Inácio Araújo: Perda de Cakoff é absurda para vida cultural
Futura Press Leon Cakoff enfrentava um câncer desde dezembro de 2010 |
Claudio Leal
Fundador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o crítico Leon Cakoff morreu nesta sexta-feira (14), aos 63 anos, na capital paulista. Desde dezembro de 2010, ele enfrentava um câncer. O velório será realizado no MIS (Museu da Imagem e do Som, av. Europa, 158).
Em maio, Cakoff publicou no caderno Ilustríssima, da Folha de S.Paulo, uma longa narrativa - "Na beira do abismo" - sobre a descoberta dos dois tumores, a cirurgia e o pós-operatório. "Será uma luta contínua, que começou com um câncer de pele, o melanoma maligno que me deu trégua desde 2002 e agora volta a me atacar o corpo", descreveu.
O crítico da Folha, Inácio Araújo, considera "perturbadora" a morte de Cakoff e destaca o papel da Mostra, a partir de 1977, na exibição de filmes proibidos pela ditadura militar:
- É muito perturbador. Ele é uma pessoa central não só na vida cultural paulistana, mas também na brasileira. E não de hoje, mas de muitos anos, quando nem se podia ver filme direito. Alguns filmes eram proibidos e ele trazia para a Mostra. É uma perda absurda, brutal, terrível. É muito ruim, de fato, perdê-lo - lamenta Araújo.
André Setaro, crítico de Terra Magazine, destaca o protagonismo de Cakoff na divulgação do cinema iraniano:
- Leon Cakoff foi o principal promotor da introdução do cinema iraniano e outras cinematografias, como a chinesa, no Brasil. Ele mostrou esses filmes na Mostra. E ficou amigo de diretores como Abbas Kiarostami. O Brasil conhece o cinema iraniano e asiático por causa de Leon Cakoff. A Mostra dele é pioneira. Começou nos anos 70. Ninguém tinha como ele uma relação internacional. Os contatos dele são extraordinários. Ele trouxe Pedro Almodóvar e o levou para o programa "Roda Viva". Ele trouxe muita gente e revelou muita gente. Antes disso, foi excelente crítico de cinema. Precedeu Inácio Araújo na Folha de S.Paulo. Largou a crítica em jornal para se dedicar "full time" à Mostra. É uma ausência muito grande.
Em nota, a Mostra destacou a importância do seu fundador para a "resistência cultural" à ditadura: "Desde a primeira edição, Leon travou uma luta ferrenha contra a censura imposta pelo regime militar, trazendo filmes até por meio de malas diplomáticas de embaixadas e consulados. Foi assim que a Mostra exibiu filmes inéditos vindos da China, Cuba, União Soviética, França e dos mais distantes países".
No texto "Na beira do abismo", Cakoff revelou seus instrumentos para não desanimar-se durante a luta contra o câncer: "Falta agora vencer mais esta luta! E, desta vez, com ferramentas de autoajuda que de novo busco nos filmes: de cabeça erguida como James Stewart nos filmes de Capra; de corpo e alma, como nos filmes de Bergman; com espírito elevado, como os anjos de Wim Wenders; com otimismo, como nos escombros do neorrealismo italiano... ou até mesmo com a irreverência de um Totó que nunca se deixou abater no pior dos cenários".
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