele mais clara e tendem a envelhecer mais rápido. Então, quando uma mulher morena pinta o cabelo de loiro, ela acaba parecendo mais nova do que é. E isso tende a deixá-la mais atraente para os homens.
Você pinta o cabelo?
Pinto. Tenho uma quantidade incrível de cabelos brancos e recentemente descobri a hena, que fica ótima. Eu não quero ter uma aparência envelhecida porque não me sinto assim.
Como lida com a ideia da morte?
Quero morrer bem velha. No meu laboratório tem um monte de cérebros humanos em formol, então não passo um dia sem lembrar de que vou morrer, o que é uma coisa boa. Como tenho certeza de que isso tudo acaba, acho bacana a gente usar bem o que tem.
Acredita em vida após a morte?
Não acredito em nada disso. Sou ateia. Não acredito em Deus. Encontrar uma explicação para as coisas que acontecem é uma das atividades-padrão do cérebro. A diferença entre as pessoas está em que tipo de explicação você aceita, quanto de evidência você exige. Para mim, o problema é que não posso testar a explicação de Deus.
Você se sente discriminada quando assume que é ateia?
No Brasil me sinto. É só abrir os jornais e ver que quando começam a falar sobre assuntos relacionados à política, que tocam em religião, como aborto e casamento gay, fica claro que este país se diz laico, mas não é. A religião, sobretudo a católica, tem uma mão incrível dentro do governo, olha a quantidade de padres e pastores na bancada do Congresso. Num país laico, não deveria fazer diferença qual é sua religião e se você tem uma. O bacana é a aceitação. Na prática, os ateus tendem a ser mais tolerantes do que os próprios religiosos. Prefiro acreditar no que está ao alcance das minhas mãos.
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