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sexta-feira, 15 de junho de 2012

CARLOS REICHENBACH "Carlão", nos deixa órfãos

CARTAS DO REICHENBOMBER - Opus 44

Aula de Cinema
Se alguém perguntar hoje o que é o cinema, basta comprovar o truísmo de que uma imagem diz mais que muitas palavras ... imaginem, várias imagens! Isto é cinema!


A lição veio do mestre Mario Bava, que vivia dizendo só ter filmado "bosta de touro".

O "estrume" acima, foi copilado da coleção de fotos da belíssima Home Page de Bava:

http://members.tripod.com/mariobava/

Se o imaginário de Bava é merda, então Lang, Welles e Hitchcock que me perdoem; somos "Todos Porcos", diria Shohei Imamura.

Porque até agora nenhum festival nativo ainda não homenageou Bava com uma retrospectiva integral é uma incógnita que só o pedantismo caipira e o critério de resultados fáceis explica.

Fica aqui a ameaça: o Antônio Celso, da PanVision, topou. Florianópolis poderá sediar o Festival Internacional do Cinema Livre. Vem aí: Jack Hill, Jean-Marie Straub, Stephen Dwoskin, Richard Kern, Russ Meyer e, entre outros tantos criadores livres, Mario Bava, lógico.

Retrospectiva Bomber

A partir do dia 14 de Junho, o Museu da Imagem e Som, de São Paulo, estará realizando uma amostragem dos filmes deste escriba.

Infelizmente (ou não), não serão exibidos filmes que gosto muito como CORRIDA EM BUSCA DO AMOR (71), meu primeiro longa-metragem e meu verdadeiro aprendizado de cinema, o longa A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS (78), o episódio A RAINHA DO FLIPERAMA (82) e o curta metragem SANGUE CORSÁRIO (79), porque, assim como outros filmes menos queridos, não possuem cópias disponíveis.

Do acervo a ser projetado, quase todos foram vistos em retrospectivas recentes em Brasília, São Paulo, Niterói e Porto Alegre. Os longas inclusos e o curta OLHAR E SENSAÇÃO me dão muito prazer em rever. Embora tenha um carinho especial por FILME DEMÊNCIA e IMPÉRIO DO DESEJO, gosto de todos (menos, obviamente, os que não nominei acima).

"Amor, Palavra Prostituta"

A novidade é a exibição exclusiva da versão integral de AMOR, PALAVRA PROSTITUTA (79-81), nunca projetado sem cortes comercialmente no Brasil. Este filme, que ficou dois anos retido na censura, só foi liberado com quatro minutos a menos; justamente os quatro minutos que davam sentido à obra toda.Trata-se de um melodrama social, onde os personagens praticam sexo o tempo todo, com desespero, e sem nenhum prazer. Nos quinze minutos finais, um intelectual desempregado cuida obsessivamente de uma adolescente recém-saída de um aborto clandestino mal realizado. O calvário da jovem plena de energia e o contato com o sangue menstrual que verte de seu interior, fazem o "herói" redescobrir um sentido para continuar vivo.

Filmado com negativo vencido e sistema cooperativado, AMOR, PALAVRA PROSTITUTA foi exibido integralmente em mais de vinte festivais internacionais e ganhou o prêmio CINEDECOUVERTES da Cinemateca Real de Bruxelas, que inclusive possui uma cópia completa em seu acervo. Por ironia, recebeu do júri francófono do evento uma menção especial "por apresentar um ponto de vista singular sobre a sociedade". Quem diria!

Durante a primeira projeção internacional, em Roterdã, Holanda, sai da sala de exibição nos minutos inicias para não ouvir as vaias que aquele filme duro, feio, impuro e seco ia receber na certa. Me escondi no bar do cinema, mas volta e meia ia até o bilheteiro saber quantas pessoas haviam saído. Ele me olhava perplexo e fazia um gesto negativo com a cabeça. No final, voltei à sala novamente, com dor no estômago, e com espanto descobri que as pessoas levavam muito tempo para levantar das suas poltronas, mesmo após as luzes se acenderem. E assim foi, daí para frente, em quase todas as exibições no exterior com exceção de Portugal onde o machismo é retumbante. Na terra mãe, os debates foram quentíssimos e quase acabavam em porrada. De um lado os nostálgicos da PIDE e de outro as feministas lusitanas, que são radicais até a medula.

No Brasil, é a primeira vez que AMOR, PALAVRA PROSTITUTA, será exibido publicamente sem cortes, embora em uma rara versão VHS. A outra única projeção integral por estas plagas, foi coincidentemente no próprio Museu da Imagem e Som de São Paulo, numa sessão fechada para o elenco, equipe e amigos.

Mostra "Cineasta do Mês" : Carlos Reichenbach

http://www.terra.com.br/cinema/opiniao/opus44.htm

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