Reportagens colecionadas por tia do artista são a base do livro de Regina Zappa
RIO - Cecília, tia de Chico Buarque, morreu em 1999, ano em que a jornalista Regina Zappa escrevia o primeiro de seus quatro livros sobre o compositor. Não houve tempo para ser aproveitado o extenso material (recortes de imprensa, principalmente) que a irmã de Sérgio Buarque de Holanda guardou ao longo de quatro décadas. Ele surge agora como base de “Para seguir minha jornada” (Nova Fronteira), volume pensado por Regina para ser uma espécie de “Almanaque Chico Buarque” — era o título original, inclusive.
— Há uma biografia embutida no livro, mas não é um projeto biográfico — diz a jornalista, que contou com o apoio de Julio Silveira na organização da edição. — A ideia é fazer um panorama do Brasil do Chico, mais do que contar a vida dele de novo.
Da narrativa que cobre a trajetória do artista surgem verbetes sobre, por exemplo, o Dops (Departamento de Ordem Política e Social). E, também, sobre artistas que passaram pela vida de Chico, tais como Jacques Brel, Josephine Baker, Nara Leão — tema de um farto subcapítulo — e Vinicius de Moraes.
Para quem conhece um pouco a vida de Chico, muitos temas do livro não trazem novidade, mas há interessantíssimas entrevistas e reportagens encontradas no acervo de Cecília. Os anos em Roma, na infância e no autoexílio de 1969/70, também têm sua história encorpada. E há várias curiosidades, como as contadas a seguir.
NOME DE FAMÍLIA: Amparada no livro “Buarque — Uma família brasileira”, de Bartolomeu Buarque de Holanda, Regina conta que o avô pernambucano de Chico decidiu reduzir seu longo nome, Cristóvão Paes Barreto de Hollanda Cavalcanti Buarque de Gusmão, e arbitrou Buarque de Hollanda como seu sobrenome. Há descendentes registrados como Holanda, com um “l” apenas, caso de Sérgio, pai de Chico.
O ELEFANTE: Chico já teve um elefante no quintal. Mas a aventura durou apenas um dia, o tempo de o bicho ser recuperado pelo circo de onde escapara. A lona estava montada num terreno atrás da casa da família, na Rua Haddock Lobo, em São Paulo. José Cândido de Carvalho escreveu deliciosa crônica na revista “O Cruzeiro” recordando o fato e a frustração do futuro artista com a partida do elefante.
ALUNO RELIGIOSO: Em São Paulo, Chico estudou no Externato Nossa Senhora de Lourdes na infância e no Colégio Santa Cruz na adolescência. No segundo, os alunos eram estimulados a fazer ações de caridade, e Chico chegou a flertar com o fanatismo religioso. Ao se formar no Científico (equivalente ao atual Ensino Médio), foi escolhido orador da turma. No discurso, citou Vinicius de Moraes.
VIOLÕES: Amigo de seu pai, Vinicius emprestou seu nome ao primeiro violão de Miúcha, a filha mais velha de Sérgio. Chico tocava nele, assim como tocou no Catupiry, da irmã mais nova, Cristina. Os próprios violões ele batizou de Nélson, Joaquim, El Cordobés, até constatar que “violão macho não tem vida longa”, como escreve Regina. Aí vieram Julieta (no qual nasceu “A banda”) e outros — ou outras.
FIGURINHA FÁCIL: Diante do Chico de hoje, que fala pouco com a imprensa e nada com as publicações de celebridades, espanta ver a quantidade de reportagens sobre sua vida pessoal, ele posando com Marieta Severo, sua mulher à época, e as filhas. Sua tia guardou edições de “Fatos e Fotos”, “Romântica” e outras do gênero. “Ele falava muito, mas não havia o culto à celebridade de hoje, o marketing, os assessores. Acho que os jornalistas ligavam para ele, que topava”, diz Regina.
IÊ-IÊ-IÊ: Nas polêmicas da dita MPB contra o Tropicalismo e a Jovem Guarda, Chico era sempre protagonista da primeira. Aceitou participar com Geraldo Vandré de uma reportagem em que, nos dizeres da revista “Manchete”, os dois tentavam “aliciar” Roberto Carlos. Curiosa é uma nota sobre a reprovação de Chico pela Ordem dos Músicos do Brasil por não ter conseguido solfejar na prova. Só lhe restaria, diz a revista “Intervalo”, cantar iê-iê-iê
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