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sábado, 20 de setembro de 2014

Fernando Pessoa em poema



Presságio


O amor, quando se revela,

Não se sabe revelar.

Sabe bem olhar pra ela,

Mas não lhe sabe falar.


Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há de dizer.

Fala: parece que mente…

Cala: parece esquecer…


Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,

E se um olhar lhe bastasse

Pra saber que a estão a amar!


Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente

Fica sem alma nem fala,

Fica só, inteiramente!


Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,

Já não terei que falar-lhe

Porque lhe estou a falar…


Fernando Pessoa