A Biscate de Um Homem Só
Por Edite V.*, nossa Biscate Convidada
Este texto não é uma consideração moral que pretende minimizar a biscatagi. Sou biscate, gosto de ser assim, não há dúvidas, ainda que haja temores. De fora de mim, não de dentro. Temores bons que criaram este blog, por exemplo. Mas este não é foco deste manifesto, que até vai soar um pouco hétero, mas há que se considerar que há especificidades nestas experiências e que falar de uma ou de outra, não é estabelecer a norma, mas pensar sobre o que se vive. Quero falar de algo melhor e mais gostoso: paixão.
Descobri que há uma entre as biscates, um gênero específico: A biscate de um homem só. O que significa isso? Primeiramente, que estou falando de sexo, e dos bons, fervoroso, animal, gostoso em todos os poros, suave, tenro e furioso, molhado, cheio de sabor, de cor e de gritos, quase dolorido na intensidade de seus caprichos… Mas que ocorre apenas com uma única pessoa.
Não, não se engane. A biscate de um homem só não é aquela que encontrou o princípe encatado, pendurou a combinação e contraiu monogamia. Não estou recomendando o matrimônio perfeito, nem o casamento ideal, e sequer cogitei pensar em amor eterno. Funciona assim. Biscate sabe, o homem é aquele do momento e não da vida – ainda que por um momento possamos estar casadas, desde que isso não implique em posse. Porque pertencer não existe entre biscates, estamos acostumadas a sermos nossas e a querer que cada um queira a si. Compartilhar o corpo, a nudez, a delícia e a safadeza é uma benção quase sagrada do mundo, mas ser dona, ou objeto de valor de um alguém, é culpa totalmente cristã, que não condiz com a inexorável fatalidade da vida, ou biscacidade da vida.
Apaixonar-se é um dos poucos sentidos verdadeiros, no mundo de plástico que vivemos. Por causa de códigos de conduta, do medo de ser vista como vadia, de afastar um suposto parzinho perfeito, a gente insiste que se faz tudo por amor, quando na verdade fazemos tudo por paixão. Paixão é tão bom que a gente deveria se apaixonar todos os dias do calendário. E é isso mesmo, nos dias, nas noites de baladas, nas sem baladas, nas de encontro casual e dentro do casamento. Estar apaixonada é, como se sabe, um remédio que dá ânsia de vômito, dor de barriga e explosões de ansiedade, mas cuja cura é a mais integral possível para todos os males. Eu, particularmente, não vivo sem paixão. Vida afora, já busquei príncipes e princesas para viver lindos romances, e no intervalo do desamor, percebia que a ausência da paixão causava mais tristeza que o fim do romance. Romance, sim! Romances… Languidos romances… Biscate adora romance de 1000 páginas… Mas vive com a mesma intensidade aqueles de apenas uma noite.
Assim, para as biscates de um homem só não há como fazer dos pequenos ou grandes encontros apenas uma foda, e nada mais, mesmo que seja exatamente isso. Que seja uma foda, duas, três. Mas que haja muito romance e muita paixão, paixão clandestina. Sim, a biscate de um homem só, por excelência, não trai a si, não se desmancha em melodramas. A paixão é da biscate, vive nela, e não necessariamente precisa ser compartilhada com os pelos, a pele e as veias que saltam dos corpos efervescentes. O corpo transmite essa paixão na cama, no chão, no chuveiro; os lábios, entretanto, se emudecem. Biscate de um homem só beija na boca, mas também não destila palavra sequer sobre a paixão inventada. Esse sentimento todo, de toda uma noite, ou da vida inteira, é só dela. É segredo, e o príncipe da vez, jamais o saberá. O gosto dos outros que fica na língua, morre na saliva. Não, o alvo não precisa saber das flechadas.
E há um por que no secreto da paixão. Porque a biscate de um homem só como o nome já diz, escolhe que aquele é o cara , e que nos dias, meses, anos ou horas em que estiver com ele, não estará com outro. Não por pânico social ou pudor. É por paixão. Nós, biscates de um homem só nos apaixonamos secretamente, somos afoitas de viver o romance apenas com ele, e não há sexo com outrem. Sendo desse único alguém, a biscate de um homem só faz de si um exercício de liberdade.
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*Edite V. é artista plástica, escritora e amante. Trabalha com carne e sangue, cor e sentimento. É mulher de nascimento e vabagunda por vocação. Não está nem aí para a opinião dos outros sobre si, ainda que viva em prol das pessoas. Gostaria de povoar o mundo de belas imagens no lugar de publicidade. Ela não tem corpo, pobre, vive na alma de uma vadia.
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