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sábado, 22 de setembro de 2012

Meus cinquenta tons de…


Esse é um post-pinceladas. Fiquei com vontade de escrever sobre isso desde que começou o ruído sobre “Cinquenta tons de cinza”. Devo dizer que não li o livro: não li nem vou ler. Mas não foi preconceito não, cheguei a pegá-lo numa livraria, a ler trechos e mais trechos. Não me deu vontade de continuar. E olha que o tema me interessa.
Achei o livro muito sem tons. Muito “pão, pão, queijo, queijo”, sabe como é? Meio manual de motor de carro. Pegou aqui, fez ali, cutucou acolá. Sinto muito. Não acho graça nenhuma.
(Achei muita graça, em compensação, no “Marcelinho lendo 50 tons de cinza”. Mas deixa pra lá).
Outro dia escrevi que não gosto de superlativos: sou mais de eufemismos, desde aquele lindo de “Le Cid” , em que Chimène diz a Don Rodrigue : “je ne te hais point” (eu não te odeio). Ô declaração de amor bonita, sô.
Então: eufemismos. Vislumbres. Devaneios. Sugestões. Sutilezas. O olhar de Mastroianni para Laura Antonelli em Esposamante. Nastassja Kinski/Tess, sua boca vermelha, a fruta vermelha. Os braços roliços e molhados de Clara lavando roupa, em “As Pupilas do Senhor Reitor (falei desse aqui). O pequeno pé fugidiamente visto na “Pata da Gazela”, de José de Alencar – livro erótico por excelência, como bem lembrou Eliane Brum em tuíte-conversa recente. Imagens, obsessões. Desejo, necessidade. Vontade.
Em francês diz-se “J’ai envie de toi”, e é uma delícia de ouvir. Tenho vontade de você. Te desejo. Como uma fruta. Pra morder. Pra beliscar. Pra pegar.
O conto “Uns braços”, do Machadão. O conto “Dentro da Noite”, de João do Rio. “Dentro da Noite” traz outro elemento que me parece altamente erótico: o desejo que não se controla, o desejo apesar da vontade. O cara tinha tesão de enfiar alfinetes no braço da mulher. Ele não queria, ele não gostava de machucá-la. E no entanto, não conseguia. Era mais forte do que ele. Uma vontade acima da vontade. Desejo. Necessidade.
Uma passada de dedo, de leve, sobre lábios carnudos. Uma mão que distraidamente recolhe mechas soltas para trás da orelha, descobrindo-a. Umas mãos segurando e acendendo o cigarro. Umas mãos fortes pousadas na mesa, em repouso. Uns pés descalços. Um olhar. Um olhar. Um olhar.
Li quando criança um livro chamado “Le Tambour des Sables” – mulher tuaregue na primeira pessoa. Contava do véu e do cuidado com os olhos. O khôl passado para realçar. Os olhos com os quais se encanta e seduz em terras de véus. Olhares.
O desejo apesar de, ainda. Para além dos próprios tabus, para além dos próprios preconceitos. Filmes: “The Crying Game”. “Lua de Fel“. “Damage“. Tem todos os de padres, de freiras. Desejo versus tabu. O que eu me lembro de gostar mais é “Camila“.
Os estranhos desejos de tempos de guerra, onde mulheres ficavam sós para tocar a vida cotidiana, homens dormiam e acordavam com outros homens. Um dos meus livros favoritos, aqui, é “Amor de Inverno”, de Han Suyin. Delícia de história entre mulheres, em tempos de guerra. Orelha pequena, brinquinhos. Longos cabelos. Encantamento. Tempos de exceção. E o depois.

Erótico é assim pra mim. O não-dito. O imaginado. O sonhado. Voz, também. Voz rouca. Voz grave. Voz. Um jeito de falar pausado. Um sorriso entremeando as palavras. Sorriso de canto. Ou os mais sombrios, os mais calados. Os silêncios. Os respiros. Os suspiros contidos. Ai.
Eróticos são os véus, são os caminhos das sombras, são os movimentos das mãos. Texturas, sabores. Toques de leve, muito de leve. Deslizando os dedos. Arrepios. Frissons. Frio na boca do estõmago. Fome. Desejo Necessidade. Vontade. Vazio.

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