Noé tem 52 anos e a arca que ele dirige é um Toyota RAV4. Os animais que leva são dois vira-latas brasileiros, bancados pelo Instituto de Turismo da Guatemala enquanto estão sem sua Kombi. Fala pouco, nem nos pergunta de futebol, mulheres e carnaval. Parece até que espera permissão para responder. Mas não precisa falar muito para ser simpático: não tem como não gostar do Noé. Ele é idêntico ao “baixinho da Kaiser”, a diferença, tirando as mulheres e a cerveja da propaganda, é o sorriso tímido.
No café da manhã pago pelo governo, o motorista espera de pé ao lado da mesa do restaurante vazio, com um ar triste, desanimado.
“Senta aí, Noé. Toma o desayuno com a gente, né.”
A cara de preocupado não combina com a calça larga, tênis de corrida, camisa polo e boné.
E há mesmo muito com o que se preocupar: dívidas, trabalho, o pouco contato com os cinco irmãos e com os pais, a educação dos quatro filhos. Os olhos cheios de tristeza dizem muito, e ele fala pouco porque o pensamento vai longe, junto da mulher e das crianças.
Quando conversamos com outras pessoas ele se afasta um pouco da roda, como se não fosse seu lugar, e fica ouvindo interessado, esperando. Em uma das conversas, um senhor de 84 anos cita o filósofo alemão Hegel:
“Sem entusiasmo nunca se realizou nada grandioso.”
E, apesar de ser muito competente, Noé não está nem um pouco entusiasmado com seu trabalho. Tampouco planeja algo grandioso, diz que não tem sonhos. Normalmente escutamos uma resposta afirmativa quando perguntamos para as pessoas se elas são felizes, ele respondeu que não.
“A história da minha vida é o meu trabalho. Faço isso há 20 anos e se pudesse mudar algo, seria isso.”
Na pequena viagem, gravamos em um sítio arqueológico maia, uma fazenda, dois parques de diversões, um museu. Tudo muito bacana, mas nada mais interessante que o baixinho que vive no dilúvio da rotina e não tem previsão de quando a água vai baixar. Ao Noé da Guatemala não resta mais muita fé, apenas o trabalho dedicado a dar escolhas aos filhos. Espera que eles um dia respondam a mesma pergunta com um “sim, somos muito felizes”, e lembrem do pai que não construiu uma arca, mas também martelou muito pensando no futuro.
http://revistatrip.uol.com.br/blogs/omundoeumakombi/2012/04/14/noe-da-guatemala.html
“Senta aí, Noé. Toma o desayuno com a gente, né.”
A cara de preocupado não combina com a calça larga, tênis de corrida, camisa polo e boné.
E há mesmo muito com o que se preocupar: dívidas, trabalho, o pouco contato com os cinco irmãos e com os pais, a educação dos quatro filhos. Os olhos cheios de tristeza dizem muito, e ele fala pouco porque o pensamento vai longe, junto da mulher e das crianças.
Quando conversamos com outras pessoas ele se afasta um pouco da roda, como se não fosse seu lugar, e fica ouvindo interessado, esperando. Em uma das conversas, um senhor de 84 anos cita o filósofo alemão Hegel:
“Sem entusiasmo nunca se realizou nada grandioso.”
E, apesar de ser muito competente, Noé não está nem um pouco entusiasmado com seu trabalho. Tampouco planeja algo grandioso, diz que não tem sonhos. Normalmente escutamos uma resposta afirmativa quando perguntamos para as pessoas se elas são felizes, ele respondeu que não.
“A história da minha vida é o meu trabalho. Faço isso há 20 anos e se pudesse mudar algo, seria isso.”
Na pequena viagem, gravamos em um sítio arqueológico maia, uma fazenda, dois parques de diversões, um museu. Tudo muito bacana, mas nada mais interessante que o baixinho que vive no dilúvio da rotina e não tem previsão de quando a água vai baixar. Ao Noé da Guatemala não resta mais muita fé, apenas o trabalho dedicado a dar escolhas aos filhos. Espera que eles um dia respondam a mesma pergunta com um “sim, somos muito felizes”, e lembrem do pai que não construiu uma arca, mas também martelou muito pensando no futuro.
http://revistatrip.uol.com.br/blogs/omundoeumakombi/2012/04/14/noe-da-guatemala.html
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