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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

NÃO ESQUEÇA O CASACO

 
 
NÃO ESQUEÇA O CASACO
 
Todo homem ajuda a despir a mulher, todo homem tem pressa pela nudez, todo homem é ansioso pelo sexo, pelo seio, pelo corpo aquecido; como é solícito o homem para tirar a blusa, tirar a saia, tirar. 

Nem precisa pedir, ele já veio. Não se perde. Não se atrasa em seu próprio sangue.

Para despir, o homem faz tudo certo, tudo exato, tudo educado e incisivo, tudo preocupado e generoso, é capaz de conversar cada assunto até o fim, mesmo que não goste. É capaz de conversar calado. Ai se o homem amasse com a mesma vontade que tira as roupas da mulher! 

Todo homem pretende se aventurar no declive, no recuo, na bondade do cheiro. 

O homem nasceu para a recompensa, o sexo é sua recompensa, quer ser premiado pelo sexo, premido pelo sexo, não se duvidar pelo sexo, envaidecer-se pelo sexo. O homem acelera o zíper, desliza o pescoço como um fecho. Abre os braços em gola. Debrua a linha. 

Do frio ao figo, do figo ao fogo, do fogo ao filho, sem retorno. Não tem certeza se vive ou morre, mas não deixa de avançar.

Desenrola a trama, destranca a porta, destrança as redes com cuidado noturno. Solta os cabelos dela: duplica-se na ternura. 

Aprendemos a descolar o sutiã com o estalo de dois dedos, a puxar a calcinha com os pés, a beijar e soprar ao mesmo tempo, a dizer luxúria como se fosse simples, abafar a voz para gemer mais rápido. Fazemos no escuro, fazemos de olhos vendados, fazemos de costas, fazemos com os dentes. 

Se necessário, somos facas, somos forcas, somos fracos. 

Não subestime, somos exercitados a espiar com as unhas. Não há vestido que nos pregue peças. Não nos assusta o inverno e suas camadas de lã e suas camadas de segunda pele. Não nos incomoda o legging, as botas, os casacos com botões internos. Não pediremos explicações, não há mistérios que não sejam treinados. Enquanto beijamos, desvestimos. Enquanto passeamos, seguimos, obedientes, o novelo. 

O homem é preparado para arrancar as roupas, para veranear no quarto. Para escutar o mar pelo vento das venezianas. O homem é a febre, o desejo infantil de ter logo, de ser logo, de não esperar o próximo assobio, o próximo ônibus, o próximo pensamento. 

Natural e comum o homem que ajuda a despir a mulher. Raro é o homem que ajuda a mulher a se vestir depois.  

Crônica do meu novo livro "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus" (Bertrand Brasil, 256 páginas), seleta de meus melhores textos sobre sexo e amor.
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Todo homem ajuda a despir a mulher, todo homem tem pressa pela nudez, todo homem é ansioso pelo sexo, pelo seio, pelo corpo aquecido; como é solícito o homem para tirar a blusa, tirar a saia, tirar.

Nem precisa pedir, ele já veio. Não se perde. Não se atrasa em seu próprio sangue.
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Para despir, o homem faz tudo certo, tudo exato, tudo educado e incisivo, tudo preocupado e generoso, é capaz de conversar cada assunto até o fim, mesmo que não goste. É capaz de conversar calado. Ai se o homem amasse com a mesma vontade que tira as roupas da mulher!

Todo homem pretende se aventurar no declive, no recuo, na bondade do cheiro.

O homem nasceu para a recompensa, o sexo é sua recompensa, quer ser premiado pelo sexo, premido pelo sexo, não se duvidar pelo sexo, envaidecer-se pelo sexo. O homem acelera o zíper, desliza o pescoço como um fecho. Abre os braços em gola. Debrua a linha.

Do frio ao figo, do figo ao fogo, do fogo ao filho, sem retorno. Não tem certeza se vive ou morre, mas não deixa de avançar.

Desenrola a trama, destranca a porta, destrança as redes com cuidado noturno. Solta os cabelos dela: duplica-se na ternura.

Aprendemos a descolar o sutiã com o estalo de dois dedos, a puxar a calcinha com os pés, a beijar e soprar ao mesmo tempo, a dizer luxúria como se fosse simples, abafar a voz para gemer mais rápido. Fazemos no escuro, fazemos de olhos vendados, fazemos de costas, fazemos com os dentes.

Se necessário, somos facas, somos forcas, somos fracos.

Não subestime, somos exercitados a espiar com as unhas. Não há vestido que nos pregue peças. Não nos assusta o inverno e suas camadas de lã e suas camadas de segunda pele. Não nos incomoda o legging, as botas, os casacos com botões internos. Não pediremos explicações, não há mistérios que não sejam treinados. Enquanto beijamos, desvestimos. Enquanto passeamos, seguimos, obedientes, o novelo.

O homem é preparado para arrancar as roupas, para veranear no quarto. Para escutar o mar pelo vento das venezianas. O homem é a febre, o desejo infantil de ter logo, de ser logo, de não esperar o próximo assobio, o próximo ônibus, o próximo pensamento.

Natural e comum o homem que ajuda a despir a mulher. Raro é o homem que ajuda a mulher a se vestir depois.  
 


Crônica do meu novo livro "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus" (Bertrand Brasil, 256 páginas), seleta de meus melhores textos sobre sexo e amor.
 
*extraido da sua  página no Facebook. 

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