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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ausência...

a sua ausência me estilhaça, me rasga como um raio rasga os céus em noites tempestivas...


e fico assim, como fera enjaulada em pleno cio, sem ter como fugir, como escapar, cercada pelo nada e pelo silêncio, onde só escuto os gemidos da minha fome engolida, porém não saciada.

Despi-me de todos os meus receios, dos meus medos, dos meus pudores, e por três longas noites esperei por você na minha nudez envergonhada e trêmula;

(eu nua de todos meus outros eus, eu nua de máscaras, eu apenas eu, em todas aquelas horas).

enquanto esperava vislumbrei outros vultos, senti-os debaixo das unhas, mas não fui de nenhum...

(que outro olhar não quero. que outra boca meus lábios não beijam. que outro peso meu corpo não sustenta).

o nome que me cala é o seu. é você a sede que me abrasa. é seu o sabor da minha saliva, o gosto que sinto na minha língua.

por três solitárias noites supliquei-lhe em silêncio:

vem! toca-me/ lambe-me/ desgoverna os meus rumos/ desvenda os meus segredos/ despe-me desta casca casulo em que me guardo/ consome tudo o que há em mim para consumir...

mas você não veio e eu continuei deserta.

por três frias noites eu queimei até que virei cinzas.

(e ainda assim restou mais e mais de mim a arder).

e agora
quem irá me soprar?
quem irá me espalhar?

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(imagem Pino Daeni)

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