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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Hoje é dia de festa para o Cristo Redentor! 80 anos nos velando...




BRAÇOS ABERTOS PARA O ABRAÇO

Especialistas afirmam que gesto e semblante foram além da ideia original de redenção
ESTÁTUA HUMANA
RIO - Os olhos abertos, a face serena levemente inclinada para baixo, os braços estendidos. O Cristo foi concebido tendo como simbologia a redenção. Mas, do alto do Corcovado, o monumento em art déco - estilo que floresceu depois da Primeira Guerra Mundial com uma filosofia ligada à felicidade - parece olhar ternamente e abraçar cariocas e visitantes. A imagem do acolhimento acabou se sobrepondo à ideia de salvação, representada pela cruz, e ultrapassou as fronteiras do catolicismo.
- As mãos espalmadas significam a disposição para dar, acolher, proteger. Os olhos abertos representam a permanente atenção sobre o Rio, sua gente e os que se aproximam do Rio, uma vez que seu olhar se dirige à entrada da Baía de Guanabara. Sua posição nas alturas é icônica: ele está acima de tudo e de todos, garantindo-nos a vida e a provisão infinita de paz e harmonia. Em síntese, o Cristo Redentor é o cartão-postal e o cumprimento de boas-vindas ao Rio, ao Brasil - diz a semióloga Darcilia Simões, coordenadora do Laboratório Multidisciplinar de Semiótica da Uerj.


Ao substituir o projeto original pelo atual modelo, o engenheiro e arquiteto Heitor da Silva Costa manteve a ideia de redenção que constava da primeira proposta: "A cruz foi armada, em meu segundo projeto, pelo tronco ereto e pelos braços horizontais; desta forma, temos a cruz formada por tua imagem, Jesus, e o mundo tem-no a seus pés, na cidade e no oceano imenso a se perder de vista", disse Silva Costa num de seus escritos.
Para o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, hoje, assim como na época da construção, o Cristo Redentor ainda lembra a cruz, que é um sinal de salvação. No entanto, ele concorda que os braços abertos acabaram mais caracterizados como símbolo de acolhimento.
- Ser acolhedor faz parte das culturas carioca e brasileira. Acolhemos todos que vêm aqui - destaca dom Orani.
Reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo lembra que, embora em sua origem os braços abertos do Cristo representem a cruz, a imagem - que tem as chagas nas mãos - não sugere sofrimento:
- O Cristo crucificado também é o Cristo ressuscitado. Então, já há a vitória. Cristo não está mais na cruz. Ele ressuscitou. A mensagem da ressurreição é a mensagem da esperança, da vitória, da certeza, do acolhimento e do amor. Porque Cristo viveu e morreu de braços abertos. A vida dele foi uma vida machucada pela bondade, acolhendo a todos, recebendo a todos. No alto da cruz, também estava de braços abertos, e depois na ressurreição. A redenção é o movimento após a crucificação. Aliás, toda crucificação é redenção.
A teóloga Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, afirma que os braços abertos - que representam o Cristo ressuscitado - imprimem perfeitamente a mensagem de acolhida e reconciliação entre o céu a terra. Para a teóloga, no alto do Corcovado a imagem também revela outros sinais.
- O fato de poder ser visto de vários pontos da cidade faz com que ele seja como um guia. Quando está perdido, você olha na direção do Cristo e consegue se orientar. Tem uma simbologia bonita. O Cristo é a luz do mundo, e tenho a sensação de ele estar ali nos guiando - afirma Maria Clara.
Já Darcilia Simões explica que a tradição cristã enriqueceu a simbologia da cruz, que sempre representou as direções.
- A configuração do Cristo Redentor em forma de cruz reúne a simbologia da orientação e da proteção - completa a professora da Uerj.
" É o homem com a sua mais ampla envergadura, pronto para o abraço "





 
O diretor de teatro Aderbal Freire-Filho reforça a ideia do Cristo como síntese do espírito carioca. No seu gesto mais largo, a imagem ganha uma representação teatral, diz ele:
- É bom que não seja uma cruz, que não sejam braços abertos à força, mas braços abertos por querer. É o homem com a sua mais ampla envergadura, pronto para o abraço. Ele é um ator que mostra que é maior do que o palco. Por tudo isso, ele supera a visão puramente religiosa. As religiões são muito cheias de amor, mas também muito cheias de dores. Aquele camarada prefere ver como carioca.
Para Márcio Roiter, presidente do Instituto Art Déco Brasil, o Cristo, considerado o maior monumento art déco do mundo, não poderia estar, no imaginário dos cariocas, ligado ao sofrimento da crucificação.
- O art déco é o estilo do bem, da comemoração do ser humano, leve, iluminado. E o Cristo está dentro dessa ordem - destaca o presidente do instituto. - Tenho uma coleção de cartazes que vendem passagens aéreas e o Cristo sempre aparece nelas como a figura do "welcome to Brazil". Ele não é só um símbolo da Igreja Católica, mas um símbolo de paz.

http://oglobo.globo.com/rio/cristo-80-anos/





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