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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Saudades da Salvador-BA antiga


Salvador nos anos 50: um bonde corre pelos trilhos em plena Praça Castro Alves.




Sou do tempo dos bondes, porque, menino, nos anos 50, pegava-os para ir à escola. Com a idade que tinha, ficava admirado com a elegância do motorneiro (aquele que dirigia o bonde), com seu uniforme limpo, rigorosamente aplumado. Quando estava muito cheio, e não tinha lugar para sentar, muitas pessoas ficavam em pé no estribo, segurando-se, com as mãos, em espécies de alças. Mas, logo que cheguei à adolescência, os bondes sumiram, mas ficaram, por muitos anos, antes do asfalto, os trilhos nas ruas, que eram calçadas com pedras. Surgiram então os ônibus elétricos, que, não sei a razão, não deram certo. E um ônibus enorme chamado de "Papafila".
- André Setaro


Para ser sincero, adorava morar em Salvador até, no máximo, os anos 90. Atualmente ainda moro aqui. Mas Salvador, hoje, é uma cidade insuportável. Além dos engarrafamentos, a cidade sofreu uma regressão cultural nunca vista em outra parte do planeta, reinando, aqui, uma miséria que está à vista de todos. Miséria do ponto de vista cultural. Miséria do ponto de vista urbanística. Miséria nos bairros periféricos. E a miséria existencial que se sente quando num shopping apinhado de gente.
- André Setaro


Aqui uma vista aérea da aprazível Praça da Piedade, onde costumava, em décadas passadas, ficar matando o tempo e a hora na tranquilidade de suas cercanias. Vê-se o vetusto Gabinete Português de Leite, onde passei tardes inteiras lendo jornais e revistas portuguesas. Mas, constato, que nunca mais fui à citada Praça. Ela não existe mais para mim. O 'dilúvio' que se abateu sobre a cidade, 'dilúvio' administrativo e cultural, afastou-me da verdadeira Bahia, da qual, vale ressaltar, gostava imensamente.

Morador de Nazaré quando jovem, andava muito pelas ruas de Salvador e, muitas vezes, para fazer hora, ficava sentado na Praça da Piedade. Era um lugar muito agradável, assim como o calçadão que existia em frente da Sorveteria Primavera (que desapareceu - o dono não aguentava mais a miséria circundante) A Bahia se descaracterizou completamente. Arenão da Fonte Nova? Para quê?

Antes dos sorvetes industrializados, a Sorveteria Primavera era um 'point' obrigatório nos anos 60, 70 e, mesmo, 80, dos baianos civilizados. Os sorvetes eram feitos das próprias frutas, se de frutas. Quem ainda se lembra do "Rose's" na rua Carlos Gomes? Foi pioneiro na venda de cheeburgueres em Salvador. Ficava, do outro lado da rua, quase em frente do cinema Bahia. Leão Rosemberg era o seu dono. Também havia o "Baitacão", na década de 80, um carro na ladeira dos Barris que venida cheeburgueres bem barato e, como dizia o nome, um 'baita' sanduíche. Tudo acabou, porém. E, para não esquecer, a kombi da feijoava, estacionada na Praça Castro Alves, fazia encerrar a noite boêmia. E a carne de sol do "Faleiro" na rua Carlos Gomes. Bem, vou encerrar por aqui. Estão me chamando para almoçar.



3 comentários:

  1. Arrazou, Setaro!
    Para mim, Salvador depois dos anos 1970 já não tinha mais graça. Vá lá, até uns 1982, 83...depois, está invivível! Moro em sampa há mais de 25 anos. Aqui também não é o Eldorado, mas pelo menos pode-se movimentar mais livremente...moro no miolo cultural da cidade, mas a má educação também grassa.

    Abraços, espero reve-lo breve, e a Regina também...

    Bartira Martins

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  2. Oi Bartira!!!!!!!!!!!!Que alegria te-la por aqui! Vc notou nessa ladeira do primeiro vídeo? É a entrada do Genipapeiro pelo lado da Baixa do Sapateiros, rsrsrsrsr, quantas vezes passamos por estas pedras???? Há, se elas falassem....
    Beijocas!!! Qualquer dia eu baixo em Sampa!

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  3. olá! meu nome é Djalma! Não sou do tempo do bonde, mas gostaria de ter sido do que viver nessa cidade nos tempos atuais, o senhor foi muito feliz no seu depoimento, ao poucos Salvador vai perdendo a sua identidade. Fazer hora nas praças hoje é uma temeridade vc corre o risco de ser assaltado ou assassinado. Salvador já teve dias melhores. Parabéns Senhor André pelo texto! Se fosse pessoalmente conversaríamos muito sobre esse assunto pois me toca. Um grande abraço! E mais uma vez amei o seu texto.

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