João Ubaldo Ribeiro, entrevista a Ariovaldo Matos
Entrevista publicada na Revista ViverBahia, edição 46, publicada em Janeiro de 1979
A.M.
- O jornalismo empatou você em literatura?
J.U.
- Não, não. Ajudou muito, ajudou muito. Claro, se você não for uma pessoa de
estrutura excepcional tem a tendência a fazer mal uma das duas coisas. Porque
você ou se obceca com seu lado jornalístico ou com seu lado escritor e tende a
negligenciar um dos dois lados, principalmente se você tem um projeto qualquer,
importante, ligado a uns dos dois lados. Mas, é muito melhor você ser jornalista
e escritor do que você ser mestre-de-obra e escritor. Eu tenho certeza de que
meu treino em editorial, que é um negócio difícil, você tem que vestir a roupa
de terceiros para assumir um ar que não é seu, tem que se submeter a uma serie
de restrições de estilo, foi um treino muito útil. É um treino de redação de
primeira qualidade.
A.M.
- na medida que o jornalismo abre o mundo para o profissional... Conhecer
gentes, realidades...
J.U.
- Claro, claro, claro! Eu sou por natureza, embora não pareça, uma pessoa
voltada... Quero dizer, sou uma pessoa de poucos amigos, me dou com pouca gente,
reconheço isso. Quando eu voltei à redação, depois de muito tempo fora da
redação, voltei relutante, me foi muito útil. Inclusive, dá uma certa lição de
humanidade, de relatividade das coisas, cuja noção você perde na medida que se
afasta da vida de um jornal, qualquer jornal, onde você vive todo tipo de gente,
de situações, todo o tipo de deformação profissional, todo tipo de vaidades.
Dentro de uma redação você tem uma visão muito clara da humanidade e é bom, é
didático, eu acho, para um escritor.
aretê não é virtude
http://viverabahia.blogspot.com.br/2010/08/joao-ubaldo-ribeiro-entrevista.html
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