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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

sussurrar, do latim susurro -are






sussurrar, do latim susurro -are, causar sussurro, rumorejar, dizer baixinho, segredar.

Depois de "Vísceras", "Venenos" e "O Amor é uma maldição", o coletivo tânia ribas troeira, daniel costa-lourenço, carlangas e os DJ Casalmaravilha regressam ao Etilico para mais uma sessão de poesia e música.

As noites quentes de Lisboa são a envolvente perfeita para uma noite de segredos e confidências, musica e palavras ébrias.
...
"Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente... "

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Agosto





Agosto


Fervemos em qualquer dia
Que nos apeteça
Ou aconteça,
Mas é verão em Lisboa
E o azul é maior do que nós,
Helénico,
Imenso toldo que nos cobre as façanhas,
As patranhas,
Os beijos roubados no jardim,
Os peixes a ver,
E a relva que nos aconchega,
Esconde a roupa molhada, na sombra,
Sem disfarçar,
Do quanto me queres,
Do quanto te dás.
A cidade abandonada só para nós,
Disponível,
Enchendo-nos a boca de sede,
A querer mais,
Querer-te mais,
Ter-te mais.
Esquece,
Não digas a ninguém,
Mas amanhã há novamente rio
E tardes devoradas por incêndios

Dos nossos corpos acesos.



PUBLICADA POR DANIEL COSTA-LOURENÇO
http://strawsea.blogspot.com/

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

É FOME DE AMOR

Gourmetizaram o brigadeiro, a farofa, o churrasco e até a coxinha. Estão querendo fazer isso com o amor - encher de firulas, deixá-lo mais inacessível e intimista. Comida bonita enche os olhos, não a barriga. E no meio de tantas metáforas culinárias, só me resta dizer que a fome é de amor, puro e simples.


blog.jpg 

Resolvi quebrar o meu jejum para falar sobre a fome que tenho sentido nos últimos dias: Fome de amor. E quando falo de amor, não digo só amor entre homem e mulher, mulher e mulher, homem e homem. Falo de amor entre as pessoas, que está cada vez mais em falta no cardápio. Veja bem: o sexo é servido em prato cheio. É ofertado em lindas fotos e descrições bacanas no Tinder, em conversar despretensiosas no Snapchat, em flertadas no Whatssap ou em fotos de biquíni no Facebook. O sexo é um prato delicioso, mas é um fast-food: ótimo como um Burger King no almoço de uma terça-feira ou prático como um pão com ovo na preguiça de domingo. Você come, lambe os dedos, e só.
Amor é o arroz com feijão. O macarrão com carne moída. Simples, delicioso e sustenta. Mas nesse mundo de comidas elaboradas, ele está ficando fora de moda. Brega. Afinal, arroz com feijão é um nome tão simples no meio de um monte de pratos gourmet, não é mesmo? Pra que carne-moída se posso ter filet mingon ao molho madeira, que é muito mais gostoso? É bom, mas não mata a fome. Não se come todo dia. Caro, e não sustenta por muito tempo: logo já estamos com fome novamente. Mas lá vamos nós atacarmos outros pratos gourmet com nomes difíceis e aparências que enchem os olhos, mas não o coração.
O coração tem fome. Não só o meu, o teu também. Mas não paramos com essa mania de querer complicar as coisas simples. Até o macarrão com carne moída tá virando petuccini à bolonhesa com aspargos do chile frito na manteiga aviação. Me diz, pra quê? Pra que complicar o que a gente sabe que é gostoso, simples, acessível? Parem de querer inventar pratos novos: pegam a receita simples que é o amor, colocam milhares de temperos e no final fica tudo amargo igual jiló. Amor é o brigadeiro comido direto da panela, não o docinho gourmet fresco que a gente só pode provar um por vez. E eu gosto de raspar a panela.
Pego um café todos os dias e abro os jornais: guerra, brigas, mortes e desgraça. Nas redes sociais, exibicionismo e lamúrias. Na rua, gente com o olhar vago e distante, outros passando os dedos rapidamente pelo smartphone escolhendo o próximo cardápio. Ao mesmo tempo que alguns grupos, famintos, insistem em campanhas de ‘mais amor por favor’, ‘abraços grátis’, ‘vida sem wi-fi’ e etc. Fome de amor, aliás, muita gente diz que tem. Milhares de pessoas. Mas o que vocês andam escolhendo para encher o estômago?
Não sei. Me sinto às vezes numa dieta forçada. Só queria oferecer para as pessoas que amo um pouco de arroz e feijão, mas acabo no Mc Donald’s sábado a noite. Não consigo entender qual o problema, nem sou especialista na culinária da vida, mas acho que precisamos simplificar as coisas. Menos pimenta e mais amor. Menos gourmet e mais panela. Menos sushi (por favor) e mais feijão. Não precisa mudar todo seu cardápio, mas experimente as coisas simples às vezes. Os domingos ficarão mais alegres, a barriga mais cheia e o coração, esse pobrezinho, menos vazio. Que fome.


© obvious: http://lounge.obviousmag.org/coffee_is_my_boyfriend/2014/07/e-fome-de-amor.html#ixzz3B9Ustdlh 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Coisas que eu sei.




"Pois, diante desse imenso ponto de interrogação que é o futuro de todos nós, reformulei minhas crenças: estou me dando o direito de não pensar tanto, de me cobrar menos ainda, e deixar para compreender depois. Desisti de atracar o barco e resolvi aproveitar a paisagem."


___ Martha Medeiros

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Don't Get Around Much Anymore (Never No Lament) - Duke Ellington


Depressão, gênios e demônios


Publicado em 14 de agosto de 2014 por betedavis

Foi com espanto que o mundo recebeu a notícia da morte do ator Robin Williams na segunda-feira, dia 11, e com mais espanto ainda o fato da causa da morte: suicídio.

Segundo os vorazes sites de fofocas, Robin lutava contra as drogas, álcool e depressão há mais de 20 anos e teve uma forte recaída. Nas redes sociais tivemos de lamentos a condenações. O de sempre quando se trata de depressão e sua pior consequência, o suicídio, mas tivemos bem pouca compreensão.

A depressão não é como se diz uma doença moderna, ou mal moderno. Andrew Solomon, jornalista e escritor do já célebre – O demônio do meio dia – que eu li, amei e recomendo, trata de desmitificar a falácia:


“Esse é um mito que tenho interesse em destruir. Comecei pesquisando conceitos históricos de depressão. Hipócrates, há 2,5 mil anos, descrevia a depressão nos mesmos termos com que a descrevemos hoje. Além disso, dizia que era uma disfunção orgânica do cérebro, melhor disparada por fatores externos. Já Platão afirmava que era um problema filosófico, melhor resolvido por meio de conversas. Então, a distinção entre os modelos médicos e psicodinâmicos da depressão já existe há cerca de 25 séculos. Com intuito de observar melhor se era um fenômeno ocidental, me aventurei a estar em uma grande variedade de sociedades. Observei a depressão entre os sobreviventes do Khmer Vermelho do Camboja, entre esquimós inuítes, e fui até o Senegal, onde participei de sessões do tratamento ritual da doença, bastante populares lá. Constatei que a linguagem usada para descrever a depressão varia um pouco, mas a ideia de que algumas pessoas às vezes se sentiam inexplicavelmente divorciadas de todas as oportunidades e de tudo o que dava sentido para suas vidas existia em qualquer sociedade que pude encontrar.”
(Andrew Solomon: “O oposto da depressão não é felicidade, mas vitalidade”)

Enfim, esse trecho foi só pra dizer que tudo que o senso comum sabe sobre a depressão, sobre dizer que a falta de força de vontade, falta de Deus, e o escambau está errado. E sobre isso acho que vocês já leram vários textos. Mas esse texto aqui é pra dizer que eu tive e tenho depressão e sobrevivi e chorei muito vendo Sociedade dos Poetas Mortos pela milionésima vez, um dos meus filmes favoritos, e uma grande performance do Robin Williams, com outros olhos.

Aquela cena em que ele se vê o personagem do Robert Sean Leonard, o Neil Perry, saindo da peça arrastado pelo pai e sendo forçado a entrar no carro…Naquela cena, ainda sob o impacto da notícia de sua morte, vi nos olhos dele uma compreensão que ia além dos olhos do personagem, vi um brilho de tristeza, ele pressentia que ali podia ser o fim.

A depressão é uma força que draga todas as suas demais forças, de se levantar da cama, de comer, de sorrir, de viver. Não adianta ninguém te mostrar que há sol nas árvores, você simplesmente não vê. Ou vê, se procurar ajuda, o tratamento certo que inclui terapia e remédios sim, mas acima de tudo, nada disso funciona se fora não houver amor, se não houver carinho, amigos, família, amores. E a essas pessoas, meu muito obrigado.

Se você tem perto de você alguém em depressão profunda saiba que a morte é sim uma possibilidade real e que mais que tratamento é necessário ter paciência, um pouco de abnegação, sim, mas principalmente carinho compreensão e amor porque com amor tudo passa. Leiam, se informem e ajudem ao próximo. Nunca pense que é só uma chantagem emocional, é um pedido de socorro. E fique em paz, Robin, obrigado por tudo. É tarde para você agora, espero que o apoio chegue antes pra tantas outras pessoas, assim como mais amor e menos julgamento.



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E a biscate mexicana enfeitiçou Trotsky…





“Olhar amoroso” — Frida Kahlo aos 39 anos, em Nova York, captada pelo fotógrafo Nicholas Muray, seu amante como foram Trotski e Tina Modotti.


“Cada bocado deste prato me faz pensar que a comida no México se rebelou contra os cânones europeus” — Léon Trotsky

Frida era uma grande biscate. Como diria um amigo meu, ela era toda trabalhada nas artes da feitiçaria (rs). Frida não enfeitiçava apenas por sua inteligência, olhar altivo ou por sua arte, ela combinava vários mistérios, entre eles, a boa mesa. No livro “O Segredo de Frida Kahlo” estão descritas algumas cenas do romance que Frida teve com o León Trotsky. Um romance que envolveu muito sabores e é um deles que vamos compartilhar neste post. A receita que Frida anotou no “livro da erva santa”* com o nome de “A refeição de Trostsky e Breton”.

Assim Frida escreveu antes da receita que postamos hoje…


“O Piochitas** gostava de ser surpreendido. Não havia muito para dizer, pois Diego me roubava a palavra, a mim e a qualquer um que estivesse perto de Trotsky, por isso eu só cozinhava, pois conseguia dizer mais com meus sabores sobre minha visão de um mundo do que poderia ter dito com palavras. Os dois desejávamos apenas isso: um mundo melhor. Quem é que não quer isso na vida…?”


Natália, Frida e Trotsky

Frida viveu intensamente seus desejos, embora tenha convivido com dores extremas por toda a vida (dores físicas e emocionais. Ela mesma costumava dizer que morreu duas vezes: a primeira no acidente de bonde e a segunda ao casar com Diego Rivera), Frida viveu fervorosamente os prazeres do sexo, da comida e da bebida. A dor, a morte, a traição, a pulsação, o desejo e o prazer foram parte do seu cotidiano. Seu tumultuado relacionamento com o artista Diego Rivera teve momentos de extrema felicidade, mas de brutal sofrimento também. Frida não costumava se importar com as rotineiras traições do marido com as gringas, como ela chamava. Ela mesma teve vários amantes – homens e mulheres ao longo da vida – no entanto, Frida nunca engoliu a traição de Rivera com sua irmã Cristina. A vingança viria anos depois, justamente com Trostsky.


“Ao vê-lo pela primeira vez, Frida achou-o arcaico, velho, passado de moda, entediante, chato, solene; um daqueles móveis que a gente herda da avó e encosta num canto do quarto. Apesar disso era um herói revolucionário. Todos os comunistas do mundo o admiravam; nenhum deles lhe oferecia asilo (…) Frida aceitou sem melindres.”

Assim, Trotsky e sua esposa Natália viveram por dois anos na Casa Azul. Diego pedira a ela que abrigasse os dois e Frida aceitou sem reservas a incumbência. Rivera possuía uma admiração profunda por Trostsky, ele mesmo fez o intermédio com o presidente do México para conseguir asilo político. Em sua presença, segundo descrevia Frida, parecia um bobo concordando com tudo que Trotsky falava e tentando agradá-lo de todos os modos. “Talvez para competir com Diego, talvez pelo desejo de destacar-se, ou ela simples razão de que era capaz disso, decidira ganhar o apreço do homem a quem seu esposo mais admirava. Frida desejava que Trotsky se rendesse a ela e lhe permitisse executar sua vingança”. Assim foi feito. Frida começou a seduzir Trotsky justamente pelos sabores. Segue abaixo trechos do livro que narram um desses momentos de deliciosa biscatagem.


“Cada bocado deste prato me faz pensar que a comida no México se rebelou contra os cânones europeus. Luta por sua autenticidade. Mas a insurreição é uma arte, e, como todas as artes, tem suas leis”, disse Trotsky numa manhã, ao encontrar Frida na cozinha. Para ajudá-lo a despertar, deleitaram-no com uma xícara de café de Olla. Ao vê-lo refeito, encostado ao batente da porta com um grande sorriso, Frida lançou-lhe um olhar avaliador, atraente e cheio de sensualidade. E depois voltou ao trabalho na cozinha, deixando o aguilão do desejo cravado em Trotsky. “Quais são as leis da cozinha, Frida?”, perguntou ele.
(…)
“São mais simples do que o senhor pensa. A primeira é que ninguém se mete na cozinha de uma mulher sem a autorização dela, é uma falta tão grave quanto deitar com o marido dela. Talvez até mais grave, começou Frida sentando ao lado dele. Na cozinha você pode ser ignorante, mesquinho ou descuidado, mas nunca as três coisas juntas, e por isso sempre tem alguém mexendo o arroz quando ferve, deixando de por algum ingrediente porque esqueceu de comprar, cozinhando ao mesmo tempo a massa e o molho, fritando a carne com mais óleo que o lago de Chapala, servindo feijão queimado.”

Em Trotsky foi se desenhando um sorriso que se ampliou numa gargalhada, e, sem querer, suas risadas se tornaram tão altas que fizeram com que o senhor Cui-cui-ri que andava ciscando restos de comida, saísse correndo dali.

(…)
“Tem algo de bruxa na senhora que encanta e deslumbra. Talvez esteja me envenenando com sua comida, pois desde que cheguei ao México estou vendo tudo de outro modo.” Frida jogou o corpo para trás, ao mesmo tempo que soltava fumaça de seu cigarro. No fundo da cozinha, Agustín Lara cantava no rádio “Solo tú”.
“Por acaso agora o verde do pasto faz você lembrar da melancolia, o sangue lhe lembra as cerejas e a felicidade contagiante de uma tarde lhe lembra um doce de mel?”, perguntou Frida.
“Isso mesmo, isso mesmo”, respondeu Trotsky com movimentos afirmativos, muito próprios dele. De professor, de encantador de palavras.
“Então, devo estar lhe passando alguma coisa minha com o sal, pois para viver essa vida é preciso temperá-la. O senhor já vê que estou doente, por isso acabo ficando tolerante, embora às vezes a vida seja danada além da conta, pois ou faz você sofrer ou faz você aprender. Para isso é que se coloca tomilho, pimenta, cravo e canela, para tirar o gosto ruim. Frida pegou-lhe a mão e ficou passando a almofada de seus dedos pelas rugas dos nós dos dedos dele. Se não veja, o senhor sem pátria e eu sem pata.”

Essa cena é uma descrição do começo da biscatagem entre eles, mas a história evolui até Trotsky mandar cartas e mais cartas apaixonadas para Frida. Segundo ela descreveu, parecia um adolescente totalmente entregue. O problema é que quanto mais ele se jogava, mas Frida tinha certeza que precisava acabar com aquilo. Não lhe apetecia tanta melosidade ,além disso, os seguranças de Trostsky e a própria esposa já começavam a observar o comportamento estranho do revolucionário. Sabendo que seria um escândalo que complicaria a situação de Trotsky, e já desinteressada, Frida o incentivou a mudar-se de casa. A passagem mais interessante dessa parte do livro é justamente a que narra o momento em que Diego percebe que Frida concretizou sua vingança. Quando Trotsky disse que iria embora, Diego se revoltou e fez muito barulho.


“Cale a boca, Diego”, murmurou Frida ao ouvido dele antes que continuasse com seu escândalo melodramático.
Diego ficou pasmo.
“Mas você não entende, Frida?” perguntou, irritado, quando se esconderam no quarto para discutir o assunto.
Frida não queria aumentar o problema. Acendeu um cigarro e atirou-lhe a verdade na cara como um pastelão:
“Quem não está entendendo é você. Deixe ele ir, vai ficar melhor comigo ausente da vida dele. Já fiz mais do que ele esperava.”
Diego compreendeu de repente tudo que acontecera debaixo do seu nariz.

Assim viveu essa grande biscate: revolucionária, viva, impetuosa e cheia de mistérios. Segundo narra o livro, Frida conversou com a sua madrinha morte e previu a morte de Trostsky, pediu clemência e tentou um novo pacto. No entanto, nunca soube se obteve da madrinha apenas mais alguns meses de vida para o revolucionário ou se nunca foi ouvida.

Ah …siiiim….eu fiquei falando da biscatagem de Frida com Trostsky e quase esqueci de passar a receita que ela fazia para o comunista. Ok, vamos lá…

Antes de postar, fiz a receita para ter certeza que funcionava mesmo. Aqui em casa todo mundo comeu. Não sobrou nada. Sucesso total

A REFEIÇÃO DE TROTSKY E BRETON (Huachinango com coentro)

- 1 huachinango de mais de 2kg limpo e sem escamas (esse é o nome do peixe no México. É um tipo de peixe vermelho. Use um similar. Comprei 2,5kg lá no mercado de peixes do Mucuripe, em Fortaleza. Procure na sua cidade um lugar que venda peixe fresco e compre algum peixe vermelho, pode ser pargo, ariacó, cioba, etc.);
- 8 xícaras de coentro bem picado;
- 5 pimentas ao escabeche em fatias grossas (existe essa parada pronta nos supermercados, mas outro dia posso passar a receita caseira);
- 2 cebolas grandes em rodelas;
- 4 xícaras de azeite de oliva;
- sal e pimenta.

MODO DE FAZER:

Faça 3 cortes no lombo do peixe para que o tempero penetre bem. Forre uma panela grande com metade do coentro picado, metade das pimentas e metade da cebola, cubra com metade do azeite e tempere com sal e pimenta. Sobre essa cama, coloque o peixe inteiro, cubra com uma camada igual à primeira, decorando com as pimentas, o coentro e a cebola, e despeje o resto do azeite. Leve ao forno preaquecido a 200º C por 40 minutos, banhando-o com o molho de vez em quando para que não resseque. Sirva na própria panela.

Adaptação: Essa é a receita descrita no livro. Fiz pequenas modificações. Passei um pouco de limão no peixe antes de colocar os temperos e cobri com papel alumínio nos primeiros 30 minutos e deixei no forno por mais de 1h. Não sei que forno Frida usava que só demorou 40 minutos…rs. Minha indicação é que, nos nossos humildes fornos convencionais, é melhor deixar por 1:30h, os primeiros 30m deixa com o papel alumínio e depois retira para dar aquela dourada. É uma receita simples e prática. Ah, no tempo que fica lá no forno…rs…dá pra biscatear muuuuuuuuuuuuito hahahaha!!!!


Escolha um bom peixe vermelho: cioba, pargo, ariacó, etc.


Corte todos os temperos e faça três lascar no lombo do peixe.


Regue com bastante azeite, após jogar todos os ingredientes. Pode deixar no forno por pelo menos 1h30 e vá biscatear ;)

* A história desse livrinho é interessante, pois Frida começou a escrevê-lo ainda cedo, após o terrível acidente de bonde que sofreu. A madrinha de Frida era a morte e elas fizeram um pacto após o acidente. Todos os anos, Frida prepararia uma oferenda para relembrar o pacto que fizera com sua madrinha que lhe permitiu continuar a viver. Todo dia 2 de novembro, dia dos mortos no México, Frida preparava um grande banquete para a madrinha e fazia anotações num pequeno livro preto ao qual chamava de “livro da erva santa”. A receita descrita no post de hoje foi retirada desse valioso livro que desapareceu logo após a abertura de uma exposição em homenagem a Frida no Palácio de Belas Artes.

**Piochitas, diminutivo de piochas, plaquinhas. Possível alusão aos óculos pequenos usado por Trotsky.

Haghenbeck, Francisco Gerardo — O segredo de Frida Kahlo/ tradução Luis Reyes Gil. — São Paulo: Editora Planeta Brasil, 2011 — Título original: Hierba Santa

PS: Na edição do livro o nome de Trotsky está grafado como “Trotski”.

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domingo, 10 de agosto de 2014

Saudades do meu pai


Um exemplo de caráter, justiça, sobriedade, elegância, humor, com uma pitada de ironia, e muita musicalidade!!!! Alaor Soares, meu pai!!!! 



Como uma reza...





Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
Com janelas de aurora e árvores no quintal -
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
E ao crepúsculo fiquem cinzentas
como a roupa dos pescadores.

O que desejo é apenas uma casa.
Em verdade, Não é necessário que seja azul,
nem que tenha cortinas de rendas.
Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.
Quero apenas uma casa em uma rua sem nome.

Sem nome, porém honrada, Senhor.
Só não dispenso a árvore,
Porque é a mais bela coisa que
nos destes e a menos amarga.
Quero de minha janela sentir
os ventos pelos caminhos, e ver o sol
Dourando os cabelos negros
e os olhos de minha amada.

Também a minha amada não dispenso, meu Senhor.
Em verdade ele é a parte mais importante deste poema.
Em verdade vos digo, e bastante constrangido,
Que sem ela a casa também eu não queria,
e voltava pra pensão.

Ao menos, na pensão, eu tenho meus amigos
E a dona é sempre uma senhora
do interior que tem uma filha alegre.
Eu adoro menina alegre,
e daí podeis muito bem deduzir
Que para elas eu corro nas minhas horas de aflição.

Nas minhas solidões de amor e
nas minhas solidões do pecado
Sempre fujo para elas, quando não fujo delas, de noite,
E vou procurar prostitutas. Oh, Senhor vós bem sabeis
Como amarga a vida de um
homem o carinho das prostitutas!

Vós sabeis como tudo amarga
naquelas vestes amassadas
Por tantas mãos truculentas ou tímidas ou cabeludas
Vós bem sabeis tudo isso, e portanto permiti
Que eu continue sonhando com a minha casinha azul.

Permiti que eu sonhe com
a minha amada também, porque:
- De que me vale ter casa sem ter
mulher amada dentro?
Permiti que eu sonhe com uma que ame
andar sobre os montes descalça
E quando me vier beijar faça-o
como se vê nos cinemas...

O ideal seria uma que amasse fazer comparações
de nuvens com vestidos, e peixes com avião;
Que gostasse de passarinho pequeno,
gostasse de escorregar no corrimão da escada
E na sombra das tardes viesse pousar
Como a brisa nas varandas abertas...

O ideal seria uma menina boba:
que gostasse de ver folha cair de tarde...
Que só pensasse coisas leves que nem existem na terra,
E ficasse assustada quando ao cair da noite
Um homem lhe dissesse palavras misteriosas ...
O ideal seria uma criança sem dono,
que aparecesse como nuvem,
Que não tivesse destino nem nome -
senão que um sorriso triste
E que nesse sorriso estivessem encerrados
Toda a timidez e todo o espanto
das crianças que não têm rumo...

Manoel de Barros

domingo, 3 de agosto de 2014

So Far Away...







Pois é, ainda longe… muito longe do tato, contato, cheiro dessa Bahia que, de certa maneira, nunca me deixou e eu teimo em conservar em mim, um amor louco e apaixonado, às  vezes cego, que me diz que não há distâncias em verdade, pura ilusão...

Hoje, Domingo, aqui no meu isolamento voluntário, sorvo o aroma da manhã úmida e verde que se espalha pelo vale de Napa. Penso que poderia estar em qualquer outro lugar, porque aqui? E me deixo levar pela memória na retrospectiva que percorro de vez enquando, quando perguntada ou só mesmo pra não perder o rumo, pois la atrás, naquele Março de ’73, está a razão ou motivo pra me largar assim pelo mundo sem eira nem beira e somente com os instrumentos que sempre me guiaram, coração e liberdade, estes, minha régua e meu compasso, me levarão à tumba um dia, se eu não puder dar um jeito...

Quem me conhece sabe, e quem não, adivinha, que eu não sigo livros nem mandamentos, vou fazendo a minha vida como der e vier, à meu modo, do meu jeito, com minha sabedoria e experiência, com erros e acertos, muita luta e perseverança, pois sem o sabor do suor a vida fica sem gosto...

Não tinha eu motivos políticos, familiares, sociais, econômicos, nada assim forte demais que me empurrasse para fora de casa, da Bahia e do Brasil, apesar da época ter sido de opressão e dureza, mas, quando nunca foi??? Fui por que me mandava, ou pedia, o coração e a ânsia de levantar vôo, conhecer mundo novo e naqueles anos, na minha juventude, nada melhor do que San Francisco, CA como bússola...

O que eu gosto mesmo é de sentir o coração batendo forte e os olhos brilhando; poder dizer “te amo”, em qualquer língua; olhar pra traz e pra frente com um sorriso nos lábios, porque me acostumei com o poetinha Vinicius sussurrando nos meus ouvidos: “É melhor ser alegre que ser triste...”

Sinto-me grata. Um sentir morno, de colo ou de praia de manhã cedo, deixa disposição na alma.
Obrigada, Obrigada, Obrigada....




RS 08/03/14