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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Isto é o meu Brasil - João Bosco e convidados - Heineken Concert 95


RELATO DO "DESCOBRIMENTO" DO BRASIL

RELATO DO   

 

 

"Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa.
Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos -- terra que nos parecia muito extensa.
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!
E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê.
 
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Pero Vaz de Caminha."

Saudade fez um samba (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli)


PRA EU PARAR DE ME DOER - MARIA BETHÂNIA -



MARIA BETHÂNIA - PRA EU PARAR DE ME DOER
A BEIRA E O MAR
De Milton Nascimento e Fernando Brandt

"Mais que a dor do amor
Viver a dor
Me doeu
Eu quero mesmo é ser feliz
Amor, amor
Quem não semear
Não vai colher
Ai de quem
É um e nunca será dois
Por não
Saber
Quem irá me valer?
São pessoas, é a caminhada
Quem irá me valer?
São meus sonhos no pó da estra....da
Quem irá me valer
É o sorriso que guardo comigo
Quem irá me valer?"

Do desejo

Publicado em 17 de abril de 2013 por Silvia Badim Eu não desejo nem preciso de navio. Depois de navegar com embarcação pesada, âncoras firmes e trajetos de bússola reta, eu não preciso mais. Navio pesado de muita carga enfrenta o mar com escudo. Adentra o desconhecido com certezas enraizadas, olhos vendados para o horizonte do acaso. Navio pesado quer ser terra no meio do mar. Quer levar para o mar bagagem densa de construção inabalável. Coitado do navio, ele também afunda. Diante do mar navio também é pequeno, porque o mar engole. O mar é desejo. Imensidão de ondas improváveis e arrebatadoras. O mar é susto. Impermanências e desafios de não saber onde se pisa o chão novamente. Beber o mar alimenta. — Fotografia de Simone Elias Ir no navio de guarda-chuva, bússolas e máquinas de controle do tempo? Não, eu não quero o navio. Lá fora tem o mar, e diante do mar não tem controle. Diante do mar tem mergulho e desaviso. Tem imensidão disforme e vento de liberdade. Tem a gente refletido onde não se enxerga com os olhos. Eu quero o mar. Sentir inebriada o cheiro de maresia fértil de vida. A nuvem que se ergue sem aviso e faz sombra e voo cego. O escuro azul que só se toca com os sentidos. Onde se guarda o desejo que não se vive? Sim, eu quero o mar. Uma canoa com direito a mergulhar em mar aberto é bonito. Uma canoa leve com remendos e a vastidão de poder ser. O acolhimento de depois é o vento. O vento quente, o mar e a pequenina embarcação consideram a precariedade bonita do amor. O espaço vazio. E nele tem dança. Danças de ondas e improváveis. Ir adiante no meio das águas revoltas. Porque ali tem movimento. E a vida é feita das impermanências e transformações dessas águas. Às vezes a gente afoga, mas não perde o ar. Quando a canoa vira a gente reinventa a travessia. Acha ar dentro d´água. No navio tem pouco ar. Oxigênio em lata. Como viver sem o ar puro e livre do desejo? Na canoa tem fome mas tem peixe fresco. Peixe que a gente pesca com as mãos. Não precisa de abridor de lata porque a gente pode colher fruta das gotas salgadas. E o horizonte, sim, o horizonte. Na canoa tem horizonte rosa que se toca com a pele. Tem frio gelado que pede uma toalha seca que não tem. Tem lábio rachado sem protetor solar. Tem dor de escamas. E tem a gente inteiro, ali, inteiro em contradições, dores, desacertos e humanidades. Em feio e bonito. Em tudo que é. Poder desejar e ser brisa de mar. Poder parar em qualquer lugar. Na canoa a gente pode acolher o próprio desejo. http://biscatesocialclub.com.br/tag/desejo/