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sexta-feira, 18 de maio de 2012

A carta apaixonada de Olavo Bilac


  • Olavo Bilac foi objeto de uma admiração apaixonada entre os brasileiros letrados nascidos no começo do século passado. Ainda hoje admirado como o maior poeta parnasiano do Brasil, Bilac foi eleito, em 1907, “príncipe dos poetas brasileiros”, título que hoje soa algo cafona, mas que em seu tempo foi tido como uma grande consagração. Bilac é autor de alguns dos versos mais famosos da poesia brasileira e várias gerações aprenderam de cor seus poemas.
    Sua fortuna crítica entrou em certo declínio a partir dos anos 60, mas as últimas décadas devolveram-lhe o papel de destaque que lhe cabe, como grande criador no estilo que prevaleceu em seu tempo, e que Bilac ajudou a firmar. A homossexualidade provável de Bilac era naturalmente ocultada por este, mas parece ter sido comentada abertamente por seus contemporâneos, como comprova uma famosa charge de Seth publicada numa revista ilustrada em 1911, na qual o poeta aparece apontando para as costas empinadas de uma estátua de efebo grego e observando: "Ah! Se todos os homens fossem assim...".
    Aos 22 anos, Bilac, que talvez ainda não se soubesse homossexual, apaixonou-se e tornou-se noivo de Amélia de Oliveira, irmã de Alberto de Oliveira, cuja poesia parnasiana talvez só perca em qualidade para a de Bilac. Nessa ocasião, louco de felicidade, Bilac escreve de São Paulo a carta famosa reproduzida nesta página, dirigida a Luiz de Oliveira, outro irmão de sua noiva, para comunicar-lhe o ocorrido, carta que vale a pena transcrever na íntegra:

    “Meu querido Luiz
    Cheguei ontem do Rio, onde fui passar oito dias. Cá estou de novo n’esta medonha Paulicéa. Que inferno!
    Participo-te que sexta-feira passada, 11 de Novembro de 87, ás 2 horas e 35 minutos da tarde, ficou sendo minha noiva tua irmã Amélia. Minha noiva, leste bem? Minha noiva! É a primeira vez que escrevo estas duas palavras. Minha noiva! Como estou feliz! Como é bom viver! Como é bom amar e ser amado!
    Manda-me dizer se ficas satisfeito com a notícia, e se ainda és meu amigo, Luiz. Escreve-me, assim que receberes esta carta, para o Diário Mercantil, S. Paulo. Fico ansioso pela tua resposta. Tenho lido a Vida Literária. Estás um poeta de mão cheia. Abraço-te. Escreve-me, escreve-me, escreve-me.
    Não te mando dizer se tenho feito versos porque não estou agora para tratar d’essas coisas. Qual poesia, nem qual nada! Não há nada como o amor! Não há nada como amar e ser amado como amo e sou amado! Estou com vontade de sair para a rua e de abraçar toda gente, amigos e inimigos, monarquistas e republicanos, Deus e o Diabo! Tal é a minha alegria.
    Escreve-me. Abraça -te, o teu amigo leal
    Olavo Bilac”





    O casamento nunca se realizou, supostamente por oposição da família, que não considerava Bilac um noivo suficientemente promissor. O mais provável é que os irmãos da noiva tenham compreendido que Bilac, brilhante poeta, não tinha vocação para o casamento. Esta carta − reproduzida em várias publicações a respeito de Bilac − figurou em diversas coleções de literatos brasileiros e acabou nas mãos de Noronha Santos, cujos pertences foram leiloados no Rio de Janeiro em 2001.

  • http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-manuscritas/geral/a-carta-apaixonada-de-olavo-bilac

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