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terça-feira, 24 de abril de 2012

"Tabu é o mais belo filme do cinema por­tu­guês"

 

Gos­ta­ria de poder dizer que Tabu é o mais belo filme do cinema por­tu­guês. Gos­ta­ria, se não fosse eu um quase des­co­nhe­ce­dor do cinema por­tu­guês. Mas, ainda assim, arrisco: Tabu é o mais belo filme do cinema por­tu­guês. Se é ou não o mais per­feito, o mais bem cons­truído, o mais equi­li­brado, o mais irre­pre­en­sí­vel tec­ni­ca­mente, o mais por­tu­guês, não sei. Mas é o mais belo, no sen­tido mais bonito que a expres­são belo pode ter. Tudo por causa de um deta­lhe, ou não fos­sem sem­pre os deta­lhes a fazer a dife­rença, tanto na vida como na fic­ção. E qual é o deta­lhe que faz toda a dife­rença em Tabu? Por incrí­vel que pareça, é uma voz off, uma lon­guís­sima voz off, tal­vez a mais longa voz off do cinema desde que há cinema. E digo incrí­vel por­que não escondo a minha embir­ra­ção com vozes off, por­que as acho, quase sem­pre, um recurso fácil e pobre daque­les que não sabem encon­trar outro recurso num filme para con­tar uma his­tó­ria. Mas, aqui, a voz off de Gian Luca Ven­tura (a per­so­na­gem que nos narra a trá­gica his­tó­ria de amor do filme em flash-back) tem tudo menos de fácil e pobre recurso. É uma voz off, sim, mas uma voz off que faz de inter­tí­tulo – e que dra­ma­tismo tra­zem à his­tó­ria esses inter­tí­tu­los fala­dos — de filme mudo. Filme mudo? Sim, filme mudo, por­que é na ausên­cia de som dos pro­ta­go­nis­tas da his­tó­ria afri­cana, e do enqua­dra­mento em que se insere essa ausên­cia, que reside toda a beleza do filme.
Já disse, e volto a dizer, que Tabu é o mais belo filme do cinema por­tu­guês. Mas gos­tava que ficasse para a His­tó­ria, ainda, como o mais belo filme mudo de sem­pre a par do Aurora (Sun­rise) de Mur­nau (a quem o monte que dá título ao filme presta home­na­gem aliás). Se me acu­sa­rem de tomar a parte pelo todo, o corpo estra­nho da segunda parte (e, já agora, do seu ainda mais insó­lito pre­lú­dio) pelo filme todo, pouco me importa. Sem esse corpo estra­nho, que é o mudo, que habita a segunda parte do filme (e o tal pre­lú­dio), Tabu não exis­ti­ria. Sem esse deta­lhe, Tabu nunca pas­sa­ria de mais um filme, igual a mui­tos outros.




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