Em ‘Porventura’, Antonio Cicero rima (e não rima) poesia com filosofia
seg, 13/08/12
por Luciano Trigo |
Autor do consagrado ‘Guardar’ (1997) e ‘A cidade e os livros’ (2002), o filósofo Antonio Cicero lança hoje o seu terceiro livro de poemas, Porventura (Record, 80 pgs. R$24,90), na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro. Nos 35 poemas que o volume reúne, Cicero dialoga com elementos da cultura clássica, em referências e alusões nem sempre óbvias, mas ao mesmo tempo envolve o leitor pela leveza coloquial no tratamento de temas sérios como a morte. Nesta entrevista, ele fala sobre seu processo de criação, compara as atividades de poeta e de letrista e explica por que demorou tanto para publicar poesia.
- Seu livro de estreia na poesia, ‘Guardar’, foi relativamente tardio. Por que não publicou antes?
ANTONIO CICERO: No princípio, em parte, por timidez. E não era fácil publicar um livro de poesia. Mais tarde, na faixa dos 20 aos 30 anos, quando eu deveria ter pensado em publicar, experimentei um conflito intenso entre meu intelecto e minha sensibilidade. É que, nessa época, as reflexões mais inteligentes sobre poesia eram feitas, no Brasil, pelos poetas concretistas. Como intelectuais, eles me pareciam exemplares: eram modernos, cosmopolitas, inovadores, ousados. Eles tiveram a coragem de repensar a própria história da poesia. Ao mesmo tempo, eram abertos para fenômenos normalmente desprezados pelos intelectuais de alto coturno. Em ‘Balanço da bossa’, por exemplo, Augusto de Campos trata, com grande sensibilidade, inteligência e erudição, de fenômenos como o iê-iê-iê e o tropicalismo.
Entretanto, os concretistas foram atacados com tal virulência que, no calor da polêmica, preferiram, como é natural, acirrar a abrandar as suas posições. O fato é que eles acabaram afirmando, por exemplo, que o ciclo do verso na poesia havia chegado ao fim. Pois bem, por um lado, as ideias deles, inclusive essa, eram extremamente atraentes e estimulantes, do ponto de vista intelectual. Por outro lado, enquanto poeta, o que eu mais gostava – e mais gosto – de ler e de fazer é poesiaem verso. Issome levou a um impasse. O resultado foi que, nessa época, eu me dediquei muito mais à filosofia, que também adoro, do que à poesia.
A bem da verdade, o impasse com a poesia só começou a se desfazer quando comecei a fazer letra de música, já na faixa dos 30 anos. Isso se tornou concebível para mim a partir do momento em que minha irmã, Marina, pôs música num poema meu. Mas duas coisas também contam: o convívio com Caetano Veloso e Gilberto Gil, em Londres, onde eu estudava, e a leitura do já citado ‘Balanço da bossa’, de Augusto de Campos. Depois, por minhas próprias reflexões, compreendi que, independentemente do discurso vanguardista, o verdadeiro sentido histórico das vanguardas havia sido o de abrir portas, e não o de fechá-las. Assim, independentemente do que os concretistas afirmavam naquela época, o concretismo abriu a possibilidade da poesia fora do verso, mas não fechou – nem poderia tê-lo feito – a possibilidade da poesia no verso.
Mas o que acabo de relatar foi apenas uma das razões circunstanciais da minha demora em publicar livros de poemas. Há outra, mais fundamental, que continua em vigor: é que demoro muito a fazer os meus poemas. Eles solicitam muito de mim. Justamente hoje, quando há mais pessoas escrevendo do que lendo poesia, para mim é difícil escrever poesia.
- Que relação você estabelece entre ’Guardar’, ‘A cidade e os livros’ e ‘Porventura’? O que cada livro tem de diferente em relação aos outros?
CICERO: Não é fácil para mim pensar sobre meus livros com a distância necessária para explicar bem suas diferenças. Em certo sentido, creio que ‘Porventura’ se aproxima mais de ‘Guardar’, pela relativamente grande variedade formal dos poemas.
- Muitos poemas seus parecem nascer de uma ideia, de um conceito a partir do qual você constrói o poema, que ilustra a ideia, como uma demonstração. É isso mesmo?
CICERO: Às vezes eu começo com uma ideia, mas frequentemente a coisa toda muda, no caminho. Por exemplo, o poema que abre o livro, ‘Balanço’, foi provocado pela melancolia resultante da morte de um grande amigo. Era sobre isso que eu tencionava escrever. No entanto, disso ficaram apenas as palavras “é a morte alheia / que me abate”. O poema se transformou, digamos, por conta própria, num “balanço” da vida, coisa que eu não havia previsto.
O poema ‘Amazônia’ surgiu a partir de uma encomenda de Silviano Santiago, que organizava uma publicação sobre a Amazônia. Aliás, como o nome dele, “Silviano”, significa “pertencente à selva”, eu o incluí no corpo do poema. Entretanto, ao falar da Amazônia, ocorreu-me a história de Orelhana; através dela, lembrei-me da lenda grega das Amazonas; a partir daí, da mitologia e dos primeiros poetas gregos…
Outro exemplo: O poema ‘Valeu’ foi provocado pela própria palavra “valeu”, que funciona popularmente como uma espécie de agradecimento e despedida, ou como uma despedida agradecida. Esse sentido me lembrou do fato de que, em latim, “vale” significa “adeus”. E me lembrei do belo poema que Catulo compôs ao fazer uma longa viagem até o local em que seu irmão havia morrido, longe de Roma, que termina com o verso: “atque in perpetuum, frater, ave atque vale” (“e para sempre, irmão, salve e adeus”).
- Que relação existe entre a sua poesia e a sua filosofia?
CICERO: São muito diferentes. Na poesia, eu me deleito com o relativo e o particular. Na filosofia, busco a verdade absoluta e universal. Um poema consiste numa síntese concreta de múltiplas determinações; um texto filosófico é abstrato. Por outro lado, penso que a filosofia intrinsecamente afirma a razão e a liberdade, e isso significa também defender o espaço da poesia no mundo. E, como qualquer coisa pode, enquanto parte de suas múltiplas determinações, entrar num poema, pode nele entrar a emoção, a sensibilidade, a cultura, e o conhecimento: inclusive o que sei de literatura, de sociologia, de economia e… de filosofia.
- E qual é a relação entre a sua poesia e o seu trabalho como letrista?
CICERO: Quando faço um poema, penso apenas nele. Um poema já é – ou pretende ser – uma obra de arte. Trata-se de um objeto autotélico. Quando faço uma letra, penso na melodia para a qual o estou fazendo (quase sempre faço uma letra para uma peça musical dada), penso no compositor (ou compositora) para o (ou a) qual a estou fazendo e penso no cantor (ou na cantora) que vai interpretar a canção. A letra não é ainda necessariamente uma obra de arte. Ela fará parte da obra de arte que será a canção pronta. Essas diferenças são consideráveis. É claro que é possível – porém não é necessário – que uma letra seja um bom poema para ser lido, independentemente da canção. Entretanto, ela pode ser uma grande letra mesmo quando isso não se dá, desde que contribua para fazer uma grande canção. E um poema não é necessariamente melhor do que uma canção. Cada obra de arte tem que ser julgada individualmente, e não como membro de uma espécie.
- Fale um pouco sobre o seu processo de criação: o que te inspira, e o que você busca quando se senta para escrever diante da página (da tela?) em branco?
CICERO: Qualquer coisa pode ser o estopim. Pode ser, por exemplo, uma frase que eu tenha ouvido no metrô; uma palavra que eu tenha lido num livro; a lembrança de uma pessoa ou de um lugar etc. A partir disso, esboço uma ideia. Ou então tento, como você diz, desenvolver uma ideia. Em algum ponto, decido a estrutura global do poema: se será longo ou curto, se será dividido em estrofes; se os versos serão livres ou metrificados; se serão rimados ou brancos etc. Às vezes, uma primeira decisão parece impor todas as demais, que vêm como que natural e impensadamente; às vezes, ela se dá como uma crise que aguarda uma solução; às vezes, é preciso refazer tudo. Revejo tudo frequentemente, retiro tudo o que penso ser supérfluo, modifico o que não me parece bem, adiciono o que falta, reduzo o poema ao que deve ser, até que ele resplandeça. O que resplandece é o que vale por si: o que merece existir. Isso tudo pode acontecer rapidamente (digamos, numa tarde), ou pode demorar dias. E o poema pode nunca ficar pronto.
- Alguns poemas, como aqueles que evocam a infância, sugerem uma investigação autobiográfica. A poesia funciona também como uma forma de auto-análise?
CICERO: Para mim, não é que a poesia funcione como auto-análise, mas que algumas memórias – do mesmo modo que algumas ideias ou sensações – funcionam como elementos a partir dos quais eu construo o poema.
- Você pensa no leitor quando escreve um poema? Em que leitor você pensa?
CICERO: Penso num leitor ideal, que aprecie e conheça poesia, e que reconheça todas as alusões explícitas e implícitas nos poemas.
- Como avalia a situação da poesia brasileira hoje? Com que poetas em atividade você dialoga?
CICERO: É difícil julgar a época em que nos encontramos, mas tenho a impressão de que se trata de uma época bastante fecunda. Vou citar – em ordem alfabética – alguns dos poetas da minha geração ou mais jovens cujos livros – publicados – são importantes para mim. É claro que, provavelmente, vou esquecer um ou outro dos mais importantes, mas que fazer? Peço-lhes desculpas pelo lapso. Cito, então, Adriano Espínola, Alberto Pucheu, Alex Varella, Antonio Carlos Secchin, Armando Freitas Filho, Arnaldo Antunes, Cláudia Roquette Pinto, Eucanaã Ferraz, Francisco Alvim, Marco Lucchesi, Nelson Ascher, Omar Salomão, Paulo Henriques Britto, Ricardo Corona, Ricardo Silvestrin, Salgado Maranhão.
DOIS POEMAS DE ‘PORVENTURA’
http://g1.globo.com/platb/maquinadeescrever/2012/08/13/em-porventura-antonio-cicero-rima-poesia-com-filosofia/
- Seu livro de estreia na poesia, ‘Guardar’, foi relativamente tardio. Por que não publicou antes?
ANTONIO CICERO: No princípio, em parte, por timidez. E não era fácil publicar um livro de poesia. Mais tarde, na faixa dos 20 aos 30 anos, quando eu deveria ter pensado em publicar, experimentei um conflito intenso entre meu intelecto e minha sensibilidade. É que, nessa época, as reflexões mais inteligentes sobre poesia eram feitas, no Brasil, pelos poetas concretistas. Como intelectuais, eles me pareciam exemplares: eram modernos, cosmopolitas, inovadores, ousados. Eles tiveram a coragem de repensar a própria história da poesia. Ao mesmo tempo, eram abertos para fenômenos normalmente desprezados pelos intelectuais de alto coturno. Em ‘Balanço da bossa’, por exemplo, Augusto de Campos trata, com grande sensibilidade, inteligência e erudição, de fenômenos como o iê-iê-iê e o tropicalismo.
Entretanto, os concretistas foram atacados com tal virulência que, no calor da polêmica, preferiram, como é natural, acirrar a abrandar as suas posições. O fato é que eles acabaram afirmando, por exemplo, que o ciclo do verso na poesia havia chegado ao fim. Pois bem, por um lado, as ideias deles, inclusive essa, eram extremamente atraentes e estimulantes, do ponto de vista intelectual. Por outro lado, enquanto poeta, o que eu mais gostava – e mais gosto – de ler e de fazer é poesiaem verso. Issome levou a um impasse. O resultado foi que, nessa época, eu me dediquei muito mais à filosofia, que também adoro, do que à poesia.
A bem da verdade, o impasse com a poesia só começou a se desfazer quando comecei a fazer letra de música, já na faixa dos 30 anos. Isso se tornou concebível para mim a partir do momento em que minha irmã, Marina, pôs música num poema meu. Mas duas coisas também contam: o convívio com Caetano Veloso e Gilberto Gil, em Londres, onde eu estudava, e a leitura do já citado ‘Balanço da bossa’, de Augusto de Campos. Depois, por minhas próprias reflexões, compreendi que, independentemente do discurso vanguardista, o verdadeiro sentido histórico das vanguardas havia sido o de abrir portas, e não o de fechá-las. Assim, independentemente do que os concretistas afirmavam naquela época, o concretismo abriu a possibilidade da poesia fora do verso, mas não fechou – nem poderia tê-lo feito – a possibilidade da poesia no verso.
Mas o que acabo de relatar foi apenas uma das razões circunstanciais da minha demora em publicar livros de poemas. Há outra, mais fundamental, que continua em vigor: é que demoro muito a fazer os meus poemas. Eles solicitam muito de mim. Justamente hoje, quando há mais pessoas escrevendo do que lendo poesia, para mim é difícil escrever poesia.
- Que relação você estabelece entre ’Guardar’, ‘A cidade e os livros’ e ‘Porventura’? O que cada livro tem de diferente em relação aos outros?
CICERO: Não é fácil para mim pensar sobre meus livros com a distância necessária para explicar bem suas diferenças. Em certo sentido, creio que ‘Porventura’ se aproxima mais de ‘Guardar’, pela relativamente grande variedade formal dos poemas.
- Muitos poemas seus parecem nascer de uma ideia, de um conceito a partir do qual você constrói o poema, que ilustra a ideia, como uma demonstração. É isso mesmo?
CICERO: Às vezes eu começo com uma ideia, mas frequentemente a coisa toda muda, no caminho. Por exemplo, o poema que abre o livro, ‘Balanço’, foi provocado pela melancolia resultante da morte de um grande amigo. Era sobre isso que eu tencionava escrever. No entanto, disso ficaram apenas as palavras “é a morte alheia / que me abate”. O poema se transformou, digamos, por conta própria, num “balanço” da vida, coisa que eu não havia previsto.
O poema ‘Amazônia’ surgiu a partir de uma encomenda de Silviano Santiago, que organizava uma publicação sobre a Amazônia. Aliás, como o nome dele, “Silviano”, significa “pertencente à selva”, eu o incluí no corpo do poema. Entretanto, ao falar da Amazônia, ocorreu-me a história de Orelhana; através dela, lembrei-me da lenda grega das Amazonas; a partir daí, da mitologia e dos primeiros poetas gregos…
Outro exemplo: O poema ‘Valeu’ foi provocado pela própria palavra “valeu”, que funciona popularmente como uma espécie de agradecimento e despedida, ou como uma despedida agradecida. Esse sentido me lembrou do fato de que, em latim, “vale” significa “adeus”. E me lembrei do belo poema que Catulo compôs ao fazer uma longa viagem até o local em que seu irmão havia morrido, longe de Roma, que termina com o verso: “atque in perpetuum, frater, ave atque vale” (“e para sempre, irmão, salve e adeus”).
- Que relação existe entre a sua poesia e a sua filosofia?
CICERO: São muito diferentes. Na poesia, eu me deleito com o relativo e o particular. Na filosofia, busco a verdade absoluta e universal. Um poema consiste numa síntese concreta de múltiplas determinações; um texto filosófico é abstrato. Por outro lado, penso que a filosofia intrinsecamente afirma a razão e a liberdade, e isso significa também defender o espaço da poesia no mundo. E, como qualquer coisa pode, enquanto parte de suas múltiplas determinações, entrar num poema, pode nele entrar a emoção, a sensibilidade, a cultura, e o conhecimento: inclusive o que sei de literatura, de sociologia, de economia e… de filosofia.
- E qual é a relação entre a sua poesia e o seu trabalho como letrista?
CICERO: Quando faço um poema, penso apenas nele. Um poema já é – ou pretende ser – uma obra de arte. Trata-se de um objeto autotélico. Quando faço uma letra, penso na melodia para a qual o estou fazendo (quase sempre faço uma letra para uma peça musical dada), penso no compositor (ou compositora) para o (ou a) qual a estou fazendo e penso no cantor (ou na cantora) que vai interpretar a canção. A letra não é ainda necessariamente uma obra de arte. Ela fará parte da obra de arte que será a canção pronta. Essas diferenças são consideráveis. É claro que é possível – porém não é necessário – que uma letra seja um bom poema para ser lido, independentemente da canção. Entretanto, ela pode ser uma grande letra mesmo quando isso não se dá, desde que contribua para fazer uma grande canção. E um poema não é necessariamente melhor do que uma canção. Cada obra de arte tem que ser julgada individualmente, e não como membro de uma espécie.
- Fale um pouco sobre o seu processo de criação: o que te inspira, e o que você busca quando se senta para escrever diante da página (da tela?) em branco?
CICERO: Qualquer coisa pode ser o estopim. Pode ser, por exemplo, uma frase que eu tenha ouvido no metrô; uma palavra que eu tenha lido num livro; a lembrança de uma pessoa ou de um lugar etc. A partir disso, esboço uma ideia. Ou então tento, como você diz, desenvolver uma ideia. Em algum ponto, decido a estrutura global do poema: se será longo ou curto, se será dividido em estrofes; se os versos serão livres ou metrificados; se serão rimados ou brancos etc. Às vezes, uma primeira decisão parece impor todas as demais, que vêm como que natural e impensadamente; às vezes, ela se dá como uma crise que aguarda uma solução; às vezes, é preciso refazer tudo. Revejo tudo frequentemente, retiro tudo o que penso ser supérfluo, modifico o que não me parece bem, adiciono o que falta, reduzo o poema ao que deve ser, até que ele resplandeça. O que resplandece é o que vale por si: o que merece existir. Isso tudo pode acontecer rapidamente (digamos, numa tarde), ou pode demorar dias. E o poema pode nunca ficar pronto.
- Alguns poemas, como aqueles que evocam a infância, sugerem uma investigação autobiográfica. A poesia funciona também como uma forma de auto-análise?
CICERO: Para mim, não é que a poesia funcione como auto-análise, mas que algumas memórias – do mesmo modo que algumas ideias ou sensações – funcionam como elementos a partir dos quais eu construo o poema.
- Você pensa no leitor quando escreve um poema? Em que leitor você pensa?
CICERO: Penso num leitor ideal, que aprecie e conheça poesia, e que reconheça todas as alusões explícitas e implícitas nos poemas.
- Como avalia a situação da poesia brasileira hoje? Com que poetas em atividade você dialoga?
CICERO: É difícil julgar a época em que nos encontramos, mas tenho a impressão de que se trata de uma época bastante fecunda. Vou citar – em ordem alfabética – alguns dos poetas da minha geração ou mais jovens cujos livros – publicados – são importantes para mim. É claro que, provavelmente, vou esquecer um ou outro dos mais importantes, mas que fazer? Peço-lhes desculpas pelo lapso. Cito, então, Adriano Espínola, Alberto Pucheu, Alex Varella, Antonio Carlos Secchin, Armando Freitas Filho, Arnaldo Antunes, Cláudia Roquette Pinto, Eucanaã Ferraz, Francisco Alvim, Marco Lucchesi, Nelson Ascher, Omar Salomão, Paulo Henriques Britto, Ricardo Corona, Ricardo Silvestrin, Salgado Maranhão.
DOIS POEMAS DE ‘PORVENTURA’
Palavras aladas
Os juramentos que nos juramos
entrelaçados naquela cama
seriam traídos se lembrados
hoje. Eram palavras aladas
e faladas não para ficar
mas, encantadas, voar. Faziam
parte das carícias que por lá
sopramos: brisas afrodisíacas
ao pé do ouvido, jamais contratos.
Esqueçamo-las, pois, dentre os atos
da língua, houve outros mais convincentes
e ardentes sobre os lençóis. Que esses,
em futuras noites, em vislumbres
de lembranças, sempre nos deslumbrem.
Balanço
A infância não foi uma manhã de sol:
demorou vários séculos; e era pífia,
em geral, a companhia. Foi melhor,
em parte, a adolescência, pela delícia
do pressentimento da felicidade
na malícia, na molícia, na poesia,
no orgasmo; e pelos livros e amizades.
Um dia, apaixonado, encarei a minha
morte: e eis que ela não sustentou o olhar
e se esvaiu. Desde então é a morte alheia
que me abate. Tarde aprendi a gozar
a juventude, e já me ronda a suspeita
de que jamais serei plenamente adulto:
antes de sê-lo, serei velho. Que ao menos
os deuses façam felizes e maduros
Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos.
http://g1.globo.com/platb/maquinadeescrever/2012/08/13/em-porventura-antonio-cicero-rima-poesia-com-filosofia/
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