Pesquisar este blog

sábado, 5 de julho de 2014

O que a Bahia ainda tem





Aninha Franco em Trilhas do Face, 5.7.2014,


Quando o Dois de Julho e a Festa de Oyá acontecem em Salvador, uma vez por ano, explodem cotidianos de open, point, hot, fashion, all inclusive, resort, e são brasileiras e baianas, o que poucas manifestações conseguem, hoje, no País. A colonização cultural estadunidense asfixiou o Brasil e enfeou a Bahia, território de brasilidade inconteste e de baianidade resistente.

Mas os gestores precisam fazer sua parte para proteger as tradições que sobrevivem ou as perderemos como perdemos as festas de largo, os festejos juninos, as receitas gastronômicas e as expressões idiomáticas. Sem elas, seremos a colônia do azeite de dendê e da farinha de guerra que considera azeite doce e farinha-do-reino mais saborosos e distintos.
Guilherme Bellintani e Fernando Guerreiro, responsáveis pelas festas populares do Município, ainda não se moveram “de com força” em relação às festas de largo, a de Nossa Senhora da Conceição, 8 de Dezembro; a de Santa Luzia, 13 de Dezembro; a de Bom Jesus dos Navegantes, Primeiro do Ano; a Lavagem do Bonfim, segunda quinta-feira de janeiro. E o Carnaval de rua, aleijado pela Indústria nos últimos vinte anos, recebeu remédios anódinos. A Festa de Oyá tem proteção de suas sacerdotisas, seus ebós e seus raios certeiros. E permanece intacta.
Mas o último desfile do Dois de Julho foi desolador. Em ano eleitoral, sabe-se, o cortejo tende a politizar-se e, por isso mesmo, são necessários guardiões de sua estética para impedir o que se viu nas ruas neste ano. Na fronteira entre o Pelourinho e o Santo Antônio, uma Marujada belíssima e solitária salvava o sabor da festa.
No Santo Antônio, a Cabocla e o Caboclo passaram, sozinhos. Depois de um tempo, surgiu o Governador após centenas de seguranças e batedores farejarem vaias, que acabaram acontecendo. Depois de longo vazio, o Prefeito ACM Neto chegou de pop star, quase devorado pela multidão. E o vazio posterior sugeriu que o Cortejo foi político, realizado na primeira data vitoriosa do Brasil insurgente, depois que as sedições, as inconfidências e as revoltas levaram às prisões e à morte milhares de resistentes à colonização. Não é uma data qualquer. É a nossa data mais importante. Para sempre. Perdê-la é ameaçar o que nos resta de baianidade.

Aninha Franco