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quinta-feira, 8 de março de 2012

Todas as mulheres

 

[ Para Leila Diniz, síntese da mulher brasileira ]

As mulheres sempre me interessaram soberanamente. Esta frase não é minha, mas do saudoso Darcy Ribeiro, educador, antropólogo, poeta e mulherólogo. Tomo a frase como minha porque são elas, as moças, a razão do meu viver, o sal da minha inspiração, o motor que move a engrenagem das minhas vontades.

A companhia feminina me leva a escrever, a trabalhar, a amar. É música para os meus ouvidos. Sem a presença das mulheres não haveria o cristal invisível entre o sonho e a realidade dos homens – este desejo incontrolável de conquistar territórios, este sopro belicoso a conduzir nossa alma pelos campos de batalha.

Escrevo sobre as moças enquanto escuto o novo disco do Grupo Anima. Donzela Guerreira, inspirado no estudo homônimo de Walnice Nogueira Galvão, beira o sublime ao musicar o mito da mulher que se veste de homem e vai à guerra. Este arquétipo feminino está presente em todas as culturas e épocas. Está na literatura, na mitologia e na história. No Brasil, por exemplo, está encarnado em Maria Quitéria, heroína da Independência, e em Diadorim, personagem de Grande Sertão: Veredas, clássico de Guimarães Rosa.

A moça insubmissa e revolucionária, que subverte o papel historicamente destinado às mulheres, parece ser não apenas uma aspiração feminina, mas uma fantasia dos homens. Não deve ser coincidência o fato de a deusa Palas Atena ter nascido da cabeça de Zeus, depois que este, sofrendo com terríveis dores de cabeça, pediu que o filho Hades lhe abrisse o crânio com um porrete. Para o espanto dos deuses do Olimpo, dentro da cabeça de Zeus havia uma jovem mulher empunhando escudo e espada.

Também na mitologia iorubá temos a donzela guerreira na figura de Iansã, orixá dos ventos e tempestades, cuja beleza deflagrou uma disputa mortal entre Ogum, o poderoso deus da guerra, e Xangô, o impiedoso rei de Oyó. Destinada a lutar por liberdade, Iansã amou a ambos e não foi de nenhum. Não por acaso, sua espada tem a forma de um raio, uma chispa de fogo que encanta e amedronta.

Sendo uma das mais secretas e inconfessáveis fantasias masculinas, a mulher rebelde suscita medo e ódio. Ainda que sua causa seja justa, tem de ser combatida pelo machismo. Mais do que combatida: apagada da história. Cabe citar, neste caso, a obsessão que os militares brasileiros tinham por decapitar as guerrilheiras presas durante a ditadura. A prática de separar a cabeça do corpo revela, simbolicamente, o desejo inconsciente de eliminar não somente a vida física, mas as ideias.

Está em voga, sobretudo após a eleição da ex-guerrilheira Dilma Rousseff para a presidência do Brasil, um tipo de pensamento retrógrado que tenta desqualificar aqueles que lutaram contra a Ditadura. Comparar opositores do regime a terroristas é uma tática suja utilizada por quem perdeu o bonde da história. A resistência à tirania é um direito reconhecido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. O único responsável pelo surgimento da luta armada foi o governo ilegítimo instalado em Brasília na base da força. A guerrilha nasceu como resposta à violência do Estado e não o contrário. Foi assim na Argentina, em Angola, na Argélia, em todas as partes do mundo onde houve ditaduras.

Eram terroristas aquelas moças que, como Dilma, enfrentaram o pau-de-arara e o choque elétrico? Ou eram terroristas os que censuravam, perseguiam, torturavam e matavam em nome da Família, de Deus e da Propriedade? Era terrorista a estudante Helenira Resende, que sonhava em ser crítica de arte e morreu a golpes de baioneta no Araguaia?




Principalmente em março, quando lembramos o massacre das operárias de Chicago, queimadas vivas quando reclamavam melhores condições de trabalho numa fábrica de tecidos, temos o dever de refletir sobre a importância da mulher na história das lutas democráticas. No Brasil, apesar de quase não figurarem nos livros de história, elas assumiram papel determinante nas conquistas e foram sempre a vanguarda. Da inesquecível Flor da Noite, a prostituta que colaborou na insurreição dos marinheiros da Revolta da Chibata, passando por Leila Diniz, que libertou as moças dos grilhões do moralismo hipócrita, as mulheres costuraram o mapa do Brasil, bairro por bairro, rua por rua, casa por casa, forjando o espírito sensual e criativo desta nação grávida de futuro.

[ Fotos de Leila Diniz na praia de Ipanema e com Paulo José, no filme Todas as Mulheres do Mundo]


Woman in love - Barbra Streisand & Bee gees


Barbra Streisand - Woman In Love
from the album ' Guilty ' Written Barry Gibb and Robin Gibb (Bee Gees)


Life is a moment in space
When the dream is gone
It's a lonelier place
I kiss the morning goodbye
Down inside, you know we never know why
The road is narrow and long
When eyes meet eyes
And the feeling is strong
I turn away from the wall
I stumble and fall
But I give you it all

I am a woman in love
And I'd do anything
To get you into my world
And hold you within
It's a right I defend
Over and over again
What do I do

With you eternally mine
In love there is no measure of time
We planned it all at the start
You and I live in each other's heart
We may be oceans away
You'll feel my love
I hear what you say
No truth is ever a lie
I stumble and fall
But I give you it all

I am a woman in love
And I'd do anything
To get you into my world
And hold you within
It's a right I defend
Over and over again
What do I do

I am a woman in love
And I'm talking to you
You know I know how you feel
What a woman can do
It's a right I defend
Over and over again

I am a woman in love
And I'd do anything
To get you into my world
And hold you within
It's a right I defend
Over and over again


Perfidia - Ibrahim Ferrer

¿La lengua tiene género? ¿Y sexo?

Una decena de personalidades de la cultura, la política y la educación entra en el debate sobre el sexismo del idioma español planteado por Ignacio Bosque


FERNANDO VICENTE
Una situación debida, en parte, a dos ondas expansivas claves de los últimos años: la imperiosa necesidad de reconocer los derechos e igualdades a las minorías o grupos marginados y la imposición del llamado lenguaje políticamente correcto, trenzados en el caso de combatir contra la discriminación de la mujer. Sobre este punto, Bosque dice: “Puede existir, en efecto, alguna relación entre el lenguaje que se propugna en estas guías y la tendencia general a usar términos políticamente correctos. Aun así, creo que la relación es solo indirecta, ya que el conjunto de medidas que propugnan las guías de lenguaje no sexista no afecta solo al léxico, sino también a la sintaxis y a la morfología. Tienen, pues, mayor incidencia sobre la estructura del idioma”.
Ante la pregunta sobre qué mensaje podría dar a los profesores, sobre todo de primaria y secundaria, y la población en general, el académico empieza con un ejemplo: “No estoy seguro de en qué medida han calado las propuestas de estas guías entre los profesores de Enseñanza Media, pero algunos amigos me decían hace poco que sus hijas no sabían si debían considerarse excluidas o no cuando en la escuela se hablaba de niños o de alumnos”. Bosque insiste en que el artículo no es más que una llamada a la sensatez. Asegura que en el texto se critica la suposición gratuita de que una serie de pautas del lenguaje común, usadas por todos los hispanohablantes, son sexistas. Pero añade: “No hay ninguna razón para suponer que lo sean, ni para tachar de sexista a la mayor parte de la población hispanohablante por el simple hecho de usarlas”.
Son varias las personas que han dado su opinión sobre el análisis y el tema en general.

ADELAIDA DE LA CALLE
Rectora de la Universidad de Málaga y presidenta de la Conferencia de Rectores de Universidades Españolas
“Es un auténtico trabajo de investigación con todo el sentido. La sociedad española ha funcionado normalmente con un lenguaje muy sexista y hay que cambiarlo, igual que hemos cambiado montones de actuaciones. La mujer debe contar en todo, y eso incluye el lenguaje. Es cierto que la lengua es algo vivo y se va adaptando a las circunstancias en cada momento y características, y que, hasta hace relativamente poco, la mujer no formaba parte de muchos aspectos y era difícil que contase en una estructura lingüística diferente a la que se había ido generando a lo largo del tiempo. Ahora somos conscientes y lo estamos intentando. Hay que poner a la mujer en valor y hacer el esfuerzo de cambiar el lenguaje, aunque no se puede lograr de la noche a la mañana. Debemos trabajar desde los primeros niveles de la enseñanza. También tengo claro que el genérico se debe seguir utilizando porque no se hace con tono discriminatorio”.

AMELIA VALCÁRCEL
Catedrática de Filosofía Moral y Política (UNED)
“La gramática no es la vida”.

CARMEN BRAVO
Secretaria Confederal de la Mujer de CC OO
“Al académico, catedrático y ponente de la Nueva gramática, ante el conocimiento de las numerosas publicaciones para la utilización de un lenguaje no sexista, debiera inquietarle esta realidad e instar a la Academia a promover la utilización de un lenguaje no sexista; no para dar mayor visibilidad a la mujer a través del lenguaje, sino para no ocultar el género social: mujeres y hombres.
Si el uso genérico del masculino para designar a los dos sexos está muy asentado como él dice, lo está, entre otras razones, por el sesgo androcéntrico de las instituciones y de quienes son responsables de la vigilancia del buen uso de la lengua. Por eso, desde Comisiones Obreras promovemos un uso de la lengua más inclusivo desde el punto de vista del género y más igualitario desde la práctica democrática del lenguaje y demandamos que la RAE también lo haga.
En CC OO las guías sobre la utilización de un lenguaje no sexista son elaboradas por personas expertas y formadas académicamente (no precisamente por este autor), con excelentes currículos en lengua española, por lo que nuestra apuesta por un lenguaje inclusivo de género no carece de fundamentos lingüísticos, ni de objetivos sociales como son: democratizar el lenguaje y dar visibilidad social a los géneros femenino y masculino y lograr una sociedad más igualitaria y transparente desde el punto de vista del género lingüístico”.

INMACULADA MONTALBÁN
Presidenta de la Comision de Igualdad del CGPJ
“La profesora sustituta llegó a la clase de música de primaria y animosa exclamó: ‘Ahora vamos a cantar todos los niños’. La hija de mi amiga quedó callada como el resto de sus compañeras. No se dieron por aludidas. Su maestra de todos los días hablaba de niños y niñas.
Es un ejemplo de la importancia del lenguaje en la formación de las personas y en sus actitudes. La utilización de un lenguaje no sexista es algo más que un asunto de corrección política, porque influye poderosamente en el comportamiento y en las percepciones.
Nombrar algo o a alguien es darle presencia, visualizarlo. Mediante el lenguaje se nos llama y se nos ignora y todo ello condicionará la imagen de la realidad que nos construyamos y cómo la transmitiremos. Para existir todo debe tener un nombre. La utilización sexista del lenguaje implica la invisibilidad de las mujeres, tanto de su presencia como de sus logros. Así lo entiende la Ley de Igualdad, cuando fija como criterio general de actuación de los poderes públicos la implantación de un lenguaje no sexista en el ámbito administrativo. Una prescripción respetada por el Consejo General del Poder Judicial que, a propuesta de su Comisión de Igualdad, aprobó unas Normas mínimas para evitar la discriminación de la mujer en su lenguaje administrativo”.

LAURA FREIXAS
Autora de Literatura y mujeres
“1) Me parece excelente que haya debate —nada menos que en la portada de EL PAÍS— porque para solucionar un problema cualquiera (en este caso la invisibilidad lingüística de las mujeres) el primer paso imprescindible es reconocerlo como problema. Es una buena noticia que el debate sobre el sexismo de la lengua se haya colocado en la agenda, como pasó hace unos años con la violencia de género, y, hace un siglo largo, con el sufragio femenino. Vamos bien. Además, me alegro de que por fin se plantee un debate, con argumentos, en lugar de las caricaturas, exabruptos y ocurrencias a los que algunos articulistas (lo pongo en masculino porque son todos varones) nos tienen acostumbrados/as. ¡Ya era hora!
2) Desde sus orígenes en el siglo XVIII, el feminismo creyó que la igualdad entre los sexos se conseguiría mediante la igualdad política, jurídica y educativa. Cuando por fin las hemos conseguido, resulta que aún estamos muy lejos de la igualdad real. ¿Por qué? ¿Qué ha fallado, qué falta? Yo creo que la respuesta está en la cultura. Y la cultura es la ilustración figurativa de lo que el lenguaje expresa a un nivel más abstracto: la jerarquía entre los sexos y el monopolio de la condición humana por parte del varón. El lenguaje tiene parte de culpa de que todo lo femenino sea visto como parcial, marginal, particular... mientras que lo humano se confunde con lo masculino. Para decirlo gráficamente: prefiero decir ser humano en vez de hombre porque puedo decir: ‘Como ser humano moderno, yo...’ y no: ‘Yo, Laura Freixas, en tanto que hombre moderno...’. O porque si digo ‘El hombre medieval moría con frecuencia en el campo de batalla’, nadie se pregunta de qué morían las mujeres. Se supone que hombre abarca a ambos sexos pero, ¿acaso podemos decir: ‘El hombre medieval a menudo moría de parto’?”.

JAVIER GOMA
Filósofo y director de la Fundación Juan March
“Las reglas que regulan el lenguaje son una creación popular, emanaciones del pueblo y de su espíritu como diría Montesquieu, y, por tanto, no hay nada más soberano y democrático que lo que emana del pueblo, y el lenguaje es soberano. Por otra parte, no es nunca neutro en el sentido de que cuando uno utiliza una palabra no solo se refiere a lo que ese término designa, sino a un universo de connotaciones, de tal manera que cuando sea correcto gramatical o sintácticamente también ellas están cargadas de ideología. Son dos observaciones paralelas y no debemos admitirlas por ser solo una cuestión filológica porque lo ideológico le subyace con una visión del mundo. Y si la sociedad entiende que esa visión del mundo que subyace a la filología es incorrecta o degradante o injusta creo que se pueden adoptar algunas medidas para corregirlas. El lenguaje es en sí mismo una costumbre y las correcciones deberían convertirse en costumbre y no en una imposición de nadie”.

PURIFICACIÓN CAUSAPIÉ
Secretaría de Igualdad del PSOE
“Valoramos positivamente que el informe reconozca la desigualdad y la discriminación de la mujer existente en nuestra sociedad; si bien considera que el lenguaje debe hacer visibles a las mujeres, contribuyendo de esta forma a erradicar esa desigualdad. El idioma es algo vivo y cambia para adaptarse a la sociedad y en este sentido el lenguaje debe servir para expresar también la igualdad entre hombres y mujeres. Debemos encontrar un consenso, por supuesto también con los lingüistas y con la Real Academia, para alcanzar este objetivo”.

ENRIQUE VILA-MATAS
Escritor
“Me es imposible verlo de un lado distinto al de la Real Academia. El lenguaje está hecho esencialmente para entenderse. Por tanto, todo lo que se aparte de esto es un despropósito. Y despropósito es creer que siempre hay discriminación en las expresiones nominales construidas en masculino con la intención de abarcar los dos sexos. Y aún mayor despropósito es que, siguiendo las recomendaciones de una guía no sexista, creamos que hay que decir ‘personas sin trabajo’ en lugar de algo que todos comprendemos muy bien: ‘Parados’. A este paso, acabaremos —para variar— no entendiéndonos nada entre nosotros, hablando de Españadanía para no tener que decir Españo o España (demasiado masculino o femenino respectivamente)”.

FRANCISCO FERNÁNDEZ BELTRÁN
Presidente de la Unión de Editoriales Universitarias Españolas
“El informe de la Academia es un estudio equilibrado y una advertencia necesaria sobre ciertos abusos. Resulta evidente que todos los ejemplos expuestos merecen una reflexión desde el punto de vista lingüístico. No hay que olvidar que determinadas prácticas y recomendaciones de las citadas guías se plantean para hacer una llamada de atención sobre una situación de infravaloración de las mujeres, que en determinados ámbitos no han alcanzado la plena igualdad, pero ello no debe poner en riesgo la utilidad del idioma como herramienta de comunicación y relación”.

OUKA LEELE
Fotógrafa y artista
"Creo firmemente en el poder de la palabra. La influencia de la estructura del lenguaje en la cultura es enorme. El uso de las palabras ha de ser consciente y si en cuanto a la visibilidad de la mujer ha de hacerse una revisión del lenguaje, estoy completamente de acuerdo con ello. Es importante que nos demos cuenta de lo que decimos y de lo que nuestras palabras pueden influir sobre todo cuando se trata de la formación de las niñas y los niños que ya en el aprendizaje de su lengua materna reciben todo el peso de su cultura casi sin darse cuenta. E interiorizan una supremacía o minusvalía de su género en el simple hecho de aprender a hablar.
Por otro lado hay palabras como poeta que son muy bonitas y que no necesitan de la palabra poetisa o poeto para definir su género cuando se puede entender por el artículo: la poeta o el poeta. Como no me gustaría periodistisa para el femenino de periodista o periodisto para el masculino. Hay también que cuidar la belleza de una lengua cuando se plantean cambios para la mejoría, la igualdad y la dignidad de todas las personas que practican esa lengua".

http://cultura.elpais.com/cultura/2012/03/04/actualidad/1330896843_065369.html


Por qué la lengua levanta pasiones

La polémica por el texto de Bosque muestra la volatilidad de las cuestiones en torno al idioma



Pasión. Mucha pasión. Eso es lo que más ha ido incorporando la lengua castellana o española a su ADN y al de sus hablantes a la hora de referirse a ella. Ese es el verdadero hilo que la recorre a lo largo de sus mil años con quienes la utilizan y a quienes sirve; por eso se han generado batallas, escaramuzas y emboscadas que no dejan impasible a nadie.
En los últimos quince años, los temas en torno a la lengua han puesto a hablar a todo el mundo hispanohablante en veinte países. El arco lo inaugura aquella frase de "Jubilemos la ortografía", pronunciada por Gabriel García Márquez en la inauguración del I Congreso de la Lengua en Zacatecas (México), y lo cierra por ahora el informe Sexismo lingüístico y visibilidad de la mujer, elaborado por el académico Ignacio Bosque y aprobado por 26 miembros de número de la Real Academia. ¿Pero por qué despiertan tanta pasión los temas relacionados con la lengua? "Tal vez sea una reacción de autorreconocimiento inconsciente de la conciencia de nosotros mismos como grupo, una reacción a priori a la conciencia", improvisa Álvaro Pombo, escritor y académico.
El debate actual que ha desatado el análisis sobre el lenguaje no sexista fue precedido por el que originó la nueva edición de la Ortografía del año pasado. Entre otras cosas se propuso un solo nombre para cada letra, y ahí se encendió la mecha: que la i griega pasará a llamarse ye, mientras la uve unificaría las llamadas be baja y be corta. Al final valen las dos.
"Es que el lenguaje es lo único que tenemos todos, lo que tiene cada uno para seguir hablando, comunicarse, expresarse. El lenguaje es lo más democrático que existe", reflexiona Javier Marías, escritor y académico que en muchas ocasiones se ha referido a este tema incluso en sus libros. Por todo eso, agrega Marías, "lo sentimos como algo irrenunciable y no aceptamos manipulaciones ni dirigismos de ninguna índole ni procedencia. Ni de la Academia ni de instituciones ajenas. Los cambios que vengan serán acordes con su evolución natural. El dirigismo en la lengua no tendrá éxito porque cualquier imposición en ella la vemos como una intromisión intolerable en nuestro habla y en nuestro pensamiento; como un atentado a nuestra verdadera libertad".

La intromisión en la lengua la vemos como un atentado a la libertad
Javier Marías

En 2000, la RAE tachó de entrometidas a las academias catalana, gallega y vasca cuando incluyó en el libro de Ortografía una serie de topónimos con una grafía "inadecuada". Mientras en 2010 la presión hizo que la RAE diera marcha atrás y no modificara la definición del término "nacionalidad", vinculando nacionaliad con la "condición de pertenencia a un Estado".
"¿Por qué nos apasionan o nos hieren las cuestiones léxicas, gráficas (me refiero a las tildes y acentos) o terminológicas?", se pregunta el sociólogo y escritor Enrique Gil Calvo. Y explica: "Puede ser debido a que nos identificamos con nuestros nombres, a que hacemos una cuestión de identidad personal de lo que solo es una herramienta nominal. La nuestra parece ser todavía una sociedad estamental, nobiliaria, incluso señorial, en la que nos identificamos con los nombres que designan nuestra identidad. Y si nos cambian las palabras o los signos, nos sentimos desposeídos, degradados o hasta ultrajados. Por eso reaccionamos con dignidad ofendida".

http://cultura.elpais.com/cultura/2012/03/06/actualidad/1331072204_886132.html

Dueto

Deixa eu morrer só um pouquinho? No teu colo, na tua mão, no teu olho? Deixa eu descansar, não precisar rir nem falar nem escrever as histórias todas que se fazem em tantas letras que você me ensinou desnecessárias? Deixa eu parar, eu não ser, não precisar, não dizer, não fazer. Deixa eu não, sussurro contra o vento, mas você não sabe da minha prece e acena, displicente, e não me deixa morrer.








A noite, enorme. A fome, enorme. Não há luas em mim. Nenhuma luz. Um viver maior que eu me oprime e mesmo a beleza só é percebida em memória. Em surpresa, recebo-te na noite. Eu precisava tanto. E vieste. Como um abraço, as boas palavras. Que foram se fazendo calor e intimidade. Leve, tua mão é leve ao pousar na lembrança e brincar de despertar os sentidos. A fala desenha caminhos e o corpo se faz estrada, percorre-me, eu diria se alguma coisa fosse dizer. Mas calo e só quem fala é a fome. Enorme.
 
 
 
 

Lugares




Lembro da tua mão.

Eu cabia inteira na palma.

Lembro do seu coração.

Território inóspito

Ficava lá, aos pedaços.

Pus-me em exílio, nômade, inteira,

Não há mais quem me abarque.

Não caibo mais nem em mim.


Luciana Nepomuceno

O LADO QUENTE DO SER - MARINA LIMA


MARINA LIMA - O LADO QUENTE DO SER 
Composição : Marina Lima/Antônio Cícero


Eu gosto de ser mulher
Sonhar arder de amor
Desde que sou uma menina
De ser feliz e sofrer
Com quem eu faça calor
Esse querer me ilumina
E eu não quero, amor
Nada de menos
Dispense os jogos desses mais ou menos
Pra que pequenos vícios
Se o amor são fogos que se acendem
Sem artifícios
Eu já quis ser bailarina
São coisas que eu não esqueço
E continuo ainda a sê-las
Minha vida me alucina
É como um filme que faço
Mas faço melhor ainda
Do que as estrelas
Então eu digo, amor
Chegue mais perto
E prove ao certo qual é o meu sabor
Ouça meu peito agora
Venha compor uma trilha sonora
Pra o amor
Eu gosto de ser mulher
Que mostra mais o que sente
O lado quente do ser
E canta mais docemente


ETERNO



E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.

Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.

(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)

— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eternissíssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma essência
ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.

(Carlos Drummond de Andrade)