— É claro que a gente sonha com o dia em que um livro desse vai custar R$ 15 no Brasil — lamenta o organizador Walter Garcia, que não teve qualquer ingerência no preço nem no adiamento da publicação. — Sobre os ensaios, há ideias deles que podem se popularizar com o tempo. É o que aconteceu com o do Lorenzo Mammì ("João Gilberto e o projeto utópico da bossa nova", de 1992). Hoje ouvimos com frequência a bossa nova associada à ideia da "promessa de felicidade".
Artigos inéditos
Por sua importância, o artigo de Mammì está reproduzido no livro, no bloco "O Brasil de João" da seção "Caminhos cruzados: ensaios, perfis e resenhas". Mas os outros ensaios do bloco são inéditos, incluindo um de Garcia, "Cordialidade, melancolia, modernidade".
Há outros capítulos inéditos no bloco "Segredos do ofício", como o do maestro Diogo Pacheco e o do músico baiano Aderbal Duarte, hoje o mais completo explicador da originalidade e da complexidade do violão de João.
Garcia, ele mesmo um investigador da obra do artista e autor do livro "Bim bom — A contradição sem conflitos de João Gilberto", procurou organizar um dossiê que aprofundasse as visões sobre o tema, afastando o anedotário em torno do músico. Há até um bloco chamado "Antianedotário", com textos de quem esteve próximo dele, como a reportagem "A viagem de João", publicada por Mario Sergio Conti na "Folha de S. Paulo", em 2000.
— A primeira preocupação do livro foi afastar a série de mitologias em torno do João, toda essa bobagem. E colocá--lo no lugar que é o dele: o de grande artista, que dialoga com os maiores do Brasil e do mundo — diz Garcia, referindo-se às associações feitas em ensaios com Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Piet Mondrian e outros.
O organizador, no entanto, também procurou fugir de textos que tratam João como "mito", "deus", "gênio".
— O Edu Lobo contou uma vez que o Tom Jobim dizia: "Depois de um certo tempo, espetam umas medalhas em você e não escutam mais suas músicas". A ideia no livro era mostrar como João foi mudando, executando as músicas de formas diferentes — diz Garcia, ainda lembrando, para mostrar como não buscava a unanimidade, que há ensaios que contradizem outros.
A primeira seção, "De conversa em conversa", reúne algumas das poucas entrevistas dadas por João. Há famosas, como a feita por Tárik de Souza em 1971, para a "Veja"; outras um pouco menos conhecidas, mas também relevantes, como a que John S. Wilson publicou no "New York Times" em 1968 e a de Mara Caballero no "Jornal do Brasil", em 1979; e as mais frívolas, do início da bossa nova, tempo em que o artista tinha menos aversão à imprensa — casos das de "Radiolândia", "Revista do Rádio" e "Fascinação".
Edinha Diniz, profunda conhecedora do trabalho de João, cedeu alguns depoimentos para a seção inicial, cuidou da cronologia e ainda publicou na íntegra o artigo "A grande síntese", cuja primeira versão saiu em 2001, no caderno do "Jornal do Brasil" dedicado aos 70 anos do músico. Este se juntou, no bloco "Um artista moderno", a outros dois ensaios importantes: "O samba cubista", de Ronaldo Brito, e "‘Eu mesmo mentindo devo argumentar’", de José Miguel Wisnik.
Das contribuições do exterior, uma interessante é "Procurando Sonny", entrevista do professor americano Christopher Dunn com Sonny Carr, o lendário baterista do "disco branco" de João (de 1973) e que muitos pensavam ser um pseudônimo. Ele morreu pouco depois da entrevista.
Leia mais: http://extra.globo.com/tv-e-lazer/joao-gilberto-em-livro-para-pensar-nao-para-rir-5152390.html#ixzz1xOwWnnYi
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