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sábado, 14 de setembro de 2013

Sem fantasia - Chico e Bethânia / Maria Bethânia, Sem Açucar


Marcos Valle - 70 anos de Bossa


Compositor de grande obra plural, Marcos Valle chega jovial aos 70 anos


Em 2009, quando Zélia Duncan lançou Pelo sabor do gesto, excelente álbum de tom pop romântico, Os dentes brancos do mundo reluziu como joia moderna escondida no baú dos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle. Para grande parte do público, a bela canção soou como inédita, mas tinha sido lançada há 40 anos, em 1969, em gravações quase simultâneas de Marcos Valle e das cantoras Claudette Soares e Evinha. Os dentes brancos do mundo é a prova de que o Brasil ainda precisa se debruçar com mais atenção sobre a obra plural de Marcos Kostenbader Valle, cantor, compositor e pianista natural do Rio de Janeiro (RJ) que veio ao mundo em 14 de setembro de 1943. Consagrado em escala mundial já em 1966, quando seu carioquíssimo Samba de verão (Marcos Valle Paulo Sérgio Valle, 1964) obteve exposição planetária a partir do estouro nos Estados Unidos, Valle chega aos 70 anos de vida com ar jovial como seu cancioneiro. Os 70 anos de vida coincidem com os 50 de carreira fonográfica, iniciada em 1963 com a edição de seu álbum Samba "demais" (Odeon) e com a gravação pelo conjunto vocal Os Cariocas de duas músicas inéditas do então estreante compositor, Vamos amar (Marcos Valle e Edu Lobo) e Amor de nada (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), ambas incluídas no álbumMais bossa com Os Cariocas (Philips, 1963). Imersa na onda modernista da Bossa Nova, a obra inicial de Marcos Valle esteve sempre em movimento ao longo desses 50 anos. Mesmo quando revisita seus clássicos, Valle os repagina com novos timbres e climas, tornando sua bossa sempre nova. Aliás, enquadrar a música de Marcos Valle no escaninho da Bossa Nova é reduzir seu cancioneiro à magistral fase inicial. O sucesso de Samba de verão foi tsunami que nunca conseguiu arrastar o compositor na maré da repetição. Ícone da segunda geração da Bossa Nova, Valle deu tom engajado à parte de seu cancioneiro já em 1965, desaguando involuntariamente no subgênero rotulado como música de festival - vertente da qual a toadaViola enluarada (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1968) se impôs instantaneamente como obra-prima, ganhando as vozes politizadas de cantores como Milton Nascimento e Beth Carvalho. E Valle seguiu em frente. Em Mustang cor de sangue (Odeon, 1969), o compositor esboçou nova virada com este álbum em que seu cancioneiro ganhou moldura pop e explicitou a influência dos ritmos nordestinos, latente desde o primeiro disco do artista. Na sequência, o álbum Marcos Valle (Odeon, 1970) consolidou a virada pop - com as adesões do grupo Som Imaginário e dos mineiros Nelson Ângelo e Novelli - e Garra (Odeon, 1971) refinou esse enquadramento pop, com soul e suingue, dando vida a clássicos como Black is beautiful e Com mais de 30. Já Vento sul (Odeon, 1972) direcionou a música de Valle para rota progressiva com boa dose de lisergia. Abertas todas as portas da percepção musical na primeira metade dos anos 70, Valle partiu para outra viagem, rumando para os Estados Unidos e voltando ao Brasil somente no início dos anos 1980, década em que se lambuzou com o tecnopop em voga na época. Estrelar (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1983) foi a trilha da malhação praticada pelos carioca da geração saúde - sucessores da turma que pegou a onda do sal, céu, sol e Sul em fins dos anos 50. Nos anos 90, Valle viu sua música ser jogada nas pistas mais antenadas da Europa em nova onda de sucesso mundial que alcançou o Brasil e fez com que sua discografia fosse revitalizada em solo nacional, motivando reedições de sua discografia e os lançamentos de discos feitos para o exterior. Neste ano de 2013, o recém-lançado CD Marcos Valle & Stacey Kent ao vivo (Sony Music) - gravado com a cantora norte-americana de jazz Stacey Kent - passou em revista, com frescor, obra já cinquentenária que ainda cheira à real modernidade. Parabéns, Marcos Valle, por seus 70 ensolarados verões!!

Postado por Mauro Ferreira