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sábado, 24 de março de 2012

Mão na Massa, Biscate!

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Eu sempre digo (e repito): Biscatagi é cultura. Senão, como eu estaria aqui falando desse projeto absolutamente cativante? Claro, se você acha que transgressão é persona non grata ou que homem não sabe nada de mulher e mulher não gosta de sexo…baby, não leia, não veja, não ouça 3namassa.
Estava eu, por aí, com alguém por dentro (parafraseando a canção) quando foi aquele safanão na alma. O animal que ronda rugiu no ventre. Cada canção me soube, tanto quanto eu a ela. Letra a letra, cada arranjo, cada narrativa. Desejo. Necessidade. Vontade. Beleza. Certeza. Deleite. Surpresa. O que quer uma mulher? 3namassa não responde, mas faz canção.
3namassa é pra se ouvir com o quadril. E deixar o suor escorrer, saliente, da nuca, enquanto se bamboleia o corpo, de olhos bem fechados. A idéia é simples (e bacana): mulheres falando de suas experiências amorosas, seduzindo, ou sendo seduzidas, pervertendo ou sendo pervertidas.
Nisso, pouca novidade, Gainsborg colocou Jane Birkin pra gemer e sugerir fantasias no clássico francês que incendeia gente de todas as nacionalidades. Em Two Virgin tem um momento que é, estritamente falando John e Yoko dizendo os respectivos nomes e respirando ofegantemente. Além disso o que não falta são boas produções masculinas em sexys vocalizações femininas.
Qual a diferença, então? O que me agradou realmente foi que o lugar de musa não foi esvaziado, mas qualificado. As mulheres, no projeto 3namassa, inspiram e são ditas, mas também dizem e se inspiram. Foge-se da dicotomia sujeito/objeto e reconhece-se que a sensualidade é para além de esquemas, é um dizer-se o vivido. Há, no som do 3namassa um desnudar-se, um convidar, um saborear que transborda de cada letra, de cada arranjo, caracterizando-se conforme a demanda de quem escuta: picante, às vezes divertida, nostálgica, provocante, erótica, mas sempre autônoma e com um molejo, um balacobaco, um ziriguidum de desejar saliências…
O projeto é lúdico, sofisticado e bem acabado. Unem-se letra/música/vídeo. Os três elementos se autodeterminam, se referenciam e se qualificam. Ouvir sem ver é bom. Ver sem ouvir também dá. Mas 3namassa é melhor quando deixamos todos os sentidos livres. Quando vi essa canção com a Leandra Leal (ouiés, é ela!) logo pensei no sussurrar de Serge Gaisnbourg, fui pesquisar e – na mosca! – é a inspiração. O que mais gosto é o jogo com as usuais referências fetichistas e o deslocamento de sujeito: quem é olhado (a mulher), é também quem é autora do desejo (Eu sei que vai ser muito bom, pois eu tenho uma imaginação fértil…a única forma de sermos felizes é sermos livres).
Outro momento que mexe com minha imaginação e libido é Thalma de Freitas em Enladeirada. Uma voz profunda, imagens mornas, um conjunto que aquece e dá vontade de soltar o corpo no ritmo. De novo há a tensão e síntese entre ser desejada e desejar, entre ser percorrida e ir em direção ao que se quer. É um prazer ouvi-la dizer: você não vai se perder, eu vou lhe achar.
O Projeto 3namassa resultou em um disco chamado A Confraria das Sedutoras (quem quiser baixar, acha aqui):
  1. “Certeza” – 1:23 (com Leandra Leal)
  2. “Enladeirada (O Seu Lugar)” – 3:44 (com Thalma de Freitas)
  3. “Doce Guia” – 3:42 (com CéU)
  4. “Tatuí” – 3:35 (com Karine Carvalho)
  5. “Estrondo” – 3:28 (com Geanine)
  6. Lágrimas Pretas” – 4:00 (com Pitty)
  7. “Pecadora” – 1:16 (com Simone Spoladore)
  8. “O Objeto” – 3:47 (com Nina Becker)
  9. “Quente Como Asfalto” – 3:32 (com Cyz)
  10. “Morada Boa” – 3:46 (com Nina Miranda)
  11. “Certa Noite” – 3:57 (com Karina Falcão)
  12. “Sem Fôlego” – 4:03 (com Lurdes da Luz)
  13. “Tarde Demais” – 1:12 (com Alice Braga)
Ouça, dance, sinta, permita-se. Mão na massa, biscate!

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