05/06/2012 | Autor: Pedro Corrêa do Lago
Fernando Pessoa levou uma vida modesta e solitária. Sua única “namorada” foi
a jovem Ophélia Queiroz, menina inocente que encontrara em 1920, quando tinha 19
anos e o poeta 31. O romance só veio à tona em 1978, com a publicação das quase
50 cartas de Fernando à Ophélia, que esta conservara piedosa e discretamente
desde 1930, data da última.
Descobriu-se então um lado inesperado de Pessoa, falando às vezes com a amada como criança, o que levou certos puristas a considerar que a publicação dessas cartas prejudicava a imagem de Fernando Pessoa. Outros estudiosos, mais numerosos, acharam que, ao contrário, a dimensão trivial que as cartas acrescentavam, humanizava a figura do poeta. Afinal, o próprio Pessoa escrevera que “todas as cartas de amor são ridículas”...
A gigantesca fama póstuma de Pessoa repousa naturalmente na qualidade de seu legado literário, − publicado em sua quase totalidade décadas após sua morte, − mas também na extrema originalidade do uso de diversos heterônimos que assinam porções de sua obra, entre os quais os mais famosos são Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caiero.
Reproduzida nesta página, uma das cartas para Ophélia é justamente assinada pelo “engenheiro Álvaro de Campos” e refere-se ao próprio Fernando Pessoa de forma irônica:
1 – Pesar mais gramas
2 – Comer pouco
3 – Não dormir nada
4 – Ter febre
5 – Pensar no indivíduo em questão
Pela minha parte, e como íntimo e sincero amigo que sou do meliante, cuja comunicação (com sacrifício) me encarrego, aconselho V. Exa. a pegar na imagem mental que acaso tenha formado do indivíduo, cuja citação está estragando esse papel razoavelmente branco, e deitar essa imagem mental na pia, por ser materialmente impossível dar esse justo Destino à entidade fingidamente humana a quem ele competiria, se houvesse justiça no mundo.
Cumprimento a V. Exa., Álvaro de Campos, Engenheiro Naval”.
Ophélia contou mais tarde que teria dito ao namorado: “Detesto esse Álvaro de Campos. Gosto é do Fernando Pessoa”.
A carta, de setembro de 1929, é das primeiras que Pessoa mandou a Ophélia já na segunda parte de seu relacionamento, quando retomaram por quatro meses sua correspondência, após nove anos de afastamento.
Ophélia morreu aos 90 anos, em 1991, e seus herdeiros venderam dez anos depois o conjunto de cartas em bloco, num leilão em Londres, quando foram adquiridas por seu atual detentor, que pretende publicar toda a correspondência em fac-símile no correr deste ano
http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-manuscritas/geral/todas-as-cartas-de-amor-sao-ridiculas
NOTA: Um homem escrevendo cartas de amor, tem coisa mais linda?????
regina
Descobriu-se então um lado inesperado de Pessoa, falando às vezes com a amada como criança, o que levou certos puristas a considerar que a publicação dessas cartas prejudicava a imagem de Fernando Pessoa. Outros estudiosos, mais numerosos, acharam que, ao contrário, a dimensão trivial que as cartas acrescentavam, humanizava a figura do poeta. Afinal, o próprio Pessoa escrevera que “todas as cartas de amor são ridículas”...
A gigantesca fama póstuma de Pessoa repousa naturalmente na qualidade de seu legado literário, − publicado em sua quase totalidade décadas após sua morte, − mas também na extrema originalidade do uso de diversos heterônimos que assinam porções de sua obra, entre os quais os mais famosos são Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caiero.
Reproduzida nesta página, uma das cartas para Ophélia é justamente assinada pelo “engenheiro Álvaro de Campos” e refere-se ao próprio Fernando Pessoa de forma irônica:
Clique na
imagem para ampliá-la
“Um abjeto e miserável indivíduo chamado Fernando Pessoa, meu particular e
querido amigo, encarregou-me de comunicar a V. Exa. – considerando que o estado
atual dele o impede de comunicar qualquer coisa mesmo uma ervilha seca (exemplo
de obediência e de disciplina) − que V. Exa. está proibida de:1 – Pesar mais gramas
2 – Comer pouco
3 – Não dormir nada
4 – Ter febre
5 – Pensar no indivíduo em questão
Pela minha parte, e como íntimo e sincero amigo que sou do meliante, cuja comunicação (com sacrifício) me encarrego, aconselho V. Exa. a pegar na imagem mental que acaso tenha formado do indivíduo, cuja citação está estragando esse papel razoavelmente branco, e deitar essa imagem mental na pia, por ser materialmente impossível dar esse justo Destino à entidade fingidamente humana a quem ele competiria, se houvesse justiça no mundo.
Cumprimento a V. Exa., Álvaro de Campos, Engenheiro Naval”.
Ophélia contou mais tarde que teria dito ao namorado: “Detesto esse Álvaro de Campos. Gosto é do Fernando Pessoa”.
A carta, de setembro de 1929, é das primeiras que Pessoa mandou a Ophélia já na segunda parte de seu relacionamento, quando retomaram por quatro meses sua correspondência, após nove anos de afastamento.
Ophélia morreu aos 90 anos, em 1991, e seus herdeiros venderam dez anos depois o conjunto de cartas em bloco, num leilão em Londres, quando foram adquiridas por seu atual detentor, que pretende publicar toda a correspondência em fac-símile no correr deste ano
http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-manuscritas/geral/todas-as-cartas-de-amor-sao-ridiculas
NOTA: Um homem escrevendo cartas de amor, tem coisa mais linda?????
regina
Nenhum comentário:
Postar um comentário