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domingo, 2 de setembro de 2012

Encontro Domingueiro

 

Por Verônica Mambrini*
O encontro tão adiado e recombinado. Eu nunca tinha visto você pessoalmente, não sabia nem se ia reconhecê-lo no ponto de encontro no metrô. Saí de casa antes do sol levantar do horizonte. Ainda tinha estrelas pontilhando o céu, bêbados felizes pelas ruas e calçadas, a ressaca chegando devagarinho pelas pálpebras semicerradas deles. Não das minhas: a cama me abraçou cedo, na ansiedade que perturba a véspera de qualquer coisa esperada, e a madrugada já me encontrou desperta.
Entre conversas banais de quem não tem intimidade, o riso veio fácil. Dois bicudos não se beijam? Nada, eu ria das teimosias, grosserias e polêmicas que escandalizavam amigos em comum porque cada linha que ouvia, podia assinar eu mesma. E você tinha prazer no meu riso, a onda elétrica no ar indo dos lábios aos outros. Que felicidade que é para uma mulher – para essa mulher – ter por perto um homem que a faça rir. É a primeira entrega, e quando essa acaba, todas as outras vão morrendo junto.
E num dia ao ar livre, entre besteiras desimportantes e um céu azul invernal, começou o jogo invisível de gato e rato. Há tanto tempo eu não era rato que tinha até esquecido a delícia de bobamente me deixar pegar aos pouquinhos. Primeiro na risada de cristal, depois nos esbarrões de leve em que as peles que teimam em se atrair e toques que de acidentais só tem a aparência descarada.
Até que, exausta do dia batendo perna, e me entregando aos silêncios oportunos, deixei a cabeça tomar no seu ombro, caixa de Pandora. Às vezes é preciso rodarmundo, matar dragões e atravessar solitariamente oceanos para descobrir que abandono faz falta. Tão bom deixar a cabeça que pende docemente no ombro levar à cama. E preencher a cama, inteira, ao longo de horas e horas suspensas no ar. Tão necessário ser entregue. Nesses tempos modernos em que o jogo de amor deixa quem quiser buscar e ser buscado, esqueceram de contar às Dianas que há outros papéis para jogar. Que a caça é dona do caçador.


Ah, amado. Quanto tempo precisa para ser amado? Suas marcas na minha pele contam que se trata de achar a fresta por onde passa ar, sol, vida; a corrente leve de vento que traz de volta á luz. E com umas poucas noites insones eu acordei de novo, pronta e vulnerável para desejar de novo e querer ser desejada. E quando você partir confusamente sem grandes explicações – e você vai partir em breve- saiba que deixou cama e mesa posta, numa casa ensolarada.


* Verônica Mabrini é jornalista, fotógrafa e feminista, uma gata de rodas circulando por São Paulo e você pode acompanhá-la pelos seus perfis no Facebook ou pelo twitter @vmambrini ou ainda no seu blog. Boa viagem!
 
 

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